segunda-feira, 21 de julho de 2014

CUIDADO COM A EUFORIA QUE VEM DO PODER


No mundo a filosofia predominante dita que para se ir bem o importante é ter poder ou, se o caso, ser amigo de quem o tem, pois o status e os benefícios daí decorrentes são sempre proveitosos. O poder é visto em todos os campos da vida e apresentado nas mais variadas formas, a saber: poder político, econômico, militar, cultural, físico, etc. Há também, como não poderia deixar de ser, o famoso e não menos embriagador poder religioso, do qual o chamado movimento pentecostal ou neopentecostal é o representante mais destacado, pois todo ele está embasado ou assentado na proposta de ter poder espiritual. Pode se atrever a dizer que se não houvesse esse tal poder espiritual o pentecostalismo sequer existiria, já que por outra coisa não se interessam seus adeptos.
A tônica dos fieis que abraçam essa visão doutrinária, relativamente à busca do Espírito Santo outra coisa não é senão revestir-se de poder para operar sinais e maravilhas, expulsar demônios, etc., e a partir daí tornar-se notável pela notabilidade que o poder, qualquer que seja ele, oferece.
Já que o mundo neo ou pentecostal está assentado no poder, o líder pentecostal, sob pena de contrariar sua própria doutrina e não atrair ninguém a si, deve ser uma pessoa que se diz ou se apresenta cheia de poder, pois quanto mais poderoso for, tanto maior o número dos seguidores fracos que o cercarão, pois somente os fracos estão procurando ou poder ou poderosos, atraídos pela força irresistível que o poder exerce sobre suas almas, o qual em muito se assemelha ao do ímã em relação ao ferro.
É certo que quando Jesus disse que o Espírito Santo daria poder aos que dele fossem cheios - Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra ( At 1.8) -, a ideia do texto era poder para serem testemunhas e não para saírem por aí se apresentando como poderosos para fazerem isto ou aquilo, menos ainda para se tornarem o centro da vida dos outros. No entanto, por conveniência a interpretação do texto foi corrompida e aconteceu o que aconteceu, ou seja, o poder se tornou o motivo da busca  do Espírito, despertando nos crentes  um interesse pouco ortodoxo nada  próximo  do evangelho.
Olhando bem para a Escritura se pode notar que Jesus foi contra o primeiro movimento pentecostal de que se tem notícia na história, o qual aconteceu, por mais interessante que possa parecer, até mesmo antes do próprio dia de pentecostes. Jesus se opôs veementemente a ideia dos discípulos de se tornarem eufóricos com o poder espiritual que haviam recebido, o que pode ser visto no registro encontrado no evangelho de Lucas, capítulo 10 quando os discípulos, em número de setenta, recebem de Jesus poder para irem e curar as pessoas com o propósito de anunciar a chegada do reino de Deus na terra - E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus (v.9). Observe-se que a cura não tinha um fim em si mesmo, menos ainda propagar o nome dos discípulos como pessoas cheias de poder, mas para dizer que um reino com poder superior ao império das trevas era chegado. Passado algum tempo depois de terem saído nessa missão, os discípulos voltaram tomados de alegria dizendo que os demônios a eles estavam sujeitos: e voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam (v.17).
 Quando viram que o poder existente no nome de Jesus “funcionava”, é como se os discípulos dissessem: “Senhor agora temos poder e somos poderosos; agora podemos dominar o mundo espiritual da maldade e, consequentemente, sermos respeitados na terra.” Em face da euforia que o poder espiritual causou neles, com o potencial de desviá-los do caminho reto, pois o poder mal empregado sempre provoca desvio de conduta, Jesus imediatamente os traz à realidade advertindo-os a não se deixarem embriagar pelo poder, pois a euforia que deveriam ter é por terem seus nomes inscritos no livro da vida e não porque os demônios a eles se submetiam: Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus (v.20).
Trazendo tal experiência para os tempos modernos é possível dizer que estão enganados todos aqueles que se sentem eufóricos com o poder “espiritual’’ que alegam ter, ou com o poder que seus líderes dizem possuir, pois o poder do Espírito Santo não se presta ao espetáculo horrível de "demonstração" de poder que se assiste em cultos, reuniões ou mesmo pela TV. O que esse espetáculo indica, na verdade, é que ali está um grupo de pessoas fracas, carentes, “despoderadas”, que querem poder para serem alguém na vida, e assim alcançarem um status que nunca tiveram. Líderes e liderados encapsulados por esse objetivo revelam suas próprias carências, os primeiros de exercerem domínio sobre os segundos, e os segundos de serem dominados pelos primeiros, mas ambos dando provas de suas inegáveis fraquezas.
Se o crente deve sentir euforia, esta deve estar posta em coisa muito mais relevante, a saber, o ser participante do eterno e poderoso reino de Deus, pois se Jesus quis fixar a mente dos seus discípulos nesse sentido, é porque aí está a razão maior de exultação deles.
Até mesmo crentes de igrejas reformadas devem ficar alertas contra essas mensagens de poder que enfraquecem a fé quando pretendem fortalecer a alma, pois caso não sejam vigilantes podem colocar sua alegria em algo inconsistente.

