- CONSIDERAÇÕES
INICIAIS
Seria o caso de Deus ter enviado seu Filho
Unigênito ao mundo para criar uma religião diferente das existentes a seu tempo
ou das que mais tarde viriam a existir? Se a resposta for sim, qual seria ela?
Se for não, porque defender alguma?
Um exame mais aprofundado da Escritura é
suficiente para dizer que o propósito de Cristo não foi criar uma religião, mas
sim estabelecer um caminho para o homem ir a Deus.[1]
Cristo veio ao mundo para tornar possível ao homem
ter comunhão com Deus, ao invés de criar um sistema ritualístico para se
cumprido para a partir dele se alcançar algo. No Éden não havia espaço para a religião
porque o relacionamento entre Deus e o homem estava ordem e sem qualquer
embaraço, e a partir de Cristo também não pois através dEle o homem é
reconciliado com Deus. E o homem reconciliado não precisa de ritual algum para
se relacionar com o Senhor.
Quando se lê a carta de Tiago endereçada às
doze tribos que se encontram na Dispersão[2],
ele não defende o cristianismo como uma religião nascente que deveria ser
adotada pelos seus leitores, embora tivesse tido oportunidade de fazê-lo caso
fosse importante.
Pelo contrário, o escritor diz que se alguém
deseja ser religioso, além de refrear a língua é necessário guardar-se
incontaminado do mundo e assistir órfãos e viúvas em suas tribulações, ou seja,
ser santo e solidário[3],
a nada mais do que isto.
Não obstante inexistir na Bíblia qualquer sugestão
ou orientação para se criar uma religião, é a partir dela que os homens
inventam as mais diversas e, nalguns casos, até mesmo as mais extravagantes. E
a multiplicidade religiosa é tamanha que as vezes parece ser impossível surgir
algo novo e, no entanto, não demora para que a surpresa aconteça.
Na multidão das opções religiosas ninguém
fica sem satisfazer seu espírito religioso pois se tem de tudo um pouco nesse
mercado de bons “negócios”, ainda que o espírito religioso satisfeito não
significa e nem garanta satisfação pessoal.
E no ativo mundo da religiosidade ninguém se
detém para pensar o quanto a religião gera cansaço naquele que a ela se dedica,
pelo esforço despendido para ser minimamente sério no cumprimento de seus
preceitos e rituais.
Olhando pelo lado do conceito filosófico “religião
consiste em crença na garantia sobrenatural de salvação, e técnicas destinadas a
obter e conservar essa garantia.”[4]
Talvez esteja exatamente no campo das
“técnicas destinadas a obter e conservar a garantia da salvação” a concentração
de todo o cansaço, sofrimento e ausência de alegria que vem da religião, pois
quem desenvolve técnicas destinadas a obter a salvação e se esforça para
conservar o que pensa ter conseguido não tem como fazer tudo isto com alegria e
prazer.
Com efeito, encontrar um religioso
satisfeito, alegre e amável é missão quase impossível, principalmente pelo fato
de que duas realidades distintas embalam o seu comportamento, a saber, a
superstição e o medo.
Pela superstição se criam rituais e se cultua
qualquer coisa, e pelo medo se faz isto sempre e constantemente numa retro
alimentação sem fim entre ambos os sentimentos.
Sem o medo a superstição é nada e sem a
superstição o medo é domável, mas como os dois andam sempre juntos a religiosidade
tem assegurada sua perpetuidade da mesma forma que um trem garante seu
deslocamento por intermédio de dois trilhos que o direciona.
Para bem compreender a obra de Cristo e seus
efeitos sobre a religiosidade humana é tempo, então, de começar a examinar alguns
pontos.
2. A RELIGIÃO E SUA UNIVERSALIDADE
A religião a despeito de causar mais desgaste
do que ajuda ao ser humano em seus conflitos pessoais de ordem espiritual, se
mostra inerente ao seu viver, sendo praticamente impossível encontrar alguém
que não tenha ou não teve envolvimento com suas práticas.
