sábado, 21 de abril de 2012

A ESPERANÇA QUE VEM DO EVANGELHO

Embora a fé em Jesus Cristo traga mudanças imediatas na vida do crente, oferecendo-lhe uma realidade nova desde logo, não se pode perder de vista que seus efeitos mais espetaculares ainda estão por acontecer.
Desde modo, não há dúvida, a esperança é um ingrediente ativo da fé, e sem que ela exista é possível dizer que a fé se mostra contaminada por algum vício doutrinário que precisa ser rapidamente corrigido.
Quando Paulo diz que se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens (1 Co 15.19), suas palavras têm  a nítida proposta de alertar seus leitores para o fim último da fé que, no caso, não é nem o presente nem o mundo atual, mas o futuro e um mundo que está por acontecer.

Com tais palavras o apóstolo quer dizer, de um lado que a fé em Cristo transcende o tempo atual e a realidade que hoje nos cerca e, de outro que se o crente espera em Cristo somente para o contexto deste mundo, como é próprio dos homens que não esperam para além desta vida, ele se torna um homem miserável, palavra que no original significa alguém digno de compaixão, de piedade.
Esperar em Cristo somente para este mundo torna o crente uma pessoa digna de piedade porque está sem o melhor da esperança que vem do evangelho.
Sem a melhor esperança o crente se torna um ser infeliz, por estar pondo sua expectativa em coisas passageiras, imprecisas e vulneráveis.
Portanto, sem se alienar da vida atual, sem se converter numa pessoa estranha no meio dos seus semelhantes, sem fazer opção por um comportamento que lhes retire aspectos normais da própria humanidade, o crente deve acolher no coração a esperança que vem do evangelho, a qual tem na Escritura Sagrada registros mais que suficientes para lhe dar sustento.
É sob tal entendimento que Paulo optou por direcionar seus dias em razão da certeza que lhe embalava a alma em termos de esperança: Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada (Rm 8.18).
Tendo isto em conta, não seria de todo errado afirmar que o melhor da fé ainda está por acontecer, ainda que muitas coisas boas a partir do novo nascimento já possam ser experimentadas por quem creu em Cristo, pois Paulo ensinou: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam ( 1Co 2.9).
As coisas que Deus preparou para os que o amam são aquelas que se concretizarão ao tempo da volta de Cristo quando, enfim, seu Reino se estabelecerá em definitivo e totalmente nesta terra.
Em razão do aspecto grandemente futurista da fé cristã, tirar os olhos da era vindoura ou da expectativa justa que deve nortear o ânimo do crente, é reduzir em muito a amplitude do próprio termo salvação.
Afinal, salvação traz bem mais benefícios do que aqueles que comumente lhe são atribuídos.
Em termos de salvação muitos crentes estão convictos de que não mais irão para o inferno, o que é uma verdade. No entanto, eles não estão igualmente certos para onde irão e nem como viverão.
Pensar para onde não se vai é bem diferente de pensar para onde se vai, sendo certo dizer que o crente precisa estar certo, isto sim, para onde irá para então estar mais que seguro para onde não irá.
É para falar da esperança positiva, isto é, daquela que diz como será, e não da esperança negativa, ou seja, daquilo que fala do como não será, é que se ocupa esta reflexão.
Já ao tempo da evangelização a mensagem deve criar no coração do pecador a esperança de que por intermédio de Jesus Cristo ele poderá ter seu relacionamento com Deus restaurado plena e totalmente tão logo confesse a Jesus como Senhor e O receba como Salvador.
Quando o homem ainda não regenerado ou ainda não crente ouve o evangelho, a mensagem corretamente anunciada lhe assegura, dentre outras coisas, a reconciliação com Deus, a qual decorre da justificação de seus pecados, justificação que sela sua paz com Deus de forma definitiva.
Assim está escrito: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5.1).
É por intermédio da redenção que há em Cristo que tudo isto acontece com o pecador.
Redimir é o mesmo que resgatar. No caso, o evangelho propõe redimir, resgatar e livrar o pecador do seu estado atual de morte e inimizada com Deus, elevando-o a condição de vivificado em Cristo para ser adotado como filho de Deus.
