Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás
nos céus, santificado seja o teu nome;
Venha o teu reino (Mt 6.9-10).
Venha o teu reino (Mt 6.9-10).
A oração, pode se dizer, é antes de tudo um mecanismo
criado pelo próprio Deus e colocado à disposição dos seus filhos para o bem
deles. Ao escrever seu livro Pai Nosso, o Rev. Hermisten Maia Pereira Costa faz
a seguinte observação sobre oração:
‘A Palavra de Deus insiste conosco quanto à necessidade
que temos de orar, já que a oração foi instituída e é ensinada por Deus por
nossa causa, para o nosso bem, não por alguma carência no ser de Deus. Aliás,
os preceitos de Deus não visam simplesmente satisfazê-Lo, mas, sim, propor
caminhos para o homem, os quais ele, seguindo, será feliz e Deus será
glorificado.’
A oração, instituída por causa de nossa carência, deve
ser praticada com esta proposta e não como um meio de dar ordens Àquele de quem
somente se deve receber ordens.
Desta forma, a oração é um meio eficaz para que o crente
apresente a Deus os desejos e os anseios de seu coração, aguardando daí por
diante o que o Senhor dirá a respeito.
O coração humano tantas vezes tem reboliços que só
através da oração se consegue acalmar suas inquietações, de modo que muitas
vezes a oração funciona como um verdadeiro refrigério para o atribulado, que
não podendo segurar dentro do peito a pressão ora e eleva ao Senhor sua
necessidade. Quem já leu o livro de Salmos viu bem como orações de corações
aflitos estão registradas ali para nosso consolo e edificação.
Mas a oração não tem somente o fim de exteriorizar nossas
questões pessoais ou particulares diante de Deus. Ela tem um outro lado que
mesmo não sendo percebido com facilidade dela faz parte.
Se de um lado a oração trata da vontade do homem, de
outro ela trata da vontade direta do próprio Deus.
Afinal, é através da oração que o crente também pede a
Deus aquilo que Deus mesmo quer que ele peça, importando-se com aquilo que Deus
deseja que ele se importe.
De uma leitura das Escrituras é possível perceber que
Deus orienta seus filhos a buscar alguma coisa que eles não buscariam, se não
fossem orientados pela Palavra a fazer tal busca, e quando se comportam assim o
pedido tem a ver com a vontade de Deus.
Na oração do Pai Nosso que Jesus ensina seus discípulos a
orarem, dentre os vários pedidos que ele aponta para que façam parte da oração um
deles trata da vontade de Deus, com o qual os discípulos devem aprender a se importar.
Qual esse pedido que deve fazer parte da oração do
crente, e cujo alvo não tem a ver com sua vontade pessoal, mas sim com a
vontade de Deus?
O pedido é: venha
o Teu reino.
O que está contido nestas poucas palavras é a vontade de
Deus para os salvos, pois Deus quer que eles orem ou se importem em pedir que o
Seu Reino venha até eles.
Se Jesus não tivesse ensinado os discípulos a orarem
pedindo que o Reino de Deus viesse,
é possível que nenhum deles se importaria em fazer uma oração assim, pois
normalmente oramos o que é da nossa vontade e não necessariamente o que é da
vontade de Deus.
Não é que esteja errado orar aquilo que diz respeito a
nossa vontade. O erro está em não orar também aquilo que diz respeito a vontade
de Deus.
Venha
o Teu Reino é um pedido que deve fazer parte
de nossas orações, porque a vontade de Deus é que Seu Reino venha a nós.
Esse pedido deve ser feito com consciência e desejo verdadeiro,
pois se trata de algo de grande importância na própria missão que trouxe Cristo
à terra, pois Jesus ao mundo primeiramente para inaugurar o Reino de Deus aqui
e, então, para salvar pessoas do império das trevas transportando-as para o
Reino da luz, de modo que o Reino de Deus é acima de tudo o centro do
evangelho.
Agora que os crentes sabem que não mais vão para o
inferno, e sim para o eterno Reino de Deus, o melhor a fazer é conhecer algo a
respeito do lugar para onde vão, ao invés de se preocuparem com o lugar para
onde não mais irão.
Portanto, preocupar-se mais com o inferno, o lugar para
onde não vão, do que com o Reino, o lugar onde estarão, é uma proposta
teológica sem amparo na Escritura.