Em qualquer região do mundo, independentemente
do povo pesquisado, a religiosidade está presente em sua cultura através de
rituais variados.
À luz de estudos feitos em diferentes épocas
e por pesquisadores diversos se pode concluir que existe um sentimento
universal presente em todos os homens em termos de religiosidade, a ponto de se
poder afirmar que um e o mesmo espírito religioso atua no homem em toda geografia
e época.
Povos sem nenhum contacto com o homem culto comungam
de uma paixão incontrolável em direção ao sobrenatural, independentemente da coisa
adorada ser rude e a forma da adoração, extravagante.
Por outro lado, povos de bom nível cultural
também têm a mesma inclinação, e nem mesmo seu desenvolvimento intelectual é
capaz de lhe afastar da alma tal disposição religiosa, ainda que o objeto
adorado e a forma de fazê-lo possam ser, de alguma forma e em certos momentos, mais
refinados.
A espontaneidade para a religiosidade indica
que ninguém precisa ensinar religião ao homem, pois seu espírito é seu mestre por
excelência neste mister.
Se observada com mais detalhes a
religiosidade dos povos não civilizados e a dos povos desenvolvidos, é possível
dizer que há uma semelhança e um ponto comum entre eles, qual seja, que suas práticas tendem a ser rigorosas,
desgastantes, cansativas e opressoras para seus praticantes, de modo que
nenhuma religião se mostra complacente com seu fiel.
Na verdade não há religião sem opressão
religiosa, ou seja, inexiste religião light, pois na sua essência está o
sacrifício que nunca pode ser de pequena intensidade para ter valor.
Há casos de prática religiosa até mesmo irracional
como, por exemplo, quando o ritual religioso leva o praticante ao extremo de sujeitar
a dor física, sem que isto lhe cause algum espanto ou o chame a refletir sobre
sua razão de ser.
Rituais
de auto-flagelo indicam que o
comportamento religioso muitas vezes sai do controle da sanidade mental, de
modo que quanto mais absurdo eles se mostram mais séria a religião parece aos
olhos dos seus adeptos.
No
Ocidente ou no Oriente, no tempo antigo ou na época moderna, não importa, a
religião não sofre descontinuidade, ainda que passe por fases de intensidade de
maior ou de menor fervor.
3.
RELIGIÃO E SACRIFÍCIO
Mas
por que a religião carrega consigo uma proposta de sofrimento a ser suportado
pelo religioso? Por que toda religião se mostra, em regra, torturante?
Na
verdade a religião tem que ser do jeito que é pois o homem carrega uma
impressão negativa do divino em sua mente, a qual lhe impõe castigar-se como
modo de ser aceito por aquele a quem dirige seu processo cúltico.
Como
reside na consciência humana uma cobrança de que é devedor aos deuses de algum
sofrimento pessoal para agradá-los, o ritual e os mandamentos religiosos não são
leve exatamente para terem proporcionalidade com o sentimento do coração.
É
sabido que um dos significados da palavra religião é de esforço humano para
religar o homem com Deus o qual consiste, então, em severas exigências feitas a
si mesmo e ao semelhante como condição para se obter o que se deseja.
Para
se religar com Deus o homem precisa, então, provar que é capaz de sofrer alguma
pena para pagar seu débito. Todavia, como ele estima seu débito como algo impagável
seus sacrifícios religiosos feitos com o objetivo de “amortizar” a dívida se
estende por toda a vida.
Assim,
a eternização da prática religiosa prova que o religioso não sente alívio algum
enquanto obedece seu ritual e doutrina, pois se não fosse assim o sacrifício
feito uma única vez seria suficiente para aliviá-lo.
Convicto
de que deve e certo de que não pagará sua conta, o homem se envolve em práticas
estranhas como um verdadeiro “financiamento religioso da dívida”, o qual só
aumenta o rombo de suas “finanças” espirituais, emocionais e físicas.
