segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

DEUS OPERA EM VÓS O QUERER


A salvação tem efeitos presentes e futuro. É das questões temporais da salvação que Paulo se ocupa, por exemplo, quando escreve aos filipenses sobre o seu  desenvolvimento: De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor (Fp 2.12).
Desenvolver a salvação implica na disposição do crente de se dedicar aos preceitos de Deus para viver cada dias mais retamente num mundo totalmente contrário a Deus, mesmo no tempo em que ainda possui uma natureza pecaminosa que se levanta contra Deus fazendo-Lhe oposição.
É certo que para viver retamente é preciso que o crente envolva sua vontade e esforço no processo de santificação, mesmo porque ninguém desenvolverá a salvação sem que a tanto se dedique.
Para tanto, lutar contra os impulsos de sua própria carne e contra as propostas do mundo que deseja sua amizade é a vida “tranquila” de quem deseja amar a Deus sobre todas as coisas.

Paulo foi um exemplo de cristão que se esforçou na luta pessoal contra o mal que habitava nele, pois tinha consciência de que em sua carne não habita bem nenhum (Rm 7.20), e que querer fazer o bem estava nele mas não a capacidade de efetuá-lo(Rm 7.18).

Tanto é assim que ele diz que esmurra seu próprio corpo (I Co 9.27) para não ser desclassificado, o que demonstra o esforço pessoal de lutar a luta de se consagrar a Deus.
Quando Paulo diz que esmurra seu corpo ele se utiliza de uma metáfora para demonstrar sua batalha pessoal contra a força do pecado, pois sabe bem que sua carne não só não era convertida a Cristo como também fazia oposição ao Seu senhorio.
E ao falar em esmurrar o próprio corpo o apóstolo  demonstra que é ele quem faz isto e não Deus, ou seja, não é Deus quem esmurra o corpo de Paulo mas o próprio Paulo que assim  se dedica porque deseja santificar-se ao Senhor.

Deste modo, um crente que deseja desenvolver sua salvação terá que empenhar sua vontade e disposição pessoais para observar os preceitos de Deus e se encaminhar na direção de um viver reto.

Se não fosse assim, se não houvesse o envolvimento pessoal da vontade do salvo em viver verdadeiramente como salvo Jesus não teria dito: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me (Mt 16.24).

O renunciar-se, o tomar a cruz e o seguir a Cristo envolve uma decisão pessoal que não pode ser substituída pela vontade de qualquer outra pessoa, inclusive pela de Deus mesmo.

Voltando a carta aos Filipenses agora no verso 13, o apóstolo escreve: Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.

Este verso, na forma como apresentado em muitas versões tem causado discussões sobre a atuação de Deus na vida do crente.

Muitos pensam que a partir deste verso o apóstolo está dizendo que é Deus quem põe um querer no crente, querer este que é segundo a Sua vontade, de modo a dar a ideia de que a vontade do crente é totalmente aniquilada a partir de então.

No entanto, em primeiro lugar é preciso dizer que o verso 13 está intimamente ligado ao verso precedente, o qual tem a ver com o operar de Deus nos crentes, mas daqueles que estão querendo ou dispostos a desenvolver sua salvação.

Em segundo lugar, se Deus opera nos crentes, como dizem alguns, colocando neles uma vontade  que não seja a deles mesmo mas a de Deus, isto  quer dizer que há  crentes que  não têm de empenhar sua vontade humana e pessoal no processo de viverem retamente, porque a vontade de Deus neles colocadas para este fim por si só se incumbe disto.

Em terceiro lugar, se Deus é quem coloca Sua vontade nos crentes para eles quererem o que Deus quer, isto quer dizer que se os crentes não têm querido o que Deus quer é porque Deus não colocou neles uma vontade nestes termos, e sendo assim a culpa deles não quererem Deus seria em último caso de Deus mesmo, que não colocou neles tal vontade.

