sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O CRENTE E A BÍBLIA

Existem cidades que ficaram tão marcadas pela grandiosidade e beleza de certas obras e paisagens, que passear por elas sem ir aos pontos turísticos de fama mundial é perder o melhor que elas oferecem.
Ir a Roma e não conhecer nem o Vaticano nem o Coliseu, a Paris e não visitar o Arco do Triunfo e a torre Eiffel, ao Rio de Janeiro e não chegar ao Pão de Açúcar e ao Cristo Redentor é coisa que o turista não pode fazer.
A Bíblia, mudando o que deve ser mudado, também é assim. Embora tenha muitas coisas boas a oferecer aos homens, a mais essencial delas, e de onde decorrem todas as outras, é dar a conhecer a pessoa e a obra de Jesus Cristo, de modo que quem dela faz uso não pode deixar de concentrar sua atenção e estudo na direção do Salvador.
A leitura da Escritura Sagrada deve ser feita sempre o propósito de conhecer a Cristo, da mesma forma que um turista cuidadoso programa sua viagem reservando espaço para visitar os pontos principais do seu destino de viagem.
Afinal, leitura boa e agradável é aquela que prende a atenção do leitor e o deixa maravilhado com o texto, o que a Bíblia faz com aqueles que a lêem olhando por centro de sua escrita que é Cristo.
Maravilhamento é o estado de alma que toma conta da pessoa quando contempla algo belo ou grandioso que atraindo sua atenção imprime na alma uma reação de contemplação incansável. A maravilha ou o esplendor de um objeto, obra de arte, evento ou paisagem é coisa que não se transmite por palavras, pois somente pela contemplação pessoal é que se pode captar.
Portanto, se alguém quer maravilhar-se com algo ou com alguma coisa é preciso dedicar tempo para contemplá-lo pessoalmente.
A Bíblia, livro escrito em linguagem humana para comunicar verdades divinas essenciais ao homem, está repleta de maravilhas capaz de impressionar os que a estudam.
No entanto, conforme já observou a teologia um dos efeitos sérios do pecado no homem foi danificar sua mente retirando dela a capacidade de ver ou de compreender, sozinha, as questões de ordem espiritual que decorrem do texto Sagrado.
Em função disto, pretender o leitor esmiuçar a Escritura somente com o intelecto ou com a racionalidade é não alcançar o que ela tem de melhor, gerando mais cansaço do que prazer quando com ela mantém contato.
Para que o leitor se maravilhe com a Bíblia a compreensão de sua mensagem requer mais que dedicada leitura e capacidade intelectual de observar seus termos. É preciso, acima de tudo, a ação do Espírito Santo no coração para que as suas belezas sejam desvendadas para contemplação.
No caso das Escrituras Sagradas se pode dizer que as palavras são como caminhões furgão a transportar valores espirituais que o Espírito Santo precisa ajudar o leitor a ver o que dentro dele está contido, sob pena da pessoa enxergar a carroceria e não a carga que vai sendo levada.
Dotado de mente que compreende bem as coisas naturais e desenvolve de forma invejável a ciência, o homem não tem essa faculdade qualificada para compreender Deus e sua vontade, sendo, então, dependente de Deus para compreender o próprio Deus.
Sob este aspecto podemos olhar para o Salmo 119 e aprender com o salmista sobre como se posicionar diante da Escritura para poder compreendê-la bem.
No verso 18 vemos a seguinte oração do salmista: Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei, e tal pedido contém lições para uma atitude correta frente ao texto sagrado.
1º. -  Em primeiro lugar se observa que o salmista muito embora tivesse a Lei de Deus literal e fisicamente diante de si para leitura, isto não lhe assegurava o privilégio de ver as maravilhas nela contidas. Tanto é verdade que ele pede a Deus para lhe dar o privilégio de ver as suas maravilhas.
Isto quer dizer que ter a Lei ao alcance das mãos não significa que automática e espontaneamente a mente do leitor será capaz de ver as maravilhas do que ela trata. Para ir da letra ao conhecimento de suas maravilhas é preciso contar com a ajuda de Deus.