Assim,
todo novo sacrifício proposto será bem vindo, e se a religião quer ter sucesso
diante dos olhos de seus adeptos deverá ser capaz de provocar novos e
diferentes desafios de sofrimento.
4.
RELIGIOSIDADE E TEOLOGIA BÍBLICA
A teologia bíblica quando trata do pecado do
homem é capaz de explicar de forma consistente porque a religiosidade humana é
carregada de peso e de sacrifício.
A partir do momento que o homem teve que se
esconder de Deus[5]
em razão da transgressão cometida, o sentimento de culpa passou a atormentá-lo.
Nisto criou-se o processo de livramento da
culpa, o qual consiste na prática religiosa adotada por cada povo segundo sua
tradição e cultura, cujo ritual passa de geração a geração sem ao menos ser
avaliado ou contestado por quem o herda.
Apesar de pecador o homem, no entanto, tem certa
inclinação de encontrar-se com Deus, de modo que sua alma tenta criar caminhos
alternativos carregados de superstição que possam lhe satisfazer essa aspiração.
Daí a origem da religiosidade.
Com a culpa presente na alma humana a
religião se desenvolve sob a idéia de imprecar ao religioso algum tipo de
castigo como punição pelo sentimento de transgressão que o corrói.
O castigo se torna, então, o meio de adquirir
o perdão e a declaração de inocência diante do justo Juiz.[6]
Desta forma a religião acaba se constituindo
de práticas de castigo, flagelo, tortura e sofrimento como forma de se alcançar
absolvição da culpa.
O que o homem ignora, no entanto, é que o
auto-castigo não é capaz de inocentá-lo do pecado nem diante dos próprios
olhos, menos ainda em face de Deus.
O pecado é, pois, a causa primária de toda
religiosidade humana pois além de promover a ruptura no relacionamento entre
Deus e o homem, também instiga em sua alma a disposição de reverter este quadro
caótico por meio do cumprimento de
normas e preceitos criados por ele mesmo.
5.
RELIGIÃO DENTRO DA BÍBLIA
Tanto
no Antigo quanto no Novo Testamento a Bíblia relata o comportamento religioso
estranho de alguns povos. No contexto do Antigo do Testamento, por exemplo, os
cananeus que habitavam a Mesopotâmia chegavam a queimar seus filhos aos deuses
para lhes prestar culto, pratica esta que foi copiada pelo próprio povo de
Israel (2 Cr 28:3).[7]
Eis
um ritual macabro que prova o quanto o sentimento religioso é perigoso para o
homem, não obstante não pareça estranho ao seu praticante.
Quando
chega o tempo do Novo Testamento a prática religiosa relatada na Escritura,
embora o registro não abranja todo o comportamento religioso vigente da época,
fala dos fariseus como uma religião muita severa para com seus adeptos.
O
farisaísmo oprimia seus membros, sugava suas forças e os tornavam cada vez mais
esquisitos diante das outras pessoas.
Os
evangelistas observam, então, que Jesus se encontra com pessoas que estão
cansadas em suas emoções, eis que se encontram sobrecarregadas de ordens e
mandamentos religiosos que lhes impõem um comportamento difícil de ser levado a
sério constantemente.
A
esses pobres coitados que se dedicam a uma religião que lhes retira o vigor
Jesus Cristo faz o agradável convite: vinde
a mim e eu vos aliviarei[8].
Uma
pessoa que está cansada e sobrecarregada não pode haver palavras mais
agradáveis e desejáveis de serem ouvidas do que estas: eu vos aliviarei.
Vale
observar que Jesus não os convida a mudar de religião, mas sim para terem um
encontro pessoal com Ele, por que Ele mesmo e não uma religião que estivesse
criando, pois Ele não criou nenhuma religião, os aliviaria.
O
convite é feito por Jesus e é Ele quem dará alívio.