A oração do Pai Nosso quando meditada, é uma bela oração
e enche a alma de alegria. Mas quando suas palavras são proferidas sem
conhecimento, não passa de uma reza que se perde no próprio momento em que é
feita.
E se é a vontade de Deus que oremos para que Seu Reino venha, podemos estar certos de que
este pedido feito em oração contém algo muito bom, pois a vontade de Deus, no
dizer do apóstolo Paulo, é sempre boa,
perfeita e agradável:
E não sede
conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso
entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. (RM 12.2)
Assim, quando pedimos em oração: Venha o Teu Reino, estamos pedindo algo bom, perfeito e agradável
para nós, de modo que não precisamos ficar com medo ou receio de fazer tal
pedido com toda a convicção de alma.
E para orar com convicção, com fé, com discernimento, com
sabedoria, até mesmo com satisfação, precisamos saber algo a respeito do Reino de Deus que estamos pedindo.
Mas antes mesmo de observarmos pela Escritura quais as
características do Reino de Deus e,
então, dos benefícios de sua vinda, é preciso que entendamos a oração tanto como
um ato, quanto como uma atitude.
A oração como ato
implica em reservar algum momento do dia ou da semana para sua prática
reservada, como Jesus mesmo teve seus momentos de oração em particular.
Certamente Jesus orientou seus ouvintes: Mas tu, quando
orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está
em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente (Mt
6.6.).
Portanto, é importante termos momentos de oração.
Embora tenhamos momentos de oração, não é certo dizer que
oração é alguma coisa que se pratica somente num determinado instante e depois
disto se encerra e deixa de existir.
Diferentemente disto, a oração ao invés de ser somente um
ato determinado numa hora do dia ou
num dia da semana, a oração deve ser vista, acima de tudo, também como um estado de espírito do crente.
Se a oração não pudesse ser um estado de espírito, de modo
que o crente pudesse orar constantemente, mas somente um ato isolado no dia ou
na semana, não haveria razão do apóstolo Paulo orientar os crentes a orarem sem cessar:
Orai sem cessar ( 1 Ts 5.17).
Se Paulo orientou os crentes a orar sem cessar é porque orar
sem cessar é possível, e para orar sem cessar a oração não pode ser um ato isolado
no dia ou na semana, mas um estado de
espírito ou de coração que acompanha o crente todos os dias e o dia todo
onde quer que ele esteja.
Portanto, quer oremos
num determinado momento, quer oraremos incessantemente
o dia todo, um dos pedidos que deve fazer parte de nossa oração é este que
Jesus ensinou: Venha o Teu Reino.
Pensemos agora algo a respeito do Reino de Deus que vamos
pedir que venha a nós.
Devemos entender algo sobre o Reino de Deus para orarmos sabendo o que estamos pedindo, inclusive
para entendermos bem sobre seus efeitos em nossa vida.
Primeiramente devemos entender o Reino de Deus como sendo o governo,
a ordem e os princípios de Deus em atuação santa e amorosa onde quer que
estejam presentes.
Orar pedindo pela vinda
do Reino de Deus não é outra coisa senão pedir que o governo de Deus venha
sobre nossa vida e nossa casa.
Pedir que esse Reino
chegue até nós, é também pedir que ele organize
nossa vida e nossa família de acordo com a organização de Deus.
E quando pedimos que Deus organize nossa vida e nossa família de acordo com seu padrão de
organização, é porque estamos reconhecendo que nossa vida e nossa família em
alguma medida estão sofrendo o caos da desorganização produzida pelo pecado,
pelo mundo, enfim, pelo império das trevas que está a nossa volta.
Devemos saber que mesmo sendo crentes, não estamos imunes
às influências malignas.
Ao pedirmos que o Reino
de Deus venha estamos reconhecendo então que os preceitos e os princípios
desse Reino são superiores e melhores do que os preceitos e os princípios que
muitas vezes estão dirigindo nossas vidas e nossas casas.
Buscar esse Reino traz a expectativa de que a vida abundante que Cristo veio trazer
passe a ser uma marca registrada de todos nós, pois onde o Reino de Deus está ausente a vida
abundante não se faz presente, como o contrário é verdadeiro, ou seja, a vida abundante se encontra presente onde
o Reino de Deus não está ausente.
