segunda-feira, 29 de julho de 2013

MISSÃO BIZARRA


É normal gostar do anormal? Normalmente não o é, mas ultimamente parece ser. O bizarro, esquisito, extravagante tem sido o prato predileto de muitos, de modo que quando tudo está normal o prazer é pouco ou nenhum, já que somente o estranho agrada os sentidos.
Através da televisão o telespectador tem acentuado seu apreço pelo anormal, pois os programas de audiência são aqueles que tratam e retratam o mundo extravagante de pessoas e animais.
 O prazer pelo bizarro extrapola todos os campos e chega ao próprio mundo da religião.
No mundo tantas vezes alienado da religião, as missões chamadas de evangelizadoras seguem a mesma sina da televisão, e alimentam a bizarrice dos que lhe emprestam atenção.
Atualmente a missão tida como de valor, muitos entendem assim, deve ter como alvo o homem ou mulher que pode ser considerado exceção à espécie humana, relegando ao segundo plano o cidadão comum ou, como queiram, normal.
Assim, tornou-se propósito da evangelização o homem diferente, o homem estranho, o homem não convencional em razão de uma particularidade que carrega a qualquer título.
Criando subgrupos cada vez mais específicos dentro da espécie humana, as missões se dirigem focadas num público seleto que possa despertar uma emoção diferente naqueles que ouvem algo a seu respeito.
Deste modo, não pode mais causar estranheza a aparição de missões especializadas em alcançar pessoas cujos tipos nem sonhávamos existir em número suficiente para justificar um trabalho específico em sua direção.
Neste caso, é possível que em breve surjam missionários especializados em evangelizar gagos, os quais serão tidos como uma população excluída que não é ouvida por ninguém. 
Não faltará estatística para dizer que 17,38% dos habitantes da terra são gagos não alcançados.
Como se classifica uma pessoa como gago? Qual o parâmetro adotado para enquadrá-la nessa categoria? Ninguém sabe.
Mas o que se afirma é que 17,38% dos habitantes do planeta são gagos e precisam de missionários que fafa,fafa,fafalem a sua linguagem.
O missionário para o gago, obviamente, terá que gaguejar.
Existirão também as missionárias especializadas em mulheres com joanete.
Elas, segundo senso de 2012, são 6,39% da população feminina do Brasil. Portanto, é preciso arrecadar fundos para ir atrás destas pobres coitadas que “sofrem” com seu complexo.
Como conseguiram mensurar esse número?
Novamente ninguém sabe.
Talvez consultaram podólogos, pedicures e outros profissionais que trabalham com os pés, e partir de suas fichas de clientes puderam fazer esse levantamento.
O que não dizer dos missionários que têm como alvo pessoas que têm pé chato, e que correspondem a 11,39% da população masculina.
Nem precisa dizer que este levantamento também não tem base segura de verificação.
Por suporem que tais pessoas são socialmente excluídos e, portanto, padecem grande sofrimento de alma, além do cansaço físico que o pé chato ocasiona, os missionários se especializaram neste nicho, saindo correndo a procura deles. E se os missionários estão correndo ao seu encalce o pé chato deles não permitirá ir longe até serem “abatidos”.
Identificar uma pessoa de pé-chato simplesmente olhando para o seu rosto parece coisa difícil, mas vale a pena ir atrás dela para pescar ao menos um.
E quando esses missionários do bizarro tiverem êxito em sua missão, é possível que tragam gravados testemunhos dos “evangelizados”, depoimentos que o homem minimamente inteligente desconfiará da ausência da verdadeira conversão.
A mulher de joanete dirá que agora está feliz porque se sente livre para andar descalça na praia sem o complexo que outrora a fazia usar botas na areia; o de pé chato não economizará palavras para dizer que agora seu fôlego é outro. Restará o testemunho do gago. Bem,  como o gago continua do mesmo jeito ninguém tem paciência de ouvir suas palavras repetidas de forma incontida por todo o tempo da gravação.
Infelizmente é assim que caminha boa parte da humanidade religiosa, onde o anormal é o normal.
Se a pessoa normal não se enquadrar num grupo de anormais, é possível que nenhum missionário tenha prazer de ir ao seu encontro, nem a agência missionária disposição de arrecadar fundos para fazer missão em sua direção, pois ninguém mais se interessa pelo homem comum.
E para que a missão seja ainda mais interessante e desperte interesse nas pessoas de contribuir financeiramente para seu sucesso, é preciso que ela aconteça bem longe e, se possível, até mesmo noutro continente. Assim, os gagos alcançáveis devem ser do Azerbajão, as mulheres de joanete da Mongólia e os homens de pés chato da Malásia, pois se eles estiverem na própria cidade não tem graça alguma fazer missão ali.
Precisamos aprender que o evangelho é para todos os povos, tribos línguas e nações, e não para uma espécie especial dentro da espécie geral chamada raça humana. E ainda, que homens e mulheres que estão próximos de nós, mesmo não tendo nenhum “adjetivo” que os distingam dos demais, estes também precisam ouvir o evangelho.
Façamos, pois, missão, mas não a missão bizarra. E ao fazer missão tenhamos o cuidado de levar o evangelho e não mais do que isto ao ouvinte, pois o que ele precisa saber é de que sua reconciliação com Deus somente é possível através de Jesus Cristo.