E
do que Jesus aliviará o convidado? Nada mais, nada menos do que do fardo
religioso que carregam cheios de ordenanças, proibições, exigências que mesmo
cumpridas não lhes trazem nenhum prazer, e nenhum proveito espiritual têm.
Aliás,
cumprir mandamentos religiosos tais como: não manusear, não tocar isto, não
provar aquilo ou ainda, não cortar cabelo, não usar jóias, não assistir TV,
etc., são ordens que servem somente para a vaidade pessoal de quem as cumpre.
O
apóstolo Paulo fez advertência aos colossenses no sentido de não se darem a
esta religiosidade que consiste num verdadeiro culto a si mesmo (Cl 2.20-23)[9], pois torna
demasiadamente presunçoso e orgulhoso aquele que se julga capaz de guardar
prescrições dessa natureza.
Na
parte final do convite de Jesus a sugestão é que as pessoas mudem de fardo,
levando agora o fardo de Jesus em lugar do fardo do farisaísmo, pois o de Jesus
é suave e leve, de modo que quem fizer esta troca alcançará descanso para sua
alma.
6. AVISO
AO RELIGIOSO
É preciso, pois, que se anuncie ao pecador religioso
que o evangelho é a boa nova que o une a Deus por meio do sofrimento e castigo
suportado por Jesus Cristo em seu favor, e isto para que seja liberto do terror
religioso a que está confinado.
O evangelho consiste em dizer ao pecador que
há um mediador entre Deus e os homens[10],
e que este Mediador já suportou em seu próprio corpo o castigo que é capaz de
lhe dar a paz com Deus[11],
paz que o processo religioso não é capaz de comunicar.
Eis porque razão o nascimento de Jesus foi
anunciado como sendo novas de grande alegria[12],
visto que por intermédio de sua obra ele libertaria o pecador do fardo
condenatório do pecado, o reconciliaria com Deus e isto lhe traria grande
contentamento.
Com efeito, a alegria não pode vir das
práticas religiosas, pois quem está constantemente envolvido com sacrifícios
para ser aceito não pode ao mesmo tempo desfrutar desse sentimento.
O evangelho é uma mensagem nova porque desde
o momento em que o homem deixou o Éden nada de igual chegou ao seu conhecimento
para lhe trazer alívio na alma. E é também uma mensagem boa porque lhe oferece
o melhor para a vida.
Na linguagem apostólica o evangelho é o poder
de Deus[13]
para livrar o homem do poder do pecado já que a religião não tem poder
suficiente para fazer isto.
7. A IGREJA E A RELIGIÃO
É preciso saber que pessoas que um dia foram
alcançadas pela graça e creram no evangelho, elas mesmas precisam ficar atentas
quanto ao assédio da religiosidade que insiste em lhes dizer que continuam
culpadas e, então, necessitadas de cumprir este ou aquele ritual ou mandamento religioso,
fazer este ou aquele sacrifício para serem livres da culpa.
Porém, o único sacrifício que Deus aceita
hoje é tanto o culto racional (Rm 12:1)[14], quanto o
louvor que confessa o nome de Jesus Cristo (Hb 13:15).[15]
Mesmo se tratando de uma mensagem sem
qualquer fundo de verdade, a pregação religiosa é capaz de enganar a muitos pelo
fato de que mesmo a pessoa que um dia nasceu de novo sua alma ainda não está totalmente
livre da inclinação de dar mais valor ao ritual do que ao que Deus proclama em
Sua Palavra.
E quando se precisa de rituais para se ter
mais fé, ou mesmo de estímulos religiosos para se sentir bem, isto é sinal de
que a fé se deslocou do eixo central, ou seja, da pessoa de Cristo.
Deste modo, o grande combate da fé não é
outro senão não se demover do evangelho para qualquer lado, menos ainda para o
da religiosidade.
