sexta-feira, 23 de março de 2012

PREGA A PALAVRA


A reforma protestante ocorrida no século XVI tinha uma proposta clara a defender. Que a igreja se voltasse para a Palavra de Deus, de modo que a Palavra fosse o centro de suas ocupações.
O protesto, portanto, não foi um movimento conclamando a uma atitude contra alguma coisa mas sim, a uma atitude a favor de algo, e este consistente na pregação da Palavra sempre.
Portanto, o sentido correto da palavra protestante, no caso do movimento referido, é ser a favor e não contra algo ou alguém.
Deste modo, é incorreto pensar que ser protestante é ser contra católico, pois ser contra católico não implica necessariamente em ser a favor da Escritura, ou ser a favor da Escritura em ser contra católico.
A Palavra de Deus, pensavam os reformadores, não poderia ser menosprezada pela igreja de Deus, sob risco dela andar por caminhos contrários a Sua vontade.
Esta preocupação com a Palavra, no entanto, precede a reforma e vem de tempos remotos, encontrando na voz do próprio apóstolo Paulo seu defensor mais ferrenho.
A Timóteo, seu verdadeiro filho na fé (I Tm 1.2), ele conclama: prega a palavra (II Tm 4.2).
E fazia tal advertência ao jovem pregador para estimulá-lo a não se desviar deste objetivo maior do seu labor, porque sabia que em breve ele encontraria todo tipo de resistência contra seu ministério de anunciador da verdade.
Paulo observa: pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se a fábulas (II Tm 4.3-4).
As fábulas ou os mitos atrairiam as pessoas mais do que a própria verdade, e fazendo assim elas não mais suportariam ouvir esta enquanto estivessem afeiçoadas àquelas.
Mas como Timóteo deveria manter seu compromisso com a Palavra, isto é, com a verdade, mais do que com seus próprios ouvintes, notadamente quando estes não queriam ouvir a verdade, ele deveria continuar a pregar a Palavra e não as fábulas ou os mitos que os homens desejavam que lhes fossem anunciadas.
Esta “coceira nos ouvidos” presente dos dias de Timóteo ainda se encontra atuante hoje, e muitas igrejas não fazem do culto outra coisa senão em acariciar esse comichão com práticas pouco ortodoxas.
Assim, umas igrejas ostensivamente se ocupam em pregar mitos e fábulas quando fazendo uma interpretação absurda da Escritura dizem a seus membros, por exemplo, que como Deus é o senhor da prata e do ouro eles serão enriquecidos por Deus; ou, que sendo filhos de Deus o mar se abrirá diante deles em qualquer situação para que passem a pés enxutos vencendo todo tipo de problema ou resistência que diante deles se apresente; ainda, que pela fé poderão determinar que as coisas aconteçam e elas acontecerão, independentemente do que se quer e do motivo pelo qual se deseja ter, etc.
Tudo isto não passa de lendas, fábulas ou mitos que fazem bem aos ouvidos que coçam por coisas que nada dizem respeito ao evangelho de Cristo.
Outras igrejas, menos agressivas, não pregas  mitos ou lendas de forma tão acintosa, mas também não se importam em pregar a palavra, deixando o culto transcorrer com outras coisas.
Afastando-se das Escrituras e afastando as Escrituras da reunião essas igrejas entregam o momento do culto a fluência dos tais “ministros” de louvor ou, como queiram, dos “levitas”, para que ao seu bel prazer eles ouricem o povo com uma musicalidade e teatro de nenhum proveito  à fé.
O que os “levitas” modernos se propõem  é, isto sim, fazer a igreja levitar, a sair do chão, a deixar a realidade naquele momento com ritmos e letras que agradam a coceira espiritual dos ouvidos daqueles que não querem nada com a verdade.
E para assessorar os “levitas” e alucinar ainda mais o povo, um grupo de bailarinas se poe a saltar de um lado para o outro, tornando o culto artisticamente ruim e espiritualmente terrível.
Como herdeiros da reforma protestante precisamos protestar em favor da volta da Escritura como centro da reunião da igreja, de modo que ela seja lida e proclamada com respeito e reverencia, cumprindo seu papel não só de edificar os santos, como também de “limpar” o templo, retirando dali tudo aquilo que não lhe diz respeito, do mesmo modo que Jesus alijou do templo os cambistas que dele haviam se apossado para fim diferente de sua proposta primeira.
Pregar a palavra, eis a função do homem comprometido com o evangelho de Cristo; ouvir a palavra¸ eis a necessidade do homem que ama o evangelho do reino; limpar ou purificar a igreja, eis o poder da palavra proclamada.
Lutero de Paiva Pereira


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