sexta-feira, 28 de outubro de 2011

VIDA ABUNDANTE

Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância (Jo 10.10).

1. A REALIDADE CRUEL

Em razão de uma realidade de vida tantas vezes cruel existe alguma possibilidade de se alcançar dias melhores?
A pergunta não é sem propósito porque o homem vive sob aflições de toda a ordem, sejam as que vêm do ambiente onde vive, sejam as que afloram do seu próprio coração ou mundo interior.
Muitas vezes sem condições de suportar a carga dos seus desajustes pessoais os homens vão se arrastando vida afora incomodados por sentimentos maus e pensamentos tormentosos que lhes tira o prazer de viver e torna cruel sua realidade.
Medos, preocupações, inveja, ira, revoltas, remorsos, traumas, desesperança, baixa auto-estima, ansiedade, angústia e coisas semelhantes torturam homens e mulheres e lhes cobram um preço muito alto para existir.
Biblicamente falando essa realidade cruel do homem não era para existir, porque Deus não o criou para uma vida atormentada.
Mas a realidade cruel não tem como ser negada e faz parte da vida de todos.
Ainda que alguns sustentem que a mudança do mundo poderia melhor tudo, certo é que para a vida se tornar melhor é preciso a própria transformação do homem, pois ele mesmo é fonte de grande parte de seus males.
Eis, então, a pergunta: a realidade cruel tem como ser modificada ou aos menos melhorada?
Antes de pensar na possibilidade de alterar a realidade cruel do indivíduo, convém analisar a causa das coisas serem como são.

2. PORQUE AS COISAS SÃO COMO SÃO.
É preciso voltar ao início de tudo para compreender um pouco a razão das coisas serem como são e do homem ser como é.
Ao tempo da criação ao formar o homem do pó da terra, Deus o fez a sua imagem e semelhança e lhe deu a grande distinção dentre todas as criaturas porque o dotou de vida divina.
Animais e plantas tinham a vida animal e vegetal, mas somente o homem tinha o privilégio de possuir a vida de Deus.
Afinal, diz o relato bíblico que ao formar o homem do pó da terra o Criador soprou em suas narinas o fôlego da vida, sopro que lhe transmitiu a vida que era própria de Deus.
Diz a Bíblia: Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente (Gn 2.7).
A expressão fôlego de vida se refere a vida de Deus que o homem ganha para sustentar sua alma.
Ao afirmar que Adão foi feito alma vivente (1 Co 15.45), o termo vivente utilizado pelo apostolo Paulo significa aquele que tem a vida divina.
Deste modo além da vida física ou biológica e da vida da alma ou psicológica o homem tinha também a vida divina ou espiritual.
E com a vida divina o homem recebeu orientação de Deus de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois se o fizesse ele morreria (Gn 3.17), ou seja, perderia a vida que o sopro divino lhe havia comunicado.
Contudo, sabemos todos, o homem pecou e a partir do momento em que transgrediu a ordem divina o pecado fez separação entre ele e Deus e matou a vida divina que do Senhor havia recebido.
Embora seja comum se ouvir a expressão “espiritualmente morto”, muitas vezes não se compreende bem seu significado, e isto para prejuízo da própria fé.
Estar espiritualmente morto não significa que o homem tem uma parte morta em si, mas que por não ter mais a vida divina ele está sem vida espiritual e quem está sem vida espiritual está espiritualmente morto.
Assim, a partir do momento que pecou a vida mais sublime, a mais espetacular, a mais equilibrada e admirável que o homem recebera de Deus lhe foi retirada e sua alma passou ao controle do próprio pecado.
Antes de enviar o dilúvio sobre a terra Deus fez a seguinte avaliação a respeito do homem em seu estado pecaminoso: Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração (Gn 6.5).
Com o desígnio ou o propósito do coração sendo continuamente mau a realidade cruel passou a ser a realidade da vida.
Ninguém tem dúvida que a vida de Deus é a vida melhor em termos de intensidade, de qualidade e de durabilidade e por isto mesmo estar desprovido dela representa uma grande perda.
Por causa do pecado haver matado a vida divina então existente no homem a Bíblia afirma que os homens estão agora mortos em seus delitos e pecados (Ef 2.1).
Sem a vida divina ou sem a vida zoe (termo utilizado para vida de Deus em grego) e com o pecado habitando o coração o homem tem todo tipo de desajuste a atormentar sua alma, pois o coração se tornou uma fonte de problemas como Jesus disse: do coração do homem procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias (Mt 15.19).
Este coração desajustado é a razão da realidade cruel de cada ser humano tomado em sua individualidade.
Conhecida a causa da realidade cruel, passemos a considerar agora a possibilidade de mudar.

