sexta-feira, 28 de outubro de 2011

VIDA ABUNDANTE

Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância (Jo 10.10).

1. A REALIDADE CRUEL

Em razão de uma realidade de vida tantas vezes cruel existe alguma possibilidade de se alcançar dias melhores?
A pergunta não é sem propósito porque o homem vive sob aflições de toda a ordem, sejam as que vêm do ambiente onde vive, sejam as que afloram do seu próprio coração ou mundo interior.
Muitas vezes sem condições de suportar a carga dos seus desajustes pessoais os homens vão se arrastando vida afora incomodados por sentimentos maus e pensamentos tormentosos que lhes tira o prazer de viver e torna cruel sua realidade.
Medos, preocupações, inveja, ira, revoltas, remorsos, traumas, desesperança, baixa auto-estima, ansiedade, angústia e coisas semelhantes torturam homens e mulheres e lhes cobram um preço muito alto para existir.
Biblicamente falando essa realidade cruel do homem não era para existir, porque Deus não o criou para uma vida atormentada.
Mas a realidade cruel não tem como ser negada e faz parte da vida de todos.
Ainda que alguns sustentem que a mudança do mundo poderia melhor tudo, certo é que para a vida se tornar melhor é preciso a própria transformação do homem, pois ele mesmo é fonte de grande parte de seus males.
Eis, então, a pergunta: a realidade cruel tem como ser modificada ou aos menos melhorada?
Antes de pensar na possibilidade de alterar a realidade cruel do indivíduo, convém analisar a causa das coisas serem como são.

2. PORQUE AS COISAS SÃO COMO SÃO.
É preciso voltar ao início de tudo para compreender um pouco a razão das coisas serem como são e do homem ser como é.
Ao tempo da criação ao formar o homem do pó da terra, Deus o fez a sua imagem e semelhança e lhe deu a grande distinção dentre todas as criaturas porque o dotou de vida divina.
Animais e plantas tinham a vida animal e vegetal, mas somente o homem tinha o privilégio de possuir a vida de Deus.
Afinal, diz o relato bíblico que ao formar o homem do pó da terra o Criador soprou em suas narinas o fôlego da vida, sopro que lhe transmitiu a vida que era própria de Deus.
Diz a Bíblia: Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente (Gn 2.7).
A expressão fôlego de vida se refere a vida de Deus que o homem ganha para sustentar sua alma.
Ao afirmar que Adão foi feito alma vivente (1 Co 15.45), o termo vivente utilizado pelo apostolo Paulo significa aquele que tem a vida divina.
Deste modo além da vida física ou biológica e da vida da alma ou psicológica o homem tinha também a vida divina ou espiritual.
E com a vida divina o homem recebeu orientação de Deus de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois se o fizesse ele morreria (Gn 3.17), ou seja, perderia a vida que o sopro divino lhe havia comunicado.
Contudo, sabemos todos, o homem pecou e a partir do momento em que transgrediu a ordem divina o pecado fez separação entre ele e Deus e matou a vida divina que do Senhor havia recebido.
Embora seja comum se ouvir a expressão “espiritualmente morto”, muitas vezes não se compreende bem seu significado, e isto para prejuízo da própria fé.
Estar espiritualmente morto não significa que o homem tem uma parte morta em si, mas que por não ter mais a vida divina ele está sem vida espiritual e quem está sem vida espiritual está espiritualmente morto.
Assim, a partir do momento que pecou a vida mais sublime, a mais espetacular, a mais equilibrada e admirável que o homem recebera de Deus lhe foi retirada e sua alma passou ao controle do próprio pecado.
Antes de enviar o dilúvio sobre a terra Deus fez a seguinte avaliação a respeito do homem em seu estado pecaminoso: Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração (Gn 6.5).
Com o desígnio ou o propósito do coração sendo continuamente mau a realidade cruel passou a ser a realidade da vida.
Ninguém tem dúvida que a vida de Deus é a vida melhor em termos de intensidade, de qualidade e de durabilidade e por isto mesmo estar desprovido dela representa uma grande perda.
Por causa do pecado haver matado a vida divina então existente no homem a Bíblia afirma que os homens estão agora mortos em seus delitos e pecados (Ef 2.1).
Sem a vida divina ou sem a vida zoe (termo utilizado para vida de Deus em grego) e com o pecado habitando o coração o homem tem todo tipo de desajuste a atormentar sua alma, pois o coração se tornou uma fonte de problemas como Jesus disse: do coração do homem procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias (Mt 15.19).
Este coração desajustado é a razão da realidade cruel de cada ser humano tomado em sua individualidade.
Conhecida a causa da realidade cruel, passemos a considerar agora a possibilidade de mudar.

