sábado, 31 de dezembro de 2011

PREDESTINAÇÃO


Olhe a predestinação para frente e não para trás, pois o que está por vir é bem mais fácil de compreender do que aquilo que já foi.
Digo isto porque se existisse um levantamento estatístico a respeito dos pontos doutrinários mais controversos da Escritura, predestinação estaria entre aqueles que geraram debates os mais acirrados.
Afinal, o que sobre ele escreveram os intérpretes “iluminados” é bem mais complexo do que a respeito trataram os autores bíblicos inspirados.
Os que negam e os que defendem a predestinação fazem uso de versículos muitas vezes de forma tão forçada, de modo que o esclarecimento torna mais escuro o que já não é claro e complicado o que não é simples.
Predestinação é um daqueles temas que deveria ser estudado à luz de Deuteronômio 29.29  que diz que as coisas encobertas pertencem ao nosso Deus, para que a especulação  fosse contida aos limites estreitos da incapacidade de querer saber o que Deus mesmo não deu a conhecer de forma plena.
O próprio apóstolo Paulo não foi à exaustão sobre o tema, e visto que desejava a salvação dos perdidos se deu mais a pregar o evangelho do que a debater questões teológicas de nenhum efeito prático em termos de predestinação.
Se predestinação é um mistério quanto ao processo como se deu, é bem mais compreensível quando olhada a partir de seu alcance ou objetivo.
Desta forma, será melhor olhar a predestinação para frente, o seu futuro, do que para trás e tentar descobrir como tudo aconteceu no passado.
Para as coisas que têm início e fim se elas não podem ser compreendidas olhando para aquele, isto é, para o início, talvez seja possível entende-la concentrando-se neste, ou seja, no fim.
Afinal, quando se quer encontrar razões que levaram Deus a agir assim ao tempo em que o mundo sequer existia, esbarra-se na grande verdade que escreveu o apóstolo Paulo: Quem compreendeu a mente do Senhor (Rm 11.34)?
Como ninguém compreendeu a mente de Deus fica difícil entender muitos de seus atos, dentre os quais a própria predestinação.  
Considerando que só compreendemos os atos de alguém quando se compreende sua mente, não é de estranhar que não entendemos muitos dos atos de Deus exatamente porque não compreendemos Sua mente, e também porque Ele mesmo não deu informações mais detalhadas a respeito em Sua palavra.
E mesmo os atos divinos que podem ser compreendidos é com muito empenho de estudo, simplicidade de coração e iluminação do Espírito Santo que o homem pode ter algum entendimento, já que a mente da criatura é infinitamente menor do que a do Criador.
Como na predestinação Deus tem um objetivo ou propósito, devemos estudá-la nessa direção porque é neste sentido que a Bíblia parece fornecer mais informações ao leitor.
Portanto, se o objetivo do estudo da predestinação é encontrar razões para acalmar a alma do que incendiá-la, de agradecer a Deus do que discutir com os homens convém observar o que os escritores inspirados têm a dizer neste sentido.
No texto de Romanos 8.29 o apóstolo Paulo observa que a predestinação tem a ver com o objetivo de tornar os salvos conformados a imagem do Filho de Deus, o que demonstra que o seu alvo é conformar o crente a Cristo: Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
Aqui predestinação tem como alvo  conformar os salvos a Cristo, e como você foi predestinado sua expectativa deve ser posta neste sentido.
Logo em seguida – v. 30 – Paulo elenca várias coisas com a predestinação, todas elas de iniciativa de Deus, a saber: a predestinação, o chamado dos predestinados, a justificação dos chamados e a glorificação dos justificados, de modo que no fim da predestinação está a glorificação dos filhos de Deus: E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou (Rm 8.30) .
Vê-se, portanto, que a predestinação aqui tem como objetivo final a sua glorificação.
Quando, por outro lado, escreve aos efésios o mesmo escritor demonstra que a predestinação tem como alvo Deus mesmo, já que ele informa que Deus predestinou as pessoas para si mesmo: E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade (Ef 1.5).
Aqui, o seu futuro como predestinado é ser de  Deus.
Portanto, olhar a predestinação para frente, tendo em conta o que será, e não para trás, para saber como ela se deu, é coisa mais certa, mesmo porque além do passado ser muito difícil para ser explicado o futuro é muito glorioso para ser perdido hoje com discussões que complicam quando explicam.
Já que o passado não te pertence mas o futuro te pertencerá, coloque sua mente nas coisas que serão e não nas que já não são.
Lutero de Paiva Pereira

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

"DEUS TEM UM PLANO ESPECIAL PARA VOCÊ"