Lutero de Paiva Pereira

segunda-feira, 7 de julho de 2014

CRIADO A SEMELHANÇA DE DEUS

É com grande esforço e boa dose de sofrimento que um número grande de pessoas tenta salvar suas almas e resgatar suas vidas de um estado de abatimento muito sério chamado de baixa autoestima.
A baixa autoestima pode ser apresentada como uma inimizade que a pessoa desenvolve contra si mesma, pois tudo que ela faz não passa pelo caminho estreito de suas críticas.
Não é coisa simples não ter apreço por si mesmo. Por outro lado, é terrível não ter valor diante dos próprios olhos. 
Não se estimar, é de alguma forma, uma conduta contrária até mesmo as  Escrituras Sagradas, pois na linguagem inspirada o mandamento é para o crente se estimar ou amar o próximo, tanto quanto a si mesmo se ama, sendo necessário então ter amor ou estima por si para ter amor e estima pelo outro.
Mas quem está dominado pelo sentimento da baixa autoestima não consegue ver um mínimo sequer de valor naquilo que faz, porque não conseguir ver valor em si mesmo. Com efeito, quem não se vê bem, não vê bem as coisas que realiza mesmo que as faça com beleza e qualidade.
Ver uma pessoa escravizada ao sentimento da baixa autoestima  causa angústia, pois a despeito de se apresentar cheia de valores, seus olhos são não benevolentes consigo mesma.
À luz da Palavra de Deus, no entanto, é possível encontrar razão mais que suficiente para se estimar, para se ter uma boa dose de alta autoestima, pois aquele que descobre sua essência verá o grande diferencial de ser gente.
A dignidade de ser gente reside no fato de que você não somente foi criado por Deus,  o que por si só já se mostra relevante, mas  também foi feito por Deus a Sua imagem e conforme Sua semelhança.
É assim que a Bíblia fala da criação do homem: Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (Gn 1.26).
A distinção que o homem carrega de ter semelhança com o Criador o torna notável e, bem compreendida, gera correta  É possível ver que alguns atributos pertencentes a Deus o homem também possui, e isto por que aprouve ao Criador conceder-lhe tal status. E pensar no que implica ter o diferencial entre todas as criaturas de carregar semelhança com o Criador, comunica bem estar à alma.
Basta, por ora, no entanto, destacar apenas três pontos que apontam a semelhança que o homem tem com Criador, os quais podem ajudar a ver-se como uma pessoa de grande valor:

