quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

RELIGIÃO NUNCA MAIS




  1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Seria o caso de Deus ter enviado seu Filho Unigênito ao mundo para criar uma religião diferente das existentes a seu tempo ou das que mais tarde viriam a existir? Se a resposta for sim, qual seria ela? Se for não, porque defender alguma?

Um exame mais aprofundado da Escritura é suficiente para dizer que o propósito de Cristo não foi criar uma religião, mas sim estabelecer um caminho para o homem ir a Deus.[1]

Cristo veio ao mundo para tornar possível ao homem ter comunhão com Deus, ao invés de criar um sistema ritualístico para se cumprido para a partir dele se alcançar algo. No Éden não havia espaço para a religião porque o relacionamento entre Deus e o homem estava ordem e sem qualquer embaraço, e a partir de Cristo também não pois através dEle o homem é reconciliado com Deus. E o homem reconciliado não precisa de ritual algum para se relacionar com o Senhor.

Quando se lê a carta de Tiago endereçada às doze tribos que se encontram na Dispersão[2], ele não defende o cristianismo como uma religião nascente que deveria ser adotada pelos seus leitores, embora tivesse tido oportunidade de fazê-lo caso fosse importante.

Pelo contrário, o escritor diz que se alguém deseja ser religioso, além de refrear a língua é necessário guardar-se incontaminado do mundo e assistir órfãos e viúvas em suas tribulações, ou seja, ser santo e solidário[3], a nada mais do que isto.

Não obstante inexistir na Bíblia qualquer sugestão ou orientação para se criar uma religião, é a partir dela que os homens inventam as mais diversas e, nalguns casos, até mesmo as mais extravagantes. E a multiplicidade religiosa é tamanha que as vezes parece ser impossível surgir algo novo e, no entanto, não demora para que a surpresa aconteça.

Na multidão das opções religiosas ninguém fica sem satisfazer seu espírito religioso pois se tem de tudo um pouco nesse mercado de bons “negócios”, ainda que o espírito religioso satisfeito não significa e nem garanta satisfação pessoal.

E no ativo mundo da religiosidade ninguém se detém para pensar o quanto a religião gera cansaço naquele que a ela se dedica, pelo esforço despendido para ser minimamente sério no cumprimento de seus preceitos e rituais.
Olhando pelo lado do conceito filosófico “religião consiste em crença na garantia sobrenatural de salvação, e técnicas destinadas a obter e conservar essa garantia.”[4]

Talvez esteja exatamente no campo das “técnicas destinadas a obter e conservar a garantia da salvação” a concentração de todo o cansaço, sofrimento e ausência de alegria que vem da religião, pois quem desenvolve técnicas destinadas a obter a salvação e se esforça para conservar o que pensa ter conseguido não tem como fazer tudo isto com alegria e prazer.

Com efeito, encontrar um religioso satisfeito, alegre e amável é missão quase impossível, principalmente pelo fato de que duas realidades distintas embalam o seu comportamento, a saber, a superstição e o medo.

Pela superstição se criam rituais e se cultua qualquer coisa, e pelo medo se faz isto sempre e constantemente numa retro alimentação sem fim entre ambos os sentimentos.

Sem o medo a superstição é nada e sem a superstição o medo é domável, mas como os dois andam sempre juntos a religiosidade tem assegurada sua perpetuidade da mesma forma que um trem garante seu deslocamento por intermédio de dois trilhos que o direciona.

Para bem compreender a obra de Cristo e seus efeitos sobre a religiosidade humana é tempo, então, de começar a examinar alguns pontos.

2. A RELIGIÃO E SUA UNIVERSALIDADE
A religião a despeito de causar mais desgaste do que ajuda ao ser humano em seus conflitos pessoais de ordem espiritual, se mostra inerente ao seu viver, sendo praticamente impossível encontrar alguém que não tenha ou não teve envolvimento com suas práticas.

Em qualquer região do mundo, independentemente do povo pesquisado, a religiosidade está presente em sua cultura através de rituais variados.
À luz de estudos feitos em diferentes épocas e por pesquisadores diversos se pode concluir que existe um sentimento universal presente em todos os homens em termos de religiosidade, a ponto de se poder afirmar que um e o mesmo espírito religioso atua no homem em toda geografia e época.

