quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

ENTRANDO NO DESCANSO DE DEUS

Toda religião que deseja ter adeptos exige sacrifícios pessoais dos que a professam. Isto é assim porque o homem valoriza seu esforço pessoal mais do que qualquer outra coisa.
A pessoa pensa que fazer sacrifícios chama a atenção de Deus em seu favor, despertando Seu interesse em abençoar aquele que se propõe a algum tipo de sofrimento.
Quem faz sacrifício acha que está “pagando” o preço para alcançar o bem desejado, e o fato de ter “sofrido” em favor de si mesmo parece lhe assegurar o direito de ser recompensado no presente e no futuro por Deus.
No entanto, mesmo agindo assim o homem não consegue a sonhada e desejada paz no coração, pois sua consciência ainda continua intranquila.
No meio desse drama humano o cristianismo puro e verdadeiro, se apresenta com uma proposta de descanso e alívio.
O cristianismo prega que o mérito para ser abençoado não está no sacrifício que o homem faz, mas sim, na fé que o homem coloca no sacrifício que outro fez por ele.
O cristianismo prega e apresenta Jesus Cristo como aquele que fez o sacrifício verdadeiro, puro e santo em favor do pecador, o que aponta para a graça de Deus.
A graça consiste exatamente no fato de Deus ter enviado seu Filho ao mundo, para que todo aquele que nele crê (Jo 3.16), possa desfrutar das bênçãos de Deus sem ter que pagar preço algum.
Sem se dar a fazer qualquer tipo de sacrifício pessoal para merecer a salvação de Deus Paulo escreve: Jesus Cristo veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal (1 Tm 1.15).
Em tão poucas palavras o apóstolo está afirmando que não era ele quem se salvava a si mesmo, mas sim a pessoa de Jesus que veio ao mundo exatamente para esse fim.
Portanto, a mensagem bíblica propõe levar o homem a crer em Jesus Cristo para descansar em sua obra de salvação, sendo dispensando de qualquer esforço pessoal para fazer aquilo que Cristo já fez por ele.
A a palavra fé significa, dentre outras coisas, confiança e é exatamente isto que o evangelho chama o pecador a fazer, ou seja, a confiar na obra de Cristo como totalmente suficiente para reconciliá-lo com Deus.
Diferentemente das outras religiões que se propagam pela sugestão de sacrifício pessoal de seus adeptos, o cristianismo traz alívio ao convidar o homem a crer na obra sacrificial de Cristo em seu favor, para gozar de paz eterna com Deus.
O apóstolo Paulo escreveu: eu sei em quem tenho crido (2 Tm 1.12).
Ele não disse: eu sei o que tenho feito porque bem sabia que o mais importante é saber em quem se crê e não no que se faz.
A essência da fé cristã não é, portanto, sacrifício de quem crê, mas crença no sacrifício daquele em quem se crê.
Quem crê em Cristo entra no descanso de Deus,  passando a ter um coração de gratidão ao Senhor como reação a Sua maravilhosa graça.
Não foi esse o convite de Jesus? vinde a mim, todos que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei (Mt 11.28).
Deixar os sacrifícios pessoais, quaisquer que sejam, para confiar única e totalmente no sacrifício do Filho de Deus, é o que o evangelho do Reino oferece aos homens que estão cansados e sobrecarregados em seus ritos religiosos.
Uma fé nesses termos traz alívio, renova as forças e dá ânimo para seguir em frente.
Quando você descobre que o Verbo eterno de Deus, a saber, o Filho de Deus, veio ao mundo com o propósito de fazer em seu favor aquilo que você precisava e não conseguia fazer, ou seja, o pagamento pleno dos seus pecados, isto faz bem ao coração.
Foi o escritor sagrado quem disse: porque aquele que entrou no descanso de Deus, ele próprio descansou de suas obras, como Deus das suas (Hb 4.10).



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

DOIS MEDOS DE CRENTE

Um estado de medo impede sempre um estado de alegria, pois onde o medo reina a alegria não encontra espaço para se instalar. O fato do medo afastar a alegria pode ser visto no sentido natural e também no espiritual.
O apóstolo Paulo, um crente que realmente não foi dominado pelos dois medos que escravizam os crentes modernos, podia não só experimentar a alegria em Cristo, como também incentivar seus irmãos a fazer o mesmo. Aos filipenses ele escreve: Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos (Fp 4.4).
Aliás, muito antes do apóstolo escrever tão belas palavras para sugerir a doce experiência de alegrar-se no Senhor, o salmista já dizia: Alegrai-vos, ó justos, no Senhor, e dai louvores à memória da sua santidade (Sl 97:12).
Mas aos crentes atuais esta orientação de Paulo parece totalmente impossível de ser provada, pois não há como alegrar-se naquele que mete medo.
Com efeito, nos tempos atuais um dos dois medos mais atuantes no coração do crente é exatamente o medo de Deus.
Parece que a igreja, ou seja, os pregadores deste tempo se incumbiram de transmitir através de suas mensagens um Deus punitivo que está à cata do primeiro transgressor para pesar a mão sobre ele, expressão mais que comum nos círculos cristãos: “Deus pesou a mão sobre o irmão.”
Falando assim a mão de Deus virou símbolo de tortura e de medo, pois ela sempre transmite a ideia de opressão, de castigo, de severidade.
E o pior da história é que os crentes precisam falar aos incrédulos do amor de Deus, quando eles mesmos vivem sob o tormento do medo de Deus.
Escrevendo aos romanos Paulo faz questão de lembrá-los que é a bondade de Deus que leva os homens ao arrependimento -  Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? ( Rm 2:4).
Essa bondade De Deus está mais que provada e demonstrada no fato de Cristo ter morrido por nós quando nós ainda éramos pecadores, diz o apóstolo: Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5:8).
Ora, como ter medo de um Deus que se esforça em todos os sentidos para provar que nos ama?
Se a máxima diz que contra fatos não há argumentos, por que razão os crentes acreditam mais nos argumentos dos pregadores que disseminam o medo de Deus, do que nos fatos de Deus que procura disseminar seu amor aos homens?
Qual o segundo medo que atormenta o crente? É o medo do Diabo.
A despeito do conforto que as Escrituras dão aos crentes, relativamente ao cuidado que Deus mesmo lhes empresta no que diz respeito ao Diabo, a maioria prefere o medo do Diabo ao descanso em Deus.
Na prática os crentes negam o que Cristo lhes oferece, a saber, segurança que Paulo faz questão de destacar: Mas fiel é o Senhor, que vos confirmará, e guardará do maligno (2 Ts 3:3).
Neste sentido de guardar os crentes do Maligno o próprio Senhor Jesus assegurou às suas ovelhas: E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai (Jo10:28-29).
  O que não dizer do escrito de João: Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca (1 Jo 5:18).
O fato é que ninguém precisa ter medo de Deus para agradar a Deus e nem medo do Diabo para não ser atacado por ele.
Aliás, ninguém precisa ter medo de não ter medo.
Com efeito, quem tem medo de Deus está negando Seu amor, e quem tem medo do Diabo está negando o poder de Cristo para guardá-lo do Maligno até o dia final.
O melhor mesmo é trocar esses dois medos por dois outros sentimentos muito mais nobres e biblicamente corretos.
O primeiro, o de amar quem o amou primeiro e, o segundo, de descansar em quem o guarda do Mal.
Nada mais oportuno do que as palavras do apóstolo João: No amor não há medo, antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor (1 Jo 4:18).