1o. - Capacidade de compreender – Como é magnífico, espetacular e indescritível o fato do homem poder compreender as coisas que existem nele, próximo dele ou mesmo distante de onde se encontra. O homem não somente faz uso como também é capaz de entender tudo, compreendendo bem tanto as coisas simples, como as complexas, tanto as coisas criadas, quanto as que ele mesmo cria.
O homem olha e compreende as leis da natureza e faz uso delas em seu favor. Ele olha, compreende e transforma as coisas para o seu bem-estar. Nada lhe escapa ao poder de compreender e pela compreensão exerce domínio e produz desenvolvimento em todas as áreas do saber.
Se o homem não pudesse compreender o que está ao seu redor a vida seria de um tédio e de uma monotonia terrível, e não haveria progresso algum, pois em grande parte o prazer de viver e conforto que se alcança vem exatamente do fato de se poder compreender a história, a geografia, a leis naturais e tudo o mais que faz parte da vida humana. Essa capacidade de compreender ou de entender é tão extraordinária que até mesmo no ambiente da fé a compreensão é utilizada no processo de se desenvolver a salvação. 
Deus que a tudo compreende, Ele que tem em si mesmo a compreensão total daquilo que trouxe à existência, ao criar o homem Ele comunicou-lhe idêntica capacidade, embora em proporção menor, tornando-o semelhante a Si mesmo neste aspecto tão especial.
As outras criaturas, por não se assemelharem ao Criador, não receberam nem o direito nem a capacidade de entender as coisas das quais fazem uso, ou com as quais têm algum convívio próximo. Mas o homem é diferente. Ele tem compreensão, tem  capacidade de olhar e tirar lições das coisas postas ao seu alcance. A faculdade de compreender, portanto, é própria do ser humano, porque primariamente essa capacidade é inerente a Deus.
O homem é um ser racional, um ser que pensa, que tem u’a mente, cuja origem está em Deus. Deus pensa, Deus tem sua própria racionalidade, seu poder de pensar, e foi Ele quem dotou o homem desta faculdade ímpar.
Quando a respeito de Si mesmo Deus disse: porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos (Isa 55.8), com tal afirmativa Ele apontava para o fato de ser possuidor de mente que elabora pensamentos.
Assim, há grande dignidade no ser humano em possuir a capacidade de compreender as coisas, o que prova sua semelhança com Deus.

2º. Capacidade de falar – O falar também é uma característica do homem que aponta para sua semelhança com o Criador. Expressar-se por meio de palavras, palavras que denotam compreensão das coisas, que transmite conhecimento, é exclusividade do homem. O homem compreende as coisas e transmite sua compreensão ao semelhante através da palavra falada ou escrita. E o homem fala porque o falar é originariamente próprio de Deus. Deus fala. Deus fala para criar as coisas. Deus fala para expressar suas ideias e vontade. Deus fala para orientar. Deus fala para se fazer compreendido. Deus fala para se fazer conhecido.
Quando foi criar todas as coisas bastou Deus falar para que as coisas viessem a existir. Apontando para o poder criador do falar de Deus é que a Bíblia registra: Disse Deus: Haja luz, e houve luz (Gn 1.3).
Se o Criador não falasse a criatura tampouco falaria. Mas porque Deus fala aquele que Ele criou a sua imagem e conforme a sua semelhança também fala.
Portanto, quando o homem fala ele está utilizando-se de uma faculdade que é, em primeiro lugar, própria de Deus. Adão e Eva foram criados  com a capacidade de compreender e, então, com a capacidade de falar. Eles desenvolveram a comunicação porque ganharam do Criador a capacidade de comunicarem através da fala seus sentimentos, ideias e vontade.
Adão e Eva, ao contrário do que se pode pensar, não começaram grunhindo ou emitindo sons estranhos para depois falarem compreensivelmente um com o outro, e ambos com Deus. Pelo contrário, eles foram criados desde logo com a capacidade de falar com Deus, de falar um com o outro, pois desde o início Deus falava com eles.
Talvez você não tenha parado para pensar na capacidade que possui de poder transmitir, pela fala seus sentimentos e ideias e receber dos outros, pela mesma via, igual carga de comunicação.
É possível que você também não tenha parado para pensar que utilizando-se da fala você fala com o Deus e que Deus, também pela mesma via, fala com você.
Hebreus diz que havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho. (Hb 1.1-2).
E no próprio ato de falar se aumenta o poder da compreender, pois pela comunicação se enriquece o conhecimento.
Sem que o homem fosse criado a semelhança de Deus, do Deus que fala, ele não poderia desenvolver a linguagem que comunica e que transmite conhecimento.
Portanto, há dignidade no ser humano no fato de poder falar, pois neste caso ele exerce uma faculdade que é de Deus, o Criador, que tudo traz à existência pelo poder de sua palavra.