Povos sem nenhum contacto com o homem culto comungam de uma paixão incontrolável em direção ao sobrenatural, independentemente da coisa adorada ser rude e a forma da adoração, extravagante.

Por outro lado, povos de bom nível cultural também têm a mesma inclinação, e nem mesmo seu desenvolvimento intelectual é capaz de lhe afastar da alma tal disposição religiosa, ainda que o objeto adorado e a forma de fazê-lo possam ser, de alguma forma e em certos momentos, mais refinados.

A espontaneidade para a religiosidade indica que ninguém precisa ensinar religião ao homem, pois seu espírito é seu mestre por excelência neste mister.
Se observada com mais detalhes a religiosidade dos povos não civilizados e a dos povos desenvolvidos, é possível dizer que há uma semelhança e um ponto comum entre eles, qual seja,  que suas práticas tendem a ser rigorosas, desgastantes, cansativas e opressoras para seus praticantes, de modo que nenhuma religião se mostra complacente com seu fiel.

Na verdade não há religião sem opressão religiosa, ou seja, inexiste religião light, pois na sua essência está o sacrifício que nunca pode ser de pequena intensidade para ter valor.
Há casos de prática religiosa até mesmo irracional como, por exemplo, quando o ritual religioso leva o praticante ao extremo de sujeitar a dor física, sem que isto lhe cause algum espanto ou o chame a refletir sobre sua razão de ser.

Rituais de auto-flagelo  indicam que o comportamento religioso muitas vezes sai do controle da sanidade mental, de modo que quanto mais absurdo eles se mostram mais séria a religião parece aos olhos dos seus adeptos.

No Ocidente ou no Oriente, no tempo antigo ou na época moderna, não importa, a religião não sofre descontinuidade, ainda que passe por fases de intensidade de maior ou de menor fervor. 

3. RELIGIÃO E SACRIFÍCIO

Mas por que a religião carrega consigo uma proposta de sofrimento a ser suportado pelo religioso? Por que toda religião se mostra, em regra, torturante?

Na verdade a religião tem que ser do jeito que é pois o homem carrega uma impressão negativa do divino em sua mente, a qual lhe impõe castigar-se como modo de ser aceito por aquele a quem dirige seu processo cúltico.

Como reside na consciência humana uma cobrança de que é devedor aos deuses de algum sofrimento pessoal para agradá-los, o ritual e os mandamentos religiosos não são leve exatamente para terem proporcionalidade com o sentimento do coração.

É sabido que um dos significados da palavra religião é de esforço humano para religar o homem com Deus o qual consiste, então, em severas exigências feitas a si mesmo e ao semelhante como condição para se obter o que se deseja.

Para se religar com Deus o homem precisa, então, provar que é capaz de sofrer alguma pena para pagar seu débito. Todavia, como ele estima seu débito como algo impagável seus sacrifícios religiosos feitos com o objetivo de “amortizar” a dívida se estende por toda a vida.

Assim, a eternização da prática religiosa prova que o religioso não sente alívio algum enquanto obedece seu ritual e doutrina, pois se não fosse assim o sacrifício feito uma única vez seria suficiente para aliviá-lo.

Convicto de que deve e certo de que não pagará sua conta, o homem se envolve em práticas estranhas como um verdadeiro “financiamento religioso da dívida”, o qual só aumenta o rombo de suas “finanças” espirituais, emocionais e físicas.

Assim, todo novo sacrifício proposto será bem vindo, e se a religião quer ter sucesso diante dos olhos de seus adeptos deverá ser capaz de provocar novos e diferentes desafios de sofrimento.

4. RELIGIOSIDADE E TEOLOGIA BÍBLICA

A teologia bíblica quando trata do pecado do homem é capaz de explicar de forma consistente porque a religiosidade humana é carregada de peso e de sacrifício.

A partir do momento que o homem teve que se esconder de Deus[5] em razão da transgressão cometida, o sentimento de culpa passou a atormentá-lo.

Nisto criou-se o processo de livramento da culpa, o qual consiste na prática religiosa adotada por cada povo segundo sua tradição e cultura, cujo ritual passa de geração a geração sem ao menos ser avaliado ou contestado por quem o herda.