Lutero Paiva Pereira

sábado, 20 de julho de 2013

DIMINUA SEU SOFRIMENTO

O sofrimento é uma marca registrada da existência humana, de modo que todos sofrem em tempo, modo e intensidade diferentes. Embora seja universal a dor é, no entanto, algo pessoal no sentido de que cada um reage de uma maneira a sua agressão. Não há como padronizar o sofrimento exigindo reação idêntica das pessoas frente ao mesmo trauma. Outrossim, é certo que existem sofrimentos que levam qualquer um ao desespero total , e a palavra desespero significa exatamente a perda da esperança.
Quando o desespero toma conta do homem a força para reagir ao sofrimento é infinitamente menor, comparativamente a pressão que ele exerce, o que agrava o quadro e o torna tantas vezes perigoso. O apóstolo Paulo disse que num certo tempo na Ásia ele passou por uma carga tão elevada de sofrimento que isto o levou a desesperar da própria vida (2Co 1.8), pois a a tribulação que o atacou estava acima de suas próprias forças. Noutras palavras, o Paulo estava dizendo que ele esteve dentro do desespero.
Que fique claro que desesperar-se em situações desta natureza não significa perda da fé, de modo que o crente pode ficar à vontade para passar pelo vale do desespero sem culpa, já que muitos cristãos sofrem não só com a dor física ou com dor da alma, mas também com a dor de não poder falar que está em desespero total porque falar assim significa dizer que não tem fé, coisa que não tem base bíblica para ser afirmada desta forma.
Dizer Deus meu, porque me desamparastes, como Jesus o fez, falando sem medo, pode fazer bem a quem sofre, inclusive aqueles que foram amordaçados por uma teologia que os enclausurou num silêncio sepulcral durante anos.
Este silêncio era da boca para fora, pois da boca para dentro a alma sempre gritou de desespero. O sofrimento que pode estar acima das próprias forças atinge o corpo e a alma, e não poucas vezes ambos ao mesmo tempo.
 A dor decorrente de um órgão que não funciona corretamente ou de outro que foi atingido por uma doença de cura difícil, ou mesmo a dor resultante de uma depressão aguda, quando a mente é bombardeada por pensamentos de suicídio, de agressividade, etc., traz sofrimento que balança as estruturas emocionais e espirituais de quem quer que seja, e se torna responsável pele desespero de muitos.
O sofrimento se torna maior quando experimentado com desespero, pois sofrer com esperança pode tornar a dor mais suportável mesmo quando ela causa o incômodo que próprio de sua natureza.
Para os sofrimento que não podem ser combatidos eficazmente com remédios, ou mesmo para aqueles que podem ser enfrentados com medicamentos mas sem uma eficiência total, uma alternativa que resta para enfrentá-lo um pouco melhor é buscar na Escritura Sagrada algo que traga alívio ao coração e, então, forças para seguir em frente.
Biblicamente falando a diminuição do sofrimento pode ser alcançada quando os olhos são postos um pouco mais a frente, para enxergar a vida sem sofrimento que espera por aqueles que confessaram a Jesus Cristo como Senhor. Escrevendo aos romanos o apóstolo afirma: os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós (Rm 8.18).
Primeiramente o texto admite o sofrimento como uma realidade próxima de todos nós, já que se trata do sofrimento do tempo presente. Mas, por outro lado, o texto não projeta o sofrimento presente para o futuro, visto que no futuro não mais existirá o sofrimento que é próprio do tempo atual. Passamos por um presente mal, é fato, mas esperamos por um futuro glorioso, o que é verdadeiro. Quando Cristo voltar, e isto pode acontecer nesta semana, neste mês, neste semestre, no próximo ano ou em tempo mais adiante, não importa, mas Ele voltará, naquele tempo nosso corpo mortal será transformado para ser igual ao corpo de glória de Jesus Cristo (Fp 3.8), e isto para vivermos eternamente na nova terra provando da plena redenção.
Ao falar desse futuro espetacular reservado aos crentes em Cristo João escreve dizendo que no tempo eterno já não mais existirão luto, pranto e dor, visto que as primeiras coisas já passaram (Ap 21.4).
Portanto, uma maneira de diminuir o sofrimento presente é aprendendo a olhar e a esperar pelo tempo em que o sofrimento não mais existirá, pois a fé colocada num futuro de glória comunica ao coração uma força que ajuda o remédio ingerido hoje, seja aquele tomado para combater um mal no corpo, seja o ingerido para afastar uma dor da alma. Na esperança é que fomos salvos (Rm.24) e é nesta esperança que devemos viver, pois os sofrimentos do tempo presente não são comparados com a glória  a ser revelada em nós.

