A reforma protestante ocorrida no século XVI tinha uma
proposta clara a defender. Que a igreja se voltasse para a Palavra de Deus, de
modo que a Palavra fosse o centro de suas ocupações.
O protesto, portanto, não foi um movimento conclamando a uma
atitude contra alguma coisa mas sim, a uma atitude a favor de algo, e este consistente
na pregação da Palavra sempre.
Portanto, o sentido correto da palavra protestante, no caso
do movimento referido, é ser a favor e não contra algo ou alguém.
Deste modo, é incorreto pensar que ser protestante é ser
contra católico, pois ser contra católico não implica necessariamente em ser a
favor da Escritura, ou ser a favor da Escritura em ser contra católico.
A Palavra de Deus, pensavam os reformadores, não poderia ser menosprezada pela igreja de Deus, sob risco dela andar por caminhos
contrários a Sua vontade.
Esta preocupação com a Palavra, no entanto, precede a
reforma e vem de tempos remotos, encontrando na voz do próprio apóstolo Paulo seu defensor mais ferrenho.
A Timóteo, seu verdadeiro
filho na fé (I Tm 1.2), ele conclama: prega
a palavra (II Tm 4.2).
E fazia tal advertência ao jovem pregador para estimulá-lo a não
se desviar deste objetivo maior do seu labor, porque sabia que em breve ele encontraria
todo tipo de resistência contra seu ministério de anunciador da verdade.
Paulo observa: pois
haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão
de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos
ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se a fábulas (II
Tm 4.3-4).
As fábulas ou os mitos atrairiam as pessoas mais do que a
própria verdade, e fazendo assim elas não mais suportariam ouvir esta enquanto estivessem
afeiçoadas àquelas.
Mas como Timóteo deveria manter seu compromisso com a
Palavra, isto é, com a verdade, mais do que com seus próprios ouvintes,
notadamente quando estes não queriam ouvir a verdade, ele deveria continuar a pregar a Palavra e não as fábulas ou os
mitos que os homens desejavam que lhes fossem anunciadas.
Esta “coceira nos
ouvidos” presente dos dias de Timóteo ainda se encontra atuante hoje, e
muitas igrejas não fazem do culto outra coisa senão em acariciar esse comichão com práticas pouco ortodoxas.
Assim, umas igrejas ostensivamente se ocupam em pregar mitos e fábulas quando fazendo uma interpretação absurda da Escritura dizem
a seus membros, por exemplo, que como Deus é o senhor da prata e do ouro eles serão enriquecidos por Deus; ou, que sendo filhos de Deus o mar se abrirá
diante deles em qualquer situação para que passem a pés enxutos vencendo todo
tipo de problema ou resistência que diante deles se apresente; ainda, que pela fé
poderão determinar que as coisas aconteçam e elas acontecerão, independentemente
do que se quer e do motivo pelo qual se deseja ter, etc.
Tudo isto não passa de lendas, fábulas ou mitos que fazem bem
aos ouvidos que coçam por coisas que
nada dizem respeito ao evangelho de Cristo.
Outras igrejas, menos agressivas, não pregas mitos ou
lendas de forma tão acintosa, mas também não se importam em pregar a palavra, deixando o culto
transcorrer com outras coisas.
Afastando-se das Escrituras e afastando as Escrituras da reunião
essas igrejas entregam o momento do culto a fluência dos tais “ministros” de louvor ou,
como queiram, dos “levitas”, para que ao seu bel prazer eles ouricem o povo com uma
musicalidade e teatro de nenhum proveito à fé.
O que os “levitas” modernos se propõem é, isto sim, fazer a
igreja levitar, a sair do chão, a deixar a realidade naquele momento com ritmos e letras
que agradam a coceira espiritual dos
ouvidos daqueles que não querem nada com a verdade.
E para assessorar os “levitas” e alucinar ainda mais o povo, um
grupo de bailarinas se poe a saltar de um lado para o outro, tornando o
culto artisticamente ruim e espiritualmente terrível.
Como herdeiros da reforma protestante precisamos protestar em
favor da volta da Escritura como centro da reunião da igreja, de modo que ela
seja lida e proclamada com respeito e reverencia, cumprindo seu papel não só de
edificar os santos, como também de “limpar” o templo, retirando dali tudo
aquilo que não lhe diz respeito, do mesmo modo que Jesus alijou do templo os
cambistas que dele haviam se apossado para fim diferente de sua proposta
primeira.
Pregar a palavra, eis a função do homem comprometido
com o evangelho de Cristo; ouvir a
palavra¸ eis a necessidade do homem que ama o evangelho do reino; limpar ou purificar a igreja, eis o poder da palavra proclamada.
Lutero de Paiva Pereira
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