quinta-feira, 12 de julho de 2012

PENSANDO NO FUTURO


Só tem presente quem tem futuro e quem tem futuro excelente tem presente muito bom, pois o efeito do futuro no presente é inegável.
Esta afirmativa pode ser aplicada em qualquer campo da vida, pois aquilo que se espera, aquilo que se deseja obter, a expectativa que se carrega em relação a algo novo, é um combustível para a alma no dia de hoje.
O futuro bom constrói o presente, mas o futuro ruim o destrói.
Pergunte a um condenado a pena de morte como é o seu presente e você verá como a expectativa de um amanhã terrível torna insuportável o dia de hoje.
Embora não seja bom fixar-se demasiadamente no amanhã, sob pena de se perder o hoje, não é bom deixar de olhar para o futuro, mesmo porque uma pessoa que não sonha, não tem nada porque esperar pode mergulhar num pesadelo de grande sofrimento.
Biblicamente falando o crente é sempre estimulado a viver em direção ao scaton, as últimas coisas, o que se observa desde o início da história quando Deus promete salvação ao homem (Gn 3.15), até o fim dela quando João vê a nova terra que virá (Ap 21.1).
Se é certo dizer que o homem não tem domínio sobre o futuro é correto afirmar que o futuro tem domínio sobre o homem, de modo que querendo ou não, negando-o ou aceitando-o, os dias que estão sendo sofrem a pressão daqueles que ainda serão. 
Se o futuro que domina o homem, que sobre ele exerce pressão, que não está sob seu controle, não o atemoriza mas o conforta, não o angustia mas consola, não é repulsivo mas atraente, esse é  domínio para o bem e não para o mal, para a vida e não para a morte, para a esperança e não para o desespero.
Por isto, se o futuro é assim, no que for possível, é sempre bom dar uma espiada para ele para tornar melhor os dias presentes.
Em termos de futuro a fé cristã é que comunica a melhor expectativa para o homem, pois aponta para o estabelecimento do Reino de Deus na terra ao tempo da volta de Cristo, quando os salvos viverão a vida em sua plenitude.
E se o futuro é algo que não tem como ser evitado, e efetivamente não tem; se o futuro chega sem ser convidado, e chega rapidamente; se para o futuro se caminha sem retroceder, e ninguém pode evitá-lo, o melhor é conhecer um pouco do que está à frente para se prosseguir em sua direção e, até mesmo, de alguma maneira, ansiar por ele.
Os grandes teólogos já afirmaram que a fé cristã é eminentemente escatológica, pois tem uma carga substancial de futuro, de expectativa e de esperança em sua proposta.
Ignorar ou desconhecer a esperança da fé é, na prática, viver sem fé, e o melhor da fé está por acontecer.
O apóstolo Pedro diz que nós, segundo a promessa de Deus, esperamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça (2 Pe 3.13), palavras que denotam que o escritor sagrado tem expectativa em relação ao que Deus prometeu em favor dos salvos.
Esperar aquilo que Deus prometeu é aguardar o melhor, pois diz a Escritura que as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam (1 Co 2.9); esperar o prometido por Deus é ter certeza de sua realização pois a Escritura afirma que Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria? (Nm 23.19); esperar pelo que Deus prometeu e cumprirá é descansar em boa expectativa Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera (Isa 64.4).
Na conhecida definição de fé apresentada pelo escritor sagrada o que se observa de seu conteúdo é que a fé faz o crente olhar para frente, para o futuro, para o que está por acontecer, dando-lhe ao mesmo tempo certeza de chegar lá e convicção de que chegar lá é encontrar o melhor.
Antes mesmo de apresentar exemplos de homens que viveram impulsionados e animados pela fé e, portanto, pela esperança, pelo futuro, o escritor da carta aos Hebreus diz que a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem (Hb 11.1).
Na primeira parte a fé é apresentada como a certeza de coisas que se esperam, o que significa dizer ser de sua essência a esperança, ou seja, o futuro.
Portanto, fé é a certeza do futuro que se espera.
Na segunda parte o autor diz que fé é a convicção de fatos que se não vêem, o que torna certo que a fé não cria fatos mas vê os fatos que Deus criou e espera por eles.
Se quando o homem pecou seu afastamento de Deus lhe roubou o futuro, a partir do modo que ele foi reconciliado com Deus pela fé em Jesus Cristo este fato lhe trouxe o futuro de volta, pois a fé em Cristo traz a expectativa da vida eterna, do Reino de Deus que o apóstolo caracteriza como sendo de justiça, paz e alegria no Espírito (Rm 14.17).
Se a fé em Cristo traz tanta esperança ao crente, se ela lhe comunica um futuro tão promissor, o melhor a fazer é fortalecê-la e a maneira da fé se tornar mais robusta é utilizar da mesma instrumentalidade aplicada para sua vinda, ou seja, a Palavra de Deus.
Se a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus (Rm 10.17), ouvir a Palavra, meditar nela, torna a fé mais consistente e, então, mais conhecível o futuro.
Abraão, diz o escritor inspirado, esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus (Hb 11.10), e os crentes fazem bem em andar nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão (Rm 4.12).
Pense, pois, no futuro nesta  perspectiva  para permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho (Cl 1.23).
Lutero de Paiva Pereira

Um comentário:

  1. Com esse entendimento é possível almejar o futuro e não teme-lo.

    ResponderExcluir