quarta-feira, 23 de novembro de 2011

AMOR A LOUCURA

Os homens parecem amar mais a loucura do que a sanidade, e no intento de satisfazer esse desejo absurdo não lhes faltam apoiadores que os ajudam a emaranharem-se no círculo vicioso da sensatez abastecer-se da insensatez.
A loucura em questão não é aquela que aponta para uma mente desajustada mas, pelo contrário, a que diz respeito a perda juízo, da capacidade de perceber e avaliar as situações de forma prudente, de modo a se tornar vulnerável a todo tipo de proposta, ou mesmo de sair à procura de coisas que abasteçam seu coração estúpido, tolo e sem entendimento.
Como Jesus disse que a loucura ou a insensatez procede do coração do homem (Mc 7.22), talvez isto explique um pouco da religiosidade humana, que em boa parte está assentada mais na loucura do que na sanidade.
Afinal, em algumas religiões, verificando seus ensinos e práticas, é possível detectar que lhes falta um mínimo de sensatez.
No contexto do Novo Testamento a palavra louco ou loucura significa sem razão, ou seja, uma falta de sanidade e sobriedade mentais. Também quer dizer a falta de percepção criteriosa da realidade das coisas naturais e espirituais que leva a uma ordenação imprudente da vida da pessoa com respeito à salvação (Dicionário VINE, CPAD, 2003, p.759).
O filho pródigo é um exemplo de quem se houve com insensatez, pois ao sair de casa lhe faltou a prudência necessária para avaliar o conforto que deixava para ir em direção ao caos o que, somente mais tarde, ao cair em si, a recobrar a sensatez, foi capaz de perceber.
Sem condições de perceber criteriosamente a realidade das coisas naturais e espirituais a pessoa insensata se expõe a situações de risco que podem lhe causar dano irreparável.
A insensatez que é a não percepção ou o não entendimento correto das coisas, impede a pessoa de separar o certo do errado, o reto do tortuoso pois tudo lhe parece uma única e mesma coisa. E quando alguém não pode ver duas realidades em si mesmas diferentes como coisas distintas, é porque a insensatez já dominou o coração.
Ainda que a loucura possa ser encontrada em qualquer área da vida, seu exame aqui é voltado exclusivamente para o âmbito religioso.

A religião parece ser dentre todas as realidades humanas, a que mais produz homens loucos, pois todas as vezes que ele sai ou tenta sair do material para o imaterial, do natural para o espiritual, do concreto para o abstrato, invadindo o campo do místico, fazendo isto sem o parâmetro da verdade da Escritura, a possibilidade de perder a sensatez é muito grande.
Esta doença não é nova e nem atinge somente as religiões mais estranhas já que, por mais incrível que possa parecer, mesmo assentado em doutrina capaz de dar bom equilíbrio mental aos seus adeptos, no cristianismo a insensatez se faz presente e hoje até mesmo de forma generalizada.
Embora ao tempo da igreja primitiva a loucura já atuasse em algumas igrejas, modernamente causa espanto o quanto ela está disseminada e epidemicamente presente nos lugares outrora ortodoxos de modo que já se tornou bem difícil, embora não impossível, encontrar aquele onde a sanidade opere eficazmente.
Desejando o que se parece com a verdade mas em essência é mentira, os crentes se distanciam da fé ao darem mais importância à sensação do que à compreensão, julgando que sentir é bem melhor do que compreender. E neste ritmo, como não poderia ser diferente, a prudência cede espaço à imprudência, a sensatez à insensatez, a sanidade à insanidade e o final do caminho é prejuízo espiritual, mental, emocional e, muitas vezes, até mesmo financeiro ao louco. Afinal, ao fim de uma insensatez religiosa existe, via de regra, uma proposta de exploração comercial disfarçada de espiritualidade.
O apóstolo Paulo escreve que as igrejas de Corinto e da Galácia caminhavam pela senda da loucura, quando acolhem para dentro de si aquilo que deveriam reprovar de pronto.
