terça-feira, 1 de novembro de 2011

Como Deus é?

Embora Deus não mude e seja sempre o mesmo cada pessoa tem uma imagem ou impressão bem particular dEle que nem sempre coincide com a do outro. Menos ainda com imagem de Deus que Cristo revela aos homens.
No entanto, uma coisa é o que Deus é e outra bem diferente o que as pessoas pensam que Ele seja.
René Descartes, filósofo francês, quando analisa a formação do preconceito diz que é com “facilidade que nosso espírito se deixa levar pelas opiniões e idéias alheias, sem se preocupar em verificar se são ou não verdadeiras. São as opiniões que se cristalizam em nós sob a forma de preconceitos (colocados em nós por pais, professores, livros, autoridades) e que escravizam nosso pensamento, impedindo-nos de pensar e de investigar.”
Os preconceitos que se formam em relação a pessoas também se levantam em relação a Deus, e contra Ele até mesmo com maior intensidade pois dificilmente alguém vai conferir na Escritura se o Deus que lhe apresentaram é o mesmo que enviou Jesus Cristo ao mundo.
A conceituação errada sobre Deus vem da religião, da imaginação humana, da literatura, dos meios de comunicação e se aloja na mente humana para torturar o homem.
Com uma imagem distorcida de Deus as pessoas aumentam seu medo dEle e alimentam no coração uma rejeição à Bíblia como Sua palavra.
Esse Deus caracterizado de forma desvirtuada não se assemelha em nada ao Deus e Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o qual tem nos abençoado com toda a sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo (Ef. 1.3).
Mas o que a Bíblia fala a respeito de Deus? Como ela O caracteriza? E mais, qual é a verdadeira revelação que Jesus Cristo faz de Deus?
Para responder a tais indagações é preciso entender o que o evangelista João quis dizer quando escreveu: Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou (Jo 1.18).
Este verso contém três máximas que precisam ser destacadas para compreensão integral de sua mensagem.
1.    Ninguém jamais viu a Deus.
A primeira máxima que o verso enfatiza é que ninguém jamais viu a Deus, ou seja, nenhuma pessoa jamais viu ou conheceu Deus pessoalmente.
A partir desta afirmativa já se pode dizer que nenhuma pessoa está habilitada o suficiente para falar de Deus, pois falar de alguém desconhecido é sempre um risco de apresentá-lo de forma incorreta.
Como o preconceito, conforme visto, se forma a partir de informações transmitidas por pessoas que não conhecem ou não conheceram aquele de quem falam, não é de admirar o preconceito que as pessoas têm sobre Deus.
Afinal, as pessoas conhecem Deus a partir de informações de outros que também não O conhecem, daí o grande problema.
Isto dá oportunidade à formação de idéias estranhas a Seu respeito, pois à medida que cada um fala de Deus, mesmo ignorando-O, Sua imagem vai sendo caracterizada de forma estranha na mente de quem ouve.
Se ninguém jamais viu a Deus, conforme João escreve, então ninguém está habilitado a falar dEle de forma correta e sem distorção.
2.     O Deus Unigênito conhece a Deus.
Da segunda máxima do verso de João vem a afirmativa de que o Deus unigênito está no seio do Pai.
Temos aqui o Deus Pai e o Deus Unigênito juntos, convivendo simultaneamente um com o outro de modo a terem conhecimento recíproco entre si. O Deus Unigênito vivendo com o Deus Pai sabe muito bem como Ele é, mesmo porque também é Deus como Deus é.
 A Bíblia ao utilizar-se da expressão Deus Unigênito está se referindo ao Filho de Deus, a saber, Jesus Cristo.
Esta parte do verso poderia ser dita nos seguintes termos: Jesus
Cristo, o Deus Unigênito, que está junto do Pai
e, portanto, conhece a Deus como Deus é.
 Cristo que esteve junto do Pai e O conhece como ninguém pois O viu como ninguém jamais O viu, de modo que Ele mesmo um dia orou: agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de Ti, antes que houvesse mundo (Jo 17.5).
Esta oração mostra a eternidade de Cristo com Deus, pois Ele fala da glória que Ele tinha com Deus antes que o mundo existisse, ou seja, antes que o mundo fosse criado.