Lutero de Paiva Pereira

terça-feira, 16 de julho de 2013

DISQUE PAZ 5181


Se você quer experimentar a paz que excede todo entendimento (Fp 4.7) disque 5181, pois biblicamente este é número do Disque Paz celestial.
Vamos entender como funciona esse "serviço".
Quando uma pessoa infringe a Lei, ela cria para si um problema com a justiça. Uma vez condenada, tem que cumprir a pena corresponde ao crime cometido. Depois da decisão da Justiça o condenado perde a paz por completo em razão da sentença que o persegue.
Desde o Éden o homem tem uma sentença condenatória de morte por causa do pecado, e por causa dessa sentença que lhe é contrária o homem não tem paz com Deus.
Mas o Disque Paz bíblico pode mudar essa situação de tormento humano para uma situação de conforto para quem crer em sua mensagem, que é chamada de evangelho, ou seja, de boas novas.
Vamos entender como funcionam as boas novas.
O homem está numa condição de injusto, ou seja, ele é e tem um coração e, consequentemente, um comportamento contrário a Lei de Deus. Assim, seu problema com a Justiça divina é real e sua própria consciência o acusa de pecado.
Para que essa situação seja modificada o homem necessita sair da condição de injusto para a de justo, o que significado dizer, da condição de condenado pela Justiça divina para a de absolvido por essa mesma Justiça.
Esse processo se chama justificação.
Uma pessoa que foi justificada é o mesmo que dizer que ela teve sua condenação revista, de sorte que foi absolvida do pecado cometido.
A justificação é o processo de transformar um injusto num justo, de modo que toda sua vida pecaminosa é apagada diante de Deus, tornando-se quite com a Justiça divina.
Antes de ser justificado, todo homem que pretender tirar uma “certidão” sua junto ao cartório celestial vai ver que a certidão será positiva e não negativa.
Depois de justificado a certidão sairá negativa.
Acontece que o injusto não pode fazer-se justo por esforço próprio, e se tenta justificar-se a si mesmo com seus atos de bondade isto em nada altera sua condição de réu diante da Justiça de Deus.
Como o homem não pode alterar sua condição diante da santa Justiça de Deus, nesse momento entra a graça para lhe oferecer a solução que não consegue por seu esforço.
A graça consiste no processo de Deus enviar seu Filho ao mundo para, através de sua obra na cruz, justificar o pecador que nele crer.
A justificação é, portanto, obra de Cristo.
Quando o injusto crê em Cristo e em sua obra a justiça de Cristo lhe é creditada, e uma vez recebendo tal justiça em sua conta o pecador se torna justo aos olhos de Deus.
Tendo sido feito justo, o pecador sai da incômoda situação de réu para ser colocado na confortável condição de absolvido pela Justiça divina, de modo que agora está em paz com Deus.
E está em paz com Deus porque do momento em que creu em Cristo Ele foi justificado de todas as suas transgressões, e daí por diante nenhuma sentença condenatória vinda da Justiça divina o persegue mais.
O pecador é justificado não por sua obra, mais pela obra de Cristo, e porque depositou fé no que Cristo fez e não naquilo que ele mesmo faria, pois nada poderia realizar para absolvê-lo Deus, o Justo Juiz, afasta qualquer sentença que lhe era contrária.
Deus não revoga simplesmente a sentença que era contra o pecador mas, pelo contrário, ela é e foi aplicada sobre Jesus Cristo lá cruz, e sendo assim ela não pode mais recair sobre aquele que creu em Jesus.
Afinal, a sentença que foi aplicada em Jesus e que era contra o pecador se exauriu nEle na cruz.
Lembremo-nos do que Isaias profetizou neste sentido: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele ( Is 53.5).
O castigo aqui referido não é outro senão a sentença condenatória oriunda da Justiça de Deus, que sendo contra o pecador foi aplicada sobre Jesus, o justo.
Por isto é que a Bíblia diz que Cristo foi morto por nossos pecados, o que equivale dizer que na cruz Ele recebeu a sentença de morte que nos correspondia.
Ali o justo foi morto no lugar dos injustos  (1ª Pe3.18), para que os injustos fossem feitos justos.
Citando Davi o apóstolo Paulo escreve: bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras (Rm 4.6), ou seja, feliz é o pecador que é justificado por Deus, pois daí por diante ele não mais está posto sob os rigores da justiça divina.
Mas onde está na Bíblia o Disque Paz 5181?
Simples, em Romanos 5.1 e 8.1, onde lemos: justificados, pois mediante a fé, temos paz com Deus (Rm 5.1) de modo que agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1).

Quando seu coração ouvir de alguém ou dele mesmo alguma sugestão que coloque em dúvida sua paz com Deus, ao invés de ligar para qualquer outro número disque 5181, ou seja, leia Romanos 5.1 e 8.1 e deixe que a Palavra de Deus aumente sua fé naquele que justifica o ímpio (Rm 4.5), e conheça ainda mais e melhor aquele que a Bíblia diz que vindo evangelizou a paz (Ef 2.17),  e que além de ter feito a nossa paz com Deus, Ele mesmo se constitui na nossa paz (Ef 2.14).



