terça-feira, 25 de outubro de 2011

VIVER PELA FÉ

Viver pela fé é a maior exigência da graça e ao mesmo tempo a grande graça da exigência, pois se fosse exigido viver pelas obras o cristão não poderia ter nem  alegria nem  paz no processo de agradar a Deus.
Dentre tantas máximas da Bíblia o viver pela fé é uma daquelas que deveria despertar regozijo em razão de seus benefícios e, no entanto, nem sempre é vista como tal.
Basta pensar o contrário para compreender  quão maravilhoso é o fato da Bíblia estabelecer que o justo viverá pela fé. Ou seja, se Deus tivesse  dito ou exigido que o justo vivesse não pela fé mas pela obras, isto é, pelo seu esforço pessoal, o viver humano do crente seria insuportável.
No entanto, mesmo em razão da Bíblia prescrever que o justo viverá pela fé, a grande maioria dos jutos parece pretender  viver pelas obras, o que é lamentável.
Fé implica em confiar e o confiar gera descanso, de modo que quando se confia em algo ou alguém o resultado da confiança é descanso de que aquele algo ou alguém é capaz e idôneo o suficiente para oferecer o que dele se espera.
Uma pessoa que viaja de avião e confia nele, é capaz de descansar o suficiente para dormir enquanto se encontra nas maiores alturas. Se, no entanto, ela não confia no avião no voo não descansará um minuto sequer e tentará  internamente a “ajudar” o avião a voar fazendo contrações com seus músculos. Ela fará esforço para o avião sair do chão, continuará fazendo no ar pra que ele faça as curvas e quando do pouso “colaborará” com seus pés para ele parar. Logicamente tudo isto sem nenhuma utilidade para a aeronave.
É lógico que o passageiro que faz todo este esforço para o avião ir tranqüilo não ajuda o avião em nada, mas por falta de confiar nele não tem como descansar enquanto ele faz aquilo que somente ele é capaz de fazer. 
A falta de confiança no avião faz o incrédulo passageiro agir quando deveria descansar e por isto não experimenta a própria beleza de voar.
O crente que não vive pela fé, que não vive confiando naquele que Deus disse que ele deve confiar, a saber, Jesus Cristo, não tem vida de descanso e enquanto vive se desgasta com esforço inútil de querer acrescentar algo a Cristo e a sua obra em seu favor.
O viver pela fé é uma máxima para todos os crentes, e não somente para aqueles que alegando dedicação a causa de Cristo deixam de trabalhar e dizem que daí por diante vão viver pela fé. Isto não é viver pela fé mas simplesmente viver sem trabalhar. Paulo, por exemplo, foi um justo que viveu pela fé e enquanto isto trabalhou para não ser pesado a ninguém (1 Tes 2.9).
Viver pela fé, segundo os termos da Escritura, é viver crendo totalmente e constantemente em Cristo e em sua obra , de modo que o crente nada precisa fazer pra se tornar mais do que aquilo que Cristo já o tornou, ou seja, um justo diante de Deus.
Se você está em Cristo, deixe que Cristo mesmo o leve a Deus e a viver para Deus enquanto nele você descansa, do mesmo modo que o passageiro deve saber que é o esforço do avião e não o dele que o eleva acima das nuvens e o faz retornar a terra.
Voar é obra do avião e não do passageiro. A obra do passageiro dentro do avião é crer no avião.
Justificar a pessoa diante de Deus é obra exclusiva de Cristo é a obra do cristão é crer em Cristo e nada mais, e fazer isto até o fim de sua jornada.
O viver pela fé em Cristo leva o crente a fazer caminhos retos pela própria retidão de Cristo, e em razão disto provar de descanso na vida, descanso de não ter que ser aquilo que não conseguiria ser por esforço pessoal.
O apóstolo Paulo expressou bem este viver crendo quando disse: a vida que eu vivo, vivo-a pela fé no Filho de Deus (Gl 2.20).
Olhe a vida de uma pessoa religiosa legalista, de um homem ou de uma mulher que vive cumprindo leis e mandamentos, tantas vezes leis e mandamentos humanos como meio de agradar a Deus, e você verá quão terrível é a vida daquele que não vive pela fé mas sim, pelo esforço de guardar prescrições que a Bíblia mesmo diz que para nada servem, pois são um verdadeiro culto a si mesmo (Cl 2.23).
São esforços que elevam o grau de orgulho pessoal de se achar capacitado para fazer sacrifícios e de suportar dores que os outros parecem incapazes de aguentar.
O ser humano pecaminoso é tão esquisito que se orgulha de ser maior do que o outro pelo fato de suportar pesos religiosos que a seus próprios olhos o torna puro, enquanto olha com desdém para aquele que não se dá a mesma prática.
Tais pessoas descansam em si mesmas; descansam naquilo que fazem; descansam em sua própria santidade, e por que vivem assim não têm o verdadeiro descanso que Cristo oferece.
O escritor sagrado já disse que quem entrou no descanso de Deus ele mesmo descansou de suas próprias obras (Hb 4.10) e o descanso de Deus para o homem é Cristo, e quem está em Cristo descansou do seu trabalho de querer agradar a Deus com dedicação pessoal.