Você é daquele tipo de pessoa que vive insatisfeito porque não descobriu ainda qual o plano especial de Deus para sua vida?
Se for este o seu caso é possível que esta leitura seja útil para melhorar seu estado de alma.
É verdade que muitos dos que vivem sob o drama da ausência de um propósito na vida quando vão à igreja ouvem o pastor dizer: “Deus tem um plano especial para sua vida”.
Esta afirmativa vinda do púlpito coloca o ouvinte em estado de “graça”, e lhe dá ares de alguém realmente muito importante para Deus, elevando de forma perigosa seu ânimo. Afinal, planos especiais indicam pessoas especiais. Logo, o ouvinte pensará silenciosamente em seu coração: "sou especial porque Deus tem algo especial para mim".
Contudo, o tempo passa e o tal plano especial nunca vem ou acontece, o que traz frustração e desânimo, fazendo nascer no coração certa dose de decepção com  Deus que não cumpriu nada de especial em seu favor, conforme o pastor insinuou.
Agora, além de abatido você ainda se torna decepcionado com Deus.
Na verdade a máxima “Deus tem um plano especial para você” não tem fundamento bíblico algum, pois não passa de uma máxima  inventada por alguém que quis se passar por mais sábio que os próprios escritores sagrados, os quais não tiveram segurança alguma em dizer isto quando escreveram suas cartas.
Com efeito, Paulo, Pedro, João e o escritor de Hebreus, nenhum deles fez afirmativa que desse aos seus leitores a ideia de que poderiam esperar o momento em que Deus revelaria um plano especial para cada um deles, pois sabiam muito bem que a coisa não se processa assim.
E se eles, os escritores inspirados pelo Espirito Santo, não afirmaram nada neste sentido, por que é que alguém agora, na condição de simples leitor iluminado, deveria fazê-lo?
Portanto, é totalmente descabido dizer que “Deus tem um propósito ou um plano especial para você”, como se você fosse alguém distinto de todos os outros, a ponto de merecer atenção e tratamento distinto do céu.
Se você sendo uma pessoa comum crê que é especial, o melhor a fazer é rever esta postura  imediatamente, pois não há nenhum  tratamento “vip” celestial proposto em seu favor.
O apóstolo Paulo recomenda que ninguém deve pensar de si mesmo mais do que convém, antes pensar com moderação (Rom 12.3), e quem for moderado neste aspecto verá que não especial a ponto de merecer tratamento incomum de Deus.
Pensar de si mesmo com moderação implica, dentre outras coisas, não julgar-se merecedor de um plano especial de Deus, senão somente da graça manifestada igualmente a todos em Cristo Jesus, a qual por si já se mostra mais que especial.
A pregação, portanto, deve fazer os ouvintes crerem no que efetivamente são, ou seja, pessoas pecadoras, injustas, ímpias sujeitas ao mesmo tratamento divino, e que mesmo sendo comuns foram escolhidas por Deus para serem filhos por adoção através de Jesus Cristo.
Na verdade, o plano especial que Deus tem para você é o mesmo que Ele tem para todas as outras pessoas, a saber: a) que você seja conformado a Cristo; b) que se alegre sempre em Cristo; c) que anuncie a Cristo; d) que cresça no conhecimento de Cristo; e) que  amadureça espiritualmente, etc.,  tornando-se  cada vez mais equilibrado em seu comportamento, desenvolva sua salvação e vida dignamente a altura do evangelho.
Desta forma, não se martirize esperando que um anjo do céu venha lhe dizer algo sobre um propósito especial que Deus tem reservado para você, pois quem fica nesta espera perde  tempo  e nunca chega ao propósito de sua existência, que é viver para glória de Deus, observando os preceitos das Escrituras.
Lembre-se que quando Jesus chamou seus discípulos Ele não disse que Deus tinha um propósito especial para suas vidas, mas simplesmente lhes disse: segue-me.
Ouvir o segue-me de Cristo já é mais que especial para qualquer um.
Portanto, siga a Cristo e encontre o propósito especial de Deus para você que é fazer de você uma nova criatura, cuja mente renovada pela Palavra poderá lhe dar as condições necessárias não só para não se conformar ao mundo, como também para conhecer a vontade de Deus que em si mesma é boa, perfeita e agradável (Rm 12.2).
O melhor mesmo a saber neste momento é que você não é peça fundamental para o propósito de Deus, mas se torna especial quando passa a fazer parte do Seu propósito.
Não se esqueça que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23), o que  inclui você e todos os outros, mas por obra da graça foram justificados gratuitamente mediante a fé em Jesus Cristo, o que também alcança você e os demais.
Agora que você sabe que não é especial para Deus, viva de forma incomum para Ele que o amou de forma tão especial em Jesus Cristo.
Lutero de Paiva Pereira

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

CUIDE DE SUA MENTE


O desenvolvimento da vida cristã e da maturidade espiritual depende da mente humana, pois por mais estranho que possa parecer a alguns, a fé se assenta em verdades que a mente deve apreender e fazer isto para desenvolver um estilo de vida novo.
O pensamento, algo abstrato, tem no comportamento sua concretude.
Quem nega a sua mente o valor que a Bíblia lhe dá não tem como conhecer o que a Bíblia lhe 
Se a mente não fosse importante ao crente Paulo não teria escrito: pensai nas coisas lá do alto (Cl 3.2).
Observamos em sua carta aos romanos que o apóstolo indica que Deus mesmo usa a mente humana tanto para amaldiçoar o homem, como para abençoá-lo.
No terreno da punição do homem no uso inadequado da mente Paulo diz que tendo em conta que os homens desprezaram o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes (Rm 1.28).
Com uma disposição mental reprovável os homens passam a ter práticas ou atitudes reprováveis tais como: malícia, avareza, maldade, inveja, contendas, dolo, malignidade etc ( v 29 a 31), o que prova que os atos humanos estão conectados a mente.
E o cúmulo de uma mente entregue a disposições reprováveis é que mesmo conhecendo que são passíveis de sentença de morte, tais homens não somente praticam tais coisas, como também aprovam os que assim procedem (v.32).
Assim, ao adotar em sua mente valores e práticas contrárias a justiça divina, o homem desenvolve uma vida torpe o que em si mesma já está carregado de maldição.
Por outro lado, a forma de Deus abençoar o homem através de sua  mente é pelo processo de sua renovação, de modo que tendo uma forma nova de pensar, o homem passa a conhecer a vontade de Deus e a desenvolver práticas santas, o que é abençoador.
Paulo escreve: não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2).
Neste texto Paulo afirma que a vontade de Deus é por si só boa, agradável e perfeita e quem tiver uma  mente renovada será capaz de prová-la a vontade divina como tal.
Portanto, para que o crente experimente a vontade de Deus como algo bom, perfeito e agradável é preciso que sua mente seja renovada, pois sem que a mente passe por este processo nem mesmo o crente saberá avaliar a vontade de Deus com estes predicativos.
Com uma mente renovada e uma forma de pensar nova, o crente terá condições de emitir juízo crítico em relação as coisas e valores do seu tempo, para aprovar o que é certo e reprovar o que é errado.
A pregação, portanto:
tem que comunicar aos ouvintes verdades da Escritura que sejam inteligíveis e que os ajude a pensar de modo novo;
deve despertar nos crentes o desejo de meditar na Escritura;
precisa incentivar os crentes a leitura diária da Escritura porque uma mente não se renova somente com o que se ouve aos domingos e,
finalmente, o próprio crente deve zelar de sua mente para que não tenha por hábito entregá-la as coisas reprováveis, mas sim aquelas que a renovem cada vez mais, pois ninguém pode ser maior guardião de sua mente senão aquele que a possui.
Lutero de Paiva Pereira

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Apocalipse e Jó: sugestão de leitura.

