sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Âncora da Alma



Por isto Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precursor, entrou por nós,... (Hb 6.17-19)

O texto bíblico fala da esperança que está proposta em favor daqueles que pela fé em Cristo se tornaram herdeiros das promessas de Deus, esperança que dá sustento verdadeiro ao crente.
E será sobre a ótica da esperança como sendo uma ancora da alma que a presente meditação vai se ocupar.
Navegar com uma embarcação de pequeno ou de grande porte que não disponha de uma boa âncora é risco sério, pois chega o momento em que somente a âncora se mostra suficiente para guardar o barco do perigo das águas e dos ventos.
A palavra âncora remete à idéia de estabilidade e de firmeza e, então, de tranqüilidade, pois sua grande utilidade é exatamente dar ao navio a firmeza e a segurança necessárias em momentos difíceis.
Quando se diz que o navio está ancorado a idéia é que ele está seguro pelas âncoras fundeadas e que nada o ameaça.
À semelhança de um navio, o homem precisa, metaforicamente falando, de uma boa âncora para lhe garantir estabilidade nos momentos de ventos fortes e de ondas incontroláveis que são próprios do mar da vida.
Ventos de aflição, ondas de problemas, tempestades de desespero se levantam sem aviso, e só não produzem grandes desastres sobre aqueles que dispõem de uma âncora que lhes dê estabilidade.
Sendo a âncora algo tão importante para a vida é prudente então perguntar: você tem uma âncora para lhe dar tranqüilidade e segurança? Em caso afirmativo: esta âncora é capaz de lhe oferecer a segurança que sua alma necessita nos momentos de crise?
A palavra crise indica uma manifestação violenta e repentina de ruptura de equilíbrio, apontando para um estado de dúvidas e incertezas que extrapola ao controle.
Uma pessoa em crise está em desequilíbrio e isto prejudica sua caminhada, pois sem equilíbrio não há como caminhar reta e firmemente.
O bêbado cambaleante representa bem o comportamento de uma pessoa em desequilíbrio no período da crise, pois seus passos são totalmente inseguros e sem direção.
E quem é que nunca enfrentou uma crise? Quem jamais foi açoitado pelo pensamento que insiste em buscar explicações para coisas inexplicáveis? Quem nunca perdeu o sono porque perdeu a segurança do amanhã?
Dentre todas as crises a de não ter esperança talvez seja a que mais angustia a alma.
Afinal, a desesperança tem a força de roubar a realização de sonhos acalentados com grande expectativa, roubando o interesse de viver.
Esperança fala de coisa futura, de algo que está por vir, de alguma coisa que vai acontecer e que será de excelente valor para a vida.
Assim, o que a Bíblia comunica em termos de esperança? A esperança bíblica é capaz de acalentar a alma?
O evangelho comunica esperança ao homem e descortina-lhe o amanhã revelando do futuro, pois é da essência e da natureza da fé bíblica comunicar a certeza das coisas que se espera, e a prova das coisas que se não vêem (Hb 11.1).
E quem pode ter certeza em relação às coisas que não vê, quem pode esperar aquilo que não enxerga, tem uma âncora firme para a alma.
As boas novas de Cristo têm como efeito dar ao homem a esperança que lhe foi roubada pelo pecado, de modo que quem nele crê pode esperar desfrutar da mesma glória que a Cristo foi comunicada após Sua ressurreição.
Sendo a esperança algo intrínseco à própria fé cristã o apóstolo Pedro abre sua primeira carta chamando a atenção dos seus leitores para a bondade de Deus em trazer uma viva esperança para homens ao tempo em que ressuscitou a Jesus dentre os mortos.
Ele escreve: Benedito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (1 Pe 1.3).
Foi a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos que trouxe viva esperança ou esperança de vida para aqueles que foram regenerados ou gerados de novo pelo poder do evangelho.
Este nascer de novo o apóstolo Pedro diz que é decorrência direta da misericórdia de Deus Pai, o qual deve ser louvado por todos que foram salvos e se tornaram esperançosos em Jesus Cristo.
E prosseguindo neste mesmo sentido de esperança o apóstolo diz que os regenerados devem estar sempre preparados para responder a todos aqueles que vos pedir razão da esperança que há em vós (1 Pe 3.15).
Há, portanto, uma esperança no coração dos filhos de Deus, esperança esta que quando indagada por alguém deve ser prontamente comunicada para que o outro também dela possa experimentar.
Uma vez que Jesus Cristo venceu a morte e se tornou Salvador e Senhor de quem nele crê, nenhuma dúvida dominará o coração do crente quanto ao futuro, ou seja, à vida eterna pois esta lhe está garantida pelo Salvador.
Jesus, como precursor, e precursor quer dizer aquele que foi primeiro, que foi na frente e desbravou o caminho, entrou além do véu, ou seja, foi ao encontro de Deus, tornando-se esperança do homem de encontrar-se com Deus.
Jesus como homem foi o primeiro a entrar na presença de Deus e fez isto para demonstrar aos homens que eles também poderão entrar na presença de Deus, para dela desfrutarem para sempre se O confessarem como Senhor.
Para as pessoas que têm como âncora da alma coisas que não podem dar estabilidade real e duradoura para as crises mais sérias, o evangelho se volta para lhes trazer uma boa expectativa de futuro.
Afinal, se uma âncora não serve para comunicar segurança, bem-estar e conforto não pode nunca ser chamada de peça fundamental para a alma.
Nada há nada de errado em ter bens, sucesso ou coisa que o valha mas o erro consiste em pensar que isto tem algum valor para guardar a alma nos momentos da tempestade.
A alma atribulada somente encontrará descanso na crise quando puder contar com a estabilidade que Cristo pode oferece.
O apostolo Paulo exorta a não nos deixarmos afastar da esperança do evangelho (Cl 1.23).
Há no evangelho, e somente nele, a esperança verdadeira que salva a alma nos momentos que lhe atacam a angustia.
Deste modo, somente no evangelho das insondáveis riquezas de Cristo (Ef 3.8) é que os homens encontram a âncora adequada para dar estabilidade as suas almas e assim mantê-las firmes nos dias de ventos fortes e de águas turbulentas.
A respeito do estar com Deus para sempre o salmista escreveu: bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre (Sl 23.6).
            Assim, a âncora da alma não será nunca algo mas sim alguém e este, Jesus Cristo,o Filho de Deus.
            Quando um pecador é gerado de novo pelo poder do evangelho, tornando-se uma nova criatura sua alma imediatamente é ancorada na viva esperança que a ressurreição de Cristo comunica, e quem esperar assim terá razões mais que suficientes para viver hoje para glória de Deus.
            Grande é a bênção que o homem experimenta quando pode ancorar-se em Jesus Cristo um Salvador seguro e firme.
Lutero de Paiva Pereira

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