Desta forma, como o Verbo que se fez carne foi o único que viu a Deus, e conheceu-O como ninguém Ele é o único que pode falar de Deus sem qualquer distorção.
3.    O Deus unigênito O revelou.
A terceira afirmativa do verso diz que O Deus Unigênito é quem o revelou, ou seja, aquele que esteve junto de Deus, referindo-se aqui a Jesus Cristo, porque viu a Deus, porque viveu com Ele, porque é como Ele é, desvenda ou revela Deus para que os homens possam conhecer Deus como Deus é.
Se os homens querem ter um conceito de Deus, uma caracterização correta a respeito dEle a única fonte límpida e correta para oferecer tal oportunidade é Jesus Cristo, o Filho Unigênito do Pai que tendo estado sempre com Ele pode torná-lo conhecido como Ele é.
Na carta aos Hebreus o autor ao se referir a Cristo diz que Ele é o resplendor da glória e a exata expressão do seu Ser (Hb 1.2), ou seja, Cristo é a expressão correta, exata, completa de Deus, de modo que quem conhece a Cristo conhece também a Deus.
Falando com um de seus discípulos Jesus disse: Quem vê a mim, vê ao Pai (Jo 14.9) e, ainda: Eu e o Pai somos um (Jo 10.30), o que aponta para sua perfeita identificação com Deus.
Sendo um com o Pai o falar de Jesus é o falar de Deus e o Seu agir o agir do Pai.
E da mesma forma que palavras e ações demonstram o que uma pessoa é, as palavras e as ações de Cristo registradas na Bíblia também revelam quem Deus é.
4.    Jesus revelando Deus em palavras e ações.
Jesus agindo é Deus agindo, Jesus falando é Deus falando e seu mistério na terra teve como razão revelar Deus aos homens.
Que tipo de obra Cristo realizou na terra? Que palavras Ele proferiu por aqui?
Se fosse utilizar de uma única palavra para caracterizar a obra de Cristo a palavra seria amor.
Do seu nascimento, passando por sua morte na cruz e depois por sua ressurreição, a vinda de Jesus teve como propósito demonstrar o amor de Deus e o Deus de amor que o enviou ao mundo.
 O evangelho registra: Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que enviou seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê, não pereça mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).
         A própria morte de Jesus na cruz tem como razão a prova do amor de Deus pelos homens: Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5.8).
Se Deus quis dar ao homem a vida eterna em lugar do perecimento eterno, isto teve por base o seu amor que Paulo diz que excede todo o entendimento (Ef 3.19).
Embora existam muitos exemplos nos evangelhos que apontam para o amor incondicional de Jesus pelos pecadores, mostrando o próprio amor de Deus por eles, basta registrar aqui um único momento em que sua bondade é claramente manifestada em favor de alguém.
O fato está registrado no capítulo 8, do evangelho de João.
Diz o texto que escribas e fariseus trouxeram à presença de Jesus uma mulher que havia sido flagrada em adultério.
Colocando-a no meio de todos para humilhá-la, para aumentar ainda mais sua vergonha e causar-lhe constrangimento, eles relatam o acontecido e perguntam a Jesus: na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes (Jo 8.5)?
Frente àquele cenário de julgamento e possível linchamento popular da mulher, Jesus se põe quieto inclinando-se para o chão. Os acusadores, no entanto, insistem na pergunta como que dizendo: “e daí, vamos apedrejar ou não vamos? Ela merece.”
Diante da pressão Jesus responde dando-lhes uma condição para iniciarem o apedrejamento que desejam executar. Ele diz: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra (v.7).
Surpreendidos e frustrados com a resposta, pois viram-se impossibilitados de preencher tal requisito para condenar o próximo, pois eram pecadores tanto quanto a mulher, foram saindo um a um  a começar pelos mais velhos (v.9), ficando somente Jesus e a mulher.
A condição imposta por Jesus era: só pode apedrejar quem nunca mereceu ser apedrejado ou, somente pode aplicar a pena da Lei quem nunca transgrediu a Lei.
Será que existe alguma pessoa que nunca feriu nenhum preceito da Lei santa de Deus? Alguém que nunca pecou?
A Bíblia responde: não há um justo sequer (Rm. 3.10) e ainda, todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23).