segunda-feira, 8 de julho de 2013

UMA SEGUNDA CONVERSÃO


A palavra conversão é utilizada no mundo evangélico para falar da experiência que o homem experimenta ao passar pelo processo do novo nascimento.
O novo nascimento decorre  da mensagem do evangelho que convoca o homem para arrepender-se dos seus pecados, receber a Cristo como Salvador e confessá-Lo como Senhor para ser feito nova criatura (2ª Co 5.17), para  ter direito a vida eterna.
Essa conversão, apresentada aqui como sendo a primeira, oferece ao converso um novo estilo de vida, liberta-o do medo de Deus e lhe proporciona, dentre outras tantas coisas, aquilo que o apóstolo Pedro chama de viva esperança (1ª Pe 1.3).
A conversão é não só uma experiência agradável, como também o início de um tempo novo, o qual abre  a  possibilidade de se conhecer a Deus, como Deus é, e não como imaginava que Ele fosse, provando na prática a máxima escrita pelo apóstolo  Paulo de que Sua vontade é boa, perfeita e agradável (Rm 12.2).
Uma vez convertido a Cristo o crente tem à sua frente um caminho aberto para o  desenvolvimento de sua salvação (Fp 2.12), consistente no  conhecimento cada vez maior da pessoa de Cristo que, em suma, deve ser o grande alvo de sua carreira.
Contudo, eis que sem tomar consciência, e lentamente, algo diferente começa a acontecer na sua caminhada, o que resultará num desvio perigoso da fé. 
Quem julga que este desvio  é impossível de acontecer, recomenda-se a leitura da carta aos Gálatas, onde o apóstolo escreve a uma igreja inteira que estava deixando Cristo para ir em direção a seus atos  religiosos, como se os mesmos tivessem um valor que em Cristo não haviam encontrado.
Para entender bem como o crente se deixa encarcerar por seus atos religiosos, ao invés de continuar livre com a liberdade que Cristo lhe outorgou (Gálatas, cap. 3), é preciso voltar ao tempo da primeira conversão e considerar um ponto relevante daquele momento.
Ao tempo em que foi convertido do seu estado de pecado para a fé em Cristo, naquela época o crente aprendeu a depositar fé exclusivamente em Cristo e em Sua obra redentora para ser salvo, pois foi convencido pelo evangelho  de que não podia apresentar nada de si mesmo a Deus como forma de ser aceito por Ele.
Foi este impactante encontro com a graça divina que mudou seu coração e lhe trouxe uma realidade jamais provada, sendo certo dizer  que aquele que nunca passou por tal experiência  ainda não nasceu de novo, mesmo que seja membro de alguma igreja e seu assíduo frequentador.
No entanto, depois de ter nascido de novo e já ao tempo em que corria a  carreira  da fé, seu coração começa a dar sinais de que seus olhos já não estão postos  exclusivamente em Cristo,  pois agora  seus atos religiosos parecem ter um valor notável para torná-lo melhor diante de Deus. 
Assim, sem se dar conta seu descanso vai sendo transferido de Cristo para aquilo que ele faz, qual seja, seus atos religiosos,  pois  sua segurança espiritual não está mais centrada em Cristo, mas em Cristo e também nos mandamentos que cumpre.
Seus atos religiosos lhe parecem tão valiosos que não pensa um minuto sequer em deixá-los de lado, e se alguém o faz pensar em sentido contrário sua reação agressiva à sugestão demonstra que tem segurança neles, e nem cogita em reavaliar sua conduta.