Existem dois livros na Bíblia que são campeões em meter medo em seus leitores. Um deles é o livro de Jó, e outro, o de Apocalipse.  Jó relata o sofrimento temporário pessoal de um homem e apocalipse, num certo tempo, o sofrimento  coletivo de muitas pessoas. No entanto, por mais incrível que possa parecer são exatamente esses livros os que trazem um final  alegre e confortante como nenhum outro da Escritura. Jó, por exemplo, relata ao final do livro sua experiência de conhecer a Deus direta e pessoalmente, e isto depois de um período longo em que o seu conhecimento a respeito dEle era somente através de terceiros e por ouvir falar: antes eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem (Jó 42.5). Ora, para o crente a experiência de conhecer tão íntima e diretamente a Deus é algo indizível.

Por sua vez Apocalipse, em seus dois últimos capítulos, registra a experiência de João de ver os novos céus e a nova terra (Ap 21.1), bem assim a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus (Ap 21.3), para se tornar o lugar de Sua habitação com os homens, pois Deus mesmo estará com eles (Ap 21.3) para sempre, mostrando a eterna alegria e felicidade dos salvos.
Ora, ver o futuro glorioso que espera aqueles que professam fé em Jesus Cristo como Salvador e Senhor é algo espetacular e de grande exultação.
Desta forma, considerando que o término do livro de Apocalipse é o anúncio do início da eternidade dos salvos, a sugestão para se ler o livro sem medo e para bom aproveitamento é fazer a leitura  de trás para frente, ou seja,  sabendo como será o depois do fim antes mesmo do fim chegar.
Como Apocalipse é um livro relativamente extenso – 22 capítulos – com relatos e figuras de compreensão difícil e de certo modo de cansativa observação, é comum o leitor seguir com fôlego até os capítulos 15 e 16, começando a arrefecer os ânimos a partir do capítulo 17, para roubar de vez a vontade ler para nunca chegar aos capítulos 20, 21 e 22.
E quem não chega aos capítulos finais de Apocalipse não tem a melhor revelação que João teve.
Desta forma, como a leitura de Apocalipse tende a ficar pelos capítulos que se mostram aterradores, o leitor se deixa dominar por um medo tal que todas as vezes que o nome apocalipse é pronunciado, as primeiras coisas que vêm a sua mente são figuras de serpente, dragão, morte, pestes, destruição, etc.
Aliás, até mesmo os estudos apocalípticos nas igrejas normalmente se fixam nessas partes, e não poucas vezes tornando pior o que já estava ruim na mente dos crentes.
Colabora para piorar ainda mais esta sensação ruim em relação ao escrito de João o uso indevido que o cinema faz da palavra apocalipse, pois todo filme que traz esse título é de catástrofe e sofrimento sem fim.
Será que João ao ler o livro de apocalipse ficou com medo? A pergunta tem pertinência porque não é de duvidar que o escritor tenha lido várias vezes o que escreveu, pois ao tempo em que fez o registro inspirado ele encontrava-se na ilha de Patmos (Ap 1.9), e estando ali não tinha como não se dedicar a isto. E lendo é possível afirmar que ele se alegrou mais do que teve medo, pois alguém que viu o que Deus tem preparado para aqueles que o amam, outro não seria o sentimento a dominar seu coração.
 E porque viu o melhor que Deus lhe deu a conhecer, o penúltimo verso do livro é: Vem, Senhor Jesus! (Ap 22.20) e, o último: a graça do Senhor Jesus seja com todos (Ap 22.21).
Quem termina assim um escrito não pode estar senão com boa sensação e grande expectativa a respeito de tudo que lhe foi dado a conhecer.
O que o apóstolo João viu talvez explique um pouco daquilo que o apóstolo Paulo escreveu em sua carta à igreja de corinto: nem olhos viram, nem olhos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (1 Co 2.9).
Este texto se baseia nas palavras de Isaias: porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera (Isa 64.4).
Apocalipse demonstra, ao seu final, o que Deus tem preparado para aqueles que o amam, e foi isto que João demonstrou em boas letras.
Portanto, se você está entre aqueles que Deus ama não tem porque ter medo de ler apocalipse, pois o livro nada mais faz que não seja demonstrar que Deus trabalha para aquele que nele espera, e trabalha preparando coisas excelentes.
Este mesmo modo de ler apocalipse poderá ser empregado na leitura do livro de Jó, e fazendo assim você descobrirá a alegria da experiência de conhecer a Deus de forma pessoal e direta, o que mudou para melhor a história daquele homem.
Se ao ler Jó você viu somente ação de Satanás, chagas, coceira, abandono, solidão e coisa parecida, agora você poderá ver outra coisa, isto é, Aquele a quem Jó mesmo viu.
O livro de Jó trata de uma parte e não da totalidade de sua vida, pois sua vida na verdade começa quando o livro acaba, ou seja, depois que ele conhece a Deus. Daí por diante é possível dizer que para Jó tudo se fez novo (2 Co 5.17).
Leia, portanto, Jó e Apocalipse com esta sugestão para conhecer a Deus e aquilo que Ele tem preparado para os seus, e isto para que o medo dê lugar a alegria.
Lutero de Paiva Pereira.

