segunda-feira, 30 de julho de 2012

CRENTE MULA, IGREJA CURRAL.



A igreja se tornar num “curral” repleto de “mulas” não é ficção religiosa, mas uma realidade que está bem mais próxima de nós do que as vezes conseguimos perceber.
Ao tempo do Antigo Testamento Deus usou uma mula para falar com um profeta, a saber, Balaão, é verdade, mas este fato inédito nem de perto quer dizer que Deus deseja que os crentes sejam mulas para estarem a Seu serviço. Pelo contrário, a orientação expressa de Deus é que os crentes não sejam iguais a mula, pois se procederem como tal não poderão servi-Lo adequadamente.
Ainda que Deus possa fazer todas as coisas, o que o crente não duvida, parece mais fácil Deus fazer uma mula que não é crente falar uma verdade, como aconteceu no episódio com Balão, do que um crente mula falar com entendimento.
Daí a razão de Deus não desejar que os crentes se pareçam com a mula, pois se agem como tal não podem glorificá-Lo.
O irracional para falar como racional requer, se tanto, somente uma articulação de sons diferente daquela que é própria de sua natureza, numa alteração simples de sua mecanicidade original. Já o racional falar com entendimento é coisa mais séria, pois exige mais do que articulação de sons, é preciso o uso adequado e correto da capacidade de pensar, de raciocinar o que, em lhe faltando, o deixa imprestável para comunicar corretamente a verdade.
E para falar a Palavra de Deus o crente precisa ter mais do que uma boa intelectualidade, mais do que uma bela oratória, ele precisa ter entendimento sobre a própria Verdade, coisa que ao homem não é natural mas adquirida à medida que medita na Palavra de Deus.
A base bíblica a sustentar a idéia de que Deus não quer que os crentes sejam como a mula está no verso 9, do capítulo 32 do livro dos Salmos, onde Deus fala direta e objetivamente através do salmista:
Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti.
Este verso permite boas reflexões.
Primeiramente dele se pode deduzir que é sim possível ao crente ser igual a mula.
Se Deus disse através do salmista: não sejais como a mula, é porque o homem pode se tornar, em termos de comportamento, semelhante ao referido animal.
Quando Deus diz: não sejais como é porque o crente pode ser como, isto é, igual a, pois se não houvesse esta possibilidade Deus obviamente não faria tal observação.
Portanto, é plenamente sustentável a afirmativa de que o crente pode sim ser igual a mula.
Em segundo lugar, do verso se conclui que Deus não deseja que o crente seja igual a mula.
Se é possível ao crente ser igual a mula, e não há como negar que possa se parecer com ela, visto que se não pudesse a ela se assemelhar Deus não o exortaria a não se parecer com o animal, por outro lado está claro que Deus não deseja que o crente se pareça com o quadrúpede.
A mesma afirmativa de Deus – não sejais como a mula ­– que aponta para o fato de que o crente pode ser parecido com o animal, revela também que Deus não deseja que o crente se pareça com o animal.
Fica certo, portanto, que Deus deseja que o crente seja diferente da mula.
Em terceiro lugar do verso se depreende que o que diferencia um do outro, ou seja, o que torna o crente diferente da mula é o entendimento.
No verso 9 onde está implícito que o crente pode ser igual a mula está explícito que Deus deseja que ele seja diferente dela, e ali mesmo Deus indica o ponto que diferencia um do outro, o qual faltando torna ambos iguais, e o ponto em questão é o entendimento.
Deus diz: Não sejais como a mula, que não tem entendimento.
Ao não ter entendimento o crente se torna igual a mula, e ao adquiri-lo ele se diferencia dela.
A única coisa, portanto, que pode dar ao crente um comportamento diferente da mula, no caso, é o entendimento, de modo que aquele que se assemelha a mula age sempre sem entendimento, e o que dela se mostra diferente, com entendimento se comporta.
Portanto, para o crente não ser igual a mula ele precisa buscar entendimento.