Apesar de pecador o homem, no entanto, tem certa inclinação de encontrar-se com Deus, de modo que sua alma tenta criar caminhos alternativos carregados de superstição que possam lhe satisfazer essa aspiração.

Daí a origem da religiosidade.
Com a culpa presente na alma humana a religião se desenvolve sob a idéia de imprecar ao religioso algum tipo de castigo como punição pelo sentimento de transgressão que o corrói.

O castigo se torna, então, o meio de adquirir o perdão e a declaração de inocência diante do justo Juiz.[6]

Desta forma a religião acaba se constituindo de práticas de castigo, flagelo, tortura e sofrimento como forma de se alcançar absolvição da culpa.
O que o homem ignora, no entanto, é que o auto-castigo não é capaz de inocentá-lo do pecado nem diante dos próprios olhos, menos ainda em face de Deus.

O pecado é, pois, a causa primária de toda religiosidade humana pois além de promover a ruptura no relacionamento entre Deus e o homem, também instiga em sua alma a disposição de reverter este quadro caótico por meio  do cumprimento de normas e preceitos criados por ele mesmo.

5. RELIGIÃO DENTRO DA BÍBLIA
Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento a Bíblia relata o comportamento religioso estranho de alguns povos. No contexto do Antigo do Testamento, por exemplo, os cananeus que habitavam a Mesopotâmia chegavam a queimar seus filhos aos deuses para lhes prestar culto, pratica esta que foi copiada pelo próprio povo de Israel (2 Cr 28:3).[7]

Eis um ritual macabro que prova o quanto o sentimento religioso é perigoso para o homem, não obstante não pareça estranho ao seu praticante.

Quando chega o tempo do Novo Testamento a prática religiosa relatada na Escritura, embora o registro não abranja todo o comportamento religioso vigente da época, fala dos fariseus como uma religião muita severa para com seus adeptos.


O farisaísmo oprimia seus membros, sugava suas forças e os tornavam cada vez mais esquisitos diante das outras pessoas.

Os evangelistas observam, então, que Jesus se encontra com pessoas que estão cansadas em suas emoções, eis que se encontram sobrecarregadas de ordens e mandamentos religiosos que lhes impõem um comportamento difícil de ser levado a sério constantemente.

A esses pobres coitados que se dedicam a uma religião que lhes retira o vigor Jesus Cristo faz o agradável convite: vinde a mim e eu vos aliviarei[8].

Uma pessoa que está cansada e sobrecarregada não pode haver palavras mais agradáveis e desejáveis de serem ouvidas do que estas: eu vos aliviarei.

Vale observar que Jesus não os convida a mudar de religião, mas sim para terem um encontro pessoal com Ele, por que Ele mesmo e não uma religião que estivesse criando, pois Ele não criou nenhuma religião, os aliviaria.

O convite é feito por Jesus e é Ele quem dará alívio.

E do que Jesus aliviará o convidado? Nada mais, nada menos do que do fardo religioso que carregam cheios de ordenanças, proibições, exigências que mesmo cumpridas não lhes trazem nenhum prazer, e nenhum proveito espiritual têm.

Aliás, cumprir mandamentos religiosos tais como: não manusear, não tocar isto, não provar aquilo ou ainda, não cortar cabelo, não usar jóias, não assistir TV, etc., são ordens que servem somente para a vaidade pessoal de quem as cumpre.

O apóstolo Paulo fez advertência aos colossenses no sentido de não se darem a esta religiosidade que consiste num verdadeiro culto a si mesmo (Cl 2.20-23)[9], pois torna demasiadamente presunçoso e orgulhoso aquele que se julga capaz de guardar prescrições dessa natureza.

Na parte final do convite de Jesus a sugestão é que as pessoas mudem de fardo, levando agora o fardo de Jesus em lugar do fardo do farisaísmo, pois o de Jesus é suave e leve, de modo que quem fizer esta troca alcançará descanso para sua alma.

 6. AVISO AO RELIGIOSO
É preciso, pois, que se anuncie ao pecador religioso que o evangelho é a boa nova que o une a Deus por meio do sofrimento e castigo suportado por Jesus Cristo em seu favor, e isto para que seja liberto do terror religioso a que está confinado.

O evangelho consiste em dizer ao pecador que há um mediador entre Deus e os homens[10], e que este Mediador já suportou em seu próprio corpo o castigo que é capaz de lhe dar a paz com Deus[11], paz que o processo religioso não é capaz de comunicar.

