Numa cidade grande aqui do Brasil uma cena de rua me chamou a
atenção. Em cima de uma carroça cheia de lixo para reciclagem o carroceiro chicoteava
seu cavalo para ir em frente. O animal magro e bem debilitado quase não
respondia aos açoites embora sentisse suas dores.
Bem de perto dava para ver que as cicatrizes e feridas abertas
no seu lombo denunciavam que vinha sendo surrado há muito tempo impiedosamente
pelo seu dono. E porque o cavalo não reagia às duras chicotadas recebidas
caminhando mais rapidamente? Era porque era insensível? Era porque não lhe doía
o coro? Era porque já tinha se acostumado com tudo aquilo? A resposta é não.
Ele simplesmente não reagia ao espancamento porque não tinha forças físicas
para tanto. Enfraquecido ao extremo não conseguia fazer o que seu dono lhe
impunha realizar.
A julgar por sua aparência esquelética era de se concluir que
ele não estava sendo alimentado corretamente desde muito tempo, embora fizesse
um serviço que só um animal bem nutrido era capaz de realizar.
Deixando esta cena não tão incomum da vida urbana hoje, vamos
à Escritura Sagrada.
Prestes à sua ascensão aos céus, enquanto conversava com os
discípulos, Jesus pergunta a Pedro: Simão,
filho de João, amas-me mais do que estes outros?
À resposta positiva do discípulo o Senhor lhe diz: apascenta os meus cordeiros (Jo 21.15).
Apascentar quer dizer levar ao pasto ou pastagem, isto é,
tratar ou alimentar corretamente.
Se Pedro amava a Jesus como dizia, a prova desse seu amor
deveria ser dada na forma como alimentaria aqueles que pertenciam a Cristo, que
no verso são chamados de cordeiros.
Este quadro nos remete a função do ministério pastoral, que
deve ser exercido por aquele que ama a Cristo, amando aqueles que Cristo ama.
Este amor implica em cuidar do “rebanho” do Senhor,
alimentando-o corretamente com a Palavra, de modo que todos possam ser nutridos
espiritualmente com a verdade e fortalecidos para responder ao seu próprio chamado.
No entanto, a realidade atual não parece ser esta. Em muitas
igrejas o ministério pastoral não tem sido exercitado como Jesus disse a Pedro que
deveria fazê-lo, ou seja, alimentando bem as ovelhas. Pelo contrário, a figura
do pastor mais se assemelha a do carroceiro, que tendo nas mãos um “chicote” bem
longo a cada domingo “chicoteia” os cordeiros, abrindo “feridas” fundas em suas
almas, sobrecarregando-os com fardos de cobranças que vêm de uma pregação nem
sempre autorizada pela Escritura.
Os crentes estão exaustos, debilitados, fracos, sem ânimo e força
para caminhar, pois há muito não sabem o que é “saborear” da agradável Palavra
da verdade.
Seria melhor que o púlpito visasse mais o “estômago” do que o
“lombo” dos que estão a sua frente, pois é daquele e não deste que vem a força
para se caminhar.
Porque estão neste estado de debilidade os crentes sentem as
dores do “chicote”, da cobrança, do juízo que vem do púlpito, mas não conseguem
responder aos seus apelos porque suas forças estão próximas de zero.
O salmista dizia que o Senhor era o pastor dele e estando debaixo
de Sua condução nada lhe faltava, inclusive a boa alimentação, pois segundo seu
pastor o conduzia a pastos verdejantes (Sal
23.2).
Já é tempo do “chicoteador” ceder espaço no púlpito para o
pastor, e o relho ser abandonado em favor do alimento, de modo que as ovelhas tenham
a vitalidade e a saúde que Cristo, o verdadeiro alimento da alma pode lhes oferecer.
Uma vez bem nutridos os crentes açoitados terão suas “feridas”
saradas para seguirem com disposição de mente e alegria de coração em direção ao
alvo de sua soberana vocação, e os que forem bem pastoreados não necessitarão de
“chicote” para fazê-lo andar em direção a Cristo.
Alimente, pois, os meus cordeiros, eis a ordem do Senhor da
igreja.
Lutero de Paiva Pereira
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