Pensando de si mesmo para consigo mesmo, julga que seus atos religiosos têm “poder” para dar um status melhor diante de Deus, de modo que não somente intensifica suas práticas como também julga negativamente aqueles que não os têm em alta consideração.
Quais são esses atos religiosos que o crente começa a estimar com propósito errado? São eles: ser um dizimista fiel; um frequentador assíduo aos cultos; um guardador responsável de dias; um leitor diário das Escrituras; alguém que ora com frequência (não necessariamente no seu quarto fechado, mas em público); um conhecedor de todas as doutrinas de sua igreja e ainda, um jejuador com boa frequência (o que é de conhecimento de muitos, pois faz questão de divulgar sua prática), etc..
Com tudo isto fazendo parte de sua vida, pensa no oculto do seu coração que o que faz é, de certo modo, um “complemento” àquilo que Cristo fez por ele na cruz.
Infelizmente quem procede assim não vê o erro em que se encontra, já que o próprio erro o impede de ver que está errado.
Seu senso de justiça própria advindo do fato de cumprir esses e outros atos religiosos com dedicação extrema eleva seu coração, e faz presumir que não é como os demais (Lc 18.11), expressão comum aos  fariseus que eram os grandes guardadores da lei, a saber, da lei de Deus e da lei que eles mesmos criavam. 
Se bem verificado poder-se-ia dizer que boa parte daquilo que os crentes guardam como sendo mandamento de Deus não passam de doutrina dos fariseus (Mt 16.12), a qual em nada aproveita à fé.
O crente que está nesta situação precisa passar urgentemente por aquilo que chamamos aqui de  2ª conversão, a qual implica em convencê-lo a abandonar sua justiça para agarrar-se somente à justiça de Cristo, pois a justiça humana é trapo de imundície (Is 64.6).
E com esta qualidade esse trapo não pode limpar o homem mais do que Cristo já o limpou, mas somente sujá-lo ainda mais todas as vezes que dele faz uso para a si mesmo se purificar.
Todavia, esta segunda conversão é mais resistida do que a primeira, pelo fato de que ao tempo daquela o pecador não confiava em nada do que fazia para ser aceito por Deus, mas por ocasião desta ele confia em si e em sua “santidade” e se julga sério por ser dedicado ao cumprimento desses atos. Quem tem esses  sentimentos em relação a si mesmo dificilmente se deixará convencer do contrário.
Julgar os atos religiosos praticados com a intenção de ser melhor  como obra imprestável e inútil para o fim proposto é terrível para o obreiro, mas em termos de fé cristã é preciso que assim aconteça se deseja realmente honrar o nome de Cristo e não o seu próprio nome.
Quem confia nos seus atos religiosos se afasta de Cristo e já caiu da graça (Gl 5.4), pois procura em si os méritos que somente em Cristo pode encontrar.
Desta forma, a segunda conversão implicará numa luta sem precedente, pois por mais incrível que possa parecer foi justamente a religião que conheceu depois da primeira conversão, é que levou o crente a fazer tudo aquilo faz para ser abençoado, ao invés de praticar o que pratica porque já foi abençoado.
Se alguém confia em algo que a Escritura não diz para confiar, confia em algo vão e não experimenta o descanso que a fé colocada somente na Pessoa Cristo oferece aos que creem.
O único caminho para levar o crente à graça, e isto depois de ter caído dela, não é outro senão a própria graça que somente em Cristo pode ser achada.


