quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

IGREJA SEM ALTAR; IGREJA SEM PALCO; IGREJA COM PÚLPITO.



Num primeiro momento a expressão IGREJA SEM ALTAR pode causar espanto, pois a mente evangélica está impregnada da idéia de altar como sinônimo de adoração. Assim, falar em igreja sem altar seria o mesmo que dizer igreja sem adoração, embora não seja nesta direção que o artigo se encaminha.
De outra parte, IGREJA SEM PALCO tem como motivo indicar uma tendência das igrejas modernas que adotaram o palco como centro de sua atividade cúltica, e isto em detrimento do púlpito.
Como dois corpos não podem ocupar ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço, o artista empurrou para o lado o pregador e a arte alijou a Palavra, de modo que o culto tem hoje 2/3 de tempo para os primeiros e 1/3 de tempo para os segundos, se tanto.
Finalmente IGREJA COM PÚLPITO objetiva dizer a todos, o que inclui o contingente que foi “evangelizado” com shows gospel, que desde o início  da igreja o púlpito tem seu lugar cativo ali com a função de transmitir a Palavra de Deus que é e sempre será sua razão de ser.
Mas para começar a pensar sobre essas três realidades da igreja é preciso principiar pelo altar.
No Antigo Testamento individual ou coletivamente o povo se valia do altar para cultuar a Deus, pois o culto implicava na oferta de sacrifícios. Noé, Abraão, Isaque, Jacó e mais tarde o povo de Israel se utilizaram do altar para este fim.
Como naquele tempo culto sem altar era coisa impossível, o altar se tornou peça importante tanto no tabernáculo, como no templo, dois locais previamente escolhidos por Deus para receber adoração do seu povo.
Portanto, no Antigo Testamento o templo não tinha nem púlpito, nem palco, mas somente altar.
Quando vem o Novo Testamento o altar desaparece da vida do povo de Deus, pois com o sacrifício de Cristo inaugura-se uma nova relação entre Deus e os homens, o que vai refletir diretamente na forma de adorá-Lo. Jesus disse a mulher samaritana (João 4): Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai (v.21). Com tais palavras Jesus  quebrava o paradigma de lugar específico ou de lugar santo para se adorar a Deus, pois não seria mais nem em Jerusalém, no templo, nem em Samaria nem no monte. E Jesus prossegue: Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade (v.23). Agora, adorar não consistiria mais em oferecer coisas a Deus em altar, mas em viver de conformidade com a verdade.
 A partir do momento que Jesus por sua morte e ressurreição inaugurou esse novo tempo, os crentes não precisam mais de altar para oferecer sacrifícios a Deus, porque Jesus Cristo já se ofereceu em nosso lugar como sacrifício aceitável a Deus, de uma vez por todas (Hb 9.28 ).
Assim, em substituição ao altar os crentes têm agora o púlpito para, a partir dele, ouvirem mensagem sobre o sacrifício de Cristo e com isto terem uma vida de adoração em espírito e em verdade.
Deste modo, não parece razoável que a igreja continue a utilizar-se da expressão “altar” todas as vezes que se refere à parte principal interna do templo, e mesmo na cerimônia de casamento melhor seria se os noivos fossem convidados a aproximarem-se do púlpito, isto é, da Palavra para dela tomarem conhecimento da verdade, do que do altar para oferecerem algo a Deus.
No entanto, deixar o vocábulo altar em favor da palavra púlpito pode não agradar a muitos, pois a ideia de missa presente nos próprios crentes, isto é, de sacrifício, ainda é muito forte.
Ao tempo da Reforma a luta dos reformadores  entronizar a Palavra como centro do culto, elevando o púlpito ao status a que faz jus e deixando o altar de lado.
Assim, no contexto do Novo Testamento a igreja não tem mais altar, nem deve ter palco mas somente púlpito.
Nestes tempos modernos, no entanto, a vitória dos reformadores parece não mais refletir sua realidade nas reuniões, pois hoje nem altar, nem púlpito, mas sim, o palco é que se tornou o centro de todo labor cúltico, ali figurando a arte, o  artista e o  artístico.
No entanto, como herdeiros da reforma protestante, precisamos lutar para que o palco seja desmanchado e que em seu lugar o púlpito seja erguido novamente, pois o povo de Deus precisa mais do alimento que vem do púlpito, do que da diversão que vem do palco.
É tempo de entrar em ação os ministérios que Deus deu à igreja, pois somente eles são capazes de aperfeiçoar os santos para o desempenho do seu ministério (Ef 4.12).
Se ao tempo da reforma o púlpito teve que enfrentar os sacerdotes e  altar alojados ali para dominar o povo, não será com menor ardor que o púlpito terá agora de lutar contra os artistas e palco que insiste em  distrair o povo.
No entanto, como o artista sempre vira ídolo do povo é possível prever que a "guerra" será sangrenta, e ao seu final não poucas  baixas no rol de membros poderão ser registradas nas igrejas que a isto se prestarem.
Lutero de Paiva Pereira


 

2 comentários:

  1. Muito oportuna a mensagem acima. Principalmente nesses dias turbulentos que a igreja evangélica tem enfrentados. Os grupos de louvores estão cada vez mais tomando o lugar da mensagem da cruz e fazendo do púlpito um palco com seus ídolos e "adoradores".

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