O irmão do filho pródigo é uma figura característica do crente que vive apostando em si mesmo como meio de receber bênçãos de Deus. O rapaz disse ao pai: a tanto tempo de sirvo, e nunca me deste um cabrito para me alegrar com meus amigos ( Lc 15.29). Nestas poucas palavras ele vaza a amargura do coração em relação ao pai, pois sempre se achou um responsável em trabalhar para ele, sem nunca ter sido recompensado a altura do seu dedicado esforço. O pai lhe responde: filho, tudo que tenho é teu (Lc 15.31). Ou seja, o pai demonstra para o filho que o que o impediu de desfrutar das coisas do pai não foram as regras do pai, mas regras quer ele mesmo criou. Ou seja, a regra do filho era que trabalhando teria que ser pago pelo trabalho feito ao pai. Mas o pai pensava diferente. A regra do pai via o filho como filho e não como empregado, e na condição de filho com direito a tudo e somente a um cabrito.
Mas o filho queria ser tratado como servo, porque foi como servo e não como filho que ele se relacionou com o pai.
Não poucos crentes sendo filhos de Deus vivem com Deus uma relação de empregado de Deus, e nesta condição querem ser tratados como trabalhadores, com direito a receber algo por mérito do trabalho e não como obra da graça do Pai.
E quem põe esta regra para si mesmo se amargura com Deus.
A vida de filho que vive como servo não é uma vida vivida pela fé, mas sim vivida pelo esforço.
Olhe também para o não crente, para o homem que ainda não creu em Jesus Cristo o qual pensa que suas obras pode torná-lo bom e aceitável diante de Deus sem ter que se render a Cristo.
Ele também se exaure enquanto se orgulha do fato de se apresentar como pessoa bondosa diante de si mesmo.
Vive falando de seus feitos e não consegue admitir que outros não façam aquilo que ele faz com tanta dedicação.
Não que a obra em si mesma seja errada, pelo contrário, é obra louvável. O problema é que a motivação está incorreta, pois no fundo da alma o seu intento é achar-se merecedor do favor divino por ser um feitor exemplar de coisas boas.
E porque faz muitas coisas enquanto outros fazem pouco ou quase nada, ele está sempre se achando melhor do que eles, de modo que pensa que Deus lhe deve mais do que deve ao seu semelhante.
Quando Martinho Lutero descobriu a máxima de que o justo viverá pela fé esta verdade revolucionou sua vida. Suas teses foram lançadas em favor das Escrituras no sentido de que o povo deveria ter contato com a Palavra de Deus para que essa verdade os libertasse da escravidão de terem de cumprir ordens e preceitos religiosos como condição de serem agradáveis a Deus, os quais eram insuficientes para tão elevado propósito.
O justo, isto é, o pecador que foi justificado por Cristo tem que viver com fé em Cristo sempre, e se deixa de confiar em Cristo um só instante para confiar em seu esforço religioso pessoal, neste instante perde o descanso e deixa de ter um coração grato a Deus.
Fé gera confiança, confiança gera descanso, descanso gratidão a Deus, e gratidão a Deus compromisso com Ele.
Conclusão
A máxima bíblica de que o justo viverá pela fé deve ser tomada como uma graciosa prescrição de Deus para seus filhos, e como mandamento deve ser cumprida pelo coração obediente.
Entender a máxima de que o justo viverá pela fé faz o coração do crente devotar total amor a Deus, principalmente quando descobre de que se a ordem fosse outra, ou seja, de viver pelas obras ele jamais conseguiria satisfazer os preceitos de Deus para levar uma vida reta.
Finalmente, a máxima de que o justo viverá pela fé não é e nem promove um estilo de vida descompromissado com Deus, mas pelo contrário um apego e uma responsabilidade ainda maiores com a verdade, pois quem entende bem o que isto significa não terá senão como ser um crente fiel ao Senhor.
Que o diga o apóstolo Paulo que vivendo pela fé foi capaz de dizer: deixando para trás o que para traz fica, prossigo para o alvo da soberana vocação em Cristo (Fp 3.13 ) ou ainda, que o que para mim era lucro reputo como perda pela excelência do conhecimento de Cristo o meu Senhor, para quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo (Fp 3.7).
Se você é como o irmão do filho pródigo que vivia na casa do pai de acordo com suas regras pessoais e não de acordo com as regras do pai, e por isto mesmo não se beneficiava de tudo que era do pai, ou se você é como o passageiro que com seu esforço pessoal tenta ajudar o avião a levá-lo em segurança, o que é inútil, é para você mesmo que o evangelho se dirige chamando a viver pela fé em Cristo.
Afinal, como diz a Escritura o justo viverá pela fé (Rm 1.17), obviamente, pela fé depositada em Cristo e quem assim viver agradável se tornará a Deus e Deus a ele se apresentará agradável.
LUTERO PAIVA PEREIRA

Um comentário:

  1. Excelente Lutero, vc como sempre trazendo luz aos nossos caminhos. Um abraço e obrigado pela agradável leitura. Gilda Braga - Brasília

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