3. A POSSIBILIDADE DE MUDAR A REALIDADE CRUEL
Não existe a menor chance do homem mudar sua realidade cruel a não ser aquela que o próprio Deus instituiu que é o evangelho.
O evangelho, diz o apóstolo Paulo, é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16).
E como se trata de um poder muito superior a realidade cruel na qual o homem se encontra, o evangelho é capaz de alterar a situação daquele que nele crê.
A palavra evangelho quer dizer boas novas e boas novas que chegam a terra através da vinda de Cristo ao mundo, a qual está baseada no amor de Deus: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que enviou seu Filho para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida (zoe) eterna (Jo 3.16).
A boa nova que passou a ser proclamada desde o dia de Pentecostes quando o Espírito Santo foi derramado é que Deus enviou seu Filho ao mundo para conceder ao homem morto a vida zoe que o pecado lhe roubou, e vida que lhe garante a própria eternidade.
No entanto, para ter a vida divina o homem precisa passar pela regeneração ou pelo processo de ser feito uma nova criatura (2 Co 5.17), pois somente a nova criatura é que tem o sopro do Espírito para desfrutar da vida zoe que está em Cristo.
O apóstolo João escreve: E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida (1 Jo 5.11-12).
A respeito da possibilidade do homem ter a vida de Deus para mudar sua realidade cruel Jesus disse: eu vim para que tenham vida (zoe) e tenham com abundância (Jo 10.10).
A palavra vida aqui é zoe, ou seja, vida divina, vida de Deus.
No Novo Testamento encontramos muitos textos falando de vida empregando vocábulos diferentes no original, a saber, bios como vida física; psiche como vida da alma e zoe como vida de Deus e enquanto o homem não conhece a fonte da vida zoe que é Deus não tem como dela se apropriar.
E quando passa a ter a vida zoe ou a vida de Deus dentro de si o homem tem a vida biológica e a vida anímica sustentadas por uma vida melhor e superior de modo que seus sentimentos, pensamentos e vontade se tornam governados pela vida que procede de Deus, e isto para seu bem-estar.
O salmista escreveu: Bendizei, ó povos, o nosso Deus; fazei ouvir a voz do seu louvor; o que preserva ou sustenta com vida (zoe) a nossa alma e não permite que resvalem os pés (Sl 66.8-9).
Com tais palavras o escritor sagrado diz que a vida de Deus – a vida zoe – é que sustenta a vida de sua alma – a vida psiche, razão pela qual Deus deve ser louvado.
Jesus disse que como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo (Jo 5.26) e esta vida que o Filho tem é a vida zoe que comunicará aos que nele crêem.
É por isto que a Bíblia fala da salvação como sendo o processo de vivificação do pecador, ou seja, de tornar vivo, de dotar de vida, de avivar aquele que está sem vida.
Está escrito: estando nós mortos em nossos delitos nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos (Ef 2.5).
Noutro momento: e a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com Cristo, perdoando todos os nossos delitos (Cl 2.13).
Em ambos os textos o escritor diz que antes os crentes estavam mortos em seus delitos, pecados e transgressões mostrando que o que torna o homem morto é o pecado ou a transgressão. Mas ele prossegue dizendo que a vivificação foi feita em Cristo, pois quem dá vida zoe ao morto é Jesus Cristo.
Aos judeus Jesus disse: examinais as escrituras... mas não quereis vir a mim para terdes vida (zoe) (Jo 5.39).
Nestas palavras Jesus deixa certo que a vida está nele e não na própria escritura que dele testifica, de modo que para ter a vida o homem que examina a escritura deve fazê-lo com o objetivo de que ela o leve a Cristo.
Assim, a comunicação da vida zoe ao homem que está morto requer que ele vá a fonte que é Jesus Cristo, pois fora dEle não há fonte idônea para isto.
Em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos (At 4.21) a não ser o nome de Jesus Cristo, e ser salvo implica em ser tirado do estado de morte para ser elevado ao status de quem vive.
É possível o homem viver sem a vida de Deus, a vida zoe? Física, biológica e animicamente falando, sim. Mas a vida biológica e a vida da alma sem a vida divina, a vida zoe não têm nem a qualidade nem a intensidade próprias da vida zoe, motivo pelo qual muitas vezes a própria vida se torna sem prazer.
Afinal só na vida zoe há eternidade, poder sobre a morte e condições de trazer à alma e a mente os valores mais sublimes que são os valores de Deus.
Paulo escreve: vivo a vida do filho de Deus, a saber, a vida zoe e não mais a vida do ego (Gl 2.20).
A vida zoe em Paulo o fez diferente em todos os sentidos, de modo que passou a amar aquilo que antes odiava, a saber, Cristo e a igreja e a desprezar aquilo que antes tinha como elevado, ou seja, sua religiosidade.
A partir de sua conversão Paulo viveu diferente, pois não era mais seu ego que impulsionava seu viver, mas a vida zoe de Cristo que impulsionava seu ego a agir.
Viver sob o domínio e a força da vida de Cristo foi a grande satisfação do apóstolo por todo o tempo que se seguiu ao seu novo nascimento.
Para viver a zoe é preciso ir a Cristo, a fonte de vida. Mas é preciso igualmente estar em Cristo, e Cristo estar em nós para que esta vida realmente domine a vida da alma.