NÃO É FÁCIL SER LIVRE

A liberdade é o bem imaterial mais precioso e cobiçado pelo homem. Todavia, não é fácil ser livre. A prisão ou o aprisionador que rouba a liberdade do homem nem sempre está fora dele, mas  dentro de sua mente e coração, o que torna a liberdade um estado quase utópico
Na verdade, não é fácil ser livre quando a prisão se tornou um estilo de vida; não é fácil ser livre quando a vastidão da liberdade parece comunicar mais medo do que os limites estreitos do cárcere; não fácil ser livre quando o medo da liberdade é maior do que o próprio medo da prisão.
No famoso livro OS JULGAMENTOS DE NUREMBERG Paul Roland observa a grande dificuldade que os prisioneiros do campo de concentração de Belsen, noroeste da Alemanha, tiveram para acreditar que poderiam sair dali quando os portões do campo foram abertos na manhã chuvosa de 15.4.1945.
Clara, uma das sobreviventes daquele terror relatou que os portões abertos não os convidavam a sair para a liberdade porque os guardas que por tanto tempo dominaram sobre eles, já tinham penetrados seus corpos, alojando-se em suas mentes para ficarem ali até o fim dos seus dias. Paul Roland escreve: os prisioneiros haviam sido tão doutrinados que o pensamento de liberdade os aterrorizava. Não só seus corpos haviam sido aprisionados e torturados além do limite da resistência, mas também o foram suas mentes (p.19).
A Bíblia Sagrada, que trata de outro tipo de prisão e de campo de concentração, tem também um registro sobre a dificuldade de ser livre. Escrevendo aos gálatas o apóstolo Paulo diz: Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão (Gl 5.1).
Os gálatas, como os prisioneiros de Nuremberg, também tinham sido feitos prisioneiros em seus espíritos, e mesmo tendo experimentado a liberdade que Cristo lhes ofereceu, voltavam agora ao jugo da escravidão religiosa, como se o ser livre fosse pior do que o ser prisioneiro.
Estes dois relatos chocantes, a despeito de se referirem a áreas distintas, são notáveis em suas lições. De qualquer forma é preciso proclamar liberdade aos cativos sempre, fazendo como lema a marcante frase da bandeira mineira: LIBERTAS QUÆ SERA TAMEN, ou seja, liberdade ainda que tardia. Até mesmo aos homens cujos corpos não estão encarcerados em prisões formais, aos tais é preciso falar de liberdade para que seus espíritos sejam feitos livres.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

