segunda-feira, 31 de março de 2014

NAS AFLIÇÕES, BOM ÂNIMO

A dura realidade é que a vida humana se desenvolve num palco chamado mundo onde a aflição é um sentimento e uma experiência recorrente. Não há quem nunca tenha passado por aflição física, psíquica, emocional ou espiritual. Pessoas há que sofreram muitas delas simultaneamente e, nalguns casos, por todas elas por longo tempo.Bom seria se a aflição não fosse essa companheira diária que traz incômodo e desassossego, porque aí tudo seria melhor.A aflição, no entanto, está disseminada por todo lado e quando menos se espera seu ataque é fulminante e irresistível e, não poucas vezes, até mesmo destruidor.É fato que o salmista encontrou proveito na própria aflição quando diz que ela foi útil para que por seu intermédio aprendesse os caminhos de Deus: Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos (Sl 119.71). Todavia, não se pode tomar este versículo como regra geral para dizer que toda aflição tem esse efeito pedagógico na vida daqueles que sofrem, pois muitas vezes ela vem e vai sem imprimir tal ensinamento ao aflito.A Bíblia registra, em termos bem objetivos e sob palavras diretas de Jesus que mesmo seus discípulos não estariam imunes ao sofrimento.Jesus categoricamente afirma:Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo ( Jo 16.33).Quando Jesus procura despertar o ânimo dos discípulos para viverem num mundo cheio de aflições, sua ênfase não está posta no sentido de que eles não teriam aflições, mas sim no fato de que Ele, Jesus, venceu o mundo.Seria bem melhor se Jesus tivesse dito: “tende bom ânimo, no mundo não tereis aflições”, mas Ele não disse assim. Pelo contrário, Jesus afirma que “no mundo tereis aflições”, mas logo em seguida  diz “tende bom ânimo, eu venci o mundo”. O que suas palavras recomendam é que o ânimo dos discípulos deve ser posto no fato de que Ele, Jesus, venceu o mundo, mesmo quando as aflições atingem suas vidas.
O mundo e suas aflições presentes passarão, mas a vitória de Cristo sobre o mundo permanecerá para sempre e quem crê assim jamais será abalado.
É bom que os crentes saibam que a Bíblia diz que eles passarão por aflições, e isto para que não fiquem iludidos com mensagens estranhas que “vendem” o que não podem entregar, prometendo o que Deus não prometeu, pois quem acredita em palavras de homens e desacredita da Palavra de Deus faz aliança com a desilusão e não demora para viver situação pior do que aquela causada pela própria aflição.
Quem crê que no mundo não terá aflição e logo em seguida é atingido por qualquer delas, corre o risco de ver até mesmo sua fé em Cristo abalada ao supor que o sofrimento que agora o atinge é fruto da falta de amor de Deus por ele.
Mas aflição não decorre de falta de amor de Deus pelo crente, pois Jesus mesmo disse que no mundo os crentes terão aflição, e disse isso mesmo sendo Ele próprio a prova do amor de Deus pelos homens.
Desilusão é uma esperança não concretizada e toda esperança frustrada se mostra altamente destrutiva para quem foi por ela atingida. Quem conhece uma pessoa desiludida pode muito bem testemunhar como é difícil levantar seu ânimo, de modo que não vale a pena crer em promessas falsas sob o risco de abrir um buraco maior do que aquele que se encontrava ao tempo em que abraçou uma mensagem enganosa.