Eis porque razão o nascimento de Jesus foi anunciado como sendo novas de grande alegria[12], visto que por intermédio de sua obra ele libertaria o pecador do fardo condenatório do pecado, o reconciliaria com Deus e isto lhe traria grande contentamento.

Com efeito, a alegria não pode vir das práticas religiosas, pois quem está constantemente envolvido com sacrifícios para ser aceito não pode ao mesmo tempo desfrutar desse sentimento.

O evangelho é uma mensagem nova porque desde o momento em que o homem deixou o Éden nada de igual chegou ao seu conhecimento para lhe trazer alívio na alma. E é também uma mensagem boa porque lhe oferece o melhor para a vida.

Na linguagem apostólica o evangelho é o poder de Deus[13] para livrar o homem do poder do pecado já que a religião não tem poder suficiente para fazer isto.

7. A IGREJA E A RELIGIÃO
É preciso saber que pessoas que um dia foram alcançadas pela graça e creram no evangelho, elas mesmas precisam ficar atentas quanto ao assédio da religiosidade que insiste em lhes dizer que continuam culpadas e, então, necessitadas de cumprir este ou aquele ritual ou mandamento religioso, fazer este ou aquele sacrifício para serem livres da culpa.

Porém, o único sacrifício que Deus aceita hoje é tanto o culto racional (Rm 12:1)[14], quanto o louvor que confessa o nome de Jesus Cristo (Hb 13:15).[15]
Mesmo se tratando de uma mensagem sem qualquer fundo de verdade, a pregação religiosa é capaz de enganar a muitos pelo fato de que mesmo a pessoa que um dia nasceu de novo sua alma ainda não está totalmente livre da inclinação de dar mais valor ao ritual do que ao que Deus proclama em Sua Palavra.

E quando se precisa de rituais para se ter mais fé, ou mesmo de estímulos religiosos para se sentir bem, isto é sinal de que a fé se deslocou do eixo central, ou seja, da pessoa de Cristo.

Deste modo, o grande combate da fé não é outro senão não se demover do evangelho para qualquer lado, menos ainda para o da religiosidade.
Visto que a própria história bíblica já demonstrou que o homem acha mais importante sacrificar do que crer, de se esforçar ao invés de descansar na obra de Cristo, vale a pena seguir a orientação do apóstolo Paulo e de vez em quando se examinar para saber se continua firme na fé.[16]

As igrejas da galácia que haviam sido geradas sob a pregação cristocêntrica do apóstolo Paulo são um exemplo de como o crente não está imune ao ataque religioso, pois num certo momento de sua história elas começam a ser influenciadas por outros pregadores, os quais diziam que os crentes deveriam adotar algumas práticas da religião judaica para poderem agradar a Deus.
A mensagem que ouviam dizia que entre outras coisas eles deveriam se circuncidar e guardar certas regras do judaísmo, coisas estas praticadas ao tempo do Antigo Testamento.[17]

Aos que estavam se inclinando a voltar à religiosidade judaica Paulo os chama de insensatos ou loucos[18], insistindo com eles para que continuem livres como Cristo os fez livres, ao invés de voltarem à prisão ou ao jugo da prática religiosa.[19]

Ficar livre com a libertação produzida por Cristo parecia algo estranho agora àquelas igrejas, e por isto acolhiam a proposta da nova doutrina que as induziu a voltar a certos rituais religiosos.

Como os rituais contavam com o esforço humano na sua observância, é bem provável que os crentes sentissem alguma segurança emocional em adotá-los.
Aliás, a religiosidade toma conta facilmente do coração porque o homem prefere mais a sensação do que a fé, mais o fazer do que o crer.

Ao dizer aos gálatas que eles deveriam continuar crendo somente em Cristo ao invés de tornarem aos rituais religiosos de outrora Paulo, de alguma forma, estava lhes dizendo: Cristo sim, religião não, liberdade sempre, escravidão jamais.

Voltar ao judaísmo era se dar a uma vida de sacrifícios para conquistar com as próprias forças o direito de ser aceito por Deus, o que constitui a essência de toda atividade carnal religiosa para glória do homem.