Lutero de Paiva Pereira

segunda-feira, 1 de julho de 2013

EU SEI EM QUEM TENHO CRIDO


Saber em quem se crê, para fins de vida eterna, é tão ou mais importante do que o próprio ato de crer. Afinal, o que salva o homem não é a fé propriamente dita, mas sim Aquele em quem a fé é depositada.
A Bíblia indica, de forma clara e objetiva, a pessoa em quem o pecador precisa crer para ter direito a vida eterna com Deus, e é exatamente essa pessoa bendita que o homem precisa conhecer para nEle depositar  fé.
Colocar a fé na pessoa certa requer conhecê-La suficientemente bem, pois crer num desconhecido é o mesmo que crer em ninguém.
Em nossas relações humanas, notadamente quando nossa saúde e nosso patrimônio estão em jogo, queremos saber algo a respeito do profissional que cuidará de nós e de nossos bens, pois de forma alguma gostaríamos de entregar-nos ou as nossas coisas a quem não se encontrasse habilitado o bastante para garantir um mínimo de segurança naquilo que irá fazer em nosso proveito.
Por isto mesmo é que procuramos informações a respeito do médico e do advogado aos quais vamos confiar a solução de nossos problemas, para que esperemos confiadamente no resultado almejado. Procedemos essa verificação  porque o simples fato de acreditar em alguém não torna essa pessoa qualificada para nos atender bem. O contrário é que é verdadeiro, ou seja, precisamos descobrir a pessoa qualificada para aí sim confiarmos a ela nossos bens e nossa saúde. Isto quer dizer que nos campos da saúde e do patrimônio é o profissional quem garante a fé e não a fé quem garante o profissional.
Como não desejamos em hipótese alguma correr risco em relação a saúde e ao patrimônio, pois qualquer serviço mal prestado num e noutro caso poderá comprometer nosso futuro, é que diligenciamos o quanto possível para escolher o melhor médico e o advogado mais qualificado.
Quando a questão diz respeito ao nosso futuro eterno, algo muito mais sério e de maior implicação do que somente cuidar de nossa  saúde e de nosso patrimônio temporários, com maior razão devemos conhecer Aquele em quem vamos crer, para a partir daí entregar-lhe o cuidado de nosso destino último.
A fé cristã, que trata de nosso destino eterno, não é e nem deve ser depositada em qualquer pessoa, menos ainda em pessoa que não se conhece, pois se o fizermos corremos risco de morte. 
É  preciso conhecer Aquele que poderá dar-nos descanso no sentido de que tem poder para garantir nossa eternidade com Deus.
Por isto é que o conhecimento de Cristo é essencial à fé porque ninguém pode crer em alguém desconhecido, e Cristo é o único que pode comunicar segurança em termos de vida eterna ao homem.
É através da Escritura Sagrada, livro inspirado por Deus, que a pessoa e a obra de Cristo são apresentados aos homens para que  possam conhecê-Lo  e nEle crer, de forma a terem segurança inabalável quanto ao seu futuro eterno.
O descanso é um dos resultados da fé que foi posta na pessoa certa, pois aquele que crê na pessoa errada, ou seja, em quem não pode assegurar o futuro que se espera, tal crença não gera descanso mas incertezas e dúvidas que não tornam atraente o futuro que se aproxima.
