sábado, 31 de março de 2012

A SORTE DO FILHO PRÓDIGO

Doente, faminto, fraco, sujo e sem qualquer possibilidade de sobreviver por mais tempo naquelas condições na  terra longínqua, o filho pródigo tomou uma decisão: lenvantar-me-ei e irei ter com o meu pai (Lc 15.18).
Diz que voltaria porque sabia que o pai era bom para com seus empregados, e que sendo recebido como um deles, e não mais como filho, pois não merecia mais tal privilégio, já seria para ele uma grande coisa.
A distância entre o lugar onde estava e aquele para onde deveria voltar era grande o suficiente para encontrar muita gente pelo caminho, inclusive pregadores e missionários.
Todavia, teve sorte o jovem combalido ao não encontrar ninguém, menos ainda pregadores e missionários quando do seu retorno.
Afinal, se os encontra é bem possível que até hoje estivesse na terra longínqua lamentando sua situação ou, o que é pior, vivendo ali com um espírito religioso que lhe comunicava a idéia de que tinha direitos de filho e não de empregado caso resolvesse voltar para casa.
Porque se fala em sorte em não encontrar pregadores e missionários se pregadores e missionários são estimados como arautos do evangelho?
A razão é simples. A considerar o que fazem os pregadores e missionários modernos, qualquer deles que tivesse se interposto entre o filho e o pai, sua mensagem desanimaria o jovem a prosseguir em direção ao encontro desejado ou ao menos retardaria muito esse acontecimento.
Afinal, não pregam o evangelho da graça, mas o evangelho das obras, das maldições, etc.
Um sermão falaria ao jovem que ele não poderia ser recebido pelo pai naquelas condições, pois estava muito sujo  para um encontro tão importante.
Ao final da mensagem o apelo seria feito no sentido de levar o jovem a se lavar, a  limpar-se e para isto o pregador certamente lhe oferecia o chuveiro, o perfume e a roupa necessária para estar bem, é claro, desde que o rapaz se prontificasse a dar uma oferta para a obra.
É possível que outro pregador disesse ao rapaz que seu encontro com o pai  diante tudo para ser  terrível, pois o pai seria severo para com ele, já que seus bens e, de alguma forma o próprio nome da familia, teriam sido afetados pelo seu comportamento fora de casa.
A proposta da pregação era preparar o rapaz para receber a punição devida.
Colocando medo no rapaz o pregador ofereceria um alívio através de sua intercessão feita com jejum, é claro, se ele comprasse cd's de testemunhe que eram vendidos para arrecadar fundos para o  trabalho.
Finalmente, não seria incrível também pensar que o jovem ouviria de outro missionário que depois de passar longo tempo na terra longínqua ele trazida consigo algum tipo de maldição, cuja libertação somente poderia ser alcançada num culto específico para este fim.
O rapaz, porém, teria que retardar alguns dias sua volta para casa até que na reunião de poder ficasse livre de todo mal.
Outras coisas teria ouvido o rapaz se tivesse encontrado pelo caminho um pregador da "graça" ou um missionário libertador, daqueles que Jesus chamou de fechadores de portas ou trancadores do acesso ao reino de Deus, os quais não conhecem nem Deus, menos ainda sua graça.
Ai de vós, disse Jesus, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando (Mt 23.13).
Escribas e fariseus – legalistas ao extremo - se incomodavam  com o fato de Jesus comer com pecadores, com homens e mulheres que a semelhança do filho pródigo estavam em condição degradante para estarem junto dEle.
Jesus fazia isto não para provocá-los, mas sim, porque a essência da salvação é chamar pecadores ao arrependimento e torná-los participantes do Reino de Deus.
Como o filho pródigo teve a “sorte” de não encontrar pelo caminho campanhas missionárias patrocinadas por escribas e fariseus, lá foi ele do jeito que estava – doente, sujo, pobre, maltrapilho – em direção a casa do pai, arrependido por tudo que tinha feito.
E como seguiu em frente provou da graça e do amor do pai, que não somente o recebeu do jeito em que se encontrava, como mandou lhe dar banho, trocar a roupa, colocar sandálias nos pés, anel na mão para sentar-se com ele a mesa e celebrarem juntos o fato de que ele estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado (Lc 16.32).
A parábola nos ensina que a necessidade do pecador não é ouvir apelos religiosos nem mandamentos para serem cumpridos, nem mesmo satisfazer condições antes do encontro com Cristo, pois não está habilitado para coisa alguma neste sentido.
O que o pecador mais necessita nestas horas, a semelhança do filho pródigo, é encontrar-se com Pai para receber dele a provisão necessária ao seu pleno restabelecimento.
É em Cristo que Deus se encontra com o pecador arrependido, e é Cristo quem lhe dá tudo aquilo que perdeu enquanto viveu no pecado, a saber: o relacionamento com o Pai, a roupa, o anel, as sandálias, a saúde, a alegria e o ambiente do lar.
Que os pecadores dos nossos dias encontrem-se diretamente com Cristo antes mesmo de ouvirem  tais  pregadores, e isto para que seu encontro com o Pai seja real e ambos tenham satisfação.


O Pai, por receber como filho um pecador que se arrepende e  pecador por ser recebido pelo Pai na condição de filho.
Lutero de Paiva Pereira

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