Se o
pregador quer muitos ouvintes o melhor a fazer é prometer-lhes vitória, mesmo
que pela Escritura não esteja autorizado a fazê-lo. Impulsionados por mensagens
que prometem vitória do crente sobre tudo e sobre todos, não é de estranhar que
os proclamadores dessa proposta se tornaram os mais ouvidos nesses tempos
modernos. Pelo número de ouvintes que abrem seus ouvidos a essas prédicas até
parece que os crentes formam um bando ou um amontoado de derrotados que sem sucesso algum na vida, esperam uma atuação do céu que mude de alguma forma sua história. Para que esses sermões sejam ouvidos e cridos a estratégia é:
primeiro, levar os crentes a crerem que realmente são e estão derrotados o que, diga-se de
passagem, os pregadores dessa teologia fazem com habilidade invejável. A segunda, o sermão deve dizer que Deus quer torná-los
vitoriosos qualquer que seja a área, de modo que podem esperar que isso vai
acontecer no curto ou no médio prazo. E, finalmente, em terceiro lugar, o
discurso deve estar embasado em alguém versículo da Bíblia onde a palavra vitória toma evidência para, mesmo retirando-o texto do
contexto, estruturar o sermão como sendo Palavra de Deus.
Dentre os
muitos versículos utilizados para esse fim espúrio está aquele escrito pelo
apóstolo Paulo aos coríntios: Graças a
Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo (1
Co 15.57).
Será que a afirmativa
desse versículo da Escritura de que Deus nos dá a vitória em Cristo, é base o bastante para defender
que através de Cristo Deus dará a vitória que o crente precisa ou deseja ter? É o
aludido texto um conforto para quem está derrotado, por exemplo, em suas
finanças, carreira profissional ou num vestibular que nunca consegue ser aprovado? Será que
se pode esperar que em Cristo Deus trará vitória sobre as dívidas que não se saldam, carreira profissional que não deslancha ou curso superior que não se consegue cursar, etc.?
A boa interpretação
ou exegese diz que não é assim que se deve ler o versículo 57 acima destacado.
Ali Paulo está tratando do tempo em que Cristo voltar para
implantar o Reino de Deus na terra, de modo que naquela ocasião os crentes
podem estar certo de que serão todos transformados (v.54), de modo que num
abrir e fechar de olhos (52), ou seja, rapidamente, seus corpos corruptíveis se
revestirão da incorruptibilidade, e seus corpos mortais se revestirão da
imortalidade (v.53), para que desse modo
se cumpra o que está escrito: tragada
foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó
morte, o teu agilhão? (v.54-55).
Esse livramento eterno da morte pelo revestimento do corpo mortal
pela imortalidade é uma vitória do crente sobre a morte por causa da obra
remidora e salvadora de Jesus Cristo. É nesse sentido que Paulo então escreve: Graças a Deus, que nos dá a vitória por
intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo, pois se não fosse por Cristo os
crentes seriam eternamente derrotados pelo poder da morte e jamais entrariam no
glorioso e eterno Reino de Deus.
Portanto, se tem uma vitória certa assegurada por Cristo aos crentes,
na qual eles podem esperar com certeza de alcançar, é que no dia final eles terão
seus corpos mortais revestidos da imortalidade e seus corpos corruptíveis
revestidos da incorruptibilidade para viverem eternamente com Deus, visto que se
não forem revestidos assim, conforme ensinou o apóstolo no mesmo texto, eles não
poderão herdar o Reino pois a carne e o
sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção (v.50).
Portanto, graças a Deus, que nos dá a vitória por
intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo, mas vitória que nos outorga as condições
básicas indispensáveis para sermos eternos participantes do seu Reino.
Lutero de
Paiva Pereira
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