Somente a pessoa que conhece a Cristo e a Sua obra e nEle deposita sua fé, é que pode sonhar com um futuro melhor e com a certeza de que tudo irá acontecer conforme Ele promete.
O descanso que vem do fato de saber que Jesus Cristo é poderoso o bastante para cuidar e guardar nosso tesouro até o dia final, comunica bem-estar a alma e afasta insegurança em termos de futuro.
No processo de se conhecer a Cristo é preciso que fiquemos atentos a uma questão muito séria, embora nem sempre perceptível ao coração, a saber, que conhecer a Jesus pelo nome não é garantia suficiente para dizer que se conhece Sua pessoa.
Até mesmo em sentido natural é possível se conhecer uma pessoa pelo nome sem que isto seja garantia de ter conhecimento da pessoa propriamente dita.
Se fosse feito uma pesquisa é provável que se chegaria à conclusão de que todos ou a maioria dos brasileiros ou mesmo grande parcela da humanidade, atestaria conhecer a Jesus, pois de alguma forma já ouviram falar do seu nome, o qual vem sendo proclamado há séculos por todos os quadrantes da terra.
No entanto, essas pessoas que dizem conhecer a Jesus porque já ouviram falar dEle podem não dizer como Paulo disse: eu sei em quem tenho crido simplesmente porque elas podem ter conhecido Jesus pelo nome mas não conheceram sua pessoa e Sua obra por experiencia pessoal.
Esse fenômeno de se conhecer o nome e ignorar ou desconhecer a pessoa a quem o nome indica pode ser visto de outra forma.
Pelo menos no nosso tempo milhões de pessoas podem dizer que conhecem o presidente dos Estados Unidos, pois a veiculação de seu nome pela mídia é comum e bem frequente. Até mesmo o fato de ver sua imagem pela televisão transmite a sensação de conhecê-lo.
No entanto, mesmo entre essas  pessoas que alegam conhecer o presidente americano, o número daqueles que o conhecem pessoalmente é muito reduzido. 
Conhecer o presidente Obama por ter ouvido falar de seu nome ou tê-lo visto na televisão é bem diferente de conhecê-lo por ter tido contato pessoal com ele.
Desse modo, o mesmo público que alega conhecer o presidente da maior potência mundial deve ao mesmo tempo afirmar que o desconhece totalmente, e isto porque não teve nenhum contato pessoal com ele.
Para conhecermos a pessoa de Jesus o passo inicial é conhecer seu nome, mas conhecer Seu nome não é indicativo bastante de conhecer Sua pessoa.
Para conhecer a pessoa de Cristo é preciso dar um passo adiante no contato com Ele via Escritura Sagrada.
Quem se permite ir além do nome para conhecer a própria pessoa de Jesus Cristo, o que biblicamente é possível,  verá que conhecer Sua pessoa tem muito mais significado e satisfação do que simplesmente conhecer Seu nome.
Ademais, o  relacionamento ou a comunhão que o crente pode ter é com a pessoa de Cristo e não com o nome de Cristo, de modo que é preciso que seu conhecimento de Sua pessoa prossiga cada dia mais.