CONCLUSÃO
A vida zoe que o homem perdeu pelo pecado lhe trouxe conseqüências terríveis, tornando cruel sua realidade pessoal em todos os tempos.
Mas a vida zoe que o homem perdeu pelo pecado está agora disponível e acessível em Cristo Jesus, o autor da vida que veio ao mundo para oferecer vida abundante aos mortos.
A possibilidade de ter acesso a vida zoe é prova da graça de Deus em favor dos homens, que agora são alvos de seu amor e de sua bondade manifestada no evangelho que tem o poder de vivificar os mortos.
Quem recebe a vida zoe que procede de Cristo tem a disposição de sua alma a vida de Deus que lhe oferece dias melhores e por fim, a vida eterna.
Se a realidade cruel o atormenta busque em Cristo a possibilidade que alivia, pois Ele é o único comunicador da vida abundante.
Lutero de Paiva Pereira

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

VINDE A MIM


Religião consiste, em certo sentido, no esforço do homem para se tornar melhor e despertar a atenção de Deus para si.
Quando os fariseus e os escribas saíam para converter pessoas ao farisaísmo, uma religião muito exigente e severa, Jesus dizia que esta pratica tornava os seus adeptos filhos do inferno duas vezes mais do que eles próprios (Mt 23.15), demonstrando seu efeito negativo .
O desgaste que a religião provoca no seu praticante está presente nas próprias palavras de Cristo dirigidas aos seus adeptos: vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei (Mt 11.28).
São às pessoas cansadas e sobrecarregadas por que carregam fardos religiosos pesados que Jesus convida: Vinde a mim para serem aliviadas e encontrar descanso para vossas almas.
Cansaço, fadiga, enfraquecimento, debilidade é algo terrível, pois não há coisa tão ruim quanto perder as forças, a energia e o vigor físico, emocional ou mental.
Em 1984, nas olimpíadas de Los
Angeles ficou famosa a cena transmitida pela televisão envolvendo a entrada da atleta suíça
Gabriele Andersen-Scheiss no ginásio, cambaleando como uma bêbada pela exaustão provocada pelo percurso da maratona feminina.
Toda pessoa tem seu limite para carregar peso e suportar pressão, e quando ele é extrapolado o cansaço se instala dizendo que o corpo ou a alma foi exigido além do que era capaz.
No mundo religioso não é pequeno o número de “atletas” vivendo como aquela maratonista, precisando de urgente socorro “médico”.
Gente que vive o desgaste de carregar mais peso do que consegue suportar; que perde forças e energia enquanto empurra uma carga religiosa que lhe foi imposta; gente que pouco a pouco foi se sobrecarregando de mandamentos que as Escrituras não autorizam nem exigem.
E nessa história de cansaço religioso uns não sabem o que fazer com a carga que levam, outros têm medo de se desfazer dela pois pensam que seria afrontar a Deus e ainda existem o que acham que uma religião sem esforço, sem cansaço, sem esgotamento não é uma religião séria.
Cumprindo mandamento que parece ser de 1 kg no início da caminhada, de 10 kg depois de um tempo, de 100 kg depois de dois tempos e de 1.000 kg daí por diante, não é de estranhar o estado deplorável em que se encontram.
Em Mateus 11 Jesus observa que as pessoas estão vivendo cansada. Ele as vê carregando um peso que não conseguem transportar. Ele observa que suas almas estão sem alívio.
E quanto mais elas se esforçam para serem o que não podem ser, maior é o seu cansaço e maior a opressão.
A religião vende alívio e entrega cansaço pois não consegue dar aos seus seguidores o bem-estar que proclama.
O texto de Mateus 11  apresenta boas lições para a alma cansada encontrar o descanso hoje.
1º. - Primeiramente a proposta de descanso ou de alívio que Jesus faz começa com o seu agradável convite ao sobrecarregado: vinde a mim.
O convite não chama a pessoa para ir a um novo conjunto de normas, de leis ou de preceitos, nem lhe propõe a mudança para um outro tipo de religião, pois é exatamente da religião que o convite as quer libertar. O convite traz consigo a idéia de um encontro pessoal entre o convidado e aquele que o quer aliviar, entre o pecador e Cristo.
Quando Cristo diz vinde a mim o que cansado precisa fazer é levantar-se e ir encontrar-se com Ele, rapidamente.
O convite é feito sem nenhuma condição imposta ao convidado, tal como: vinde a mim depois que você melhorar; ou vinde a mim depois que você fizer isto ou aquilo. Não. O convite é direto e objetivo: vinde a mim e nada mais.
Portanto, o processo de ver-se livre de cargas e de peso inicia-se com o ouvir e aceitar o convite de Jesus que diz: vinde a mim.
2º. - Em segundo lugar aprende-se do texto que as pessoas convidadas têm como característica comum o fato de estarem cansadas e sobrecarregadas. Jesus diz: Vinde a mim, todos que estais cansados e oprimidos.
Se as pessoas que Cristo convida são religiosas e mesmo assim se encontram cansadas e sobrecarregadas, disto se deduz que a religiosidade é sempre estafante e produz cansaço.
As pessoas religiosas se parecem, ao menos na alma, com a atleta suíça acima relembrada.
É interessante notar nas Escrituras que o evangelho está sempre voltado a atender pessoas fracas, frágeis e desesperançadas.
O socorro de Deus através do evangelho se direciona sempre a pecadores dilacerados.
O que pesa para as pessoas é uma carga terrível imposta pela religião ou pela religiosidade, que exige delas um esforço mais que humano para cumprir regras e preceitos que Jesus mesmo disse serem doutrinas que são mandamentos de homens (Mc 7.7) e como tais imprestáveis diante de Deus.
O farisaísmo ao tempo de Jesus, o que não é muito
diferente da religiosidade nos tempos atuais, esgotava as pessoas que com ele se envolviam por lhes exigir um comportamento sem lhes oferecer condições ou forças para cumpri-lo.
Afinal, tentar agradar a Deus através de prática de atos religiosos severos é um peso que não se agüenta carregar por muito tempo sem sofrer grande desgaste pessoal.
Assim, pessoas cansadas e sobrecarregadas não são abandonadas por Cristo, mas convidadas a um encontro pessoal com Ele.
3º. - Em terceiro lugar o objetivo do convite que Cristo faz aos cansados e oprimidos é para lhes dar alívio à alma.
Ele diz: Vinde a mim, todos que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
O convite é feito com objetivo de dar alívio, de dar descanso, de dar aos convidados a oportunidade de se livrarem do peso e da carga religiosa que transportam sem terem forças para fazê-lo.
O convidado que aceitar o convite encontrará descanso para sua alma.
O apóstolo Paulo ao perceber que os gálatas estavam na iminência de voltar às suas antigas práticas religiosas e, portanto, aos seus pesos e sobrecarga ele escreve: Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais a jugo de escravidão (Gl 5.1). Submeter a jugo de escravidão no caso era deixar Cristo e voltar às práticas da religião judaica que nenhum proveito lhes trazia.
Assim, se as almas cansadas de homens e mulheres querem alívio elas devem aceitar o convite de Cristo de ir até Ele, pois não há descanso nem alívio fora de Cristo.
A religião cansa, sobrecarrega e esgota a alma, ao passo que Cristo dá descanso, fortalece e revigora as forças.