3. A POSSIBILIDADE DE MUDAR A REALIDADE CRUEL
Não existe a menor chance do homem mudar sua realidade cruel a não ser aquela que o próprio Deus instituiu que é o evangelho.
O evangelho, diz o apóstolo Paulo, é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16).
E como se trata de um poder muito superior a realidade cruel na qual o homem se encontra, o evangelho é capaz de alterar a situação daquele que nele crê.
A palavra evangelho quer dizer boas novas e boas novas que chegam a terra através da vinda de Cristo ao mundo, a qual está baseada no amor de Deus: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que enviou seu Filho para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida (zoe) eterna (Jo 3.16).
A boa nova que passou a ser proclamada desde o dia de Pentecostes quando o Espírito Santo foi derramado é que Deus enviou seu Filho ao mundo para conceder ao homem morto a vida zoe que o pecado lhe roubou, e vida que lhe garante a própria eternidade.
No entanto, para ter a vida divina o homem precisa passar pela regeneração ou pelo processo de ser feito uma nova criatura (2 Co 5.17), pois somente a nova criatura é que tem o sopro do Espírito para desfrutar da vida zoe que está em Cristo.
O apóstolo João escreve: E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida (1 Jo 5.11-12).
A respeito da possibilidade do homem ter a vida de Deus para mudar sua realidade cruel Jesus disse: eu vim para que tenham vida (zoe) e tenham com abundância (Jo 10.10).
A palavra vida aqui é zoe, ou seja, vida divina, vida de Deus.
No Novo Testamento encontramos muitos textos falando de vida empregando vocábulos diferentes no original, a saber, bios como vida física; psiche como vida da alma e zoe como vida de Deus e enquanto o homem não conhece a fonte da vida zoe que é Deus não tem como dela se apropriar.
E quando passa a ter a vida zoe ou a vida de Deus dentro de si o homem tem a vida biológica e a vida anímica sustentadas por uma vida melhor e superior de modo que seus sentimentos, pensamentos e vontade se tornam governados pela vida que procede de Deus, e isto para seu bem-estar.
O salmista escreveu: Bendizei, ó povos, o nosso Deus; fazei ouvir a voz do seu louvor; o que preserva ou sustenta com vida (zoe) a nossa alma e não permite que resvalem os pés (Sl 66.8-9).
Com tais palavras o escritor sagrado diz que a vida de Deus – a vida zoe – é que sustenta a vida de sua alma – a vida psiche, razão pela qual Deus deve ser louvado.
Jesus disse que como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo (Jo 5.26) e esta vida que o Filho tem é a vida zoe que comunicará aos que nele crêem.
É por isto que a Bíblia fala da salvação como sendo o processo de vivificação do pecador, ou seja, de tornar vivo, de dotar de vida, de avivar aquele que está sem vida.
Está escrito: estando nós mortos em nossos delitos nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos (Ef 2.5).
Noutro momento: e a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com Cristo, perdoando todos os nossos delitos (Cl 2.13).
Em ambos os textos o escritor diz que antes os crentes estavam mortos em seus delitos, pecados e transgressões mostrando que o que torna o homem morto é o pecado ou a transgressão. Mas ele prossegue dizendo que a vivificação foi feita em Cristo, pois quem dá vida zoe ao morto é Jesus Cristo.
Aos judeus Jesus disse: examinais as escrituras... mas não quereis vir a mim para terdes vida (zoe) (Jo 5.39).
Nestas palavras Jesus deixa certo que a vida está nele e não na própria escritura que dele testifica, de modo que para ter a vida o homem que examina a escritura deve fazê-lo com o objetivo de que ela o leve a Cristo.
Assim, a comunicação da vida zoe ao homem que está morto requer que ele vá a fonte que é Jesus Cristo, pois fora dEle não há fonte idônea para isto.
Em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos (At 4.21) a não ser o nome de Jesus Cristo, e ser salvo implica em ser tirado do estado de morte para ser elevado ao status de quem vive.
É possível o homem viver sem a vida de Deus, a vida zoe? Física, biológica e animicamente falando, sim. Mas a vida biológica e a vida da alma sem a vida divina, a vida zoe não têm nem a qualidade nem a intensidade próprias da vida zoe, motivo pelo qual muitas vezes a própria vida se torna sem prazer.
Afinal só na vida zoe há eternidade, poder sobre a morte e condições de trazer à alma e a mente os valores mais sublimes que são os valores de Deus.
Paulo escreve: vivo a vida do filho de Deus, a saber, a vida zoe e não mais a vida do ego (Gl 2.20).
A vida zoe em Paulo o fez diferente em todos os sentidos, de modo que passou a amar aquilo que antes odiava, a saber, Cristo e a igreja e a desprezar aquilo que antes tinha como elevado, ou seja, sua religiosidade.
A partir de sua conversão Paulo viveu diferente, pois não era mais seu ego que impulsionava seu viver, mas a vida zoe de Cristo que impulsionava seu ego a agir.
Viver sob o domínio e a força da vida de Cristo foi a grande satisfação do apóstolo por todo o tempo que se seguiu ao seu novo nascimento.
Para viver a zoe é preciso ir a Cristo, a fonte de vida. Mas é preciso igualmente estar em Cristo, e Cristo estar em nós para que esta vida realmente domine a vida da alma.

CONCLUSÃO
A vida zoe que o homem perdeu pelo pecado lhe trouxe conseqüências terríveis, tornando cruel sua realidade pessoal em todos os tempos.
Mas a vida zoe que o homem perdeu pelo pecado está agora disponível e acessível em Cristo Jesus, o autor da vida que veio ao mundo para oferecer vida abundante aos mortos.
A possibilidade de ter acesso a vida zoe é prova da graça de Deus em favor dos homens, que agora são alvos de seu amor e de sua bondade manifestada no evangelho que tem o poder de vivificar os mortos.
Quem recebe a vida zoe que procede de Cristo tem a disposição de sua alma a vida de Deus que lhe oferece dias melhores e por fim, a vida eterna.
Se a realidade cruel o atormenta busque em Cristo a possibilidade que alivia, pois Ele é o único comunicador da vida abundante.
Lutero de Paiva Pereira

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