domingo, 25 de dezembro de 2011

NINGUÉM MORARÁ NO CÉU

Se é correto dizer que os salvos irão morar no céu, porque Jesus ao ensinar seus discípulos a orar através da oração do Pai nosso ao invés de incluir o “venha o teu reino” não colocou em seu o lugar o “leva-nos para o céu””?  
No entanto, não só na oração do Pai nosso como através da Bíblia como um todo é mais seguro afirmar que a morada dos salvos será na terra e não no céu, de modo que convém que o reino venha.
O que pode ter levado ao desenvolvimento da idéia dos crentes morarem no céu, dentre outras coisas, é que existem aqueles que crêem que virarão anjos depois da morte, e como anjo é um ser da esfera celestial se deduz que aquele que se tornou anjo deverá ir para lá.
No entanto, não existe base bíblica que sustente a mudança do status de homem para anjo, mesmo porque se tal ocorresse o homem perderia mais que ganharia, pois o homem é superior ao anjo no fato de ter sido criado por Deus a sua imagem e semelhança, realidade esta que o anjo não possui.
Na verdade, uma vez nascido gente, o homem continua gente para sempre e como tal, habilitado a morar na terra, inclusive ao tempo da volta de Cristo, em comunhão com Deus. 
Na verdade, ao morar numa terra restaurada, como é promessa de Deus para os salvos, e com seu corpo e alma redimidos, o homem terá encontrado o ápice de sua própria existência.
O apóstolo Pedro escreve que nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça (2 Pe 3.13), novos céus e nova terra que surgirão depois que os céus atuais, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão (2 Pe 3.12).
O processo de tornar nova a terra antiga acontecerá ao tempo da vinda do Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existirem serão atingidas (2 Pe 3.10).  
A terra será restaurada para continuar útil a habitação dos filhos de Deus, e será um lugar bom para viver porque Deus mesmo fará aqui seu tabernáculo (Ap 21.3), pois se assim não fosse não existiria motivo para ela passar por todo o processo de restauração.
Foi essa nova terra com a habitação de Deus que o apóstolo João viu e escreveu: vi nosso céu e nova terra já que o primeiro céu e a primeira terra passaram (Ap 21.1).
E como nessa nova terra Deus habitará com os homens, não há porque o homem ir morar no céu se Deus mesmo virá morar na terra.
Vale lembrar que uma das bem-aventuranças dita por Jesus é que os mansos herdarão a terra (Mt 5.5). Por outro lado, quando o Filho do homem vier em sua majestade, assentando-se no seu trono de glória pra decidir sobre o destino dos homens, Ele não dirá aos salvos vinde para o céu, mas sim, vinde, benditos de meu Pai, e entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo (Mt 25.34).
Como o reino estará na terra Jesus dirá aos não salvos: apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25.41).
Este texto dá a idéia de que quem vai sair da terra são os malditos os quais irão para outro lugar, enquanto os benditos entrarão na posse do reino que na terra se fará presente em sua totalidade.
Afinal, para que o reino de Deus viesse para terra é que os crentes foram ensinados a orar: venha o teu reino (Mt. 6.10).
Com a terra restaurada e recebendo a habitação de Deus não existirá motivo para o homem sair dela, já que com a presença de Deus por aqui o ambiente será o mais adequado para seu viver.
Ademais, como ser físico e metafísico, isto é, corpo e espírito, o homem mais se conforma aos contornos da terra do que propriamente aos do céu.
O salmista escreveu que os céus são os céus do Senhor, isto é, o lugar onde o Senhor habita, mas a terra, deu-a Ele aos filhos dos homens (Sl 115.16), ou seja, para ser a sua morada.
Um dia a profecia de Habacuque - toda a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor (2.14) – certamente se cumprirá, e nesse tempo a terra terá ares de céu, ou seja, de lugar onde a vontade de Deus é plenamente satisfeita e com os benefícios disto decorrentes.
É interessante que a Bíblia diz que Jesus voltará uma segunda vez ao mundo, mas não diz que depois desta sua segunda vinda ele retornará ao céu como o fez da primeira vez que esteve por aqui.
O que se pode deduzir disto é que ao retornar à terra, Jesus o fará com o objetivo de permanecer por aqui para sempre, e isto junto com todos aqueles que por Deus foram transportados do império das trevas para o reino do Filho do seu amor (Cl 1.13).
E quando vier o fim Jesus entregará o reino a Deus, o Pai ( 1 Co 15.24) para que Deus seja tudo em todos (1 Co 15.28).
No entanto, alguém poderá indagar: o que o apóstolo Paulo escreveu à igreja de tessalônica não indica que os crentes morarão no céu?
Ele diz: Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor (1 Ts 4.17).
Em primeiro lugar o texto não diz que os crentes irão morar no céu, mas somente que serão arrebatados nas nuvens, a encontrar com o Senhor nos ares;
Segundo, encontrar com o Senhor nos ares não significa morar com o Senhor nos ares, mesmo porque o Senhor não mora e nem morará nos ares e o apóstolo não diz que ficaremos para sempre com o Senhor ali e,
Terceiro, o encontrar-se com o Senhor nos ares poderá representar o tempo necessário de permanência dos salvos “fora” do contexto da terra, até que ela passe pelo processo de transformação de que falou o apóstolo Pedro, o qual será levado a efeito de uma forma que os homens não têm como suportar se porventura permanecerem aqui naquele período.
Portanto, este verso por si só não autoriza a assertiva de que os crentes irão para o céu.
Aliás, quando escreveu aos romanos o mesmo autor diz que toda a criação geme (Rm 8.22), o que inclui a terra, na ardente expectativa (Rm 8.20) de ver a manifestação dos filhos de Deus, porque a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus (Rm 8.22). 
E os crentes, diz ele, também gemem enquanto aguardam a adoção de filhos, a redenção do corpo (Rm 8.23).
Essa terra que espera sua libertação será libertada e os crentes que esperam a redenção serão redimidos, e tudo isto para glória de Deus.
Será, portanto, numa terra que não mais gemerá, pois estará livre, que os crentes que também não mais gemerão habitarão para sempre com o Salvador.
Porque não moraremos no céu mas na terra continuemos pois a orar: Pai nosso que estais no céu ... venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.
Lutero de Paiva Pereira.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

IGREJA SEM ALTAR; IGREJA SEM PALCO; IGREJA COM PÚLPITO.