CUIDADO COM A EUFORIA QUE VEM DO PODER


No mundo a filosofia predominante dita que para se ir bem o importante é ter poder ou, se o caso, ser amigo de quem o tem, pois o status e os benefícios daí decorrentes são sempre proveitosos. O poder é visto em todos os campos da vida e apresentado nas mais variadas formas, a saber: poder político, econômico, militar, cultural, físico, etc. Há também, como não poderia deixar de ser, o famoso e não menos embriagador poder religioso, do qual o chamado movimento pentecostal ou neopentecostal é o representante mais destacado, pois todo ele está embasado ou assentado na proposta de ter poder espiritual. Pode se atrever a dizer que se não houvesse esse tal poder espiritual o pentecostalismo sequer existiria, já que por outra coisa não se interessam seus adeptos.
A tônica dos fieis que abraçam essa visão doutrinária, relativamente à busca do Espírito Santo outra coisa não é senão revestir-se de poder para operar sinais e maravilhas, expulsar demônios, etc., e a partir daí tornar-se notável pela notabilidade que o poder, qualquer que seja ele, oferece.
Já que o mundo neo ou pentecostal está assentado no poder, o líder pentecostal, sob pena de contrariar sua própria doutrina e não atrair ninguém a si, deve ser uma pessoa que se diz ou se apresenta cheia de poder, pois quanto mais poderoso for, tanto maior o número dos seguidores fracos que o cercarão, pois somente os fracos estão procurando ou poder ou poderosos, atraídos pela força irresistível que o poder exerce sobre suas almas, o qual em muito se assemelha ao do ímã em relação ao ferro.
É certo que quando Jesus disse que o Espírito Santo daria poder aos que dele fossem cheios - Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra ( At 1.8) -, a ideia do texto era poder para serem testemunhas e não para saírem por aí se apresentando como poderosos para fazerem isto ou aquilo, menos ainda para se tornarem o centro da vida dos outros. No entanto, por conveniência a interpretação do texto foi corrompida e aconteceu o que aconteceu, ou seja, o poder se tornou o motivo da busca  do Espírito, despertando nos crentes  um interesse pouco ortodoxo nada  próximo  do evangelho.
Olhando bem para a Escritura se pode notar que Jesus foi contra o primeiro movimento pentecostal de que se tem notícia na história, o qual aconteceu, por mais interessante que possa parecer, até mesmo antes do próprio dia de pentecostes. Jesus se opôs veementemente a ideia dos discípulos de se tornarem eufóricos com o poder espiritual que haviam recebido, o que pode ser visto no registro encontrado no evangelho de Lucas, capítulo 10 quando os discípulos, em número de setenta, recebem de Jesus poder para irem e curar as pessoas com o propósito de anunciar a chegada do reino de Deus na terra - E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus (v.9). Observe-se que a cura não tinha um fim em si mesmo, menos ainda propagar o nome dos discípulos como pessoas cheias de poder, mas para dizer que um reino com poder superior ao império das trevas era chegado. Passado algum tempo depois de terem saído nessa missão, os discípulos voltaram tomados de alegria dizendo que os demônios a eles estavam sujeitos: e voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam (v.17).
 Quando viram que o poder existente no nome de Jesus “funcionava”, é como se os discípulos dissessem: “Senhor agora temos poder e somos poderosos; agora podemos dominar o mundo espiritual da maldade e, consequentemente, sermos respeitados na terra.” Em face da euforia que o poder espiritual causou neles, com o potencial de desviá-los do caminho reto, pois o poder mal empregado sempre provoca desvio de conduta, Jesus imediatamente os traz à realidade advertindo-os a não se deixarem embriagar pelo poder, pois a euforia que deveriam ter é por terem seus nomes inscritos no livro da vida e não porque os demônios a eles se submetiam: Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus (v.20).
Trazendo tal experiência para os tempos modernos é possível dizer que estão enganados todos aqueles que se sentem eufóricos com o poder “espiritual’’ que alegam ter, ou com o poder que seus líderes dizem possuir, pois o poder do Espírito Santo não se presta ao espetáculo horrível de "demonstração" de poder que se assiste em cultos, reuniões ou mesmo pela TV. O que esse espetáculo indica, na verdade, é que ali está um grupo de pessoas fracas, carentes, “despoderadas”, que querem poder para serem alguém na vida, e assim alcançarem um status que nunca tiveram. Líderes e liderados encapsulados por esse objetivo revelam suas próprias carências, os primeiros de exercerem domínio sobre os segundos, e os segundos de serem dominados pelos primeiros, mas ambos dando provas de suas inegáveis fraquezas.
Se o crente deve sentir euforia, esta deve estar posta em coisa muito mais relevante, a saber, o ser participante do eterno e poderoso reino de Deus, pois se Jesus quis fixar a mente dos seus discípulos nesse sentido, é porque aí está a razão maior de exultação deles.
Até mesmo crentes de igrejas reformadas devem ficar alertas contra essas mensagens de poder que enfraquecem a fé quando pretendem fortalecer a alma, pois caso não sejam vigilantes podem colocar sua alegria em algo inconsistente.

Lutero de Paiva Pereira

segunda-feira, 7 de julho de 2014

CRIADO A SEMELHANÇA DE DEUS

É com grande esforço e boa dose de sofrimento que um número grande de pessoas tenta salvar suas almas e resgatar suas vidas de um estado de abatimento muito sério chamado de baixa autoestima.
A baixa autoestima pode ser apresentada como uma inimizade que a pessoa desenvolve contra si mesma, pois tudo que ela faz não passa pelo caminho estreito de suas críticas.
Não é coisa simples não ter apreço por si mesmo. Por outro lado, é terrível não ter valor diante dos próprios olhos. 
Não se estimar, é de alguma forma, uma conduta contrária até mesmo as  Escrituras Sagradas, pois na linguagem inspirada o mandamento é para o crente se estimar ou amar o próximo, tanto quanto a si mesmo se ama, sendo necessário então ter amor ou estima por si para ter amor e estima pelo outro.
Mas quem está dominado pelo sentimento da baixa autoestima não consegue ver um mínimo sequer de valor naquilo que faz, porque não conseguir ver valor em si mesmo. Com efeito, quem não se vê bem, não vê bem as coisas que realiza mesmo que as faça com beleza e qualidade.
Ver uma pessoa escravizada ao sentimento da baixa autoestima  causa angústia, pois a despeito de se apresentar cheia de valores, seus olhos são não benevolentes consigo mesma.
À luz da Palavra de Deus, no entanto, é possível encontrar razão mais que suficiente para se estimar, para se ter uma boa dose de alta autoestima, pois aquele que descobre sua essência verá o grande diferencial de ser gente.
A dignidade de ser gente reside no fato de que você não somente foi criado por Deus,  o que por si só já se mostra relevante, mas  também foi feito por Deus a Sua imagem e conforme Sua semelhança.
É assim que a Bíblia fala da criação do homem: Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (Gn 1.26).
A distinção que o homem carrega de ter semelhança com o Criador o torna notável e, bem compreendida, gera correta  É possível ver que alguns atributos pertencentes a Deus o homem também possui, e isto por que aprouve ao Criador conceder-lhe tal status. E pensar no que implica ter o diferencial entre todas as criaturas de carregar semelhança com o Criador, comunica bem estar à alma.
Basta, por ora, no entanto, destacar apenas três pontos que apontam a semelhança que o homem tem com Criador, os quais podem ajudar a ver-se como uma pessoa de grande valor:

1o. - Capacidade de compreender – Como é magnífico, espetacular e indescritível o fato do homem poder compreender as coisas que existem nele, próximo dele ou mesmo distante de onde se encontra. O homem não somente faz uso como também é capaz de entender tudo, compreendendo bem tanto as coisas simples, como as complexas, tanto as coisas criadas, quanto as que ele mesmo cria.
O homem olha e compreende as leis da natureza e faz uso delas em seu favor. Ele olha, compreende e transforma as coisas para o seu bem-estar. Nada lhe escapa ao poder de compreender e pela compreensão exerce domínio e produz desenvolvimento em todas as áreas do saber.
Se o homem não pudesse compreender o que está ao seu redor a vida seria de um tédio e de uma monotonia terrível, e não haveria progresso algum, pois em grande parte o prazer de viver e conforto que se alcança vem exatamente do fato de se poder compreender a história, a geografia, a leis naturais e tudo o mais que faz parte da vida humana. Essa capacidade de compreender ou de entender é tão extraordinária que até mesmo no ambiente da fé a compreensão é utilizada no processo de se desenvolver a salvação. 
Deus que a tudo compreende, Ele que tem em si mesmo a compreensão total daquilo que trouxe à existência, ao criar o homem Ele comunicou-lhe idêntica capacidade, embora em proporção menor, tornando-o semelhante a Si mesmo neste aspecto tão especial.
As outras criaturas, por não se assemelharem ao Criador, não receberam nem o direito nem a capacidade de entender as coisas das quais fazem uso, ou com as quais têm algum convívio próximo. Mas o homem é diferente. Ele tem compreensão, tem  capacidade de olhar e tirar lições das coisas postas ao seu alcance. A faculdade de compreender, portanto, é própria do ser humano, porque primariamente essa capacidade é inerente a Deus.
O homem é um ser racional, um ser que pensa, que tem u’a mente, cuja origem está em Deus. Deus pensa, Deus tem sua própria racionalidade, seu poder de pensar, e foi Ele quem dotou o homem desta faculdade ímpar.
Quando a respeito de Si mesmo Deus disse: porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos (Isa 55.8), com tal afirmativa Ele apontava para o fato de ser possuidor de mente que elabora pensamentos.
Assim, há grande dignidade no ser humano em possuir a capacidade de compreender as coisas, o que prova sua semelhança com Deus.

2º. Capacidade de falar – O falar também é uma característica do homem que aponta para sua semelhança com o Criador. Expressar-se por meio de palavras, palavras que denotam compreensão das coisas, que transmite conhecimento, é exclusividade do homem. O homem compreende as coisas e transmite sua compreensão ao semelhante através da palavra falada ou escrita. E o homem fala porque o falar é originariamente próprio de Deus. Deus fala. Deus fala para criar as coisas. Deus fala para expressar suas ideias e vontade. Deus fala para orientar. Deus fala para se fazer compreendido. Deus fala para se fazer conhecido.
Quando foi criar todas as coisas bastou Deus falar para que as coisas viessem a existir. Apontando para o poder criador do falar de Deus é que a Bíblia registra: Disse Deus: Haja luz, e houve luz (Gn 1.3).
Se o Criador não falasse a criatura tampouco falaria. Mas porque Deus fala aquele que Ele criou a sua imagem e conforme a sua semelhança também fala.
Portanto, quando o homem fala ele está utilizando-se de uma faculdade que é, em primeiro lugar, própria de Deus. Adão e Eva foram criados  com a capacidade de compreender e, então, com a capacidade de falar. Eles desenvolveram a comunicação porque ganharam do Criador a capacidade de comunicarem através da fala seus sentimentos, ideias e vontade.
Adão e Eva, ao contrário do que se pode pensar, não começaram grunhindo ou emitindo sons estranhos para depois falarem compreensivelmente um com o outro, e ambos com Deus. Pelo contrário, eles foram criados desde logo com a capacidade de falar com Deus, de falar um com o outro, pois desde o início Deus falava com eles.
Talvez você não tenha parado para pensar na capacidade que possui de poder transmitir, pela fala seus sentimentos e ideias e receber dos outros, pela mesma via, igual carga de comunicação.
É possível que você também não tenha parado para pensar que utilizando-se da fala você fala com o Deus e que Deus, também pela mesma via, fala com você.
Hebreus diz que havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho. (Hb 1.1-2).
E no próprio ato de falar se aumenta o poder da compreender, pois pela comunicação se enriquece o conhecimento.
Sem que o homem fosse criado a semelhança de Deus, do Deus que fala, ele não poderia desenvolver a linguagem que comunica e que transmite conhecimento.
Portanto, há dignidade no ser humano no fato de poder falar, pois neste caso ele exerce uma faculdade que é de Deus, o Criador, que tudo traz à existência pelo poder de sua palavra.

3º. Capacidade de trabalhar. Embora normalmente não pensemos assim, mas trabalhar é uma atividade da divindade. Trabalhar é a arte, o poder ou a capacidade de realizar, através da mente, da fala, das mãos, do corpo, etc., algo ou alguma coisa.  Trabalhar consiste na habilidade de construir, de empreender, de trazer a existência coisas novas.
Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos (Sl 8.3), disse o salmista admirando o trabalho criativo de Deus.
Na criação do universo a Bíblia diz que havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra (Gn 2.2), ou seja, depois de seis dias de trabalho, Deus se deu por satisfeito com tudo o que fez, porque tudo fez com qualidade.
O homem, criado à semelhança de Deus, do Deus que trabalha, também se mostra habilitado a empreender, a realizar, a edificar, a construir.
Trabalhar criativamente é uma virtude do homem, e todas as vezes que emprega bem sua habilidade demonstra sua semelhança com Aquele que é capaz de realizar coisas com total perfeição.
Aliás, quando posto no jardim do Éden Adão recebeu de Deus a ordem de trabalhar: tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar (Gn 2.15), e recebeu tal responsabilidade  porque tinha condições de cumprir a missão recebida.
Portanto, o homem tem a capacidade de trabalhar, de realizar, de criar, porque foi criado a semelhança de Deus, do Deus que tudo criou.
Olhar para a capacidade de trabalhar é, portanto, encontrar dignidade no fato de ser gente, gente que se assemelha ao Deus que tudo executou na terra.

Conclusão
Muitos outros pontos da vida do homem poderiam ser estudados e vistos para demonstrar que a grande dignidade de ser gente e a estima que a pessoa deve ter para consigo consiste no fato de ter sido criada por Deus, conforme a Sua imagem e segundo a sua semelhança, carregando de alguma forma certos atributos divinos.
Você pode compreender o mundo e formar ideias e conceitos a respeito de tudo que existe porque o Deus que compreende todas as coisas o dotou desta semelhança com Ele.
Você pode falar com o poder de comunicar seu conhecimento porque o Deus que fala lhe concedeu poder de assemelhar-se a Ele nesta parte.
Você tem condições de trabalhar, e de através do trabalho criar coisas, construir, etc., por que o Senhor  que a tudo criou, o fez semelhante a Ele neste particular.
Assim, quando Deus o criou conforme a Sua imagem e segundo a sua semelhança Ele comunicou a você muitas coisas que são próprias dEle, daí sua dignidade de ser gente residir no fato de guardar estreita ligação com o Criador
Portanto, não olhe aquilo que as pessoas dizem que você é, mas olhe para aquilo que você realmente é, ou seja, imagem e semelhança de Deus.