Em quarto lugar fica patente que a falta de entendimento põe em risco tanto a mula, quanto o crente que a ela se assemelha, pois ao não agir com entendimento o perigo se avizinha cada vez mais.
Sem entendimento, sem poder discernir os perigos, as armadilhas, sem poder pensar e raciocinar corretamente sobre o que fazer e o que não fazer, a mula se põe em desabalada carreira e precisa de freios na boca e cabresto na cara para ser conduzida pelo seu dono, salvando-a dos grandes desastres.
O crente mula, ou seja, o crente sem entendimento, anda pelo caminho do erro, tem comportamento tresloucado, pensa desarticuladamente, age mais por instituto do que pelo raciocínio, e por isto está sempre próximo do perigo.
O povo de Israel teve comportamento de mula, e sua experiência de agir sem entendimento foi grandemente dolorida e serve de exemplo para o crente de hoje.
A ida do povo de Israel ao cativeiro tem como causa o seu comportamento muar, ou seja, o  ter vivido como mula, isto é, sem entendimento.
Através do profeta Deus faz esta constatação: Portanto o meu povo será levado cativo, por falta de entendimento (Isa 5.13).
Ao não ter entendimento, e não o teve porque se afastou de Deus e de Sua Palavra, o povo de Israel correu em direção ao cativeiro, mesmo pensando que estava indo em direção contrária.
A falta de entendimento faz isto com o crente, ou seja, rouba-lhe a capacidade de perceber para qual direção está se encaminhando, e como não sabe para onde vai pode andar por caminhos cujo início são caminhos que parecem de vida, mas o fim deles é a morte (Pv 14.12).
Já a própria destruição do povo de Israel é debitada em sua conta por Deus como sendo causada pela falta de conhecimento, isto é, de entendimento no agir: O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento (Os 4.6).
Portanto, tanto na mula, quanto no crente, a falta de entendimento é causa de cativeiro e de destruição.
Em quinto lugar é preciso tratar da fonte de entendimento disponível ao crente.
O salmista expressamente declara: Pelos teus mandamentos alcancei entendimento (Sl 119.104).
A Lei do Senhor, para o salmista, era a fonte de entendimento. Guardar a lei no coração lhe assegurava entendimento mais que suficiente para viver como alguém que sabia discernir as coisas, e não como a mula que anda irresponsavelmente em toda a sua conduta, correndo risco de ser presa fácil e de ser destruída pelos perigos que estão a sua frente.
O crente sabe que a Palavra de Deus dá sabedoria aos simples ( Sl 19.7), e que fora dela não é possível ter o entendimento necessário para evitar o cativeiro e, por fim, a destruição.
O problema muitas vezes é que o crente nem sempre está disposto a meditar na Palavra que dá sabedoria.
Não se estribe no teu próprio entendimento (Pv 3.5), advertiu o sábio, mas busque entendimento em Deus e em Sua Palavra, para que o comportamento sábio apareça. Ademais, vale observar que no chamado mundo religioso a possibilidade de ser enganado por falta de entendimento é bem mais séria do que as vezes se imagina.
Conclusão.
O pregador, o grande responsável por ajudar o crente a diferenciar-se da mula, deve ser alguém que estimule a igreja conhecer a Escritura, a meditar nela, a ir à fonte do pleno entendimento, e isto para que tenha uma vida pautada pelo entendimento que vem da verdade.
O pregador, para agir assim, precisa ele mesmo ser um dedicado conhecedor da Escritura, evidenciando em sua pregação o entendimento que a Palavra comunica aos que nela meditam de dia e de noite (Sl 1.2).
O pregador, para cumprir este seu mister, deve expor a Escritura sempre e para bom entendimento dos ouvintes, levando-os ao pleno conhecimento da verdade, pois se assim não o faz corre o risco de transformar a igreja num curral cheio de mula.
Portanto, o alerta de Deus para cada um dos seus filhos é: não sejais como a mula, que não tem entendimento.
Lutero de Paiva Pereira

