Qual o fim supremo da
pregação? Dar-se a combater diretamente as
propostas pecaminosas que se alastram pela sociedade a cada novo momento ou
anunciar a Palavra de Deus em meio a um mundo em caos?
A indagação não é sem
propósito, pois tem parecido comum a pregação se prestar mais em combater ou falar contra o procedimento pecaminoso do
homem moderno, do que em anunciar o Reino de Deus aos pecadores.
Com efeito, se a
pregação se ocupar em combater cada nova onda de pecado que surge, ficará tão
ocupada com isto que jamais encontrará tempo ou espaço para anunciar o Reino.
Talvez seria o caso de
pensar, pois é verdadeiro, que o anúncio
do Reino de Deus por si só é mais que suficiente para combater o pecado do
não crente e a fortalecer a fé do que crê, de modo que a pregação que dele se
ocupa cumpre seu duplo objetivo, a saber, alimentar espiritualmente os crentes
e despertar o pecador para o arrependimento.
Com efeito, os crentes precisam
ter informação do que é ao invés de
ficarem cada dia mais informados do que não
é, e para combater o que não é a
melhor estratégia é falando daquilo que é.
O púlpito deve ser,
portanto, o lugar onde a proclamação da verdade da Escritura tem espaço cativo.
O apóstolo Paulo no
areópago ensina como ser um apologeta cuidadoso, pois estando num lugar onde a
idolatria é notória, ele não se importa em falar contra ela diretamente embora
indiretamente o faça. Ele está no meio de pessoas que andam pelo não-caminho, mas sua atuação é
apresentar-lhes o caminho. Ele tem
diante de si um número razoável de mentes entenebrecidas que precisam conhecer a
luz, pois ninguém vê a escuridão a não ser quando a luz o alcança, de modo que é
da luz e não das trevas que seu discurso se ocupa.
Paulo tem diante de si
uma preocupação: como fazer conhecido o Deus desconhecido? A resposta é
simples: apresentando-O àqueles que O ignoram. E para fazer esta apresentação sem
se preocupar em criticar ou em maldizer a ignorância de tais pessoas Paulo toma
a atitude correta de falar de Deus.
Desta forma, sem agredir
diretamente o politeísmo ali caracterizado pelos vários altares, Paulo adota a linha
mais sábia de tratar do monoteísmo.
E começando lá no Antigo
Testamento o apóstolo expôs a todos o evangelho, pois só no evangelho reside o
poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16).
Esta experiência do apóstolo
serve de orientação para os pregadores contemporâneos, que envolvidos por
situações que àquela se assemelham devem adotar como linha de conduta o anúncio
da verdade, ao invés de ficarem tecendo longos discursos contra a mentira.
Afinal, alguém preso
pela mentira dela será liberto somente quando o conhecimento da verdade o
alcançar, e para que a verdade seja conhecida é preciso que seja anunciada.
Deste modo, ainda que a
cada novo dia comportamentos ou sugestões pecaminosas façam a alma do cristão
se sentir incomodada, o melhor que o pregador tem a fazer nestes casos é nutrir
seus corações e mentes com a Palavra, pois nada
podemos contra a verdade (2 Co 13.8).
Que a orientação do
apóstolo dada ao seu discípulo seja acolhida pelo pregador contemporâneo, a
saber, que pregues a palavra, instes a
tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade
e doutrina (2 Tm 4.2), dentro ou fora do areópago.
Lutero de Paiva Pereira
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