Ver as maravilhas da Lei era o alvo do salmista que não se contentava com o simples fato de ser seu leitor assíduo. É fato que para conhecer as maravilhas da Lei o salmista tinha que primeiramente conhecer a Lei, mas conhecer a Lei não era suficiente para o conhecimento de suas maravilhas.
Assim, observa-se desta atitude do salmista que conhecer as maravilhas da Lei é algo maior e mais profundo que conhecer a própria Lei, de modo que alcançá-las requer mais do que habitualidade com ela, é preciso a ajuda de Deus.
Para tanto o salmista ora pedindo o conhecimento das maravilhas da Lei: Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei.
2º. - Em segundo lugar o salmista estava certo de que mesmo não vendo as maravilhas da Lei naquele momento, elas existiam para serem vistas. Afinal, se a Lei não contivesse maravilhas para serem vistas sua oração não teria sentido algum em ser feita neste sentido – que eu vejas as maravilhas da tua Lei.
Por certo o raciocínio lógico desenvolvido pelo salmista para afirmar que existem maravilhas na Lei quando ele nem mesmo as tinha visto é que se a Lei procedia de Deus, do Deus que opera maravilhas, e que assim sua Lei deveria também conter maravilhas.
Se Deus, o autor da Lei, opera maravilhas a Lei que dele emanada não poderia deixar de estar saturada de coisas admiráveis para serem conhecidas.
O salmista Asafe escreveu: Tu és o Deus que fazes maravilhas (Sl 77.14).
É interessante notar que o salmista ora para que Deus lhe dê o privilégio de ver as maravilhas presentes na Lei, ao invés de suplicar que Deus faça maravilhas para ele contemplar.
Por isto seu pedido é feito tendo como alvo ver as maravilhas já presentes na Lei: Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua Lei.
Existe enorme diferença entre pedir para Deus fazer maravilhas e pedir a Deus para ver as maravilhas que Ele já fez.
3º. Em terceiro lugar o salmista demonstra um interesse pessoal por ver as maravilhas de Deus presentes em sua Lei, o que está muito acima do interesse de ser somente um leitor diário dela.
Ao pedir a Deus: desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei o salmista revela o intento pessoal do seu coração de maravilhar-se com Deus e sua Lei.
Ao dizer-se interessado em ver as maravilhas da Lei o salmista fala que seu coração está insatisfeito e incompleto com o texto somente, almejando ir ao que ele oferece de melhor.
Este inconformismo é saudável pois mostra o interesse de alguém que quer ver além daquilo que o homem vê, para chegar ao que Deus mesmo pode conceder.
Quem vê conforme Deus permite vê mais longe e melhor.
A oração do salmista revela seu interesse pessoal: Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei.
Ver o que a Lei contém por dentro é mais espetacular do que ver somente o que ela apresenta por fora.
4º. Em quarto lugar o salmista sabe que seus olhos são incapazes de ver as maravilhas presentes na Lei embora fossem habilitados para ver a Lei e os seus escritos.
 Essa incapacidade presente nos olhos para ver as maravilhas de Deus em Sua Lei é de ordem espiritual, pois na condição de pecador a mente humana foi danificada pelo pecado tornando-se incapaz de ver as coisas chamadas sobrenaturais contidas nas Escrituras.
Possuindo olhos vendados pelo pecado o salmista suplica a Deus para que Ele o livre deste obstáculo e veja o maravilhoso da Lei.
O salmista está certo de que a venda está nos seus olhos e não na Lei, já que todo escrito por Deus não tem escuridão alguma que dificulte sua compreensão.
Sua oração é, portanto, um pedido de socorro para que Deus opere um milagre em seus olhos: Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei.
A Lei somente se torna maravilhosa ao leitor na medida em que ele é capaz de contemplar as maravilhas que ela carrega.