4º. O quarto ponto do texto ensina que os convidados aprenderiam de Cristo, ao seu aceitar seu convite, ser manso e humilde de coração. Jesus diz: Tomai sobre vos o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração.
Estas duas características – mansidão e humildade - não fazem parte do homem religioso pois elas são próprias somente de Cristo.
A verdadeira mansidão e a verdadeira humildade estão em Cristo, e somente os que vão a Cristo encontram mansidão e humildade para viver.
A religião ao invés de tornar o homem manso o faz mais agressivo, e ao invés de torná-lo humilde aumenta seu grau de orgulhoso por supor que está indo bem na proposta de ser alguém capaz de ser melhor à custa de esforços pessoais.
Toda pessoa que se propõe a ser religiosa e segue à risca os mandamentos de sua religião, cumprindo ordens, mandamentos, preceitos eleis, a primeira característica que passa a ostentar é ser cobradora, exigente, legalista julgando os outros como sendo pecadores, o que lhe retira a capacidade de ser manso. A religião também converte seu praticante num ser orgulhoso e presunçoso por que ela o faz pensar que é melhor do que os outros por ter a capacidade de cumprir e satisfazer as exigências do seu credo.
Estas são características marcantes de uma pessoa religiosa: exigência extrema e orgulho a toda prova.
Jesus diz a tais pessoas que indo a Ele elas aprenderão a ser mansas, e aprenderão a ser humildes.

Conclusão.
Quão longo, pedregoso e cansativo é o caminho oferecido pela religião ao homem e mesmo assim não é pequeno o número daqueles que nele se encontram.
No entanto, o convite “vinde a mim” de Cristo nunca cessou de ser feito e até hoje o evangelho é um chamado para que os cansados e sobrecarregados a Ele se dirijam.
Se você está se sentindo sem forças e esgotado como aquela atleta que entrou cambaleante no estádio nas olimpíadas de Los Angeles é hora de ir a Cristo para encontrar nEle o descanso que sua alma precisa para revigoramento de suas forças.
Se você tem notado em seu comportamento que sua religiosidade o tornou uma pessoa irada e orgulhosa, é tempo de ir a Cristo para aprender a ser manso e humilde de coração, para desfrutar de vida nova e mais agradável.
Se você parou de correr a jornada cristã porque não tem mais forças para prosseguir, pois carrega um fardo pesado demais é tempo de ouvir o convite de Cristo e ir até Ele para trocar o fardo pesado pelo fardo leve que Ele oferece, e voltar ao caminho em direção a Deus em bom ritmo.
De todos os convites bons e agradáveis que uma pessoa pode receber aquele formulado por Cristo é certamente o melhor e mais prazeroso de ser ouvido, pois traz conforto e um bem-estar que nenhum outro é capaz de oferecer.
Assim, não permita que sua alma continue esgotada, agora que você sabe que Cristo o convida a experimentar descanso.
Se quando a religião o convidou: vinde a mim, você foi, ouvindo agora o convite de Cristo: vinde mim, não resista aceitar o chamado.
Você quer alívio? Vá a Cristo; quer continuar aliviado? Permaneça em Cristo; deseja levar alívio a outro? Anuncie-lhe Cristo.
Lutero de Paiva Pereira