Num primeiro momento a expressão IGREJA SEM ALTAR pode causar espanto, pois a mente evangélica está impregnada da idéia de altar como sinônimo de adoração. Assim, falar em igreja sem altar seria o mesmo que dizer igreja sem adoração, embora não seja nesta direção que o artigo se encaminha.
De outra parte, IGREJA SEM PALCO tem como motivo indicar uma tendência das igrejas modernas que adotaram o palco como centro de sua atividade cúltica, e isto em detrimento do púlpito.
Como dois corpos não podem ocupar ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço, o artista empurrou para o lado o pregador e a arte alijou a Palavra, de modo que o culto tem hoje 2/3 de tempo para os primeiros e 1/3 de tempo para os segundos, se tanto.
Finalmente IGREJA COM PÚLPITO objetiva dizer a todos, o que inclui o contingente que foi “evangelizado” com shows gospel, que desde o início  da igreja o púlpito tem seu lugar cativo ali com a função de transmitir a Palavra de Deus que é e sempre será sua razão de ser.
Mas para começar a pensar sobre essas três realidades da igreja é preciso principiar pelo altar.
No Antigo Testamento individual ou coletivamente o povo se valia do altar para cultuar a Deus, pois o culto implicava na oferta de sacrifícios. Noé, Abraão, Isaque, Jacó e mais tarde o povo de Israel se utilizaram do altar para este fim.
Como naquele tempo culto sem altar era coisa impossível, o altar se tornou peça importante tanto no tabernáculo, como no templo, dois locais previamente escolhidos por Deus para receber adoração do seu povo.
Portanto, no Antigo Testamento o templo não tinha nem púlpito, nem palco, mas somente altar.
Quando vem o Novo Testamento o altar desaparece da vida do povo de Deus, pois com o sacrifício de Cristo inaugura-se uma nova relação entre Deus e os homens, o que vai refletir diretamente na forma de adorá-Lo. Jesus disse a mulher samaritana (João 4): Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai (v.21). Com tais palavras Jesus  quebrava o paradigma de lugar específico ou de lugar santo para se adorar a Deus, pois não seria mais nem em Jerusalém, no templo, nem em Samaria nem no monte. E Jesus prossegue: Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade (v.23). Agora, adorar não consistiria mais em oferecer coisas a Deus em altar, mas em viver de conformidade com a verdade.
 A partir do momento que Jesus por sua morte e ressurreição inaugurou esse novo tempo, os crentes não precisam mais de altar para oferecer sacrifícios a Deus, porque Jesus Cristo já se ofereceu em nosso lugar como sacrifício aceitável a Deus, de uma vez por todas (Hb 9.28 ).
Assim, em substituição ao altar os crentes têm agora o púlpito para, a partir dele, ouvirem mensagem sobre o sacrifício de Cristo e com isto terem uma vida de adoração em espírito e em verdade.
Deste modo, não parece razoável que a igreja continue a utilizar-se da expressão “altar” todas as vezes que se refere à parte principal interna do templo, e mesmo na cerimônia de casamento melhor seria se os noivos fossem convidados a aproximarem-se do púlpito, isto é, da Palavra para dela tomarem conhecimento da verdade, do que do altar para oferecerem algo a Deus.
No entanto, deixar o vocábulo altar em favor da palavra púlpito pode não agradar a muitos, pois a ideia de missa presente nos próprios crentes, isto é, de sacrifício, ainda é muito forte.
Ao tempo da Reforma a luta dos reformadores  entronizar a Palavra como centro do culto, elevando o púlpito ao status a que faz jus e deixando o altar de lado.
Assim, no contexto do Novo Testamento a igreja não tem mais altar, nem deve ter palco mas somente púlpito.
Nestes tempos modernos, no entanto, a vitória dos reformadores parece não mais refletir sua realidade nas reuniões, pois hoje nem altar, nem púlpito, mas sim, o palco é que se tornou o centro de todo labor cúltico, ali figurando a arte, o  artista e o  artístico.
No entanto, como herdeiros da reforma protestante, precisamos lutar para que o palco seja desmanchado e que em seu lugar o púlpito seja erguido novamente, pois o povo de Deus precisa mais do alimento que vem do púlpito, do que da diversão que vem do palco.
É tempo de entrar em ação os ministérios que Deus deu à igreja, pois somente eles são capazes de aperfeiçoar os santos para o desempenho do seu ministério (Ef 4.12).
Se ao tempo da reforma o púlpito teve que enfrentar os sacerdotes e  altar alojados ali para dominar o povo, não será com menor ardor que o púlpito terá agora de lutar contra os artistas e palco que insiste em  distrair o povo.
No entanto, como o artista sempre vira ídolo do povo é possível prever que a "guerra" será sangrenta, e ao seu final não poucas  baixas no rol de membros poderão ser registradas nas igrejas que a isto se prestarem.
Lutero de Paiva Pereira


 