O que tem levado a entendimentos desta natureza é que a  tradução nem sempre  faz jus ao escrito original, pois na forma como Paulo escreveu  a melhor leitura do verso 13 teria que ser feita nos seguintes termos: Deus é que dinamiza em vós o querer, como também dinamiza em vós a disposição de viver retamente.
Dinamizar traz a ideia de fortalecer, de vitaminar, de sustentar, de dar poder, o que significa dizer que Deus fortalece a vontade pessoal do crente que se dispõe a desenvolver sua salvação.
Desenvolver a salvação requer  dedicação, ação e esforço pessoal do crente de lutar contra a lei do pecado que habita em sua carne; desenvolver a salvação  envolve a disposição do crente de não se fazer amigo do mundo para não se constituir em inimigo de Deus e, finalmente, desenvolver a salvação requer vigilância contra as astutas ciladas do inimigo para que nenhum laço prenda os pés em  armadilha alguma.
Como tudo isto requer um esforço sobre-humano o crente necessita contar com a dinamização ou com a “vitaminização” da sua vontade com o poder que procede de Deus, através do Espírito Santo, o qual lhe é conferido graciosamente pelo Senhor, para que sua vontade não se esmoreça e ele perca o ânimo na caminhada.

Assim, pensar que o verso 13, conforme o entendimento comum, é que Deus faz o crente querer , de modo que se ele não quer é porque Deus não operou nele o desejo de querer, não faz jus ao escrito e em última análise culpa Deus por eventual ausência de vontade do crente de desenvolver sua salvação, o que é um absurdo.
Portanto, a melhor leitura dos versos 12 e 13 é que o crente que desejar desenvolver sua salvação poderá contar com a disposição de Deus de ajudá-lo neste processo, ajuda esta que consiste em lhe dar poder para que sua vontade pessoal de viver retamente seja capacitada pelo poder do alto.
Da conjugação da vontade pessoal do crente com a dinamização que procede de Deus é que a vitória contra o pecado, contra o mundo e o inimigo será assegurada.
Portanto, Deus operar em você o querer não é Deus fazendo você querer, mas sim, Deus fortalecendo o seu querer pessoal de viver para Ele.

Portanto, queira Deus e Sua glória e você contará com Deus e Seu poder para viver para Ele.
Lutero de Paiva Pereira

Um comentário:

  1. Querido Lutero de Paiva, amei suas palavras, mas permita-me com todo o respeito e amor que eu deva ter pelo irmão fazer uma colocação pessoal do lindo texto acima. É certo que nenhuma boa dádiva e dom perfeito é algo que seja humano, vem do alto vem de Deus Tg 1.17, mas como é que eu alcancei isso, foi quando eu decidi desenvolver em mim o querer de Deus. O Espírito Santo me convence do pecado e do juizo de Deus e então eu decido que não devo mais pecar ou continuo pecando, ai sim Deus vai ser meu aliado em todo o meu esforço e desejo de andar em retidão.
    Concordo plenamente quando disse que existe um querer humano, mas houve antes um esclarecimento do Espírito Santo de qual seria a vontade de Deus, pois o homem não pode fazer nada sem Jesus. Porque D'ele por Ele e para Ele são todas as coisas a ele para sempre seja a glória para todo sempre amém.

    Ex.: Deus me mostra o seu querer no sentido de que eu seja aperfeiçoado na palavra D'ele, mas eu decido não me esforçar em querer a operação do querer D'ele em minha vida e começo a colocar dificuldades do tipo, não tenho tempo, um curso para aprender um hebraico ou grego precisa de investimento alto, então o querer de Deus se deparou com a minha falta de vontade e eu perdi uma ótima oportunidade de ver a vontade de Deus prevalecer na minha vida, mas se decido pelo sim, Ela me dá recurso, entendimento, prazer em fazer a sua vontade, proteção... do contrário seria mérito humano e a glória não seria de Deus.

    Um abraço querido e que Deus continue te abençoando.

    Helio Valentim

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