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

VIDA COM 3 S


Muita gente viu ou mesmo brincou de jogar pião. Rodando o brinquedo com a impulsão de uma corda que dele se desenrola enquanto é puxada isto lhe dá rotação suficiente para em alto giro mantê-lo rodando em equilíbrio. No entanto, à medida que a velocidade começa a diminuir o pião perde giro, fica lento, começa a cambalear e logo se estatela no chão.
Algumas pessoas neste momento poderão estar provando da experiência do pião, pois a perda das forças de viver está diminuindo seu ritmo e própria vida parece preste a acabar.

Este fenômeno tão comum ao ser humano chama-se crise existencial e consiste num beco estreito, escuro e frio onde o número de perguntas é maior do que o de respostas.

A crise existencial não faz distinção quanto a suas vítimas pois atinge indistintamente a todos.
Ao tempo dela perguntas tais como: “por que existo?” ou “para que existo?”, ainda, “o que é a vida?” levam o coração ao desespero.

A Bíblia é uma grande ajuda para momentos como este.

No capítulo 1º de sua carta aos efésios o apóstolo Paulo apresenta em versículos distintos o seguinte: que Deus, em amor, nos predestinou para ele (v. 5), e isto para sermos para o louvor de sua glória (v. 12), depois de ter nos escolhido em Cristo antes da fundação do mundo (v. 4).

Nesses versos três verdades básicas apontam para realidades que começando com a letra “s”, a saber, sentido, significado e segurança explicam o título desta mensagem.

Seguindo, então, a ordem da apresentação do texto bíblico feita acima o primeiro s da vida com 3s a ser analisado será sentido de existir, sentido empregado com a idéia de rumo, direção ou alvo.

Andar sem rumo ou sem direção, andar sem saber para onde se está indo é coisa tantas vezes desesperadora. Pessoas que já passaram pela terrível experiência de se sentirem perdidas em algum lugar, totalmente incapazes de dar um único passo em frente por não saberem para onde estão indo sabem muito bem o que isto significa.
Uma vez a Televisão mostrou o sofrimento que dominou um grupo de amigos que se perdeu na selva amazônica, tendo fica ali por dias sem nenhuma chance de achar a saída até que foram achados por um grupo de salvamento especializado.
Sem direção, sem rumo, sem saberem para onde deveriam ir eles sentiram na pele o drama de não ter sentido ou direção. 
Se ficar sem direção numas poucas horas ou dias já é algo sofrível, o que não dizer do desespero que toma conta da alma quando a pessoa está sem rumo ou sem sentido na própria vida.

         Para tais pessoas o apóstolo Paulo relata a ação de Deus em seu favor para dar-lhes sentido certo e direção correta na vida, afastando a sensação de não saber para onde ir ou para onde está indo. Ele escreve: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda a sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo... e nos predestinou para ele.
         Quando a Bíblia assegura que Deus nos predestinou para ele  o que é ela quer dizer com isto é que Deus se tornou o sentido ou o rumo de nossa existência ao nos predestinar para Ele.

         Se Deus nos predestinou para Ele então será na direção de Deus que estamos indo, e quem tem Deus como direção tem o melhor e mais seguro sentido na vida.
         E se Deus se torna o sentido de sua vida, se Deus é o rumo seguro de sua caminhada isto faz com que sua alma seja sarada da sensação de estar andando como um carro em meio à neblina, que por não ver nada e não sabendo o que tem à frente corre o risco de se envolver em um desastre. 
         Ter Deus como o sentido da vida é sair do meio do nevoeiro para a claridade e ver ao longe a estrada que deve caminhar e cujo final é bom.
         Se Deus nos predestinou para ele, isto quer dizer que Deus mesmo se tornou o norte verdadeiro e fim último de nossa existência.
Da mesma forma que a agulha de uma bússola é sempre atraída pelo chamado norte magnético para indicar os pontos cardeais, a partir do momento que Deus se tornar o seu sentido Ele passará a atrair você sempre para Ele, capacitando-o a posicionar-se bem em todos os demais pontos do seu viver.
        
Tendo sido predestinado por Deus e para Deus, isto quer dizer que você pode viver num mundo de tantas situações confusas sem que nada lhe roube o sentido ou o rumo da vida, o que é muito bom.
         Quem tem Deus como o sentido ou a direção de vida e não se demove deste rumo, qualquer que seja a intensidade dos ventos ou da tempestade que sopram na terra não modificará a sólida estrutura de fé e pensamento quanto ao sentido último de todas as coisas.
         Falar que Deus é o sentido do seu viver não significa dizer simplesmente que Deus dirigirá seus passos na vida, mas que seus passos na vida se dirigirão em direção a Deus, o que a torna mais agradável.
Assim, o primeiro s da vida com 3 S é sentido e o verdadeiro sentido da vida é Deus.