Do ritual para a realidade


Se você não consegue identificar a causa que o impede de alcançar uma vida espiritual mais cheia de significado, porque não indagar porque ela parece ser mais completa para outros? Talvez perguntando assim seja possível descobrir o problema e encontrar a solução que precisa.
O outro a quem se deve recorrer para este fim é o apóstolo Paulo, um cristão cheio de alegria, um homem amoroso, um devotado conhecedor de Cristo e diligente propagador do evangelho.
Vale lembrar que antes de se converter Saulo, como era chamado, foi alguém de comportamento religioso irrepreensível. Na avaliação de sua vida pregressa assegura que viveu como fariseu a seita mais severa de nossa religião (At 26.5).
O farisaísmo era vivido eminentemente do cumprimento de rituais. Fazia parte de sua liturgia guardar dias, festas, oferecer sacrifícios, etc. Alguns desses rituais originavam-se do judaísmo, outros foram desenvolvidos por idéias humanas.  A essência do farisaísmo era o próprio ritual, de modo que sem o ritual a religião praticamente não existia.
No entanto, a vida de Saulo teve uma mudança brusca após seu encontro com Jesus Cristo no caminho de Damasco. Daí por diante o Saulo violento passou a ser o Paulo amoroso, o fariseu irrepreensível se transformou num cristão exemplar, o cumpridor de rituais numa pessoa de grande realidade com Cristo.
Sua vida encontrou um sentido novo e um significado jamais provado, qual seja, o de conhecer a Cristo e se alegrar nele, sempre.
Ao dizer que tudo de outrora passou a ser considerado como refugo (Fp 3.8), Paulo diz que isto aconteceu pelo fato de que agora podia ganhar a Cristo (Fip 3.8), ou seja, conhecer a Cristo e o poder de sua ressurreição (Fp 3.10).
Como nova criatura, como ele mesmo escreveu, alguém para o qual as coisas antigas se passaram e tudo se fez novo (2 Co 5.17), Paulo deixou todo seu ritual religioso de lado e se deu a realidade de viver Cristo diária e constantemente, de modo que afirmou que pra mim o viver é Cristo (Fp 1.21). E tal foi sua convicção de que o ritual religioso para nada mais servia a partir do momento que passou a pertencer a Cristo, é que ao escrever aos gálatas eles os chama de loucos por desejarem voltar aos rituais religiosos de guardar dias, meses, tempos e anos (Gl 4.9), coisas incompatíveis com a fé cristã.
Como alguém que viveu não de cumprir rituais mas de conhecer a Cristo, Paulo pode provar da alegria que disso advém, e isto mesmo em lugares terríveis, como é o caso quando está preso em Roma. Dentro de uma cadeia romana ele diz que aprendeu a estar contente em toda e qualquer situação, pois tudo podia naquele que o fortalecia (Fp 4.11/13).
Se Paulo não tivesse abandonado seus rituais religiosos para se dar ao prazer de conhecer a Cristo e viver para Ele, esta experiência jamais poderia ter sido relatada, pois ritual algum é capaz de oferecer este bem estar a quem os cumpre.
A conversão fez Saulo abandonar rituais que não tinham mais sentido, para conhecer a Cristo que lhe dava sentido para existir.
Talvez seja esta particularidade da vida de Paulo que muitos cristãos não provam, pois mesmo convertidos a Cristo eles insistem em fazer que sua vida espiritual consista do cumprimento de rituais religiosos e nada mais.
Fazer do cristianismo uma religião ritualista de cumprir preceitos de final de semana ou coisa semelhante, é perder tudo aquilo que Cristo é e oferece aos que O professam como Senhor.
O ritual é nada se comparado a Cristo. O ritual pode, quando muito, parecer bom enquanto com ele se envolve, mas tão logo ele finda o coração fica vazio e volta para casa com a sensação ruim de nada, deixando para trás o ambiente “sagrado” onde tudo foi praticado.
Alegrar-se em Cristo, no entanto, é totalmente diferente, pois tal fato não fica sujeito a um lugar nem a um dia, pois em todo lugar em qualquer dia o Espírito Santo pode dar ao crente um conhecimento maior do Salvador, o que encherá de jubilo o coração convertido.
Se Paulo teve rituais religiosos mais sérios do que os nossos e os abandou por causa de Cristo, porque conservar nossos rituais modernos, e para prejuízo do conhecimento de Cristo?
É tempo de abandonar o ritual para entrar na realidade da comunhão com Cristo deixando tudo que para trás fica e prosseguindo para o alvo da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp 3.13-14).
Você não notou que nas cartas de Paulo, Pedro, João, Tiago etc., não há nenhum versículo orientando os crentes a este ou aquele ritual religioso? Por outro lado não chegou a sua percepção que sua vida espiritual tem consistido de rituais religiosos, os quais são instigados por uma pregação que não apresenta Cristo como centro de tudo?
Se você descobriu agora que foi sempre um cristão ritualista, deixe que o apóstolo Paulo e leve a realidade de Cristo para que a alegria de ser crente brote e a gratidão a Deus dobre de tamanho.
Lutero de Paiva Pereira

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O natal e o apóstolo João


A cristandade está em clima de relativa euforia pela proximidade do natal. Nas igrejas as peças teatrais já devem estar prontas para encenação. Este ritual que se repete há tempo, ano após ano, traz um perigo oculto que atinge a própria fé. Afinal, nesse dia cultua-se uma pessoa que não mais existe no status em que é apresentada ao público, pois o menino virou Senhor e a criança se tornou o Rei dos reis, de modo que nenhuma infantilidade pode mais nele ser percebida.
Mas falar de Jesus como menino vendo-o no berço, sendo cuidado pela mãe, dependendo de tudo e de todos toca as emoções de homens e mulheres que vão as peças e cultos.
No entanto, Cristo não tomou a forma humana para provocar tais emoções nos homens, mas sim para constrangê-los ao arrependimento de seus pecados e assim serem salvos. Ele não veio ao mundo para ser dependente de tudo e de todos, mas para que tudo e todos sejam dEle dependentes, se é que aspiram a eternidade com Deus. Tampouco viveu aqui para deitar-se eternamente num berço, mas para sentar-se no trono e ser Juiz dos vivos e dos mortos.
Portanto, pensar hoje em Jesus como menino é ignorar seu status eterno de Senhor, o que não faz bem à fé.
No livro de apocalipse a experiência relata pelo apóstolo João de encontrar-se com o Cristo glorificado é de tal forma impactando que ele cai aos seus pés, pois diante de si não está o menino mas o Senhor da glória. Ele escreve: E eu, quando vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; E o que vivo e fui morto, mas eis que estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno (Ap 1.17-18).
Se o dia 25 de dezembro foi eleito para ser o dia em que se comemora o nascimento de Jesus, nesse dia é melhor lembrar o que Ele é e não o que Ele foi; o status que tem e não a humilhação pela qual passou em seus dias de criança.
Se os relatos bíblicos reservaram apenas dois capítulos para falar de Jesus como menino (capítulo 2 de Mateus e Lucas), sendo todo o resto do Novo Testamento utilizado para falar de Jesus como Senhor, é de pensar porque os crentes dão tanta ênfase ao Jesus menino e tão pouca ao Jesus Senhor.
É verdade que um dia o Verbo se esvaziou de si mesmo para tomar a forma de homem, se fazendo menino e depois homem maduro para ser obediente até a morte de cruz. Mas depois disto, Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, diante do qual todo joelho deve se dobrar, e isto para confessar que Jesus Cristo é o Senhor, conforme escreveu o apóstolo Paulo: que sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2.6-11).
Porque no natal se comemora o Jesus menino, mesmo o mundo nao convertido pode se envolver no processo, porque isto não é fundamento de fé. Fundamento de fé é confessar que Jesus Cristo é o Senhor.
Para o crente o que dá significado ao natal, ou melhor, ao nascimento de Jesus, a encarnação do Verbo, é Sua ressurreição dentre os mortos, pois se o menino não tivesse vencido a morte e se tornado Senhor sobre todos nenhuma esperança existiria para o homem. Não foi sem razão que a ênfase na pregação do apóstolo Pedro: Saiba, pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo  (At 2.36).
Caso fosse possível ao apóstolo João se fazer presente numa comemoração de natal dos dias atuais, onde o menino Jesus ganha tanto destaque, ele que viu o Cristo glorificado ao invés de cair assustado ele sairia correndo com tamanha falta de conhecimento dos crentes.
Que o próximo natal seja o momento dos olhos serem abertos para ver o Cristo glorificado, o Senhor Jesus, e provar da espetacular e impactante experiência do apóstolo João.
Lutero Pereira