Portanto, todos os homens estão impossibilitados de aplicar a Lei de Deus sobre o seu semelhante porque todos são devedores a essa Lei.
É interessante notar, no entanto, que Jesus deu uma condição de apedrejamento que Ele mesmo podia cumprir e, então apedrejar a mulher.
 Afinal, Jesus estava sem pecado algum porque ele nunca pecou, pois dele já havia escrito o profeta: nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca (Isa 53.9).
Assim, como alguém que cumpriu integralmente a Lei de Deus Jesus podia aplicar a sua sanção condenatória sobre a mulher.
Jesus então pergunta à mulher sobre os acusadores, já que somente os dois restaram ali. Ao responder que todos foram embora a mulher certamente tem a expectativa de ser apedrejada Jesus por porque Ele tinha autoridade moral para fazer isto.
 No entanto, qual não é sua surpresa quando Jesus se volta para ela e diz: nem eu tampouco de condeno. Vai e não peques mais (v.11).
Assim, aquele que podia condenar, perdoou.
Quando Jesus disse – eu não te condeno – Ele estava nesta atitude fazendo a obra e cumprindo a vontade de Deus que é perdoar pecadores.
Quando Jesus não apedrejou é porque Deus não apedrejaria.
Que estranho. Normalmente as pessoas pensam que Deus tem mais prazer em apedrejar pecadores do que em perdoá-los.
E quando Jesus diz: vai e não peques mais, Deus estava dizendo à mulher para ir e viver em paz, mas que se afastasse do pecado porque o pecador rouba a paz.
Jesus estava demonstrando com isto o amor e a longanimidade de Deus para com os pecadores, um amor que está além da compreensão humana que é sempre condenatória.
Neste episódio Jesus revela o Deus que ninguém jamais viu, fazendo as pessoas terem um conceito correto a Seu respeito, ou seja, de que Deus é bondoso para com os pecadores, não querendo a sua condenação mas, pelo contrário, a sua salvação.  
Afinal, uma mulher perdoada gera mais prazer em Deus do que uma mulher apedrejada.
Ler os evangelhos é ver as atitudes e as palavras amorosas de Jesus reveladoras do amor de Deus para com homens e mulheres que não alimentavam nenhuma esperança em suas almas.
O evangelho é, de certa forma, provocativo para os homens porque as boas novas são sempre dirigidas as pessoas indignas, imperfeitas e imprestáveis, incomodando os que se acham justos aos seus próprios olhos.
Uma vez conversando com os fariseus Jesus provocou-os dizendo: publicanos e meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus (Mt 21.31). Noutras palavras, a bondade e o amor de Deus são de tal magnitude que no seu reino pessoas corrompidas em seus valores morais, como o caso aqui retratado por prostitutas e publicanos seriam alcançadas de tal forma pela graça restauradora que entrariam no reino antes mesmo dos dedicados religiosos.


Afinal, é na vida de homens e mulheres pecadores que a graça de Deus tem oportunidade de apresentar-se irresistível. Paulo escreve: onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5.20).
Conclusão
Este é o Deus que Jesus Cristo veio revelar e que você, por seus preconceitos certamente não O conhece.
Este é o Deus verdadeiro com o qual você poderá ter prazer em se relacionar, porque Ele ama perdoar pecadores e salvar perdidos.
Impressionado com as atitudes bondosas de Deus para com os pecadores João chega a caracterizá-Lo como amor, dizendo: Deus é amor (1Jo 4.8).
Jesus Cristo crucificado é prova maior do quanto Deus amou os pecadores, pois sua morte tem como objetivo reconciliar os homens com Ele.
Os pensamentos preconceituosos a respeito de Deus que o mundo lhe ofereceu, que a religião ratificou e que sua imaginação desenvolveu serão prontamente afastados do coração quando você olhar para Jesus Cristo, a revelação correta de Deus, o qual a Bíblia chama de o pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação (2 Cor 1.3).
Se você conhecer a Jesus Cristo, também conhecerá a Deus e vendo-O em Cristo sua resposta à pergunta: “Como Deus é?” outra não será senão “Deus é amor”. Você conhece Deus assim? Nao? Então você não conhece o Deus da Escritura.

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