A
religiosidade é algo tão impregnado na alma humana, que mesmo depois de ter
sido feito livre dela por força da obra redentora de Cristo o crente ainda corre
o risco de voltar às suas práticas tornando-se novamente escravo.
A Bíblia faz
saber que existe tanto o evangelho quanto o “outro evangelho”, aquele vindo de
Deus e apresentando Cristo como libertador do homem, ao passo que este vindo do
homem para fazer do rito e do ritual religioso o seu grande escravizador.
Foi nestes
termos que o apóstolo falou do outro
evangelho que estava atuando já ao tempo da igreja primitiva pra afastar os
crentes do evangelho: Maravilho-me de que tão depressa passásseis
daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho (Gl 1.6).
Se os
gálatas estavam tão depressa passando
do evangelho da graça de Cristo para outro
evangelho, é porque este último estava atuando fortemente em seus corações
como até os dias atuais o faz.
Biblicamente
falando a religiosidade consiste em ritos e rituais desprovidos de qualquer
eficácia espiritual, mas que se mostram altamente eficazes para aumentar o
orgulho e a vaidade carnais do seu praticante, o que seduz o pecador a observar
suas exigências.
Com esse
propósito a religiosidade é alta concorrente com o evangelho e lhe faz oposição,
pois enquanto ela convida o homem a confiar em si mesmo e em suas obras, a
graça o convoca a confiar em Cristo e em Sua obra para ser justificado diante
de Deus, ou seja, enquanto o evangelho leva à crucificação da carne a
religiosidade quer promovê-la ao lugar mais alto.
Propenso a
enfrentar os desafios da religiosidade o crente prefere muito mais provar de
que é capaz de qualquer sacrifício, do que confiar no sacrifício de Cristo; ele
está mais inclinado a santificar-se cumprindo preceitos humanos do que tem
disposição de encher-se do Espírito para nada dispor quanto a carne; sua voz é
mais ouvida dizendo não sou como os
demais, conforme falou o fariseu, do que tem misericórdia de mim que sou um pecador como disse o publicano.
O que fica
evidenciado em tudo isto é que deixar de ser religioso para se tornar um crente
é tão difícil quanto permanecer crente para não voltar a ser religioso, de modo
que Aquele, pois, que cuida estar em pé,
olhe não caia. (1 Co 10.12).
Os gálatas
são um exemplo registrado na própria Escritura para servir de alerta a todos os
crentes sobre o perigo de voltar a ser escravo depois de ter sido feito livre
pelo evangelho, de modo que considerando os riscos embutidos na carreira cristã,
bom seria se de vez em quando o crente adotasse a orientação apostólica de
verificar se ainda permanecemos na fé (2
Co 13.5), pois não é de todo impossível não permanecer na fé mesmo alegando estar
na fé.
Como os gálatas estavam na iminência de cair da graça (Gl 5.4) voltando à religiosidade da qual tinham sido
feitos livres pelo evangelho da graça, a carta a eles endereçada os advertia: Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos
libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão (Gl
5.1).
Procurando se justificar em práticas religiosas do
judaísmo ao invés de estarem firmes em Cristo que os justificou, aqueles
crentes retornavam ao jugo da servidão, tornando-se
novamente prisioneiros de um ritual religioso sem valor.
Em alto e bom som o apóstolo zelando pela saúde espiritual de
todos eles conclama: permaneceis firmes na liberdade com que Cristo os
libertou.
Não há liberdade fora de Cristo, e por mais requintada que
seja a religiosidade ela ainda é um jugo
de escravidão que sobrecarrega a pessoa com um fardo de faça isto e não
faça aquilo que esgota as forças de quem se atreve a carregá-lo.
Para muitos crentes, no entanto, a ideia de ser livre parece muito
perigosa e estes se sentem mais seguros na escravidão da religiosidade cumprindo
preceitos humanos do que simplesmente crendo em Cristo, fato este que pode ser
considerado como uma verdadeira insanidade ou loucura semelhante àquela que
atingia os crentes da galácia.
Como as práticas religiosas são altamente sedutoras e
convidativas ao auto engano, lentamente o crente começa a ceder espaço para que
seus ouvidos se tornem propensos a ouvir mensagens e mensageiros do “outro
evangelho”, e no passar do tempo o crente-livre vais se tornando um
crente-escravo sem perceber, e um de seus efeitos mais diretos no campo relacional
é que ele se torna um cobrador dos outros e um legalista insuportável.
Paulo escreve que uma vez que eles foram chamados à liberdade não deveriam usar então da liberdade para dar ocasião à carne (Gl 5.13), e voltar
à religiosidade era dar oportunidade à carne.
Enquanto os crentes daquela região estavam querendo trazer no
corpo a marca da circuncisão como algo capaz de justificá-los diante de Deus, Paulo
dizia trazer outra marca, a saber, as
marcas do Senhor Jesus (Gl 6.17), estas sim mais que suficientes para sua
justificação diante da justiça divina.
Altamente instrutiva essa carta aos Gálatas demonstra que se nossa
confiança está posta mais naquilo que fazemos do que naquilo que Cristo fez,
este é um sintoma seguro de que nossa liberdade já foi vendida à escravidão, e se
desejamos continuar livres é necessário voltar imediatamente aos braços do Libertador.
Quem traz em seu corpo as marcas
de Jesus Cristo já foi feito livre e não precisa de qualquer outra para continuar
livre vivendo para glória de Deus.
Lutero de Paiva Pereira
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