Visto que a própria história bíblica já
demonstrou que o homem acha mais importante sacrificar do que crer, de se
esforçar ao invés de descansar na obra de Cristo, vale a pena seguir a orientação
do apóstolo Paulo e de vez em quando se examinar para saber se continua firme
na fé.[16]
As igrejas da galácia que haviam sido geradas
sob a pregação cristocêntrica do apóstolo Paulo são um exemplo de como o crente
não está imune ao ataque religioso, pois num certo momento de sua história elas
começam a ser influenciadas por outros pregadores, os quais diziam que os
crentes deveriam adotar algumas práticas da religião judaica para poderem
agradar a Deus.
A mensagem que ouviam dizia que entre outras
coisas eles deveriam se circuncidar e guardar certas regras do judaísmo, coisas
estas praticadas ao tempo do Antigo Testamento.[17]
Aos que estavam se inclinando a voltar à
religiosidade judaica Paulo os chama de insensatos ou loucos[18],
insistindo com eles para que continuem livres como Cristo os fez livres, ao
invés de voltarem à prisão ou ao jugo da prática religiosa.[19]
Ficar livre com a libertação produzida por
Cristo parecia algo estranho agora àquelas igrejas, e por isto acolhiam a
proposta da nova doutrina que as induziu a voltar a certos rituais religiosos.
Como os rituais contavam com o esforço humano
na sua observância, é bem provável que os crentes sentissem alguma segurança
emocional em adotá-los.
Aliás, a religiosidade toma conta facilmente
do coração porque o homem prefere mais a sensação do que a fé, mais o fazer do
que o crer.
Ao dizer aos gálatas que eles deveriam
continuar crendo somente em Cristo ao invés de tornarem aos rituais religiosos
de outrora Paulo, de alguma forma, estava lhes dizendo: Cristo sim, religião não,
liberdade sempre, escravidão jamais.
Voltar ao judaísmo era se dar a uma vida de
sacrifícios para conquistar com as próprias forças o direito de ser aceito por
Deus, o que constitui a essência de toda atividade carnal religiosa para glória
do homem.
No centro de toda a religiosidade humana está
o interesse do homem de provar que é capaz de salvar-se a si mesmo ao cumprir
mandamentos, ao invés de crer na obra de Cristo para salvá-lo.
Crer no sacrifício de Cristo, por outro lado,
é confiar na Sua pessoa para ver-se reconciliado com Deus por seu intermédio, de
modo que toda a glória passa a ser do Cristo que salva e não do homem que é
salvo.
Mas na contabilidade humana crer parece pouco
e esforçar-se dá a idéia de muito, o que torna o caminho da religiosidade mais
atraente do que o da fé.
Em razão disto a religiosidade acalenta o
orgulho de sentir-se aceito por seu esforço e capacidade, já que para o homem é
muita humilhação ser aceito por Deus por meio da ação salvadora de outra
pessoa, no caso, de Jesus Cristo.
Como as igrejas da galácia estavam prestes a
se tornarem grupos religiosos Paulo, então, lhes endereça uma carta para tentar
salvá-las da derrota da fé.
8. AS IGREJAS DE HOJE
Salvo melhor juízo, as igrejas modernas estão
indo pelo mesmo caminho das igrejas da galácia ao se tornarem cada vez mais
“religiogisadas”, cheias de práticas eminentemente religiosas que conflitam com
a fé.
Distraídos com as propostas e distantes do
conhecimento da Escritura os crentes não se dão conta de que as sugestões são feitas
no sentido de que adotem práticas religiosas como complementos da fé, como se a
obra de Cristo em seu favor não fosse em si mesma suficiente para realizar tudo
que deveria fazer para dar a salvação que Deus graciosamente lhes oferece.
É preciso que o crente saiba que todas as
bênçãos que Deus lhe deu estão em Cristo[20],
e que ninguém será mais abençoado ou terá mais bênçãos se cumprir este ou
aquele mandamento religioso criado pelo próprio homem.