quinta-feira, 12 de julho de 2012

PENSANDO NO FUTURO


Só tem presente quem tem futuro e quem tem futuro excelente tem presente muito bom, pois o efeito do futuro no presente é inegável.
Esta afirmativa pode ser aplicada em qualquer campo da vida, pois aquilo que se espera, aquilo que se deseja obter, a expectativa que se carrega em relação a algo novo, é um combustível para a alma no dia de hoje.
O futuro bom constrói o presente, mas o futuro ruim o destrói.
Pergunte a um condenado a pena de morte como é o seu presente e você verá como a expectativa de um amanhã terrível torna insuportável o dia de hoje.
Embora não seja bom fixar-se demasiadamente no amanhã, sob pena de se perder o hoje, não é bom deixar de olhar para o futuro, mesmo porque uma pessoa que não sonha, não tem nada porque esperar pode mergulhar num pesadelo de grande sofrimento.
Biblicamente falando o crente é sempre estimulado a viver em direção ao scaton, as últimas coisas, o que se observa desde o início da história quando Deus promete salvação ao homem (Gn 3.15), até o fim dela quando João vê a nova terra que virá (Ap 21.1).
Se é certo dizer que o homem não tem domínio sobre o futuro é correto afirmar que o futuro tem domínio sobre o homem, de modo que querendo ou não, negando-o ou aceitando-o, os dias que estão sendo sofrem a pressão daqueles que ainda serão. 
Se o futuro que domina o homem, que sobre ele exerce pressão, que não está sob seu controle, não o atemoriza mas o conforta, não o angustia mas consola, não é repulsivo mas atraente, esse é  domínio para o bem e não para o mal, para a vida e não para a morte, para a esperança e não para o desespero.
Por isto, se o futuro é assim, no que for possível, é sempre bom dar uma espiada para ele para tornar melhor os dias presentes.
Em termos de futuro a fé cristã é que comunica a melhor expectativa para o homem, pois aponta para o estabelecimento do Reino de Deus na terra ao tempo da volta de Cristo, quando os salvos viverão a vida em sua plenitude.
E se o futuro é algo que não tem como ser evitado, e efetivamente não tem; se o futuro chega sem ser convidado, e chega rapidamente; se para o futuro se caminha sem retroceder, e ninguém pode evitá-lo, o melhor é conhecer um pouco do que está à frente para se prosseguir em sua direção e, até mesmo, de alguma maneira, ansiar por ele.
Os grandes teólogos já afirmaram que a fé cristã é eminentemente escatológica, pois tem uma carga substancial de futuro, de expectativa e de esperança em sua proposta.
Ignorar ou desconhecer a esperança da fé é, na prática, viver sem fé, e o melhor da fé está por acontecer.
O apóstolo Pedro diz que nós, segundo a promessa de Deus, esperamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça (2 Pe 3.13), palavras que denotam que o escritor sagrado tem expectativa em relação ao que Deus prometeu em favor dos salvos.
Esperar aquilo que Deus prometeu é aguardar o melhor, pois diz a Escritura que as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam (1 Co 2.9); esperar o prometido por Deus é ter certeza de sua realização pois a Escritura afirma que Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria? (Nm 23.19); esperar pelo que Deus prometeu e cumprirá é descansar em boa expectativa Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera (Isa 64.4).
Na conhecida definição de fé apresentada pelo escritor sagrada o que se observa de seu conteúdo é que a fé faz o crente olhar para frente, para o futuro, para o que está por acontecer, dando-lhe ao mesmo tempo certeza de chegar lá e convicção de que chegar lá é encontrar o melhor.
Antes mesmo de apresentar exemplos de homens que viveram impulsionados e animados pela fé e, portanto, pela esperança, pelo futuro, o escritor da carta aos Hebreus diz que a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem (Hb 11.1).
Na primeira parte a fé é apresentada como a certeza de coisas que se esperam, o que significa dizer ser de sua essência a esperança, ou seja, o futuro.
Portanto, fé é a certeza do futuro que se espera.
Na segunda parte o autor diz que fé é a convicção de fatos que se não vêem, o que torna certo que a fé não cria fatos mas vê os fatos que Deus criou e espera por eles.
Se quando o homem pecou seu afastamento de Deus lhe roubou o futuro, a partir do modo que ele foi reconciliado com Deus pela fé em Jesus Cristo este fato lhe trouxe o futuro de volta, pois a fé em Cristo traz a expectativa da vida eterna, do Reino de Deus que o apóstolo caracteriza como sendo de justiça, paz e alegria no Espírito (Rm 14.17).
Se a fé em Cristo traz tanta esperança ao crente, se ela lhe comunica um futuro tão promissor, o melhor a fazer é fortalecê-la e a maneira da fé se tornar mais robusta é utilizar da mesma instrumentalidade aplicada para sua vinda, ou seja, a Palavra de Deus.
Se a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm 10.17), ouvir a Palavra, meditar nela, torna a fé mais consistente e, então, mais conhecível o futuro.
Abraão, diz o escritor inspirado, esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus (Hb 11.10), e os crentes fazem bem em andar nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão (Rm 4.12).
Pense, pois, no futuro nesta  perspectiva  para permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho (Cl 1.23).
Lutero de Paiva Pereira