Advertindo os coríntios Paulo diz: Porque sendo vós insensatos (insanos, sem sanidade), de boa mente tolerais os insensatos (os néscios, os loucos) (2 Co 11.19). Com tais palavras o apóstolo tenta despertá-los de que haviam deixado a sensatez para se entregarem à loucura quando toleravam um tipo de ministério que agora os domina.
Sobre este verso Simon Kistemaker escreve: “ A igreja em Corinto recebia qualquer pessoa, especialmente aqueles dispostos à pregação e ao ensino das pessoas. Os  membros da igreja estavam dispostos a fazer vista grossa às falhas de caráter, ao comportamento abusivo e à doutrina retorcida dos falsos apóstolos” (Comentário ao Novo Testamento, 2 Coríntios. Ed Cultura Cristã p. 531).
 Paulo prossegue: tolerais quem vos escraviza, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto (v.20).
Com tais palavras ele demonstra as características dos pregadores, os quais tinham por prática devorar os crentes, aprisioná-los e esbofeteá-los, o que implicava numa vida de sofrimento que a pessoa mentalmente sadia jamais se entregaria.
Permitindo a própria escravização por aqueles que os devoravam e esbofeteavam os coríntios demonstravam loucura ao se entregarem a doutrinas e doutrinadores falsos.
Paulo faz saber aos coríntios que não obstante os tenha levado a Cristo ele não se julgava como alguém que tivesse domínio sobre a fé que professavam (2 Co 1.24), pois foi capaz de pregar o evangelho sem dominar os evangelizados.
Os falsos apóstolos, porém, diferentemente de Paulo, queriam dominar aqueles sobre os quais exerciam “poder” espiritual, o que é característica marcante de tais pregadores.
Os crentes, por sua vez, se deixavam dominar, escravizar e esbofetear por aqueles que mercadejando a palavra de Deus (2 Co 2.27) pregavam-se a si mesmos e não a Cristo (2 Co 4.5), os quais medindo-se consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos (2Co 10.12), se impunham à igreja.
Assim eram os crentes daquela igreja e tais os pregadores que admiravam.
No tempo presente a televisão tem sido um instrumento mais que apropriado para que pregadores insensatos aumentem o número de crentes loucos, os quais perdendo a capacidade de discernir entre o que é bíblico e o que não é, o que é doutrinariamente correto e o que é incorreto, do que é coisa aplicável ao Antigo Testamento do que é próprio do Novo, se deixam levar por todo vento de doutrina (Ef 4.14).
Por exemplo, o que Deus falou a Josué no Antigo Testamento – todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado (Js 1.3) – não se aplica aos crentes do Noto Testamentos, e se utilizado erroneamente poderia até mesmo endossar teologicamente alguns movimentos sociais.
Como os ventos doutrinários sopram forte sobre os incautos e os levam para longe da verdade, quando chegam a perceber onde estão é possível que decepcionados abandonem a própria fé, sentindo-se incapazes de retornar ao lugar de onde nunca deveriam ter saído.
O fenômeno da loucura estava presente também nas igrejas da Galácia, de modo que o apóstolo é enfático em classificar os crentes de homens e mulheres sem juízo. Ele escreve: ó, gálatas insensatos! Quem os fascinou a vós outros, antes cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificados? (Gl 3.1).
Fascinados ou enfeitiçados por uma mensagem que queria fazê-los voltar às práticas do judaísmo através da circuncisão, e isto como base para serem aceitos por Deus, Paulo chama os crentes daquelas igrejas de loucos, de sem juízo, de insensatos porque estavam aderindo a uma proposta doutrinária falsa, mesmo depois de terem tido conhecimento do evangelho que lhes apresentou Cristo como o único capaz de justificá-los diante de Deus.