A idéia de que “Cristo fez muito e o homem
deve ajudar um pouco”, não passa de uma proposta diabólica que deve ser rechaçada
prontamente por aquele que confessa a Jesus como Senhor.
Crer e somente crer é toda a essência do
evangelho, e tudo que passa disto está, como disse Paulo aos gálatas, na
iminência de cair da graça[21],
pois se alguém julga que pode justificar-se diante de Deus cumprindo leis e
mandamentos é porque não entendeu a gravidade do próprio pecado.
Paulo diz que combateu o bom combate e
guardou a fé[22],
ou seja, manteve-se crendo em Cristo e nada mais que isto, razão pela qual
estava certo do seu futuro glorioso.
9. PAULO E A RELIGIOSIDADE
Se alguém podia reivindicar questões
religiosas como sendo necessárias a vida do crente, esta pessoa era o próprio
apóstolo Paulo que era judeu por excelência, e foi um guardador zeloso da
religiosidade farisaica a ponto de ser insuperável nessa dedicação.
Paulo foi um religioso extremado de modo a exceder
a muitos na sua religião.[23]
Em sua defesa oral diante do Rei Agripa ele diz que viveu por muito tempo
conforme a seita mais severa de sua religião, a saber, o farisaísmo, fato este que
era de conhecimento público.[24]
Mesmo assim
ele agora julgava toda aquela religiosidade de outrora como escória pela
excelência do conhecimento de Cristo. [25]
Assim, em favor ou por causa da fé em Cristo Paulo
jogava fora toda sua religiosidade, ainda que a tivesse herdado de seus pais e
nela perseverado por tanto tempo.
Todavia, não se deve confundir religião com
igreja que são coisas distintas, já que uma vez convertido Paulo passa a fazer
parte da igreja que é o corpo vivo de Cristo[26].
Igreja é o conjunto das pessoas e não de
regras ou de rituais, que Jesus Cristo salvou para viverem com os olhos nEle e
descansados em Sua obra, razão pela qual tem natureza divina e conta com na
ação santificadora e vivificadora do Espírito Santo em seus membros.
É fato que a igreja pode se tornar uma religião
quando seus participantes deixam a graça e se envolvem com o legalismo como
estilo de vida, afastando-se de Cristo e de sua obra, como estava para
acontecer com as igrejas da galácia.
No entanto, quando a igreja se mantém em
Cristo e distante daquilo que deve guardar distância, ela evidencia sua própria
natureza de coluna da verdade[27]
e manifesta a sabedoria de Deus.[28]
Paulo,
em síntese, defendeu a igreja afastando-se por completo da religião.
10.
EVANGELIZAÇÃO DOS EVANGÉLICOS
A
essência da fé é crer total e plenamente no esforço de outro, a saber, de
Cristo, e nada no esforço pessoal para ser salvo e desfrutar dos inúmeros
benefícios presentes e futuros da salvação, com disposição constante de amar a
Deus sobre todas as coisas e glorificá-lo para sempre.
Sendo
assim, os evangélicos precisam voltar a ouvir o evangelho para novamente
desfrutarem da graça divina que em Cristo Deus manifestou. O evangelho precisa
ser pregado dentro das igrejas pois muitos poderão ter caído da graça quando deixaram a fé e andaram pelo caminho das
obras.
Aos
gálatas Paulo diz que eles estavam caindo
da graça não porque cometeram um pecado específico tal como: prostituição,
roubo, adultério ou coisa parecida, mas sim porque estavam deixando Cristo para
se darem à prática do judaísmo que não tinha mais razão de ser quando creram em
Cristo.
E
mesmo hoje as igrejas que se saturam de mensagens de auto ajuda precisam ouvir
o evangelho que trata da ajuda do alto, para que seus membros tornem ao caminho
eterno e andem assim em novidade da vida[29].