Mas se a Bíblia é sincera quanto ao fato dos crentes passarem por aflições, não é menos certo que ela também é sincera ao afirmar sobre a total ausência de aflições no mundo vindouro.
Jesus venceu este mundo de sofrimento para trazer a existência nesta terra mesmo, ao tempo de Sua segunda vinda, um mundo de não sofrimento, e foi neste sentido que Ele disse aos seus discípulos para terem ânimo em Sua vitória: “tende bom ânimo, eu venci mundo”.
Se Jesus Cristo não tivesse vencido o mundo, ou seja, se o mundo O tivesse derrotado, as aflições do tempo presentes seriam duradouras e aí sim não haveria esperança para os crentes em termos de eternidade de bem-estar.
Todavia, o contrário é o que aconteceu, ou seja, Jesus venceu o mundo e por Sua vitória em breve Ele trará um mundo novo para morada eterna dos salvos, quando então a glória de Deus cobrirá toda a terra e nenhuma aflição mais será provada.
Foi exatamente por ter o ânimo posto nessa vitória de Jesus Cristo sobre o mundo é que o apóstolo Paulo, mesmo sofrendo todo tipo de aflição, escreveu: Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada (Rm 8.18).
As aflições do tempo presente que Paulo sofreu foram de várias ordens: 5 vezes recebeu uma quarentena de açoites menos um dos judeus; foi apedrejado; teve um “espinho” na carne do qual nunca foi livre; foi perseguido; teve que fugir para não ser morto ; foi preso, passou perigo em naufrágios, perigos no deserto, perigos na cidade  todos os abandonaram; sentiu angústias, etc (2 CO 11.23-27).
Esses sofrimentos que lhe deram até mesmo desespero em relação a própria vida por serem intensos e quase insuportáveis, não deixaram que seu ânimo se afastasse do futuro que Cristo garante aos salvos, pois ele afirma que a glória que em nós será revelada naquela época é muito maior do que as aflições do tempo presente.
A respeito desse futuro de glória que Deus tem reservado para aqueles que o amam o apóstolo escreveu: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam” (1 Co 2.9).
Portanto:
1º ) se você está padecendo aflições, isto não é prova que Deus não o ama, pois Deus amou a Paulo e o escolheu desde o ventre de sua mãe e mesmo assim ele sofreu muito durante sua carreira cristã;
2º ) Se você está sob aflições, isto não é prova que você está em pecado pois o sofrimento em si mesmo não é coisa alheia a vida, inclusive dos que foram santificados em Jesus Cristo;
3º ) Se você está no contexto de aflições, isto não significa que o Diabo está atacando sua vida, pois quem está em Cristo o Maligno não lhe toca (1 Jo 5.18), e não obstante isto Jesus disse aos seus discípulos que eles teriam aflição; 
4º) Se você está envolvido por aflições isto não indica que sua fé é pequena, porque a fé não foi dada para evitar sofrimento nem mesmo para garantir um vida tranquila, mas sim para esperar o cumprimento das promessas de Deus, e
5º) Se você está imerso em aflições a única coisa que isto prova é que você está vivo e mora num mundo que ainda sofre os efeitos do seu afastamento de Deus, mas esse sofrimento um dia será afastado pela manifestação da glória de Deus.
Para quem está em aflição a palavra de Cristo é: tende bom ânimo, Eu venci o mundo. Aquele que padece aflição deve consolar-se também com as palavras de Paulo, um homem que suportou aflições de toda ordem, inclusive por ser um pregador do evangelho, coisa que nenhum de nós sofreu até hoje. Ele diz: as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.