Com isto, eles estavam prestes a cair da graça (Gl 5.4) ao se tornarem prisioneiros do judaísmo. Paulo os adverte: para a liberdade foi que Cristo nos libertou. (Gl 5.1), portanto, continuem livres em Cristo. Assim, a insensatez dos gálatas é que tendo sido feitos livres da religião pela fé em Jesus Cristo, estavam agora na iminência de voltar à escravidão religiosa e se prontificando a cumprir ritos tais como, guardar dias, meses, festas, etc., o que se tornaria um fardo pesado a ser carregado.
Não é assim que a religião atual trabalha com os crentes? Dizendo que a fé em Jesus Cristo é pouco, lhes propõem sacrifícios para serem mais abençoados, escravizando os adeptos a rituais que demonstram a insensatez e a loucura dos que a isto se entregam.
Tendo sido feitos livres por Cristo agora se tornam escravos por meios de mensageiros que se dizem de Cristo.
Os pregadores contemporâneos se mostram mais astutos quando apelam a “apóstolos” internacionais para sustentarem suas doutrinas, como se tais fossem fonte de todo saber.
Desta forma a insensatez caminha a passos largos, e quanto maior a louca sugerida mais atração ela exerce sobre os que vivem afogados no mundo sensorial.
As igrejas, em razão disto, vão se parecendo com sanatórios religiosos a congregar um número cada vez maior de pessoas que se entusiasmam com nada e correm atrás do vento.
Os crentes dando crédito a mentira (2 Ts 2.11) afeiçoam-se ao engano; com coceiras nos ouvidos (2 Tm 4.3) cercam-se de mestres segundo suas cobiças; recusando a verdade (2 Tm 4.4) entregam-se a fábulas e suas reuniões não diferem em nada das dos atenienses que cuidavam em ouvir somente a últimas novidades (At 17.21).
A musicalidade, por sua vez, com letras contrarias à verdade, faz promessas vãs e instiga vitórias a um povo que parece viver em constante derrota.
Basta um pequeno retrocesso no tempo para ver como as coisas andam fora do caminho reto embaladas por propostas estranhas. Não vai longe quando a exploração dos pregadores insensatos estava assentada em doutrinas que tratavam de demônios. Via-se demônio em todo lugar, coisa e comportamento. Os pastores-exorcistas estavam em destaque. Depois, veio a maldição de família, dente de ouro e coisa parecida. Nessa época o pastor-quebrador de maldição esteve em alta e o que soprava seu bafo de insensatez sobre muitos visto como poderoso. Atualmente, nem demônio, nem maldição de família, o negócio é literalmente negócio.
O que está atraindo agora é prosperidade. Quem promete mais com menos é o melhor. É o tempo do pastor-investidor e a palavra de ordem é semear. Os insensatos crentes não percebem, no entanto, que estão sendo chamados a semear em horta alheia, a única que cresce e viceja de forma invejável.
Atrás de promessas de homens e não de Deus, vão empresários falidos e mal sucedidos, os quais esperam da religião o que o comércio não lhes deu, e também aqueles que querem enriquecer sem esforço e dedicação mas somente à custa de um milagre, como se o ser crente lhe desse o direito de ser rico.
Qual a próxima insensatez? Não sabemos ao certo mas é bom lembrar que o povo de Israel, quando se deixou levar pela loucura e imprudência acabou queimando seus próprios filhos em sacrifício a uma divindade pagã (2 Reis 17.17).
Para cura de tamanha insensatez é necessário que os crentes voltem à verdade da Escritura Sagrada, pois é a única que pode levá-los a Cristo tornando-os sábios e prudentes. Porém, quem emprestará ouvido à mensagem? De qualquer forma é melhor seguir o conselho de Paulo a Timóteo: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, que não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina (2 Tm 4.2). Por obediência a Cristo, e por amor ao seu povo e aos que virão a ser, é melhor devotar fidelidade à Palavra de Deus.
Pr. Lutero de Paiva Pereira

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