sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

EXISTÊNCIA RESPONSÁVEL


"Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma (Ec 9.10)."

Que a sociedade é construída a partir do esforço individual de todos os seus membros é fato mais que notório. O que, no entanto, a pessoas nem sempre  percebem é que o ato de se viver responsavelmente no  âmbito social contribui para o bem do indivíduo, inclusive no processo de superar a própria crise existencial comum aos mortais.
O professor Viktor E. Frankl da Universidade de Viena, fundador da logoterapia, chamada tantas vezes de “terceira escola vienense de psicoterapia”, defende a tese de que o “ter responsabilidade é a base fundamental da pessoa enquanto ser espiritual”, pois  a existência responsável aponta para a missão do indivíduo e a missão traz  bem-estar psicológico.
A missão, qualquer que seja ela, motiva a existência e aumenta de forma assustadora as forças dos que têm apreço por ela, chegando ao ponto de alguém se dar até mesmo a uma missão suicida, como foi o caso dos camicases durante a segunda guerra mundial, que encontraram razão de viver  até mesmo quando morrer é o fim último da própria missão.
Com uma ocupação consciente e consistente o indivíduo ao invés de ser atacado por perguntas que lhe trazem incômodo como, por exemplo, “porque existo?” ele se torna capaz de responder o porque existe ao olhar ou apontar para as ações que motivam seu existir sadio.
A responsabilidade de agir bem no ambiente social torna os atos humanos em mecanismos de incentivo para continuar a existir, pois na ação responsavelmente praticada a pessoa verá sua capacidade de realizar estampada diante dos olhos, o que estimulará seu senso de responsabilidade e, então, a continuação do seu existir.
Ninguém está isento daquelas perguntas existenciais que farejam o indivíduo como o cão perdigueiro a codorna, mas enquanto se vive num mundo de concretude é preciso trazer a existência coisas que não existem para que os próprios olhos vejam o esforço e a capacidade das mãos e isto alimente a alma com motivos para seguir em frente.
Quando o referido professor sentencia que “somente pela ação poderão ser verdadeiramente respondidas as ‘perguntas vitais’”, vale a pena emprestar-lhe credibilidade por tratar-se de um sobrevivente de campo de concentração nazista, onde nem mesmo os horrores daquele ambiente foram suficientes para roubar-lhe o senso de missão na terra.
A existência responsável decorre de uma vida que faz,  coisas grandes ou pequenas, não importa, pois quem realiza sentir-se-á mais confortável e capacitado a responder do que propriamente a ser sitiado por perguntas que ocupam a mente pouco produtiva.
Portanto, é preciso agir sempre de modo que os atos respondam às perguntas que a mente nem sempre consegue digerir, e isto para o bem pessoal e de todos quantos das ações irão se beneficiar pois toda ação responsável é sempre construtiva.
"Tudo quanto te vier às mãos", disse o sábio, "faze-o conforme as tuas força", e este é um provérbio que se aplica a todos os cantos da vida humana e não somente aos ambientes eminentemente religiosos. Afinal, Jesus disse aos seus discípulos que na qualidade de luz do mundo eles deveriam agir de forma que os homens e não somente os "irmãos", ou seja, todas as pessoas e não somente as "pessoas da igreja" vissem as suas boas obras e glorificassem ao Pai que está nos céus (Mt 5.16).

Lutero de Paiva Pereira 

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