No centro de toda a religiosidade humana está o interesse do homem de provar que é capaz de salvar-se a si mesmo ao cumprir mandamentos, ao invés de crer na obra de Cristo para salvá-lo.

Crer no sacrifício de Cristo, por outro lado, é confiar na Sua pessoa para ver-se reconciliado com Deus por seu intermédio, de modo que toda a glória passa a ser do Cristo que salva e não do homem que é salvo.

Mas na contabilidade humana crer parece pouco e esforçar-se dá a idéia de muito, o que torna o caminho da religiosidade mais atraente do que o da fé.
Em razão disto a religiosidade acalenta o orgulho de sentir-se aceito por seu esforço e capacidade, já que para o homem é muita humilhação ser aceito por Deus por meio da ação salvadora de outra pessoa, no caso, de Jesus Cristo.

Como as igrejas da galácia estavam prestes a se tornarem grupos religiosos Paulo, então, lhes endereça uma carta para tentar salvá-las da derrota da fé.

8. AS IGREJAS DE HOJE
Salvo melhor juízo, as igrejas modernas estão indo pelo mesmo caminho das igrejas da galácia ao se tornarem cada vez mais “religiogisadas”, cheias de práticas eminentemente religiosas que conflitam com a fé.

Distraídos com as propostas e distantes do conhecimento da Escritura os crentes não se dão conta de que as sugestões são feitas no sentido de que adotem práticas religiosas como complementos da fé, como se a obra de Cristo em seu favor não fosse em si mesma suficiente para realizar tudo que deveria fazer para dar a salvação que Deus graciosamente lhes oferece.

É preciso que o crente saiba que todas as bênçãos que Deus lhe deu estão em Cristo[20], e que ninguém será mais abençoado ou terá mais bênçãos se cumprir este ou aquele mandamento religioso criado pelo próprio homem.

A idéia de que “Cristo fez muito e o homem deve ajudar um pouco”, não passa de uma proposta diabólica que deve ser rechaçada prontamente por aquele que confessa a Jesus como Senhor.

Crer e somente crer é toda a essência do evangelho, e tudo que passa disto está, como disse Paulo aos gálatas, na iminência de cair da graça[21], pois se alguém julga que pode justificar-se diante de Deus cumprindo leis e mandamentos é porque não entendeu a gravidade do próprio pecado.

Paulo diz que combateu o bom combate e guardou a fé[22], ou seja, manteve-se crendo em Cristo e nada mais que isto, razão pela qual estava certo do seu futuro glorioso.

9. PAULO E A RELIGIOSIDADE
Se alguém podia reivindicar questões religiosas como sendo necessárias a vida do crente, esta pessoa era o próprio apóstolo Paulo que era judeu por excelência, e foi um guardador zeloso da religiosidade farisaica a ponto de ser insuperável nessa dedicação.

Paulo foi um religioso extremado de modo a exceder a muitos na sua religião.[23] Em sua defesa oral diante do Rei Agripa ele diz que viveu por muito tempo conforme a seita mais severa de sua religião, a saber, o farisaísmo, fato este que era de conhecimento público.[24]

 Mesmo assim ele agora julgava toda aquela religiosidade de outrora como escória pela excelência do conhecimento de Cristo. [25]

Assim, em favor ou por causa da fé em Cristo Paulo jogava fora toda sua religiosidade, ainda que a tivesse herdado de seus pais e nela perseverado por tanto tempo.

Todavia, não se deve confundir religião com igreja que são coisas distintas, já que uma vez convertido Paulo passa a fazer parte da igreja que é o corpo vivo de Cristo[26].

Igreja é o conjunto das pessoas e não de regras ou de rituais, que Jesus Cristo salvou para viverem com os olhos nEle e descansados em Sua obra, razão pela qual tem natureza divina e conta com na ação santificadora e vivificadora do Espírito Santo em seus membros.

É fato que a igreja pode se tornar uma religião quando seus participantes deixam a graça e se envolvem com o legalismo como estilo de vida, afastando-se de Cristo e de sua obra, como estava para acontecer com as igrejas da galácia.

No entanto, quando a igreja se mantém em Cristo e distante daquilo que deve guardar distância, ela evidencia sua própria natureza de coluna da verdade[27] e manifesta a sabedoria de Deus.[28]

Paulo, em síntese, defendeu a igreja afastando-se por completo da religião.

