quinta-feira, 15 de maio de 2014

LIÇÃO DO AREÓPAGO


Qual o fim supremo da pregação?  Dar-se a combater diretamente as propostas pecaminosas que se alastram pela sociedade a cada novo momento ou anunciar a Palavra de Deus em meio a um mundo em caos?
A indagação não é sem propósito, pois tem parecido comum a pregação se prestar mais em combater ou  falar contra o procedimento pecaminoso do homem moderno, do que em anunciar o Reino de Deus aos pecadores.
Com efeito, se a pregação se ocupar em combater cada nova onda de pecado que surge, ficará tão ocupada com isto que jamais encontrará tempo ou espaço para anunciar o Reino.
Talvez seria o caso de pensar, pois é verdadeiro, que o anúncio do Reino de Deus por si só é mais que suficiente para combater o pecado do não crente e a fortalecer a fé do que crê, de modo que a pregação que dele se ocupa cumpre seu duplo objetivo, a saber, alimentar espiritualmente os crentes e despertar o pecador para o arrependimento.
Com efeito, os crentes precisam ter informação do que é ao invés de ficarem cada dia mais informados do que não é, e para combater o que não é a melhor estratégia é falando daquilo que é.
O púlpito deve ser, portanto, o lugar onde a proclamação da verdade da Escritura tem espaço cativo.
O apóstolo Paulo no areópago ensina como ser um apologeta cuidadoso, pois estando num lugar onde a idolatria é notória, ele não se importa em falar contra ela diretamente embora indiretamente o faça. Ele está no meio de pessoas que andam pelo não-caminho, mas sua atuação é apresentar-lhes o caminho. Ele tem diante de si um número razoável de mentes entenebrecidas que precisam conhecer a luz, pois ninguém vê a escuridão a não ser quando a luz o alcança, de modo que é da luz e não das trevas que seu discurso se ocupa.
Paulo tem diante de si uma preocupação: como fazer conhecido o Deus desconhecido? A resposta é simples: apresentando-O àqueles que O ignoram. E para fazer esta apresentação sem se preocupar em criticar ou em maldizer a ignorância de tais pessoas Paulo toma a atitude correta de falar de Deus.
Desta forma, sem agredir diretamente o politeísmo ali caracterizado pelos vários altares, Paulo adota a linha mais sábia de tratar do monoteísmo.
E começando lá no Antigo Testamento o apóstolo expôs a todos o evangelho, pois só no evangelho reside o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16).
Esta experiência do apóstolo serve de orientação para os pregadores contemporâneos, que envolvidos por situações que àquela se assemelham devem adotar como linha de conduta o anúncio da verdade, ao invés de ficarem tecendo longos discursos contra a mentira.
Afinal, alguém preso pela mentira dela será liberto somente quando o conhecimento da verdade o alcançar, e para que a verdade seja conhecida é preciso que seja anunciada.
Deste modo, ainda que a cada novo dia comportamentos ou sugestões pecaminosas façam a alma do cristão se sentir incomodada, o melhor que o pregador tem a fazer nestes casos é nutrir seus corações e mentes com a Palavra, pois nada podemos contra a verdade (2 Co 13.8).
Que a orientação do apóstolo dada ao seu discípulo seja acolhida pelo pregador contemporâneo, a saber, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina (2 Tm 4.2), dentro ou fora do areópago.

Lutero de Paiva Pereira

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