O segundo s da vida com 3 S fala de significado ou motivação para existir.
         Pessoas que não têm motivo para viver vivem pensando no tempo de deixar de existir, e este sentimento tortura a alma com pensamentos ruins roubando o brilho de tudo que está à volta.

Quando a mente é dominada por tal sugestão a pessoa tende a se sentir incapaz de tirar os pés da cama para enfrentar o dia que amanhece.
         Por isto, ter um significado de vida é essencial para viver, e quando ele insiste em não aparecer a própria vida insiste em querer desaparecer.
         O apóstolo Paulo escreve: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda a sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo... a fim de sermos para o louvor de sua glória.
        
Tão logo Deus nos predestinou para ele, dando sentido a nossa vida, Ele também deu significado a nossa existência ao nos dar como motivo de vida o sermos para o louvor de sua glória.

         Quando Deus se torna o sentido de sua existência sua vida ganha um rumo certo e quando Ele o destina para ser para o louvor de sua glória de Deus ela ganha significado.

         Viver para glória de Deus é o grande, o maior e o mais sublime significado do viver humano.

         Não há na terra função mais elevada dada ao homem do que poder expressar a glória de Deus, e foi exatamente para isto que Deus o predestinou para Ele.

         A famosa escultura de Davi, obra tão magnífica do grande escultor Michelangelo ao ser admirada pelos que a contemplam nada mais faz senão louvar o seu escultor.

         Elogiar a escultura é magnificar o artista e admirá-la é engrandecer quem a realizou.
         Da mesma forma que Davi de Michelangelo glorifica Michelangelo você, por ter sido chamado para ser para louvor da glória de Deus enaltece a Deus em seu viver humano.

         Predestinado para o louvor da glória de Deus, Deus mesmo qualificará sua vida para que ela seja capaz de dignificar Aquele que de todas as coisas é o Criador.

No entanto, quando Deus o predestinou para o seu louvor, isto significa que você foi chamado pelo próprio Senhor da glória para de alguma forma representá-lo neste mundo manifestando em seus feitos todo o esplendor do seu Ser. Certamente este é um status que deve lhe encher de alegria e contentamento, ao mesmo tempo em que se mostra agradecido a Deus por tamanha honraria.
        
Portanto, o segundo s da vida com 3 S diz respeito ao significado de viver, que outro não é senão viver de modo a manifestar a glória de Deus.

Finalmente, o terceiro s fala de segurança.
O apóstolo escreve: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda a sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele...  
         Se o primeiro s fala que você foi predestinado para Deus, de tal modo que Deus se tornou o sentido de sua vida, e o segundo que você tem agora um significado para viver que é viver para manifestar a glória de Deus, o terceiro s a verdade a chamar a atenção é que foi Deus mesmo quem o escolheu para ele, e isto lhe segurança de ser eternamente dEle.
         Foi Deus quem o escolheu para ele e não você que se ofereceu para ser dEle, sendo esta ordem muito importante para ser lembrada sempre.
 A iniciativa de Deus em escolher você prova que Ele o amou e providenciou tudo para que você fosse dEle eternamente.
        
Se Deus o escolheu então você pode estar certo e seguro de que esta escolha é inalterável e irreversível, pois a Bíblia nos assegura a vocação de Deus e os seus dons são eternos e imodificáveis (Rm 11.29).

Portanto, se Deus o escolheu para Ele, esta escolha nunca mais será alterada, segurança está que se torna uma pilastra para uma existência firme.
        
         Assim, quem tem segurança quanto ao sentido e o significado da vida, tem alegria para viver a transitoriedade dos próprios dias.

Estaremos para sempre com o Senhor (1 Ts 4.17) disse com segurança o apóstolo Paulo.       
O fato de Deus haver escolhido você para Ele é obra exclusiva de sua graça, e o amor de Deus para com aqueles que Ele escolheu é um amor inesgotável, conforme o apóstolo Paulo escreveu:

         Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as cousas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Rm 8.38-39).

         Note que o apóstolo é enfático ao dizer que ele está certo de que nada poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

         Assim, o terceiro s da vida com 3 S é segurança, isto é, certeza de ser de Deus e estar com Ele hoje e sempre.

Conclusão.
         Sair da crise existencial com a dimensão de ter Deus como sentido, de existir com o significado de viver para glória de Deus e, ainda, com a segurança de ser eternamente de Deus, é das experiências a mais gratificante.

         Mas onde o homem pode provar estas três verdades tão essenciais para que sua crise existencial seja, enfim, vencida? A resposta é: em Jesus Cristo.