5º. Em quinto lugar o salmista sabia que Deus, e somente Deus, é quem podia desvendar ou tirar dos seus olhos a venda que o impedia de ver as maravilhas da Lei.
 Somente Deus e não a religião nem a ciência podiam fazer alguma coisa em seus olhos que lhe desse a capacidade de ver, de modo que sua busca de cura é feita na fonte correta.
Assim, sua oração ou pedido é direcionado ao próprio Autor da Lei: Desvenda (SENHOR) os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua Lei.
O embaçamento que o pecado causou nos olhos humanos somente a ação de Deus é capaz de remover e quem O busca para esta solução terá uma visão apropriada para ver o invisível.
Estas cinco atitudes do salmista revelam uma pessoa disposta, confiante, humilde e desejosa de ir mais, de prosseguir em sua jornada sabendo que Deus tinha muito mais a oferecer através da Lei aos seus leitores do que de início eles mesmos podiam perceber.
Seu inconformismo de não se satisfazer somente com a leitura do texto; seu anseio de querer ver as maravilhas da Lei; o sadio desejo de ter seus olhos desvendados por Deus; o santo propósito de querer mais da Lei e a gloriosa expectativa de ver as suas maravilhas postas ao se alcancem movimentavam esse homem em boa direção.
Não há dúvida de que o salmista é um bom exemplo a ser seguido pelos crentes que desejam ver as maravilhas de Deus contidas em sua Palavra.
Desta forma, seguir seus passos e orientar-se por suas atitudes pode representar uma experiência maravilhosa de descobrir coisas espetaculares que somente a Bíblia é capaz de oferecer.
Assim:
1º. Em primeiro lugar o crente deve saber que conhecer a Bíblia não indica e nem lhe assegura ver as maravilhas que ela contém, de modo que decorar seus textos, conhecer suas histórias e até mesmo suas doutrinas ficam muito aquém da experiência desejada pelo salmista de ver suas maravilhas.
Sendo assim, contentar-se em conhecer a Bíblia sem desejar ir até o ponto de ver as maravilhas das quais ela trata é ficar muito aquém do propósito para o qual ela foi escrita.
O maior desejo do crente, portanto, deve ser o de ver as maravilhas da Palavra de Deus, e por isto sua postura diante dela não pode diferir da adotada pelo salmista que se interessava em ir além da letra para chegar ao seu conteúdo mais especial.
Certa vez Jesus repreendeu os fariseus pelo fato deles examinarem a Escritura sempre sem, contudo, se importarem de por intermédio delas irem a Ele para terem vida.
Com tais palavras Jesus informava que o exame escriturístico não tinha um fim em si mesmo, mas se apresentava como um meio de levar o estudioso a um bem maior a ser conhecido.
Assim, a oração do crente deve ser: Senhor, desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua palavra.
2º. Em segundo lugar o crente deve considerar que existem maravilhas na Bíblia que estão a sua disposição para conhecimento e deleite, de modo que ela se mostra como um livro que não se esgota com sua leitura, como é próprio de todos os demais livros. E não se esgota porque ela traz maravilhas a serem conhecidas constante e progressivamente pelos que tem seus olhos abertos para esta realidade. Sendo um livro inspirado pelo Espírito Santo esta inspiração traz mais coisas que as palavras podem comunicar, razão pela qual o próprio Espírito é indispensável para o processo do crente de ver para além das palavras.
Conhecer a verdade que liberta é muito mais que ler sobre a verdade que a Bíblia anuncia, e só a verdade efetivamente conhecida é que realmente liberta: conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (Jo 8.32). E para se conhecer a verdade mais que leitura sobre ela é preciso vê-la por meio da iluminação do Espírito na mente do leitor.
Assim, antes de ficar pedindo que Deus faça maravilhas para ele ver o crente deve dirigir sua oração ao Senhor suplicando pela experiência de ver as maravilhas que já se encontram presentes na Sua Palavra, o que é muito mais interessante.
