sexta-feira, 4 de novembro de 2011

VIVER CONTENTE

Se formos dedicados em verificar o motivo que nos move ou nos leva a fazer quase tudo o que fazemos, descobriremos que de alguma forma a causa principal e mais importante a impulsionar nossas ações é o desejo de encontrar contentamento. 
Estudando, trabalhando, viajando, casando ou até mesmo praticando uma religião o objetivo de encontrar contentamento é sem dúvida um dos maiores a serem alcançados.
A vida tem lá seus momentos de contentamento, mas eles são tão passageiros e transitórios que nem mesmo começamos a experimentar seus efeitos e eles vão se acabando e fugindo ao nosso controle e domínio.
Adquirir a primeira casa, comprar um carro novo, passar no vestibular, arranjar um emprego, etc são coisas que já nos deram algum tipo de contentamento, mas que agora, por estarem no nosso passado, deixam de gerar contentamento a alma.
O contentamento que as coisas produzem se esgotam no próprio ato de experimentá-los, daí a impossibilidade de se ter um contentamento duradouro a partir delas.
A busca de contentamento encontra justificativa na própria Bíblia, pois ela o apresenta como um cosmético para o rosto e um tônico para o corpo, sendo certo afirmar que uma pessoa contente tem mais formosura e possibiidade de desfrutar de saúde mais estável.
É comum ouvir-se a expressão: tal pessoa morreu de tristeza. Ela quer dizer que a falta de contentamento é alto tão sério que a pessoa pode não resistir aos seus efeitos mortíferos. Olhe para uma pessoa desprovida de contentamento e você verá os efeitos destruídores da tristeza.
Quando o livro de Provérbios diz que “o coração alegre aformoseia o rosto,” (Pv 15.13), ele está demonstrando que a formosura depende diretamente de um coração que está inundado pelo contentamento, ou seja, pela alegria.
Noutro momento o mesmo livro afirma que “o coração alegre é bom remédio” (Pv 17.22).
Aqui a ênfase está posta no sentido de apresentar o contentamento como algo bom para o corpo, agindo em favor da sua saúde da pessoa.
A tristeza adoece, ao passo que o contentamento cura. A tristeza rouba a formosura, enquanto o contentamento a restabelece.
Prisioneiras do descontentamento algumas pessoas perdem seu vigor físico e adoecem, ao passo que outras encarceradas pela tristeza acabam expressando uma feiúra que se mostra incompatível com seus traços fisionômicos.
Portanto, se a tristeza tem tal poder destruidor busquemos na Escritura Sagrada informações que nos levem a desfrutar de um viver contente.
O apóstolo Paulo se apresenta como um incentivador do viver contente, e o faz autorizado por uma experiência de vida que o qualifica a ensinar outros sobre a fonte do contentamento duradouro.
Mesmo tendo tido uma história marcada por grandes lutas, Paulo experimentou contentamento em meio ao sofrimento que passou, a ponto de trazer esperança para aqueles que enfrentam circunstâncias adversas no seu dia a dia.
Escrevendo sua carta aos Filipenses ele diz:
porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.10-13).
Destas palavras tão abençoadoras do apóstolo lições de contentamento podem ser aprendidas para restabelecer a alma e curar o corpo.
1º. - Em primeiro lugar Paulo demonstra que o viver contente envolve um aprendizado. Ele afirma: aprendi a viver contente.
Como tudo na vida envolve aprendizado, seria bom aprender a viver contente já que muita gente que influenciada por fontes ruins, acabou aprendendo a viver descontente.
Se o viver contente envolve, em princípio, um aprendizado, então, toda pessoa que desejar aprender a viver contente poderá chegar lá, e assim mudar o curso de sua história.
E quem a isto se candidatar precisa observar duas regras elementares do aprendizado, a saber, que a vontade de aprender envolve dedicação e, que o aprender implica em ir à fonte correta do aprendizado que se quer alcançar.
Na escola do contentamento Paulo foi um aluno exemplar, pois ele não só desejou aprender a viver contente, como também se esmerou em ir à fonte idônea para isto lhe ensinar.
E tendo concluído o “curso do aprendizado” com nota máxima ele pode dizer: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.”
A palavra aprender, no original, significa aprender por observar, isto é, aprender por fazer como a fonte que gera o ensinamento faz.