O apóstolo Paulo ao escrever sua carta a Timóteo demonstra que seu conhecimento da pessoa de Cristo era real e estava muito além do só conhecimento do Seu nome. E porque conhecia a pessoa de Cristo ele podia dizer a todos e com toda a convicção de sua alma: eu sei em quem eu tenho crido (2 Tm 1.12).
Podia dizer eu sei em quem tenho crido porque conhecia Aquele em quem cria, pois desde sua conversão o apóstolo teve como estilo de vida prosseguir no conhecimento do seu Salvador e Senhor.
E conhecendo Aquele em quem depositava sua fé Paulo dizia com toda a certeza que a fé lhe permitia fazer: Ele é poderoso para guardar o meu tesouro até o dia final (2 Tm 1.12).
Paulo sabia que Cristo era poderoso porque não ignorava nem a pessoa, menos ainda sua obra redentora, a qual foi mais que suficiente para lhe trazer salvação e mantê-lo salvo para todo o sempre.
O crente que não conhece a pessoa e, consequentemente, a obra de Cristo, mas somente seu nome, não tem um coração ousado para dizer com segurança que Jesus é poderoso para guardar seu tesouro para sempre, e vivendo sem estar convicção seu estilo de vida deixa sempre a desejar.
Observe que Paulo diz que Jesus era poderoso para guardar seu tesouro, e não que ele ou sua fé era poderosa para guardar seu tesouro.
Quando lemos a Escritura vemos que ela estimula os crentes a desenvolverem sua fé aconselhando-os a conhecer a Cristo e não simplesmente a conhecer Seu nome, razão pela qual Pedro escreve: crescei na graça e no conhecimento de Cristo (2 Pe 3.18).
Crescer no conhecimento de Cristo é, portanto, algo que pode ser levado a efeito pelos crentes, porque se tal não fosse possível o apóstolo não teria escrito da forma como escreveu incentivando os crentes a crescerem no conhecimento da pessoa de Cristo.
Os crentes precisam dar-se ao exame de sua fé para verem se ela não está levando-os a proclamar conhecimento do nome de Cristo, sem contudo lhes dar as condições necessárias para conhecer a pessoa de Cristo.
A verdadeira fé e, consequentemente, a alegria da fé advém do conhecimento do autor da nossa fé em quem nossos olhos devem estar fixados conforme escreveu o autor sagrado: olhando firmemente para o Autor e consumador da fé, Jesus, (Hb 12.2).
Não podemos esquecer que o nome Jesus é grande porque Sua pessoa é notável, pois se Sua pessoa não tivesse feito o que fez, a saber, morrido e ressuscitado tornando-se Senhor de todos seu nome teria pouco ou nenhum valor .
O profeta Oséias também escreveu orientando seus leitores a irem na direção do conhecimento pessoal de Deus: conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor (Os 6.3).
Para colocarmos maior dinamismo em nossa vida espiritual é preciso fazer da Escritura Sagrada o meio adequado para levar-nos ao conhecimento da pessoa de Jesus Cristo e não somente do seu nome ou mesmo de Sua doutrina. Quem fizer esta viagem em direção ao conhecimento da pessoa de Jesus Cristo certamente poderá um dia fazer suas as palavras de Jó: porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra (Jó 19.25).
Que o crente não sossegue seu coração enquanto não pude conhecer a pessoa daquele cujo nome confessa crer.

Lutero de Paiva Pereira