A não ser por intermédio do evangelho ninguém poderá esperar ter sua comunhão com Deus trazida a realidade, pois somente no evangelho é que ela é possível de ser encontrada.
Uma vez concretizada a esperança inicial da mensagem, o que acontece quando o pecador recebe a Cristo como salvador, ocasião em que seu espírito é regenerado, isto é, é gerado de novo, a partir daí ele se mantém confortado pela esperança de ter seu corpo redimido e assegurada sua morada numa terra igualmente restaurada.
Um dia, conforme está escrito, aquele que nasceu de novo terá seu corpo redimido dos efeitos do pecado.
Sabemos todos, e não há novidade nisto, o homem é um ser complexo que tem seu lado espiritual e também seu lado material ou físico que é o corpo.
Considerando que o corpo humano não foi regenerado no momento em que o espírito humano foi gerado de nova pela fé em Jesus Cristo, para o homem se tornar um ser completamente salvo e ter a plenitude da salvaçao, é preciso que seu corpo passe também por uma transformação tal que lhe dê a dignidade de ser efetivamente uma nova criatura em sua totalidade, a saber, corpo e alma.
O apóstolo Paulo escreve que nós esperamos a redenção do nosso corpo: E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo (Rm 8.23).
Esta redenção implica no fato do corpo ser resgatado ou livrado do seu estado atual de mortalidade e corruptibilidade para ser, enfim, revestido da imortabilidade e da incorruptibilidade: E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória ( 1 Co 15.54).
 Paulo ainda diz que na parousia Cristo transformará nosso corpo abatido para ser um corpo de glória semelhante ao dele: Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas (Fp 3.21).
Com o espírito redimido e com seu corpo totalmente restaurado, num e noutro caso livre do pecado, o crente se tornará uma pessoa completamente salva  para viver com Deus e para Deus, desfrutando de bem-estar jamais experimentado.
Portanto, como é certa a redenção do corpo vale a pena manter os olhos postos nesta esperança que vem do evangelho.
Uma vez que o crente teve seu relacionamento com Deus restaurado quando creu em Jesus Cristo, e como terá seu corpo transformado quando Cristo voltar, resta saber em termos de esperança o que a Bíblia diz sobre seu lugar de habitação.
Com efeito, Deus tem reservado para o homem que creu em Cristo um lugar de indizível satisfação, chamada de nova terra.
Sobre ela escreveu o apóstolo Pedro: Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça (2 Pe 3.13).
Há uma promessa da parte de Cristo de dar aos salvos novos céus e nova terra, um ambiente totalmente conforme a justiça ou retidão procedente de Deus para ser ali o seu ambiente de vida eterna.
 Esta nova terra que será a morada dos crentes o apóstolo João diz ter visto: E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe (Ap 21.1).
 A nova terra, esperança dos salvos, não é coisa que aparece só no Novo Testamento, pois no Antigo Testamento o profeta já falava dela: Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão (Isa 65.17).
Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude ( 1Co 10.26), quando do retorno de Cristo a Bíblia diz que ela e seus elementos abrasados serão desfeitos e transformados para dar lugar a uma terra nova, livre totalmente de todos os efeitos negativos que o pecado trouxe sobre ela: Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão (2 Pe 3.10)
Em lugar da terra antiga haverá  a terra nova onde Deus mesmo fará sua morada com os homens: E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus (Ap 21.1-3).
Com a terra restaurada por Deus e para Deus, os crentes viverão ali a plenitude de sua salvação.
Tendo em conta a esperança da redenção da corpo e a restauração da terra para uma habitação eterna, quem olha para frente, para aquilo que Deus tem proposto para os que o amam, dificilmente terá interesse de voltar ao status quo ante, ou seja, ao tempo em que sua esperança se limitava aos termos finitos e passageiros desta terra que se desfará.
Tendo isto em vista, vale a consoladora advertência apostólica de se manter firme e fundado na fé e de não se deixar afastar da esperança do evangelho: Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro (Cl 1.23).
Lutero de Paiva Pereira

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