Viva a vida para a glória de Deus, do Deus que o criou com o destaque de se assemelhar a Ele. Estime-se e bendiga ao Senhor porque você foi coroado de glória e de honra ao ser feito a imagem e semelhança do Criador. Afinal, o que você é se mostra maior do que tudo aquilo que você faz, e você pode fazer coisas de excelência por ser o que é.

Lutero de Paiva Pereira

quinta-feira, 26 de junho de 2014

TIRANDO FORÇA DA FRAQUEZA


A palavra fraqueza, que aponta para um estado de debilidade, ausência de forças, perda de energia e coisa parecida, qualquer que seja o sentido em que é empregada, nunca agrada a quem a ouve.
Se a pessoa está emocionalmente fraca, sua resistência é baixa; se ela está fisicamente enfraquecida, sua saúde corre perigo e se se encontra financeiramente debilitada, a coisa é bem séria.
Como fraqueza é sempre sintoma de problema, o homem vive à procura de poder, de força e de vigor em todos os sentidos, e isto não só para seu bem-estar pessoal, como também para estar bem diante do semelhante, visto que os fracos têm pouco espaço ou nenhum espaço no ambiente social.
No entanto, quando a fraqueza é analisada no âmbito da caminhada cristã, por mais incrível que possa parecer, e o paradoxo é até mesmo alarmante, sua presença não só é real e bem-vinda, como até mesmo necessária para o desempenho de qualquer serviço ou ministério.
No Reino de Deus só os dotados de fraqueza parecem ter espaço garantido para irem bem, pois são a tais pessoas que Deus estende atenção e ajuda relevante.
Noutras palavras, se o crente quer ser um vitorioso e um cristão capaz de provar o melhor de Deus, a fraqueza é necessária, a debilidade é indispensável e a ausência de forças requisito essencial.
Isto quer dizer que aqueles que querem ser fortalecidos por Deus nunca podem negar suas fraquezas.
Esta é uma frase que bate atravessada em qualquer ouvido, pois no mais das vezes o que o crente ouve é que ele precisa ser forte, que não deve ser fraco, até mesmo porque, segundo alguns dizem, quem crê em Jesus Cristo tomou para si tal dose de poder que daí por diante se tornou um gigante a combater anões.
Contudo, essa mensagem de otimismo extremo, essa pregação que tenta produzir super-homens, não encontra respaldo na Escritura Sagrada, a despeito de sociologicamente se mostrar atraente.
Pela Escritura o convite feito ao crente é não negar, menos ainda não ignorar a própria fraqueza, mesmo porque fraqueza em si mesma não é sinal de derrota ou de falta de fé, mesmo porque o crente que entendeu bem a mecânica da graça de Deus provará da beleza que é tirar força da fraqueza.
Todavia, se o crente prefere ouvir mais a mensagem de empoderamento, um termo em inglês que indica tornar-se poderoso por si mesmo, do que a mensagem bíblica que aponta para sua realidade de fraqueza como necessária a ação da graça em sua vida, ele perderá a condição básica para ser fortalecido por Deus.
 Afinal, nenhum crente forte, poderoso, energizado em si mesmo poderá contar com Deus, com Sua graça, com Seu poder, menos ainda com ajuda do Seu Santo Espírito, já que somente os fracos têm socorro divino posto ao seu alcance.
O apóstolo Paulo foi o mais fraco dos crentes e, consequentemente, o mais forte dos filhos de Deus, de modo que vale a pena observá-lo como exemplo a ser seguido.
Ele chegou a dizer que se gloriava em suas fraquezas, pois elas lhe permitiam a experiência de ser fortalecido pelo poder de Deus, de modo que não havia porque se envergonhar de qualquer delas.
Paulo sabia de suas fraquezas, não se incomodava nenhum pouco com essa realidade e até mesmo via razão mais que espetacular para tê-las, pois segundo ele era por causa dessas fraquezas que o poder de Cristo passava a habitar nele: De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo (2 Co 12.9).
 É estranho pensar que Paulo se gloriava em suas fraquezas, mas literalmente foi isso que ele escreveu aos coríntios, uma igreja apaixonada por crentes fortes. São palavras suas: Se convém gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito às minhas fraquezas ( 2 Co 11.30). E mais à frente: De um assim me gloriarei eu, mas de mim mesmo não me gloriarei, senão nas minhas fraquezas (2 Co 12.5). E em seguida: pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo (2 Co 12.10).
Mas é certo que Paulo não se gloriava em suas fraquezas como uma pessoa mentalmente desequilibrada, como se o ser fraco por si só lhe trouxesse algum bem estar. Pelo contrário, o que levou Paulo a: 1º) admitir suas fraquezas; 2º) a não posar de forte diante da igreja e, 3º) a gloriar-se nas fraquezas que admitia, é que ele estava certo de que a relação do homem com Deus é diferente da relação do homem com seu semelhante.
Enquanto nas relações humanas é preciso esconder a fraqueza para não ser dominado pelo outro, nas relações com Deus admitir a fraqueza é condição básica para ser ajudado por Deus.
Numa afirmativa que parece contrariar toda lógica humana, Paulo deu a razão do gloriar-se nas fraquezas, pois segundo afirmou quando estou fraco, então, sou forte (2 Co 12.10b).
Por que Paulo tinha tanta certeza de que ao estar fraco ele não continuaria fraco, mas sim seria forte?
O motivo dessa certeza é que um dia ele ouviu de Deus as confortantes palavras: a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza (2 Co 12.9).
A expressão aqui trazida para “se aperfeiçoa” no original é teletai e significa “se consuma”, “se completa”, ou seja, algo que alcançou sua completeza ou completude.
 É certo que Deus tem um poder em tudo superior ao poder do homem, mas esse poder de Deus somente atua no homem quando o homem está em seu estado de fraqueza, porque é quando o crente está em fraqueza que Deus encontra a condição básica para o seu poder entrar em ação e assim tornar forte o fraco.
Isto quer dizer que para desfrutar do poder divino o crente precisa, necessariamente, estar em estado de fraqueza, mesmo porque é no estado de fraqueza que ele se volta a Deus em busca de socorro e O encontra disposto a ajudá-lo.
Foi assim que Deus disse a Paulo: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa, isto é, se completa ou se torna pleno, na fraqueza ( 2 Co 12.9).
