quinta-feira, 22 de março de 2012

O EVANGELHO. SÓ O EVANGELHO. SEMPRE O EVANGELHO



Ao iniciar sua carta mais profunda em termos doutrinários, a saber, a epístola aos romanos, o apóstolo Paulo principia dizendo que ele foi separado para o evangelho de Deus (v.1), evangelho este prometido nas escrituras sagradas (v.2). 
Por este pequeno relato já fica evidente que aquilo que Paulo via no Antigo Testamento é bem diferente do que normalmente vêem os pregadores modernos, pois enquanto ele observa ali Deus prometendo o evangelho, os outros só conseguem visualizar judeus, lutas, guerras, gigantes, etc.
E tanto é assim que os sermões construídos a partir daquela Escritura nunca apontam para o evangelho de Deus.
Enquanto os pregadores se ocupam do Antigo Testamento para falar de acontecimentos espetaculares envolvendo os judeus,  enaltecendo heróis bíblicos, Paulo vai além e observa ali o evangelho ou as boas novas de Deus para os homens.
Se o Velho Testamento tinha como objetivo dar destaque aos judeus e não ao evangelho, o apóstolo Paulo que era judeu e da tribo de benjamim, portanto, hebreu de hebreu (Fp 3.5) teria visto lá os judeus e não o evangelho. No entanto, sendo propósito da Escritura tratar de Cristo, mesmo no tempo que relata a história do povo de Deus, o evangelho de Deus precisa ser visto ali por quem teve os olhos desvendados pela graça.
O apóstolo faz questão então de registrar que esse evangelho prometido por Deus nas escrituras sagradas diz respeito a seu Filho, o qual nasceria da descendência de Davi, segundo a carne (v.3).
Com tal objetividade Paulo põe em evidencia que as boas novas têm a ver com Jesus Cristo, o Filho amado de Deus o qual, na sua visão, era o centro do Antigo Testamento e não poderia deixar de sê-lo também do Novo Testamento.
Quando fala diretamente de Jesus o apóstolo diz que foi por Sua ressurreição dentre os mortos que Jesus foi declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação (v.4), de modo que pela Sua ressurreição está mais que provado que Ele era o Filho de Deus, cuja vinda ao mundo havia sido anunciada pelos profetas nas Escrituras.
Como Paulo estava escrevendo a homens e mulheres que haviam sido chamados para serdes de Jesus Cristo (v.6), isto significa que os destinatários da epístola eram crentes, isto é, pessoas que já haviam sido salvas pelo evangelho, o evangelho prometido por Deus nas escrituras sagradas e cumprido em Jesus Cristo.
Bem. Se Paulo escrevia para pessoas já evangelizadas, seria de esperar que ele lhes falasse novamente do evangelho?
Na visão moderna a resposta seria não, pois em geral se entende que pessoas já evangelizadas não precisam mais saber do evangelho, mas de outras coisas mais "elevadas".
No entanto,  Paulo pensava de outra maneira.
Para ele seja o homem não regenerado, seja o pecador que já nasceu de novo pelo poder do evangelho, ambos precisam saber sempre e cada vez mais do evangelho, pois sendo o evangelho a própria pessoa de Cristo e sua obra ele é algo inesgotável que deverá ser apresentado sempre a todos.
Assim, Paulo anunciava o evangelho, só o evangelho e sempre o evangelho, tanto na  evangelização dos perdidos quanto na edificação da igreja. 
Após dizer que ele dava graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé (v.8), demonstrando o quão notória era a fé dos romanos, e que por várias vezes quis estar com eles, Paulo prossegue dizendo que estava pronto para também vos anunciar o evangelho (v.15).
Noutras palavras, Paulo deseja falar do evangelho aos que já haviam sidos salvos pelo evangelho.
Como na visão do apóstolo o evangelho de Cristo é o poder de Deus (v.16) no qual se descobre a justiça de Deus (v.17), os romanos tinham muito mais aprender do evangelho do que dele já tinham experimentado, de modo que precisavam saber mais coisas a seu respeito do que já sabiam.
A partir destas palavras introdutórias Paulo passa a escrever sobre o evangelho de Deus na perspectiva da revelação de Sua justiça, e isto para que os crentes, homens e mulheres já evangelizados, tivessem uma visão mais profunda do evangelho de Deus.
Com efeito, é míope a visão que muitos têm de que o crente não mais precisa conhecer do evangelho depois que foi salvo, e que sua edificação advém do conhecimento de outras coisas que não seja o próprio evangelho, ignorando que à luz da Escritura, ao menos daquela que é adjetivada de sagrada, além do evangelho nada mais se pode aprender.
Na verdade edificação nada mais é que o processo de se conhecer e crer cada dia mais em Jesus Cristo, o evangelho prometido por Deus nas Escrituras antigas, e que nas páginas do Novo Testamento é tratado de forma clara por todos os escritores.
A igreja, portanto, precisa ouvir o evangelho, só o evangelho e nada mais do que o evangelho, mesmo porque fora dele não há nada de Deus para ela.
E se a igreja se afasta deste centro, ainda que sob o pretexto de conhecer doutrinas, ela perde a vida do evangelho que está em Cristo e não na doutrina que aponta para Cristo.
Portanto, é tempo de aprender a olhar o Antigo Testamento como as páginas que registram a promessa de Deus sobre o evangelho e o Novo como as páginas que relatam para o cumprimento desta promessa, vendo a Bíblia toda como um livro do evangelho do Filho de Deus.
Se fora de Cristo não há bênçãos de Deus, em Cristo todas elas estão presentes, razão pela qual o apóstolo escreveu aos efésios: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef 1.3).
O coração que desejar o que Deus deseja haverá de se inclinar a conhecer o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo (Ef 3.8), e aquele que a isto se afeiçoar verá quão enriquecedor ele é. Portanto, voltar para o evangelho é o melhor retorno para quem deseja andar pelo caminho reto.
 Lutero de Paiva Pereira

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