         Jesus Cristo foi enviado ao mundo para salvar o homem também desta crise terrível, pois os que nele crêem se tornam filhos de Deus, e os filhos de Deus vivem com sentido, com significado  e com segurança.
         Se você é como aquele pião que perdendo o giro está prestes a parar de rodar, a única força capaz de dar novo impulso a sua existência é Jesus Cristo, o Filho de Deus.
         Há muitos séculos o salmista escreveu: Tu, SENHOR, me fará ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente (Sl 16.11).
Lutero de Paiva Pereira 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

VIVER PELA FÉ

Viver pela fé é a maior exigência da graça e ao mesmo tempo a grande graça da exigência, pois se fosse exigido viver pelas obras o cristão não poderia ter nem  alegria nem  paz no processo de agradar a Deus.
Dentre tantas máximas da Bíblia o viver pela fé é uma daquelas que deveria despertar regozijo em razão de seus benefícios e, no entanto, nem sempre é vista como tal.
Basta pensar o contrário para compreender  quão maravilhoso é o fato da Bíblia estabelecer que o justo viverá pela fé. Ou seja, se Deus tivesse  dito ou exigido que o justo vivesse não pela fé mas pela obras, isto é, pelo seu esforço pessoal, o viver humano do crente seria insuportável.
No entanto, mesmo em razão da Bíblia prescrever que o justo viverá pela fé, a grande maioria dos jutos parece pretender  viver pelas obras, o que é lamentável.
Fé implica em confiar e o confiar gera descanso, de modo que quando se confia em algo ou alguém o resultado da confiança é descanso de que aquele algo ou alguém é capaz e idôneo o suficiente para oferecer o que dele se espera.
Uma pessoa que viaja de avião e confia nele, é capaz de descansar o suficiente para dormir enquanto se encontra nas maiores alturas. Se, no entanto, ela não confia no avião no voo não descansará um minuto sequer e tentará  internamente a “ajudar” o avião a voar fazendo contrações com seus músculos. Ela fará esforço para o avião sair do chão, continuará fazendo no ar pra que ele faça as curvas e quando do pouso “colaborará” com seus pés para ele parar. Logicamente tudo isto sem nenhuma utilidade para a aeronave.
É lógico que o passageiro que faz todo este esforço para o avião ir tranqüilo não ajuda o avião em nada, mas por falta de confiar nele não tem como descansar enquanto ele faz aquilo que somente ele é capaz de fazer. 
A falta de confiança no avião faz o incrédulo passageiro agir quando deveria descansar e por isto não experimenta a própria beleza de voar.
O crente que não vive pela fé, que não vive confiando naquele que Deus disse que ele deve confiar, a saber, Jesus Cristo, não tem vida de descanso e enquanto vive se desgasta com esforço inútil de querer acrescentar algo a Cristo e a sua obra em seu favor.
O viver pela fé é uma máxima para todos os crentes, e não somente para aqueles que alegando dedicação a causa de Cristo deixam de trabalhar e dizem que daí por diante vão viver pela fé. Isto não é viver pela fé mas simplesmente viver sem trabalhar. Paulo, por exemplo, foi um justo que viveu pela fé e enquanto isto trabalhou para não ser pesado a ninguém (1 Tes 2.9).
Viver pela fé, segundo os termos da Escritura, é viver crendo totalmente e constantemente em Cristo e em sua obra , de modo que o crente nada precisa fazer pra se tornar mais do que aquilo que Cristo já o tornou, ou seja, um justo diante de Deus.
Se você está em Cristo, deixe que Cristo mesmo o leve a Deus e a viver para Deus enquanto nele você descansa, do mesmo modo que o passageiro deve saber que é o esforço do avião e não o dele que o eleva acima das nuvens e o faz retornar a terra.
Voar é obra do avião e não do passageiro. A obra do passageiro dentro do avião é crer no avião.
Justificar a pessoa diante de Deus é obra exclusiva de Cristo é a obra do cristão é crer em Cristo e nada mais, e fazer isto até o fim de sua jornada.
O viver pela fé em Cristo leva o crente a fazer caminhos retos pela própria retidão de Cristo, e em razão disto provar de descanso na vida, descanso de não ter que ser aquilo que não conseguiria ser por esforço pessoal.
O apóstolo Paulo expressou bem este viver crendo quando disse: a vida que eu vivo, vivo-a pela fé no Filho de Deus (Gl 2.20).
Olhe a vida de uma pessoa religiosa legalista, de um homem ou de uma mulher que vive cumprindo leis e mandamentos, tantas vezes leis e mandamentos humanos como meio de agradar a Deus, e você verá quão terrível é a vida daquele que não vive pela fé mas sim, pelo esforço de guardar prescrições que a Bíblia mesmo diz que para nada servem, pois são um verdadeiro culto a si mesmo (Cl 2.23).
São esforços que elevam o grau de orgulho pessoal de se achar capacitado para fazer sacrifícios e de suportar dores que os outros parecem incapazes de aguentar.
O ser humano pecaminoso é tão esquisito que se orgulha de ser maior do que o outro pelo fato de suportar pesos religiosos que a seus próprios olhos o torna puro, enquanto olha com desdém para aquele que não se dá a mesma prática.