sexta-feira, 6 de julho de 2012

IGREJA: COLUNA DA VERDADE



Nesta nossa época é incrível observar como a velocidade dos acontecimentos envelhece rapidamente as coisas novas e aquilo que foi novidade ontem amanhã já é considerado antigo, dinamismo do tempo moderno ou pós-moderno visto no mundo material e no espiritual, no ambiente das coisas e no da religião, e em qualquer deles cobrando um preço muito alto dos que desejam ter satisfeitos seus desejos.
Diante deste quadro a pergunta que se faz é se a igreja, uma instituição antiqüíssima, deve se atualizar para continuar a ocupar seu espaço e responder à altura a fome de alma dos famintos e a resposta é que em termos de missão e do seu conteúdo a igreja não necessita de nenhum upgrade para justificar sua existência e atuação na sociedade e na cultura onde as pessoas, na linguagem bíblica, procuram pão que não alimenta e água que não sacia a sede.
 Com efeito, a igreja que deixa a Escritura e vive se atualizando, por mais paradoxal que possa parecer, tende a morrer, pois o que dá vida a sua existência não é o novo, mas sim o eterno o qual não sofre influência do tempo, é sempre atual e não envelhece nunca.
Trabalhando com a verdade, um “produto” único, insubstituível, necessário e imprescindível ao homem a igreja é sempre atual em seu propósito devendo, isto sim, manter-se fiel ao seu Senhor para em tudo corresponder ao seu chamado, fazendo coro com os apóstolos: mais importa obedecer a Deus do que aos homens (At 5.29), pois como coluna da verdade (I Tm 3.15), ela não se desatualiza e nem se reinventa a cada nova época, pois a verdade transcende o tempo, as eras e as gerações.
A procura de coisas novas no sentido espiritual ou religioso prova que o homem ainda não encontrou o que é eterno, pois quem se abastece do eterno não necessita ir atrás do que é passageiro, de modo que a igreja deve continuar a proclamar a verdade para que o pecador conheça, enfim, o caminho da vida.
A verdade da qual a igreja é coluna tem as seguintes características: a) veio por meio de Jesus Cristo – a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo (Jo 1.17); b) tem o poder de libertar - conhecereis a verdade e a verdade os libertará  (Jo 8.32); c) produz santificação -  santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade (Jo 17.17); d) fundamenta a adoração -  Deus é espírito; importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.24); e) leva o homem a Deus – eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim (Jo 14.6), o que demonstra que tudo está na verdade, que todos são seus dependentes e que fora dela não há vida, liberdade, menos ainda adoração ou possibilidade do homem encontrar-se com Deus.
É esta verdade que não sofre desgaste, que não envelhece nem perde sua importância e poder, que não se conforma a nada enquanto tudo deve se conformar a ela, é que a igreja é “distribuidora” autorizada junto aos perdidos, de modo que o melhor da igreja de uma época é não se conformar com sua época, mas influenciá-la com sua mensagem, deixando-se dirigir pelo Espírito da verdade (Jo 16.13), anunciando através da palavra da verdade do evangelho (Cl 1.3) a salvação em Jesus Cristo para tirar o pecador do desespero, do caos e da morte.
A verdade que valeu para o início e tem igual importância para o fim da história, deve ser proclamada sempre e sem interrupção, ainda que muitos prefiram entregar seus ouvidos a ouvir coisas novas, como era o caso dos “atenienses e estrangeiros residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma novidade (At 17.21)”.
Mas a igreja não foi chamada para satisfazer tal nível de curiosidade dos homens, senão para cumprir a missão que seu Senhor lhe deu de pregar a palavra a tempo e fora de tempo ( II Tm 4.2), de modo que cabe-lhe mais obedecer quem a institui do que propriamente quem dela intenta tirar proveito.
Uma igreja que tem uma mensagem eterna ao invés de uma mensagem nova, uma palavra que liberta e não um discurso que distrai, uma proclamação que leva o homem a Deus e não aquela que leva o homem a nada, esta sim é uma coluna que inspira confiança dos pecadores e dá glória a Deus.
A igreja deve olhar para sua atividade essencial no mundo e com ela se comprometer ainda mais, sabendo que na qualidade de coluna da verdade não deve se preocupar com os apelos da modernidade mas sim com o propósitos gloriosos de Cristo, e se assim o fizer contará com a companhia indizível daquele que prometeu: eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século (Mt 28.20).
Lutero de Paiva Pereira