A MISSÃO DOS EVANGELHOS, DO EVANGELHO E DOS EVANGÉLICOS

Entre o último livro do Antigo Testamento e os primeiros do Novo, passaram-se mais de 400 anos até que Deus voltou a inspirar homens para escrever o que Ele julgava importante para conhecimento de todos. Assim, enquanto o Antigo Testamento se encerra com escritos proféticos o Novo se inicia com escritos evangelísticos, sob a pena de Mateus, Marcos, Lucas e João.
A missão dos evangelhos.
Os quatro evangelhos anunciam a chegada do Messias e seus notáveis feitos, os quais testemunham em favor de sua filiação divina. Afinal, somente o Filho de Deus poderia operar os sinais e milagres que ali encontram-se registrados. 


No entanto, o registro dos extraordinários feitos não tinha como objetivo fazer apologia dos próprios acontecimentos, mas sim, dizer que o autor deles era o Messias prometido no Antigo Testamento, o qual vindo a terra provava o amor de Deus pelos homens, inaugurava Seu reino e assegurava aos crentes a esperança de fazerem parte desse reino que jamais terá fim.
Quem deixa bem evidente que os sinais registrados nos evangelhos têm como objetivo levar as pessoas a olhar para Jesus para nele crer, é o evangelista João quando escreve: Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome (João 20:30-31).
Ou seja, a missão dos quatro evangelhos era dar evidência  a filiação divina de Jesus, fato este que se torna mais notório quando Ele ressuscita dentre dos mortos.
Se naquele tempo os quatro evangelhos não tinham como proposta  ficar divulgando os sinais e milagres de Jesus a não ser para que eles apontassem para seu autor, pois mais importante do que os feitos era o Feitor, não pode ser diferente a leitura que se faz deles hoje.
A missão do evangelho.
Chega, então, o tempo da evangelização e é preciso saber qual a missão do evangelho.
Nas palavras de Richard Sibbes “o evangelho é uma carruagem que leva Cristo ao mundo”.
Assim, de quando em quando é preciso verificar se a “carruagem” não está indo vazia, isto é, desprovida de Cristo ou, o que ainda é pior, levando coisa diferente daquilo que é sua função transportar.
Para cumprir sua missão de “transportar” Cristo aos homens o evangelho deve ser fiel a Escritura, de modo que somente aquilo que a Palavra efetivamente diz a Seu respeito deve ser proclamado aos homens. 


Quem for zeloso na consulta ao texto sagrado para cumprir a ordem do ide e pregai o evangelho a toda criatura verá que anunciar a encarnação, a morte, a ressurreição, a exaltação de Cristo, seu retorno, enfim, sua obra de Salvador e Senhor, é a mensagem a ser anunciada sempre.
A missão do evangelho na função de transportar Cristo ao mundo tem como objetivo realizar a vontade de Deus que é reconciliar o homem consigo mesmo, e para que isto aconteça é preciso que o pecador confesse a Cristo como Senhor.
O que o homem precisa saber, e com urgência, é que aquilo que perdeu em Adão, ao pecar, muito mais ganhou em Cristo, quando por ele foi justificado.
  Nisto a graça divina é posta em evidência e o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo passa a ser bendito eternamente por aqueles que forem salvos pelo seu evangelho.
Paulo, exemplo de quem empenhou-se corretamente na pregação do evangelho não teve outra ocupação, senão pregar a Cristo para salvação dos perdidos, não se importando se os novos convertidos iriam mudar ou não seu status social, cultural, econômico, profissional, empresarial pelo fato de terem sido feitos novas criaturas.
Portanto, sob a luz da Escritura a missão do evangelho é estabelecer um novo, efetivo, seguro e agradável relacionamento entre o salvo e o Salvador, de modo que daí por diante ele tenha um comportamento “digno do 
A missão dos evangélicos.
Tendo o evangelho realizado sua missão de salvar o pecador, o que é seu ponto central, aí sim, e se for o caso, se descortina em favor dos salvos a missão dos evangélicos. 
Como a  Bíblia diz que se deve fazer o bem, principalmente aos da mesma fé (Gl 6.10), nisto a missão dos evangélicos consiste, dentre outras coisas, em ajudar, o quanto possível, e na medida da permissão dos novos evangélicos, seu desenvolvimento social, intelectual, etc.
Não se pode desprezar, no entanto, que a missão dos evangélicos somente terá acesso à medida da permissão dos novos convertidos, respeitando-lhes o direito de serem conforme lhes apraz ser, somente cuidando e orientando-os para que não permaneçam em práticas pecaminosas.
No entanto, padronizar os habituais culturais a partir de uma matriz que a Bíblia mesmo não estabeleceu não faz parte da missão dos evangélicos.
Cristo resolvendo o problema entre o homem e Deus, e os crentes ajudando-se mutuamente no seu desenvolvimento cultural lato senso, parece ser tudo que se pode alcançar.