3º. Capacidade de trabalhar. Embora normalmente não pensemos assim, mas trabalhar é uma atividade da divindade. Trabalhar é a arte, o poder ou a capacidade de realizar, através da mente, da fala, das mãos, do corpo, etc., algo ou alguma coisa.  Trabalhar consiste na habilidade de construir, de empreender, de trazer a existência coisas novas.
Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos (Sl 8.3), disse o salmista admirando o trabalho criativo de Deus.
Na criação do universo a Bíblia diz que havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra (Gn 2.2), ou seja, depois de seis dias de trabalho, Deus se deu por satisfeito com tudo o que fez, porque tudo fez com qualidade.
O homem, criado à semelhança de Deus, do Deus que trabalha, também se mostra habilitado a empreender, a realizar, a edificar, a construir.
Trabalhar criativamente é uma virtude do homem, e todas as vezes que emprega bem sua habilidade demonstra sua semelhança com Aquele que é capaz de realizar coisas com total perfeição.
Aliás, quando posto no jardim do Éden Adão recebeu de Deus a ordem de trabalhar: tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar (Gn 2.15), e recebeu tal responsabilidade  porque tinha condições de cumprir a missão recebida.
Portanto, o homem tem a capacidade de trabalhar, de realizar, de criar, porque foi criado a semelhança de Deus, do Deus que tudo criou.
Olhar para a capacidade de trabalhar é, portanto, encontrar dignidade no fato de ser gente, gente que se assemelha ao Deus que tudo executou na terra.

Conclusão
Muitos outros pontos da vida do homem poderiam ser estudados e vistos para demonstrar que a grande dignidade de ser gente e a estima que a pessoa deve ter para consigo consiste no fato de ter sido criada por Deus, conforme a Sua imagem e segundo a sua semelhança, carregando de alguma forma certos atributos divinos.
Você pode compreender o mundo e formar ideias e conceitos a respeito de tudo que existe porque o Deus que compreende todas as coisas o dotou desta semelhança com Ele.
Você pode falar com o poder de comunicar seu conhecimento porque o Deus que fala lhe concedeu poder de assemelhar-se a Ele nesta parte.
Você tem condições de trabalhar, e de através do trabalho criar coisas, construir, etc., por que o Senhor  que a tudo criou, o fez semelhante a Ele neste particular.
Assim, quando Deus o criou conforme a Sua imagem e segundo a sua semelhança Ele comunicou a você muitas coisas que são próprias dEle, daí sua dignidade de ser gente residir no fato de guardar estreita ligação com o Criador
Portanto, não olhe aquilo que as pessoas dizem que você é, mas olhe para aquilo que você realmente é, ou seja, imagem e semelhança de Deus.

Viva a vida para a glória de Deus, do Deus que o criou com o destaque de se assemelhar a Ele. Estime-se e bendiga ao Senhor porque você foi coroado de glória e de honra ao ser feito a imagem e semelhança do Criador. Afinal, o que você é se mostra maior do que tudo aquilo que você faz, e você pode fazer coisas de excelência por ser o que é.

Lutero de Paiva Pereira