Se o poder de Deus se manifesta pleno ou completo quando o crente se encontra em estado de fraqueza, isto quer dizer que o estado de fraqueza por si só não é mal nem indicativo de fim, mas de início de uma nova realidade produzida pelo poder de Deus que nele vai se mostrar pleno para tirá-lo da situação de incapacidade.
A fraqueza espiritual do crente, pois crente tem fraqueza espiritual, portanto, é o meio adequado para provar da plenitude do poder de Deus, e somente os fracos é que serão sustentados pelo Seu poder.
Aquele que se julga forte por suas próprias forças para vencer tudo e todos, jamais provará do poder de Deus, o qual energiza o crente para lutar destemidamente.
Portanto, quando o crente está em fraqueza, aí sim Deus tem um terreno apropriado para fazer vicejar nele seu poder.
Mas a fraqueza do crente não dá somente oportunidade para o poder de Deus agir nele para fortalecê-lo, como também propicia a ajuda do próprio Espírito Santo.
O Espírito Santo, concedido ao crente a partir do momento que ele crê em Jesus Cristo, tem muitas funções ou ministérios em sua vida, e se mostra imprescindível ao pleno desenvolvimento de sua salvação.
Uma das muitas funções do Espírito na vida do crente diz respeito a ajuda que Ele lhe oferece nos momentos de oração, notadamente nos momentos de fraqueza.
E da mesma maneira também o Espírito”, escreve Paulo, “ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26)”.
Quando o crente está provando de seu estado de fraqueza, e fraqueza tal que atinge até mesmo sua oração, ele perde a capacidade de orar convenientemente. Nesse momento de oração inconveniente, ao invés de Deus ficar com raiva dele por ter orado assim, o que muita gente pensa que acontece, Deus o ajuda através de Seu Santo Espírito que no crente orará com gemidos que não têm como serem expressos em linguagem humana.
O Espírito Santo ajudará no momento de oração feita de forma totalmente diferente a própria necessidade de quem ora, ao crente fraco que nesta condição nem mesmo sabe do precisa pedir, pois muitas vezes nem mesmo sabe qual sua real necessidade.
O estado de fraqueza ao atingir a vida de oração do crente, lhe dá a condição básica de experimentar a bênção de ser socorrido e ajudado pelo Santo Espírito como seu intercessor presente e pessoal, de modo que até mesmo neste momento a fraqueza se lhe mostra favorável.
A palavra desse versículo traduzida como conveniente no original tem o significado de necessário, e quer dizer que quando o crente está em estado de fraqueza ele não tem nem mesmo condições de orar de acordo com aquilo que ele mesmo tem necessidade, daí ser ajudado pelo Espírito Santo que sabendo o que o crente realmente precisa para ter resolvido seu estado de fraqueza, ora nele e por ele.
Paulo descobriu, então, que seu estado de fraqueza não somente dava oportunidade para o poder de Deus agir nele, como também abria uma oportunidade para o Espírito Santo ser aquele Consolador presente e atuante em sua vida.
 Mas, indo um pouco mais além, Paulo vê outra utilidade para a fraqueza que nele habitava.
É que a fraqueza o capacitava a ajudar corretamente a igreja.
É estranho dizer que a fraqueza é um meio adequado para dar ao fraco a condição básica para ajudar a igreja, pois em regra se entende que somente os fortes podem ajudar os fracos.
Na igreja o crente não vive somente para si mesmo mas também para os outros, sendo que a ajuda mútua deve ser uma característica dos remidos.
No entanto, para ajudar o outro de forma real e efetiva, de maneira que possa haver crescimento na graça e assim acontecer o desenvolvimento da salvação, é preciso que o ajudador esteja em fraqueza.
Quem se julga forte não está em condições de ajudar a ninguém, e quem não ajuda ninguém não desempenha bem sua função no corpo de Cristo.
O apóstolo Paulo foi um fraco que fortalecer muita gente.
Ele disse aos crentes de Corinto: E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, mas no poder de Deus (1 Co 2.3-5).
Paulo nunca desejou que os crentes apoiassem sua fé em palavras persuasivas de sabedoria humana, exatamente para que a fé se mostrasse sólida.
Assim, quando ele pregou em estado de fraqueza, a fraqueza lhe retirou a capacidade de ser um pregador de sermões assentados em sabedoria humana. Como estava em fraqueza Paulo teve que se fortalecer do poder de Deus para ter uma pregação apoiada na sabedoria de Deus, de maneira que quando falou a igreja ouviu uma mensagem na qual poderia assentar sua fé sem qualquer risco.
Qual, pois a utilidade da fraqueza neste caso?
A utilidade da fraqueza foi fazer Paulo ser dependente do poder de Deus para transmitir uma mensagem sustentada por esse poder, e dessa forma uma pregação verdadeira que fez bem aos que a ouvem.
Quando o pregador prega em fraqueza tal que tem que buscar força no poder de Deus, sua pregação apresenta aos ouvintes um ponto firme para apoio de sua fé.
Porém, quando o pregador está tão forte que chega a dispensar o poder de Deus, sua pregação se estrita na sabedoria humana e os que ouvem correm o risco de apoiarem sua fé na mentira e no engano.
Depois de viver tanto tempo rodeado por fraqueza interior e fortalecido pelo poder exterior, Paulo pode então afirmar: quando estou fraco, aí é que sou forte (2 Co 12.10).
A vista da experiência e do escrito de Paulo se pode tirar as seguintes lições:
a) a fraqueza não é coisa estranha ao crente, e nem pode ser tida como um estado de ausência de fé. Afinal, Paulo foi sempre cheio de fé, e também sempre cheio de fraquezas;
b) a fraqueza no crente é condição básica para ele provar do poder de Deus, pois o poder de Deus somente se torna pleno na fraqueza do homem;
c) a fraqueza que retira a capacidade de orar como necessário, é a mesma que oportuniza ao crente ser assistido pelo Espírito Santo que nele intercede em seu favor;
d) a fraqueza se mostra mais que necessária para o crente ser um bom proclamador da Escritura, pois é nesta condição que ele deixará a sabedoria terrena e se apoiará na sabedoria do alto, a qual faz bem à fé;
Portanto, que ninguém se iluda querendo ser forte, quando Deus mesmo se propõe a fortalecer os fracos, e Deus dá poder na fraqueza para que a glória seja Sua.