Tais pessoas descansam em si mesmas; descansam naquilo que fazem; descansam em sua própria santidade, e por que vivem assim não têm o verdadeiro descanso que Cristo oferece.
O escritor sagrado já disse que quem entrou no descanso de Deus ele mesmo descansou de suas próprias obras (Hb 4.10) e o descanso de Deus para o homem é Cristo, e quem está em Cristo descansou do seu trabalho de querer agradar a Deus com dedicação pessoal.
O irmão do filho pródigo é uma figura característica do crente que vive apostando em si mesmo como meio de receber bênçãos de Deus. O rapaz disse ao pai: a tanto tempo de sirvo, e nunca me deste um cabrito para me alegrar com meus amigos ( Lc 15.29). Nestas poucas palavras ele vaza a amargura do coração em relação ao pai, pois sempre se achou um responsável em trabalhar para ele, sem nunca ter sido recompensado a altura do seu dedicado esforço. O pai lhe responde: filho, tudo que tenho é teu (Lc 15.31). Ou seja, o pai demonstra para o filho que o que o impediu de desfrutar das coisas do pai não foram as regras do pai, mas regras quer ele mesmo criou. Ou seja, a regra do filho era que trabalhando teria que ser pago pelo trabalho feito ao pai. Mas o pai pensava diferente. A regra do pai via o filho como filho e não como empregado, e na condição de filho com direito a tudo e somente a um cabrito.
Mas o filho queria ser tratado como servo, porque foi como servo e não como filho que ele se relacionou com o pai.
Não poucos crentes sendo filhos de Deus vivem com Deus uma relação de empregado de Deus, e nesta condição querem ser tratados como trabalhadores, com direito a receber algo por mérito do trabalho e não como obra da graça do Pai.
E quem põe esta regra para si mesmo se amargura com Deus.
A vida de filho que vive como servo não é uma vida vivida pela fé, mas sim vivida pelo esforço.
Olhe também para o não crente, para o homem que ainda não creu em Jesus Cristo o qual pensa que suas obras pode torná-lo bom e aceitável diante de Deus sem ter que se render a Cristo.
Ele também se exaure enquanto se orgulha do fato de se apresentar como pessoa bondosa diante de si mesmo.
Vive falando de seus feitos e não consegue admitir que outros não façam aquilo que ele faz com tanta dedicação.
Não que a obra em si mesma seja errada, pelo contrário, é obra louvável. O problema é que a motivação está incorreta, pois no fundo da alma o seu intento é achar-se merecedor do favor divino por ser um feitor exemplar de coisas boas.
E porque faz muitas coisas enquanto outros fazem pouco ou quase nada, ele está sempre se achando melhor do que eles, de modo que pensa que Deus lhe deve mais do que deve ao seu semelhante.
Quando Martinho Lutero descobriu a máxima de que o justo viverá pela fé esta verdade revolucionou sua vida. Suas teses foram lançadas em favor das Escrituras no sentido de que o povo deveria ter contato com a Palavra de Deus para que essa verdade os libertasse da escravidão de terem de cumprir ordens e preceitos religiosos como condição de serem agradáveis a Deus, os quais eram insuficientes para tão elevado propósito.
O justo, isto é, o pecador que foi justificado por Cristo tem que viver com fé em Cristo sempre, e se deixa de confiar em Cristo um só instante para confiar em seu esforço religioso pessoal, neste instante perde o descanso e deixa de ter um coração grato a Deus.
Fé gera confiança, confiança gera descanso, descanso gratidão a Deus, e gratidão a Deus compromisso com Ele.
Conclusão
A máxima bíblica de que o justo viverá pela fé deve ser tomada como uma graciosa prescrição de Deus para seus filhos, e como mandamento deve ser cumprida pelo coração obediente.
Entender a máxima de que o justo viverá pela fé faz o coração do crente devotar total amor a Deus, principalmente quando descobre de que se a ordem fosse outra, ou seja, de viver pelas obras ele jamais conseguiria satisfazer os preceitos de Deus para levar uma vida reta.
Finalmente, a máxima de que o justo viverá pela fé não é e nem promove um estilo de vida descompromissado com Deus, mas pelo contrário um apego e uma responsabilidade ainda maiores com a verdade, pois quem entende bem o que isto significa não terá senão como ser um crente fiel ao Senhor.
Que o diga o apóstolo Paulo que vivendo pela fé foi capaz de dizer: deixando para trás o que para traz fica, prossigo para o alvo da soberana vocação em Cristo (Fp 3.13 ) ou ainda, que o que para mim era lucro reputo como perda pela excelência do conhecimento de Cristo o meu Senhor, para quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo (Fp 3.7).
Se você é como o irmão do filho pródigo que vivia na casa do pai de acordo com suas regras pessoais e não de acordo com as regras do pai, e por isto mesmo não se beneficiava de tudo que era do pai, ou se você é como o passageiro que com seu esforço pessoal tenta ajudar o avião a levá-lo em segurança, o que é inútil, é para você mesmo que o evangelho se dirige chamando a viver pela fé em Cristo.
Afinal, como diz a Escritura o justo viverá pela fé (Rm 1.17), obviamente, pela fé depositada em Cristo e quem assim viver agradável se tornará a Deus e Deus a ele se apresentará agradável.
LUTERO PAIVA PEREIRA