Tento observado sua fonte de contentamento, e passado a andar conforme ela lhe orientava, não é de estranhar que Paulo tenha finalmente aprendido, com sucesso, o viver contente que marcou sua vida.
Ser diplomado na escola do contentamento é com certeza uma das formaturas mais valiosas que alguém pode alcançar, e quem nessa escola se matricular e nela se graduar verá que o esforço empreendido tem grande recompensa.
Paulo é, portanto, o professor por excelência nessa escola por que aprendeu viver contente.
2º. - Em segundo lugar, depois de dizer que aprendeu a viver contente Paulo prossegue afirmando que este aprendizado o capacitou a viver contente em toda e qualquer situação.
Isto quer dizer que o contentamento que o apóstolo experimentou não estava condicionado ou sujeito às circunstâncias.
Enquanto é comum observar que algumas pessoas têm algum nível de contentamento somente quando tudo lhe é favorável, Paulo tem o contentamento mesmo quando as coisas se lhe mostram contrárias.
Na verdade, se alguém depende de momentos favoráveis para viver contente não poderá esperar dias melhores nem mesmo tempos duradouros, isto não só porque os momentos de contentamento são rápidos e passageiros, como também pelo fato de que momentos favoráveis não são em si mesmos garantia de contentamento.
Afinal, boa parte do descontentamento humano não está ligado necessariamente às circunstâncias que se lhes mostram desfavoráveis, mas sim a sua própria alma que encontrando-se vazia tem um peito que se tornou moradia da tristeza.

Se a tristeza mora em peito nada que está a sua volta lhe trará contentamento.
Paulo diz que em toda e qualquer circunstância ele aprendeu a viver contente, de modo que sabia estar humilhado como também ser honrado pois nem honra nem humilhação contribuíam para o seu maior ou menor estado de contentamento.
Poder desfrutar de um viver contente que transcende as circunstâncias, que delas não depende direta ou indiretamente deve ser algo muito bom pois dá uma estabilidade de contentamento praticamente inalterável.
O mais incrível é que no momento em que Paulo escreve que aprendeu a viver contente em toda e qualquer situação, sua experiência é totalmente negativa para fazer esta afirmativa pois tudo a sua volta lhe é contrário.
Se ele estivesse escrevendo o que escreveu de um hotel confortável, de uma bela praia às margens do Mediterrâneo ou durante uma agradável viagem de férias, suas palavras não teriam tanto significado como têm quando são geradas de dentro de uma penosa e torturante cadeia romana.
E mesmo ali onde o ambiente é totalmente contrário a todo bem-estar ele ousadamente dizia que aprendeu a viver contente em toda e qualquer situação.
Portanto, o contentamento de Paulo não dependia das circunstancias.
3º. - Em terceiro lugar, depois de haver observado que o viver contente envolve um aprendizado e que o contentamento pode ser experimentado em toda e qualquer circunstância, devemos então identificar a fonte que nutria o contentamento do apóstolo.
A palavra contente por ele utilizada tem um conteúdo maior do que em princípio se pode notar, pois ao afirmar que aprendeu a viver contente o apóstolo está dizendo na verdade que aprendeu a ser auto-contente, ou seja, a ter contentamento em si mesmo.
No original a palavra contente é autarkes de onde vem em português a palavra autarquia que indica uma empresa pública que tem patrimônio e receita próprios sendo, portanto, independente para gerir-se a si mesma.
Paulo,  pode-se dizer assim, era uma autarquia do contentamento já que não dependia das circunstância para viver bem.
Neste sentido parece que Paulo era egoísta ou egocêntrico por se dizer auto-contente, dispensando tudo a sua volta para viver a vida com satisfação. No entanto, bem compreendida a questão a verdade é exatamente o contrário, pois vida egoísta tem a pessoa que requer e exige que o outro lhe dê o contentamento que ela não possui. E vida egocêntrica desenvolve aquele que reclama de terceiros o contentamento que não encontrou por si mesmo.
Quem espera que o outro lhe traga o contentamento que não tem, escraviza as pessoas ao seu interesse e acaba se frustrando, pois ninguém é fonte permanente de contentamento para ninguém.
Paulo não escravizou e nem exigiu das pessoas o contentamento que experimentava, já que a origem do seu viver contente estava alicerçada em fonte mais segura e duradoura, a saber, Jesus Cristo.