E o crente em fraqueza que vence com o poder de Deus saberá glorificá-Lo sempre.

terça-feira, 10 de junho de 2014

DEUS CONSERTA VASO QUEBRADO







A palavra do SENHOR, que veio a Jeremias, dizendo:
Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras.
E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas,
Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer. Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel (Jeremias 18.1-6).

Miguel Ângelo Buonarroti, mais conhecido como MICHELÂNGELO, foi um dos maiores artistas italianos do século XV. Além de pintor afamado ele foi também um escultor de renome e no campo da escultura Davi, Leda, Moisés e Pietá são as obras que o imortalizaram. A Pietá, que em português quer dizer Piedade, é uma representação que o artista fez de Maria, a mãe de Jesus.  
Como é próprio de todas as obras do grande artista, a Pietá é de uma beleza sem igual e os turistas que passam por Roma fazem questão de conhecê-la de perto visitando a basílica de São Pedro, no Vaticano, onde encontra-se exposta à visitação pública. Em 1972, no entanto, a Pietá foi danificada por um louco que a atingiu com várias marteladas comprometendo sua beleza original. A escultura, mais tarde, foi reparada mas a obra de restauração foi trabalhosa e demorada porque exigia muita habilidade do restaurador para não comprometer sua beleza primitiva.
Existem muitas outras obras de arte espalhadas pelo mundo, as quais causam espanto e admiração dos que as contemplam, pois vêem nelas a habilidade do artista de fazer nascer do mármore, do bronze, do ferro, da argila, do gesso e de uma centena de outros materiais brutos, uma peça ou uma figura de rara beleza.
Mas dentre todas as obras de arte que no mundo podem ser admiradas, existe uma que se apresenta como sendo a maior, a mais bonita, a mais especial, a mais delicada e a mais valiosa. E também a mais complexa.
Como as outras, essa obra de arte refinada também foi insculpida por um Artista renomado que a partir de um material bruto, de onde ninguém poderia imaginar que sairia algo notável, dali Ele fez surgir sua obra-prima. A expressão obra-prima quer dizer obra ou trabalho principal de um artista.
Com uma habilidade que o homem não tem foi que, a partir do pó da terra, Deus trouxe a existência sua obra mais elevada, a saber, o homem, já que dentre todas as coisas que Deus criou o homem é seu trabalho mais notável, e tem o status de obra inigualável por ter a imagem e semelhança do Criador.
Afinal, ao decidir fazer o homem do pó da terra Deus idealizou dar-lhe uma dignidade que não havia dado a nenhuma outra criatura, ou seja, e de ser feito à sua imagem e conforme Sua semelhança, conforme está escrito na Bíblia: Também disse Deus: façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. ... Criou, pois, o homem, a sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn 1.26-27).
Ao ser criado por Deus com a dignidade de ter sido feito a Sua imagem e conforme a Sua semelhança, o homem se tornou uma obra de arte de beleza incomparável, de qualidade incomum e de capacidade imensurável.
Trazer a imagem de Deus dá ao homem o destaque de ser a criação mais perfeita, mais gloriosa e mais espetacular do Supremo Escultor, de modo que na terra ninguém a ele se compara neste sentido.
Mas essa obra de arte bonita, delicada, complexa, especial e única, infelizmente, foi danificada e sofreu uma agressão que comprometeu sua beleza original, suas qualidades especiais e sua capacidade insuperável, atingindo em cheio a razão de sua própria existência.
Mesmo assim, é fato, o homem ainda continua a ser obra de arte de Deus, mas obra de arte trincada, danificada e estragada.
E o que foi que trincou a obra-prima de Deus? Quem foi que danificou o vaso especial da criação de Deus? Não foi uma martelada de um louco qualquer, como aconteceu com a Pietá de Michelângelo, nem qualquer outro tipo de agressão feita pelo homem.
Foi algo pior.
O que danificou a obra prima de Deus foi o pecado.
O pecado trincou o vaso especial de Deus; o pecado enfeou o vaso admirável de Deus; o pecado comprometeu a obra prima de Deus em sua função originária, qual seja, a de poder expressar a glória de Deus, de modo que na condição em que o homem se encontra hoje ele está relativamente distante do projeto do Criador.
Não só a Bíblia apresenta o homem como um ser desajustado, desorganizado e em completa desordem, como a vida de cada pessoa é uma prova incontrariável e mais que evidente de que o homem não está bem e  vai mal em seus pensamentos, feitos e obras.
O pecado retirou da obra prima de Deus a capacidade de expressar plenamente Sua glória, o que levou o apóstolo a escrever: porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23), onde  destituído quer dizer estar privado ou desvestido.
 O pecado foi algo terrível e desde então o homem passou a sentir seus efeitos desastrosos em seu corpo, alma e espírito pois sua violência contra o ser humano foi total e fatídica. O pecado danificou a mente, desorganizou a alma, alterou a emoções, comprometeu a vontade, adoeceu o físico e, ainda, trouxe morte ao espírito do homem, fazendo do belo vaso inicial um vaso agora de pouca admiração e desvestido de Sua glória.
E como se tudo isto não bastasse para demonstrar que o homem sentiu profundamente o golpe que lhe foi desferido pelo pecado, ele ainda fez com que a obra prima de Deus perdesse sua capacidade de se relacionar com Deus, com o próximo e consigo mesmo, aumentando significativamente seu drama.
Distanciado de Deus o homem passou a ter dificuldade de ficar perto do seu semelhante, e não poucas vezes se vê dominado até mesmo pela vontade tormentosa de querer fugir de sua própria companhia, o que se constitui numa situação que o atormenta de dia e de noite, ontem, hoje e amanhã, e torna a vida um palco onde se desenrola uma peça cujo enredo não agrada a quem encena, menos ainda quem a assiste.
