No mundo a
filosofia predominante dita que para se ir bem o
importante é ter poder ou, se o caso, ser amigo de quem o tem, pois o status e os benefícios daí decorrentes são sempre proveitosos. O poder é visto em todos os campos da vida e apresentado nas mais
variadas formas, a saber: poder político, econômico, militar, cultural, físico,
etc. Há também, como não poderia deixar de ser, o famoso e não menos
embriagador poder religioso, do qual o chamado movimento pentecostal ou
neopentecostal é o representante mais destacado, pois todo ele está embasado ou
assentado na proposta de ter poder espiritual. Pode se atrever a dizer que se
não houvesse esse tal poder espiritual o pentecostalismo sequer existiria, já
que por outra coisa não se interessam seus adeptos.
A tônica dos
fieis que abraçam essa visão doutrinária, relativamente à busca do Espírito
Santo outra coisa não é senão revestir-se de poder para operar sinais e
maravilhas, expulsar demônios, etc., e a partir daí tornar-se notável pela
notabilidade que o poder, qualquer que seja ele, oferece.
Já que o
mundo neo ou pentecostal está assentado no poder, o líder pentecostal, sob pena
de contrariar sua própria doutrina e não atrair ninguém a si, deve ser uma
pessoa que se diz ou se apresenta cheia de poder, pois quanto mais poderoso for,
tanto maior o número dos seguidores fracos que o cercarão, pois somente os
fracos estão procurando ou poder ou poderosos, atraídos pela força irresistível
que o poder exerce sobre suas almas, o qual em muito se assemelha ao do ímã em
relação ao ferro.
É certo que quando Jesus disse que o Espírito
Santo daria poder aos que dele fossem cheios - Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis
testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos
confins da terra ( At 1.8) -, a ideia do texto era poder para serem testemunhas e não para saírem
por aí se apresentando como poderosos para fazerem isto ou aquilo, menos ainda
para se tornarem o centro da vida dos outros. No entanto, por conveniência a
interpretação do texto foi corrompida e aconteceu o que aconteceu, ou seja, o
poder se tornou o motivo da busca do Espírito,
despertando nos crentes um interesse pouco ortodoxo nada próximo do evangelho.
Olhando bem
para a Escritura se pode notar que Jesus foi contra o primeiro movimento
pentecostal de que se tem notícia na história, o qual aconteceu, por mais interessante que possa parecer, até mesmo antes do próprio
dia de pentecostes. Jesus se opôs veementemente a ideia dos discípulos
de se tornarem eufóricos com o poder espiritual que haviam recebido, o que pode
ser visto no registro encontrado no evangelho de Lucas, capítulo 10 quando os discípulos, em número de
setenta, recebem de Jesus poder para irem e curar as pessoas com o propósito de
anunciar a chegada do reino de Deus na terra - E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o
reino de Deus (v.9). Observe-se que a cura não tinha um fim em si mesmo,
menos ainda propagar o nome dos discípulos como pessoas cheias de poder, mas para dizer que um reino com poder superior
ao império das trevas era chegado. Passado algum tempo depois de terem saído nessa missão, os discípulos voltaram tomados de alegria dizendo que os demônios
a eles estavam sujeitos: e voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor,
pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam (v.17).
Quando viram que o poder existente no nome de Jesus “funcionava”, é como se os discípulos dissessem: “Senhor agora temos poder e somos poderosos; agora podemos dominar o mundo espiritual da maldade e, consequentemente, sermos respeitados na terra.” Em face da euforia que o poder espiritual causou neles, com o potencial de desviá-los do caminho reto, pois o poder mal empregado sempre provoca desvio de conduta, Jesus imediatamente os traz à realidade advertindo-os a não se deixarem embriagar pelo poder, pois a euforia que deveriam ter é por terem seus nomes inscritos no livro da vida e não porque os demônios a eles se submetiam: Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus (v.20).
Quando viram que o poder existente no nome de Jesus “funcionava”, é como se os discípulos dissessem: “Senhor agora temos poder e somos poderosos; agora podemos dominar o mundo espiritual da maldade e, consequentemente, sermos respeitados na terra.” Em face da euforia que o poder espiritual causou neles, com o potencial de desviá-los do caminho reto, pois o poder mal empregado sempre provoca desvio de conduta, Jesus imediatamente os traz à realidade advertindo-os a não se deixarem embriagar pelo poder, pois a euforia que deveriam ter é por terem seus nomes inscritos no livro da vida e não porque os demônios a eles se submetiam: Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus (v.20).
Trazendo tal
experiência para os tempos modernos é possível dizer que estão enganados todos
aqueles que se sentem eufóricos com o poder “espiritual’’ que alegam ter, ou com
o poder que seus líderes dizem possuir, pois o poder do Espírito Santo não se
presta ao espetáculo horrível de "demonstração" de poder que se assiste em cultos, reuniões ou mesmo pela TV. O que esse espetáculo indica, na verdade, é que ali está um grupo de
pessoas fracas, carentes, “despoderadas”, que querem poder para serem alguém na
vida, e assim alcançarem um status que
nunca tiveram. Líderes e liderados encapsulados por esse objetivo revelam suas
próprias carências, os primeiros de exercerem domínio sobre os segundos, e os
segundos de serem dominados pelos primeiros, mas ambos dando provas de suas inegáveis
fraquezas.
Se o crente
deve sentir euforia, esta deve estar posta em coisa muito mais relevante, a
saber, o ser participante do eterno e poderoso reino de Deus, pois se Jesus
quis fixar a mente dos seus discípulos nesse sentido, é porque aí está a razão
maior de exultação deles.
Até mesmo crentes
de igrejas reformadas devem ficar alertas contra essas mensagens de poder que enfraquecem
a fé quando pretendem fortalecer a alma, pois caso não sejam vigilantes podem
colocar sua alegria em algo inconsistente.
Lutero de
Paiva Pereira