Ao escrever que tudo posso naquele que me fortalece Paulo indica, então, que uma pessoa e não um objeto ou coisa é quem lhe fortalece o contentamento que nocaso era Jesus Cristo.
Paulo podia tudo em Cristo, inclusive ter contentamento em meio a situações adversas.
Blaise Pascal, filósofo e matemático francês do sec. XVII dizia que dentro do homem há um vazio em forma de Deus que somente o próprio Deus pode preencher. E enquanto este espaço em forma de Deus não for preenchido por Cristo o contentamento humano jamais será real persistindo aquela sensação de vazio que sempre incomoda.
Somente Cristo pode preencher o espaço vazio existente no coração humano, proporcionando ao homem o viver contente que é próprio daqueles que o receberam como Salvador e Senhor.
Assim, Paulo ensina que o contentamento pode ser aprendido, e que o contentamento de que ele trata independente das circunstâncias, visto que procede de Cristo Jesus. 
Por isto ele escreve: alegrai-vos no Senhor (Fp 4.4).
Conclusão.
Você terá uma vida contente se aprender a ser independente das coisas, das circunstâncias e das pessoas para se tornar dependente somente de Cristo como a fonte verdadeira, plena, inesgotável e sempre acessível de contentamento.
Somente Cristo pode contentar você por todo o tempo e o tempo todo, e isto até mesmo nos momentos mais difíceis.
Alister MacGrath registra em sua obra O Deus Desconhecido, a seguinte história:
“certa vez perguntaram a um escritor de prestígio: O que gostaria que lhe tivessem dito quando tinha dezesseis anos, que agora sabe ser verdadeiro? Sua resposta: ‘Eu gostaria que alguém me tivesse  dito que, quando chegamos ao topo, não há nada ali.”
Não é pequeno o número de pessoas que à semelhança desse escritor escalaram grandes montanhas na vida em busca de contentamento, supondo que poderiam encontrá-lo quando estivessem no seu topo, mas chegando lá experimentaram a dor de não terem encontrado o que mais desejaram encontrar, a saber, um viver contente.
Na verdade, o coração humano, para ter contentamento, requer mais que um relacionamento com outras pessoas; requer mais que possuir um bom número de coisas; requer mais do que grandes holofotes de reconhecimento. O coração humano para provar o verdadeiro contentamento precisa encontrar-se com Deus, através de Jesus Cristo, o Salvador.
Pessoas descontentes buscando contentamento na fonte errada multiplicam suas dores e consomem preciosos dias de vida.
Conta-se a história de uma família que comprou uma fazenda e mudou-se para lá para trabalhar a terra. A primeira preocupação do pai foi construir a casa perto de um riacho para ter água de fácil acesso. No entanto, passados seis meses o rio secou e não mais retornou com suas águas cristalinas. Sem opção de obter água noutra fonte o homem descobriu um novo riacho mais distante e rumou em sua direçao para ali construir uma nova casa e trazer conforto aos seus familiares.  Mas qual não foi seu espanto quando no transcurso de um ano o riacho também se secou e não mais retornou com sua abundância de água. Pressionado pela situação aquele homem se pôs à procura de um novo rio que pudesse lhe dar tranqüilidade duradoura. Tendo encontrado um morador da região foi logo se aconselhando com ele para ver onde deveria fixar sua nova residência. Naquela conversa o pai de família ficou sabendo que os riachos onde havia morado eram temporários e o que o único rio perene que oferecia água com sobra sem nunca secar estava em local mais adiante, para onde então se dirigir para ali de estabelecer com caráter definitivo e para o bem de toda a sua familia.
Esta história pode ilustrar a vida de muitas pessoas que buscando contentamento em “fontes” de curta duração, em fontes que se secam, em fontes que passam rapidamente tiveram que mudar várias vezes de direção na incansável busca de uma fonte que não seca, mas jamais a encontraram. 
Se este é o seu caso o momento agora é de ir à fonte duradoura descoberta pelo apóstolo Paulo, a saber, Jesus Cristo para que o seu contentamento dure para sempre.
São consoladoras e convidativas as palavras de Jesus ditas à mulher samaritana: Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna (Jo 4.14).
Se você deseja ter um viver contente real e duradouro vá a Cristo e nEle permaneça e então poderá dizer como o apóstolo Paulo disse: tudo posso naquele que me fortalece, inclusive viver contente em toda e qualquer situação.
Lutero de Paiva Pereira
                                                                                  




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