sexta-feira, 21 de março de 2014

LIVRE PELAS MARCAS DE CRISTO


A religiosidade é algo tão impregnado na alma humana, que mesmo depois de ter sido feito livre dela por força da obra redentora de Cristo o crente ainda corre o risco de voltar às suas práticas tornando-se novamente escravo.
A Bíblia faz saber que existe tanto o evangelho quanto o “outro evangelho”, aquele vindo de Deus e apresentando Cristo como libertador do homem, ao passo que este vindo do homem para fazer do rito e do ritual religioso o seu grande escravizador.
Foi nestes termos que o apóstolo falou do outro evangelho que estava atuando já ao tempo da igreja primitiva pra afastar os crentes do evangelho: Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho (Gl 1.6).
Se os gálatas estavam tão depressa passando do evangelho da graça de Cristo para outro evangelho, é porque este último estava atuando fortemente em seus corações como até os dias atuais o faz.
Biblicamente falando a religiosidade consiste em ritos e rituais desprovidos de qualquer eficácia espiritual, mas que se mostram altamente eficazes para aumentar o orgulho e a vaidade carnais do seu praticante, o que seduz o pecador a observar suas exigências.
Com esse propósito a religiosidade é alta concorrente com o evangelho e lhe faz oposição, pois enquanto ela convida o homem a confiar em si mesmo e em suas obras, a graça o convoca a confiar em Cristo e em Sua obra para ser justificado diante de Deus, ou seja, enquanto o evangelho leva à crucificação da carne a religiosidade quer promovê-la ao lugar mais alto.
Propenso a enfrentar os desafios da religiosidade o crente prefere muito mais provar de que é capaz de qualquer sacrifício, do que confiar no sacrifício de Cristo; ele está mais inclinado a santificar-se cumprindo preceitos humanos do que tem disposição de encher-se do Espírito para nada dispor quanto a carne; sua voz é mais ouvida dizendo não sou como os demais, conforme falou o fariseu, do que tem misericórdia de mim que sou um pecador como disse o publicano.
O que fica evidenciado em tudo isto é que deixar de ser religioso para se tornar um crente é tão difícil quanto permanecer crente para não voltar a ser religioso, de modo que Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. (1 Co 10.12).
Os gálatas são um exemplo registrado na própria Escritura para servir de alerta a todos os crentes sobre o perigo de voltar a ser escravo depois de ter sido feito livre pelo evangelho, de modo que considerando os riscos embutidos na carreira cristã, bom seria se de vez em quando o crente adotasse a orientação apostólica de verificar se ainda permanecemos na fé (2 Co 13.5), pois não é de todo impossível não permanecer na fé mesmo alegando estar na fé.
Como os gálatas estavam na iminência de cair da graça (Gl 5.4) voltando à religiosidade da qual tinham sido feitos livres pelo evangelho da graça, a carta a eles endereçada os advertia: Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão (Gl 5.1).
Procurando se justificar em práticas religiosas do judaísmo ao invés de estarem firmes em Cristo que os justificou, aqueles crentes retornavam ao jugo da servidão, tornando-se novamente prisioneiros de um ritual religioso sem valor.
Em alto e bom som o apóstolo zelando pela saúde espiritual de todos eles conclama: permaneceis firmes na liberdade com que Cristo os libertou.
Não há liberdade fora de Cristo, e por mais requintada que seja a religiosidade ela ainda é um jugo de escravidão que sobrecarrega a pessoa com um fardo de faça isto e não faça aquilo que esgota as forças de quem se atreve a carregá-lo.
Para muitos crentes, no entanto, a ideia de ser livre parece muito perigosa e estes se sentem mais seguros na escravidão da religiosidade cumprindo preceitos humanos do que simplesmente crendo em Cristo, fato este que pode ser considerado como uma verdadeira insanidade ou loucura semelhante àquela que atingia os crentes da galácia.
Como as práticas religiosas são altamente sedutoras e convidativas ao auto engano, lentamente o crente começa a ceder espaço para que seus ouvidos se tornem propensos a ouvir mensagens e mensageiros do “outro evangelho”, e no passar do tempo o crente-livre vais se tornando um crente-escravo sem perceber, e um de seus efeitos mais diretos no campo relacional é que ele se torna um cobrador dos outros e um legalista insuportável.
Paulo escreve que uma vez que eles foram chamados à liberdade não deveriam usar então da liberdade para dar ocasião à carne (Gl 5.13), e voltar à religiosidade era dar oportunidade à carne.
Enquanto os crentes daquela região estavam querendo trazer no corpo a marca da circuncisão como algo capaz de justificá-los diante de Deus, Paulo dizia trazer outra marca, a saber, as marcas do Senhor Jesus (Gl 6.17), estas sim mais que suficientes para sua justificação diante da justiça divina.
Altamente instrutiva essa carta aos Gálatas demonstra que se nossa confiança está posta mais naquilo que fazemos do que naquilo que Cristo fez, este é um sintoma seguro de que nossa liberdade já foi vendida à escravidão, e se desejamos continuar livres é necessário voltar imediatamente aos braços do Libertador.
Quem traz em seu corpo as marcas de Jesus Cristo já foi feito livre e não precisa de qualquer outra para continuar livre vivendo para glória de Deus.

Lutero de Paiva Pereira

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