10. EVANGELIZAÇÃO DOS EVANGÉLICOS

A essência da fé é crer total e plenamente no esforço de outro, a saber, de Cristo, e nada no esforço pessoal para ser salvo e desfrutar dos inúmeros benefícios presentes e futuros da salvação, com disposição constante de amar a Deus sobre todas as coisas e glorificá-lo para sempre.

Sendo assim, os evangélicos precisam voltar a ouvir o evangelho para novamente desfrutarem da graça divina que em Cristo Deus manifestou. O evangelho precisa ser pregado dentro das igrejas pois muitos poderão ter caído da graça quando deixaram a fé e andaram pelo caminho das obras.

Aos gálatas Paulo diz que eles estavam caindo da graça não porque cometeram um pecado específico tal como: prostituição, roubo, adultério ou coisa parecida, mas sim porque estavam deixando Cristo para se darem à prática do judaísmo que não tinha mais razão de ser quando creram em Cristo.

E mesmo hoje as igrejas que se saturam de mensagens de auto ajuda precisam ouvir o evangelho que trata da ajuda do alto, para que seus membros tornem ao caminho eterno e andem assim em novidade da vida[29].

É, pois, tempo dos crentes voltarem a provar do alívio, da liberdade e do descanso que somente Cristo pode lhes dar, pois quem está em Cristo não prova nem de superstição nem de medo, mas de justiça, paz e alegria no Espírito como é próprio do Reino de Deus.[30]

Assim dizer Religião Nunca Mais é:

a  -  estar certo de que Cristo é totalmente suficiente para reconciliá-lo com Deus;
b  - afirmar que ouviu o convite de Jesus – vinde a mim - e provou do alívio que somente Ele é capaz de oferecer – e eu vos aliviarei;
c - glorificar a Deus reconhecendo a obra de seu Filho como único capaz para lhe trazer salvação;
d -  dizer que considera tudo o mais como refugo pelo sublime prazer de conhecer a Cristo e o poder de sua ressurreição;
e - descansar em quem tem crido, estando certo de que Ele é poderoso para guardar o seu tesouro até o dia final,

Não seria isto um pouco da vida abundante que Cristo veio trazer?[31]  É provável que sim.

                                                     Pr. Lutero de Paiva Pereira


[1] Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. (Jo 14:6)
[2]  Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações. (Tg 1.1).
[3] Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.( Tg 1.26-27).
[4] Dicionário de Filosofia. Nicola Abbagnano; Martins Fontes, SP, 2000, p. 846
[5] E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. (Gn 3:10)
[6] Deus é juiz justo... (Sl 7:11)
[7] Também queimou incenso no vale do filho de Hinom, e queimou a seus filhos no fogo, conforme as abominações dos gentios que o SENHOR tinha expulsado de diante dos filhos de Israel (2 Cr 28:3)
[8] Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. (Mt 11.28)
[9] Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne. (Cl 2.20-23)
[10]  Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem (I Tm 2.5)
[11] Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados ( Isa 53.5)
[12] E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo (Lc 2..10)
[13]  Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. (Rm 1.16)
[14] Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.( Rm 12:1)
[15] Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. (Hb 13:15).
[16] Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. (2 Co 13.5)
[17] Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses. Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. (Gl 4.8-10)
[18] O insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne? (Gl 3.1-3)
[19] Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão. Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. (Gl 4.1-2)
[20] Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo ( Ef 1.3)
[21]  Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído (Gl 5.4)
[22] Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. ( 2 Tm 4. 7)  
[23] E na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais. (Gl 1.14) .
[24] Quanto à minha vida, desde a mocidade, como decorreu desde o princípio entre o meu povo e em Jerusalém, todos os judeus a conhecem; pois, na verdade, eu era conhecido deles desde o princípio, se assim o quiserem testemunhar, porque vivi fariseu conforme a seita mais severa de nossa religião. (At 26.4-5).
[25] E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo (Fp 3.8)
[26] Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja (Cl 1.24) .  
[27] Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade ( I Tm 3.15).
[28] Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus (Ef 3.10).
[29] Fomos, pois, sepultados com Cristo na sua morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. (Rm 6.4).
[30] Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. (Rm 14.17)
[31] O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. (Jo 10.10)

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