Pedir pela vinda
do Reino de Deus é dizer que estamos dispostos a mudar nossa maneira de
ser, de viver, de agir, de pensar para adequarmos nossa vida aos preceitos
santos de Deus, os quais de excelência para um viver em ordem.
Pedir pela vinda
do Reino de Deus é concordar com Jesus no sentido de que sua orientação a
respeito de pedir isto em oração é a melhor orientação, pois foi Ele mesmo quem
ensinou seus discípulos a orar pedindo pela vinda do Reino.
Querer
que o Reino venha é o mesmo que dizer que estamos
também dispostos a levar nossa vida para dentro do Reino, pois o Reino de Deus
não é algo para ser admirado, mas para ser vivido.
Portanto, pedir pela vinda do Reino é estar disposto a
viver como cidadão desse Reino.
Precisamos considerar agora o que nossa vida ganha quando
pedimos a vinda do Reino ou do governo de Deus sobre nós.
Quais são as características próprias do Reino de Deus
que vamos ganhar com essa oração?
Escrevendo aos Romanos, ao falar daquilo que é essencial
ao Reino de Deus, Paulo diz que o Reino
de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo.
Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.
Rm 14.17
Justiça
ou retidão é a primeira característica do
Reino de Deus; Paz é a segunda, e alegria no Espírito a terceira.
Quando oramos pedindo que o Reino de Deus venha a nós,
estamos dizendo a Deus que desejamos a retidão
do seu Reino, para termos a paz que
ele proporciona, e desfrutar da alegria
do Espírito.
Por que muitos crentes não gozam nem da alegria menos ainda da paz desse Reino?
A resposta é simples. Não experimentam nem a alegria nem a paz do Reino porque também não têm seus corações orientados pela retidão do Reino.
Se queremos a alegria
do Reino, precisamos da paz que
é própria desse Reino. E se desejamos essa paz,
devemos nos importar com a retidão ou a justiça
do Reino.
Portanto, orar a Deus venha o Teu Reino, é pedir pela retidão do Reino como baliza ou
direção de conduta, de modo que a paz
habite o coração e a alegria do
Espírito seja real.
Conclusão
Deus tem um Reino
de justiça, paz e alegria no Espírito
para ser experimentado pelos homens.
E Deus não somente tem um Reino com estas características
como quer que seus filhos experimentem esse Reino para provarem de sua retidão,
de sua paz e de sua alegria.
Mas para que os crentes experimentem essas
características do Reino é preciso que orem pedindo a Deus que seu Reino seja real
em suas vidas.
É verdade, no entanto, que para o homem provar desse Reino a primeira condição é ser salvo
por Jesus Cristo para se tornar um cidadão do Reino.
Quando a pessoa crê em Jesus Cristo a Bíblia diz que ela
é transportada do império das trevas para o Reino da luz, transporte este que é
feito pelo próprio Deus:
Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para
participar da herança dos santos na luz;
O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor (Cl 1.12-13)
O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor (Cl 1.12-13)
Como salvo e já fazendo parte do Reino de Deus, enquanto
vive nesta terra como nova criatura o crente deve aprender a orar pedindo a vinda do Reino de Deus primeiramente
sobre sua vida pessoal e também familiar,
e isto para que vivam todos como cidadãos desse Reino de glória.
Devemos orar pedindo a vinda do Reino de Deus tanto em momentos de oração isolada, como
também em orações contínuas e incessantes.
Lembremo-nos das palavras de Jesus: buscai, pois, o Reino de Deus e Sua justiça, e as demais coisas lhe
serão acrescentadas.
Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e
todas estas coisas vos serão acrescentadas. (Mt 6.33).
Sem dúvida alguma
que a paz e alegria serão acrescentadas a todos quando desejarem a vinda do
Reino.
Devemos fazer do Reino
de Deus um alvo de nossas orações, e isto não só porque esta é a vontade de
Deus, como também pelo fato de que, sendo a vontade de Deus a vinda desse Reino
nos fará pessoas e famílias mais organizadas com potencial de desfrutar da paz
e da alegria do Reino.
Oremos com entendimento a oração do Pai Nosso. Venha o
Teu Reino é uma oração para a vida.