É,
pois, tempo dos crentes voltarem a provar do alívio, da liberdade e do descanso
que somente Cristo pode lhes dar, pois quem está em Cristo não prova nem de
superstição nem de medo, mas de justiça, paz e alegria no Espírito como é
próprio do Reino de Deus.[30]
Assim
dizer Religião Nunca Mais é:
a - estar certo de que Cristo é totalmente suficiente para reconciliá-lo
com Deus;
b - afirmar que ouviu o convite de Jesus – vinde a mim - e provou do alívio que somente Ele é capaz de
oferecer – e eu vos aliviarei;
c - glorificar a Deus reconhecendo a obra de seu Filho como único
capaz para lhe trazer salvação;
d - dizer que considera tudo o mais como refugo pelo sublime prazer de
conhecer a Cristo e o poder de sua ressurreição;
e - descansar em quem tem crido, estando certo de que Ele é poderoso
para guardar o seu tesouro até o dia final,
Não seria isto um pouco da vida abundante que
Cristo veio trazer?[31]
É provável que sim.
Pr.
Lutero de Paiva Pereira
[2]
Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus
Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações. (Tg 1.1).
[3]
Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o
próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o
nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e
a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.( Tg 1.26-27).
[4]
Dicionário de Filosofia. Nicola Abbagnano; Martins Fontes, SP, 2000, p. 846
[8]
Vinde a mim, todos os
que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. (Mt 11.28)
[9] Se, pois,
estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam
ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não
proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os
preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de
sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não
são de valor algum senão para a satisfação da carne. (Cl 2.20-23)
[10]
Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os
homens, Jesus Cristo homem (I Tm 2.5)
[11]
Mas ele foi ferido por
causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados ( Isa 53.5)
[12]
E o anjo lhes disse: Não
temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o
povo (Lc 2..10)
[13]
Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o
poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também
do grego. (Rm 1.16)
[15]
Portanto, ofereçamos
sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que
confessam o seu nome. (Hb 13:15).
[16]
Examinai-vos a vós
mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a
vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. (2
Co 13.5)
[17] Mas, quando
não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses. Mas agora,
conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez
a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais
dias, e meses, e tempos, e anos. (Gl 4.8-10)
[18] O insensatos gálatas! quem vos fascinou para
não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi
evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o
Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos
que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne? (Gl 3.1-3)
[19] Estai, pois,
firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos
debaixo do jugo da servidão. Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes
circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. (Gl 4.1-2)
[20]
Bendito o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais
nos lugares celestiais em Cristo ( Ef 1.3)
[21]
Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais
pela lei; da graça tendes caído (Gl 5.4)
[22]
Combati o bom combate,
acabei a carreira, guardei a fé. ( 2 Tm 4. 7)
[23]
E na minha nação excedia
em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de
meus pais. (Gl 1.14) .
[24]
Quanto à minha vida, desde a mocidade, como decorreu desde o princípio entre o
meu povo e em Jerusalém, todos os judeus a conhecem; pois, na verdade, eu era
conhecido deles desde o princípio, se assim o quiserem testemunhar, porque vivi
fariseu conforme a seita mais severa de nossa religião. (At 26.4-5).
[25]
E, na verdade, tenho
também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo
Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as
considero como escória, para que possa ganhar a Cristo (Fp 3.8)
[26]
Regozijo-me agora no que
padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo
seu corpo, que é a igreja (Cl 1.24) .
[27]
Mas, se tardar, para que
saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna
e firmeza da verdade ( I Tm 3.15).
[28]
Para que agora, pela
igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades
nos céus (Ef 3.10).
[29]
Fomos, pois, sepultados com Cristo na sua morte pelo batismo; para que, como
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também
andemos nós em novidade de vida. (Rm 6.4).
[30]
Porque o reino de Deus
não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. (Rm
14.17)
[31]
O ladrão não vem senão a
roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com
abundância. (Jo 10.10)
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