Por isto a oração constante deve levar em conta a Palavra escrita: Senhor desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua Palavra.
3º. Em terceiro lugar o crente não pode esquecer que a experiência de ver as maravilhas da Bíblia é assegurada àqueles que desejam ver e não somente àqueles que fazem dela um livro de leitura meramente obrigatória ou descompromissada.
O crente que faz uso da Bíblia nestes termos nunca chegará a maravilhar-se com a beleza que ela tem, de modo que sua vida espiritual será sempre pobre e sem progresso.
O salmista tinha interesse pessoal não só na leitura da Lei como no conhecimento de suas maravilhas, e isto deve ser o objetivo de cada pessoa que passou pela experiência do novo nascimento quando tem a Bíblia em suas mãos.
Daí buscar inspiração no salmista para orar desejando ser alguém assim é muito importante: Senhor desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua Palavra.
4º. Em quarto lugar os olhos do crente, que não são diferentes dos olhos do salmista, também estão vendados para ver além do que está escrito na Escritura. Neste caso é preciso buscar socorro em Deus para ter a capacidade de compreender posta bem acima do nível natural.
Quando fala da possibilidade do crente de compreender a vontade de Deus que boa, perfeita e agradável o apóstolo Paulo escreve que a condição para isto experimentar é ser transformado pela renovação da mente (Rm 12.1), numa demonstração clara de quem sem a renovação da mente o homem não poderá encontrar na Palavra de Deus a vontade boa, perfeita e agradável que Ele já manifestou em Cristo Jesus.
A mente do crente precisa de constante transformação para que alcance cada dia mais o poder de compreender as belezas espirituais da Escritura. Enquanto seu progresso mental caminha neste sentido sua oração deve buscar em Deus os meios adequados para esta renovação: Desvenda os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua Palavra.
Conclusão
É preciso que o crente saiba, desde logo, que a grande maravilha da Bíblia consiste em revelar Jesus Cristo aos homens. O significado de revelar é de tirar a cobertura ou tirar o telhado para que se possa ver bem o que está dentro da casa.
Assim, quando o Espírito Santo ilumina os olhos do crente ele vê nas Escrituras a pessoa e a obra de Cristo, e isto lhe traz a experiência de maravilhar-se com  tal conhecimento.
Portanto, ler a Escritura sem ver Cristo é tornar este livro maravilhoso de leitura comum e sem brilho, o que ele não é;
Ler a Bíblia por obrigação sem fazer dela um meio para ver e conhecer a Cristo é fazer da prática devocional um momento de mero desencargo de consciência;
Ler a Bíblia sem depender do Espírito Santo para iluminar os olhos, supondo que há capacidade em si mesmo de conhecer o mistério de Cristo é prova de que realmente não sabe nada a respeito de Sua grandeza.
Não deve o crente continuar imerso em sua pobreza espiritual, quando a Bíblia está posta ao seu alcance para enriquecimento da alma através do conhecimento de Cristo no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (Cl 2.3)
Motivado por tão nobre desejo a oração do crente deve conter sempre as palavras do salmista: Senhor desvenda os meus olhos para que eu possa ver as maravilhas da Tua Lei.
Naturalmente falando não é espetacular conhecer algo maravilhoso? Não faz bem a alma ver coisas que causam contentamento e boa impressão? Muitas viagens não se tornam marcantes por terem levado as pessoas a lugares que lhes causaram grande impacto e admiração?
Tanto melhor será a “viagem” proposta pela Bíblia que leva o leitor a maravilhar-se ao ver a obra e a pessoa de Cristo Jesus, experiência que impacta a mente e o coração de forma muito melhor.
Uma pessoa que vê o Cristo revelado na Escritura e a obra por Ele realizada, nunca mais será a mesma em contentamento pessoal e gratidão a Deus.
Lutero de Paiva Pereira

Um comentário:

  1. me encantei com esta mensagem que de fato é a realidade, que possamos procurar viver as maravilhas que Deus já fez!

    ResponderExcluir