E todos os homens encontram-se envolvidos nesse teatro de horror, onde numa hora são artistas e noutra plateia, mas em qualquer das duas posições sem prazer algum. Afinal, viver o drama humano é terrível e assistir o drama vivido pelo outro também não é bom.
Em razão desse quadro caótico  real  experimentado por homens e mulheres, ricos e pobres, novos e velhos, cultos e incultos a pergunta que se faz é: há possibilidade de  restaurar o vaso quebrado? Pode a  obra-prima de Deus ser consertada para ter revertido seu drama? Se a resposta for sim, é preciso saber: Quem poderá fazer esse trabalho tão sério e que requer tanta habilidade? A quem os vasos quebrados devem recorrer para serem consertados?
Em princípio o quadro complicado que envolve os homens parece não ter esperança, pois não há na terra alguém com capacidade e habilidade suficientes para fazer trabalho tão delicado, pois a ciência é incapaz, a religião é insuficiente e a cultura, ineficaz para tanto.
A única esperança para o vaso quebrado para ser reparado está fora da terra, ou seja, está em Deus.
Somente Deus pode consertar sua obra prima restaurando, de alguma forma, sua beleza original e reparando sua funcionabilidade perdida.
Somente com a restauração de Deus é que o homem consegue pensar melhor, sentir melhor, relacionar-se com Deus, com o semelhante e consigo mesmo de forma mais tranquila, intensa e ordeira.
Somente Deus pode e tem habilidade suficiente para reparar o homem, salvando-o da situação de desespero em que se encontra em razão de seu estado pecaminoso.
Olhemos, agora, para o texto bíblico que foi lido ao início, o qual fala da experiência do profeta Jeremias quando foi visitar um oleiro em sua oficina, obedecendo a palavra de Deus que neste sentido lhe havia sido dirigida.
O profeta desceu à casa do oleiro e o viu trabalhando. Diz o texto que enquanto o oleiro fazia um vaso  esse se quebrou (v. 4). Quando se quebrou, ao invés de jogar fora o vaso quebrado o oleiro se propôs a trabalhar para fazer do vaso quebrado um vaso novo, o que o fez trazendo a existência um vaso novo conforme pareceu bem aos seus olhos.
Ao fazer o profeta ver o oleiro que consertou o vaso que havia se quebrado, Deus perguntou a Jeremias: Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro (v.5)?
Ou seja, Deus indaga ao seu servo: "Não poderei eu consertar o povo de Israel, que atualmente encontra-se todo quebrado?"
A pergunta que Deus faz tem como objetivo levar o profeta a refletir sobre o seguinte: “se o oleiro pode reparar um vaso quebrado, Deus não é capaz de fazer o mesmo com o povo de Israel que está na condição de vaso quebrado? Se o oleiro tem habilidade para consertar um vaso que se estragou, Deus não tem habilidade para consertar a casa de Israel que se encontra trincada por causa de seus pecados?”
Com tais palavras Deus estava trazendo esperança ao profeta Jeremias, esperança que deveria ser levada ao povo de Israel que naquela altura de sua história encontrava-se em estado de terrível cativeiro, ou seja, viviam como vasos quebrados, mas Deus poderia consertá-los.
A PREGAÇÃO HOJE
Quando o evangelho da graça é anunciado hoje na terra, a mensagem proclamada aos ouvidos de homens e mulheres que, por serem pecadores, estão na condição de vasos quebrados, tem que ser de esperança no sentido de que Deus pode consertar e reparar o estrago que o pecado lhes fez.
E deve ser assim porque o evangelho se dirige a homens e mulheres que na condição de obra prima de Deus, estão danificadas em sua mente, vontade e emoção, faculdades que podem muito bem ser recompostas pelo poder que no evangelho existe.
O evangelho ao ser difundido aos quatro cantos da terra tem como proposta trazer aos homens a esperança de serem vasos novos, vasos restaurados, vasos curados, para voltarem ao seu relacionamento com Deus, e poderem expressar um pouco mais da glória de Deus.
Para mudar sua história o homem precisa passar da condição de vaso quebrado para a de vaso novo, e isto somente Deus, o Supremo artista e o Sábio escultor pode fazer, pois a Bíblia diz que aquele que se encontra em Cristo é feito uma nova criatura (2 Co 5.17), ou seja, é feito um vaso novo, um vaso cujos trincos foram reparados e cuja quebradura foi curada.
No evangelho de Jesus Cristo é que o homem encontra não somente a graça como também o poder de Deus para fazer dele um vaso sem trinco, um vaso novo.
É através da graça do evangelho que Deus vem ao encontro do homem para consertar o estrago que o pecado lhe fez.
É através do poder do evangelho que Deus repara no homem o mal que o pecado lhe causou.
Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? Deus perguntou ao profeta Jeremias.
Essa pergunta que o profeta ouviu naquela época é feita hoje por Deus a todos os homens através do evangelho de Jesus Cristo: “Porventura não posso fazer com você o mesmo que o oleiro fez com o vaso que se quebrou? Por acaso não tenho poder bastante para reparar em você as trincas que o pecado promoveu?”
Paulo escreve: Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, A esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém (Ef 3.20-21).
Quando o poder de Deus opera em nós ele é capaz de fazer  algo muito maior e melhor do que imaginamos que possa fazer, pois ele faz algo para a glória de Deus.
Assim, a resposta do vaso quebrado hoje quando ouve o  evangelho deve ser: “Sim Senhor, o Senhor pode fazer em mim mais do que o pecado fez, e eu quero que assim seja. E é por isto que neste momento eu recebo a Jesus Cristo como meu Salvador e  Senhor para me tornar um vaso novo.”
Os pecadores precisam conhecer o Deus que conserta vasos quebrados, pois somente os vasos por Ele reparados é terão condições de manifestar e de expressar Sua glória.  
Lutero de Paiva Pereira