segunda-feira, 19 de março de 2012

“EM MEMÓRIA DE MIM”

No texto da Escritura utilizado pela igreja no momento da ceia do Senhor, há uma ênfase que nem sempre é levada em conta à altura de sua importância, e isto para prejuízo dos próprios crentes. A ênfase em questão é que a ceia é um momento para se trazer a memória ou para se lembrar de forma bem mais objetiva da pessoa e da obra de Jesus 


Como a mente humana não consegue lembrar-se intensamente de duas coisas ao mesmo tempo, esta sua limitação exige que  na ceia a atenção se volte exclusivamente para Cristo, sob o risco de neste próprio  momento a mente se inundar de outras lembranças e o tempo transcorrer sem nenhum proveito espiritual para o seu participante.
Os elementos pão e vinho não têm valores em si mesmos, sabem bem os crentes reformados, mas eles são utilizados com um significado que não pode ser perdido de vista que é aportar para  Cristo.
O cálice, por exemplo, fala da  nova aliança de Deus com seu povo através do sangue de Cristo, aliança esta que deve ser lembrada e considerada naquele instante para glória do Salvador e bem-estar dos salvos.
É fato que para saber dos grandes benefícios da nova aliança o crente precisa conhecer não só do conteúdo de suas bênçãos, como também de como era a antiga aliança, pacto que Deus havia feito com Israel no Antigo Testamento.
Afinal, só existe nova aliança porque existiu uma velha aliança, e isto está bem  claro na carta aos  hebreus.
E é do contraste entre a antiga e a nova aliança que se descobre a superioridade do pacto atual, e de quão espetaculares são seus efeitos. Ao se entender assim o coração ficará grato a  Deus por estar aliançado com Ele através de Cristo.
Mas para conhecer ambas a alianças e provar dos benefícios do novo pacto o crente precisa ser mais instruído na Escritura, pois sem a informação vinda da Palavra nada disto é possível.
Se se perguntasse a igreja no momento da ceia o que é nova aliança é bem provável que poucos saberiam dizer, e os que se atravessem a responder talvez não o fizessem com o devido acerto.
Esta ignorância sobre a verdade torna os crentes espiritualmente “subdesenvolvidos”, pois os faz participar da ceia como um mero ritual religioso que desta forma nada lhes comunica de realidade.
 Deste modo, sem se lembrar de Cristo e de Sua obra ao tempo da ceia, o crente não dá a Cristo a devida honra e deixa de experimentar da maravilhosa realidade espiritual que consiste em participar dos elementos como um memorial ao Senhor.
Portanto, como a ceia aponta diretamente para Cristo, no momento em que dela se participa não é recomendado  olhar para si mesmo num constante processo de auto-exame, pois ela não foi instituída para este fim, como também não é tempo para lembrar dos irmãos, como se a reunião se prestasse à proclamação de frases de conteúdo fraternal entre seus participantes, menos ainda um ato religioso para ser cumprido dentro do processo litúrgico.
Com efeito, ao instituir a ceia Jesus foi enfático: fazei isto em minha lembrança (1 Co 11.24/25) ou, noutra tradução, fazei isto em memória de mim, de modo que biblicamente falando não há espaço na ceia para outra coisa que não seja para trazer à memória Cristo e Sua obra.
Se durante os dias da semana o crente não tem sua mente suficientemente centrada em Cristo para considerar sua obra e pessoa, o que é uma realidade, cumpre ao pastor, na ministração da ceia, utilizar-se do texto sagrado com a ênfase que ele carrega, e isto para que através dos elementos – pão e vinho – os participantes da mesa  lembrem-se daquele de quem nunca deveriam ter se esquecido.
Com efeito, é na exata proporção que Cristo vai sendo apagado da memória dos crentes, é que sua vida espiritual vai diminuindo de fulgor.
No cativeiro Jeremias escreveu: quero trazer à memória aquilo que me dá esperança (Lm 3.21).
Se você está vivendo situação tal que a alegria da salvação e o amor a Cristo sumiram do coração, o melhor a fazer é trazer à memória algo que lhe dá esperança e vivifique seus dias, a saber, Jesus Cristo.
Deste modo, na próxima ceia participe dela com o objetivo para qual ela foi instituída, ou seja, para ser um memorial de mim, ou seja, um momento para Jesus Cristo ser lembrado mais firmemente por aqueles que Ele salvou.
Siga, portanto, a orientação do Senhor que ao instituir a ceia chamou a atenção dos discípulos para o seguinte fim: fazei isto em memória de Mim.
Lutero de Paiva Pereira

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