Respeitadas as respectivas esferas de atuação, a missão dos evangelhos, do evangelho e dos evangélicos vai cumprir seu propósito de constituir um povo que anda para glória de Deus.
Deste modo, não sendo missão dos evangelhos anunciar sinais pelos sinais, nem do evangelho resolver problemas financeiros dos homens, menos ainda dos evangélicos estabelecer uma cultura única para todos os povos, é preciso bom entendimento para respeitar as ações que pertinem a cada um.
Se, a despeito disto, os evangélicos se utilizam do evangelho para resolver questões eminentemente sociais, a igreja se torna, se assim se pode dizer, numa ONG de Cristo, se prestando a resolver problemas sociais mais do que espirituais, invertendo por completo sua vocação.
Deixando a carruagem se encher de Cristo, já que é desta Pessoa que a humanidade se mostra carente, Deus em tudo será louvado, e os confins da terra serão alcançados pelo evangelho proposto pelos evangelhos, zelosamente anunciado pelos evangélicos.
Lutero de Paiva Pereira

sábado, 17 de dezembro de 2011

ABSOLVIDO

Não há coisa tão sofrida ao homem quanto responder a um processo judicial de natureza criminal, principalmente quando o fato imputado for grave o suficiente a ponto da Justiça pode aplicar-lhe a pena de morte, como acontece em alguns países. Alguém que vive sob a tensão de um julgamento assim não terá sono tranqüilo a não ser no dia que ouvir do juiz a decisão: absolvido.
Em relação a Justiça divina o homem está na incômoda condição de réu, respondendo a processo cuja pena a ser aplicada é a de morte eterna. Neste processo Deus, como Juiz, não precisa de provas para dizer que o acusado é um transgressor da Lei divina, e como tal merecedor de punição, pois a Bíblia mesmo assevera que todos pecaram (Rm 3.23 ) e que não há um justo sequer (Rm 3.10), sendo tais afirmativas mais que suficientes para impor-lhe a condenação. O pecador receber a sentença condenatória é uma questão de tempo, e mesmo que a Justiça divina pareça tardar, isto não quer dizer que ela não seja aplicada um dia. Afinal, a Bíblia também assegura que todos os homens comparecerão diante do santo Tribunal para ouvir do Justo Juiz a decisão irrecorrível lançada com efeito eterno.
Mas como não há prazer em Deus em condenar o pecador, o evangelho cumpre a tarefa de anunciar-lhe o perdão em Jesus Cristo para que seja perdoado de seus pecados e, então, absolvido de toda e qualquer condenação.
Assim, enquanto o Tribunal divino não se instala para chamar um a um na sala de audiência para ouvir sua sentença, o evangelho conclama os homens a receberem Jesus Cristo como Salvador, arrependendo-se de seus pecados, confessando-O como Senhor, sem o que não escaparão à condenação futura.
Escrevendo aos romanos o apóstolo Paulo mostra o efeito judicial imediato de ser salvo, quando diz que nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito (Rm 8.1).
Ao dizer que nenhuma condenação há o escritor inspirado quer dizer que não existe mais sentença que seja contrária aquele que está em Cristo Jesus, pois a  partir do momento que o pecador crê em Cristo imediatamente Deus, o Justo Juiz, decreta sua absolvição.
E não haverá mais condenação para quem está em Cristo porque por sua obra na cruz Jesus  justifica o pecador, reconciliando-o com Deus, e quem está quite com a Justiça divina não receberá dela nenhuma punição.
A pena de morte que o pecador suportaria Jesus Cristo sofreu na cruz, e isto para livrá-lo totalmente de seus efeitos.
A respeito desta ação de Cristo em favor daqueles que seriam sentencionados a pena de morte  o profeta Isaias escreve: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele (Isa 53.5).
O castigo, no caso, é a morte; aquele que o recebeu é Jesus Cristo; o nos ali indicado são os pecadores arrependidos, e o efeito disto é a paz eterna e imodificável com Deus.
Uma vez perdoado, o homem passa a se relacionar com Deus como Pai e não mais como Juiz, e isto por ser recebido como filho: Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome ( Jo 1.12).
Com efeito, Deus não condenará nenhum daqueles que recebeu por filho, porque em favor deles o Filho amado entregou Sua vida na cruz.
Recebido como filho e perdoado por Deus, o homem está plena, total e eternamente absolvido, de modo que nenhuma condenação mais o incomodará.
Quem soube que um dia foi merecedor de condenação e que agora nenhuma condenação mais pesa sobre ele, e isto por causa da obra salvadora de Jesus Cristo, amará a Deus que o absolveu e a Cristo que lhe trouxe absolvição.
Portanto, se você já creu em Jesus Cristo viva como absolvido e alegre-se sempre no Senhor que suportando a pena em seu lugar o colocou na condição de isento de qualquer punição.
Lembre-se que Deus amou o mundo de tal maneira que enviou seu Filho Unigênito para receber o castigo que você merecia, e isto para que você não sofresse a condenação do perecimento eterno, mas a absolvição que garante a vida eterna como escreveu João 3.16.
Livre de toda e qualquer condenação e com grande alívio no coração o apóstolo Paulo escreveu: porque eu sei em quem eu tenho crido; e estou bem certo que é poderoso, para guardar o meu tesouro até o dia final (2 Tm 2.12).
Como é bom saber em quem se tem crido, e que este em quem se crê é poderoso para guardar o tesouro eterno até o dia final.
Proclame isto aos ouvidos daqueles que ainda vivem atormentados pela ausência da convicção de que em Cristo foram absolvidos por Deus.
Lutero de Paiva Pereira.