Lutero de Paiva Pereira

sexta-feira, 21 de março de 2014

LIVRE PELAS MARCAS DE CRISTO


A religiosidade é algo tão impregnado na alma humana, que mesmo depois de ter sido feito livre dela por força da obra redentora de Cristo o crente ainda corre o risco de voltar às suas práticas tornando-se novamente escravo.
A Bíblia faz saber que existe tanto o evangelho quanto o “outro evangelho”, aquele vindo de Deus e apresentando Cristo como libertador do homem, ao passo que este vindo do homem para fazer do rito e do ritual religioso o seu grande escravizador.
Foi nestes termos que o apóstolo falou do outro evangelho que estava atuando já ao tempo da igreja primitiva pra afastar os crentes do evangelho: Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho (Gl 1.6).
Se os gálatas estavam tão depressa passando do evangelho da graça de Cristo para outro evangelho, é porque este último estava atuando fortemente em seus corações como até os dias atuais o faz.
Biblicamente falando a religiosidade consiste em ritos e rituais desprovidos de qualquer eficácia espiritual, mas que se mostram altamente eficazes para aumentar o orgulho e a vaidade carnais do seu praticante, o que seduz o pecador a observar suas exigências.
Com esse propósito a religiosidade é alta concorrente com o evangelho e lhe faz oposição, pois enquanto ela convida o homem a confiar em si mesmo e em suas obras, a graça o convoca a confiar em Cristo e em Sua obra para ser justificado diante de Deus, ou seja, enquanto o evangelho leva à crucificação da carne a religiosidade quer promovê-la ao lugar mais alto.
Propenso a enfrentar os desafios da religiosidade o crente prefere muito mais provar de que é capaz de qualquer sacrifício, do que confiar no sacrifício de Cristo; ele está mais inclinado a santificar-se cumprindo preceitos humanos do que tem disposição de encher-se do Espírito para nada dispor quanto a carne; sua voz é mais ouvida dizendo não sou como os demais, conforme falou o fariseu, do que tem misericórdia de mim que sou um pecador como disse o publicano.
O que fica evidenciado em tudo isto é que deixar de ser religioso para se tornar um crente é tão difícil quanto permanecer crente para não voltar a ser religioso, de modo que Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. (1 Co 10.12).
Os gálatas são um exemplo registrado na própria Escritura para servir de alerta a todos os crentes sobre o perigo de voltar a ser escravo depois de ter sido feito livre pelo evangelho, de modo que considerando os riscos embutidos na carreira cristã, bom seria se de vez em quando o crente adotasse a orientação apostólica de verificar se ainda permanecemos na fé (2 Co 13.5), pois não é de todo impossível não permanecer na fé mesmo alegando estar na fé.
Como os gálatas estavam na iminência de cair da graça (Gl 5.4) voltando à religiosidade da qual tinham sido feitos livres pelo evangelho da graça, a carta a eles endereçada os advertia: Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão (Gl 5.1).
Procurando se justificar em práticas religiosas do judaísmo ao invés de estarem firmes em Cristo que os justificou, aqueles crentes retornavam ao jugo da servidão, tornando-se novamente prisioneiros de um ritual religioso sem valor.
Em alto e bom som o apóstolo zelando pela saúde espiritual de todos eles conclama: permaneceis firmes na liberdade com que Cristo os libertou.
Não há liberdade fora de Cristo, e por mais requintada que seja a religiosidade ela ainda é um jugo de escravidão que sobrecarrega a pessoa com um fardo de faça isto e não faça aquilo que esgota as forças de quem se atreve a carregá-lo.
Para muitos crentes, no entanto, a ideia de ser livre parece muito perigosa e estes se sentem mais seguros na escravidão da religiosidade cumprindo preceitos humanos do que simplesmente crendo em Cristo, fato este que pode ser considerado como uma verdadeira insanidade ou loucura semelhante àquela que atingia os crentes da galácia.
Como as práticas religiosas são altamente sedutoras e convidativas ao auto engano, lentamente o crente começa a ceder espaço para que seus ouvidos se tornem propensos a ouvir mensagens e mensageiros do “outro evangelho”, e no passar do tempo o crente-livre vais se tornando um crente-escravo sem perceber, e um de seus efeitos mais diretos no campo relacional é que ele se torna um cobrador dos outros e um legalista insuportável.
Paulo escreve que uma vez que eles foram chamados à liberdade não deveriam usar então da liberdade para dar ocasião à carne (Gl 5.13), e voltar à religiosidade era dar oportunidade à carne.
Enquanto os crentes daquela região estavam querendo trazer no corpo a marca da circuncisão como algo capaz de justificá-los diante de Deus, Paulo dizia trazer outra marca, a saber, as marcas do Senhor Jesus (Gl 6.17), estas sim mais que suficientes para sua justificação diante da justiça divina.
Altamente instrutiva essa carta aos Gálatas demonstra que se nossa confiança está posta mais naquilo que fazemos do que naquilo que Cristo fez, este é um sintoma seguro de que nossa liberdade já foi vendida à escravidão, e se desejamos continuar livres é necessário voltar imediatamente aos braços do Libertador.
Quem traz em seu corpo as marcas de Jesus Cristo já foi feito livre e não precisa de qualquer outra para continuar livre vivendo para glória de Deus.

Lutero de Paiva Pereira