domingo, 18 de maio de 2014

DEUS NOS DÁ A VITÓRIA EM CRISTO

Se o pregador quer muitos ouvintes o melhor a fazer é prometer-lhes vitória, mesmo que pela Escritura não esteja autorizado a fazê-lo. Impulsionados por mensagens que prometem vitória do crente sobre tudo e sobre todos, não é de estranhar que os proclamadores dessa proposta se tornaram os mais ouvidos nesses tempos modernos. Pelo número de ouvintes que abrem seus ouvidos a essas prédicas até parece que os crentes formam um bando ou um amontoado de derrotados que sem sucesso algum na vida, esperam uma atuação do céu que mude de alguma forma sua história.  Para que esses sermões sejam ouvidos e cridos a estratégia é: primeiro, levar os crentes a crerem que realmente são e estão derrotados o que, diga-se de passagem, os pregadores dessa teologia fazem com habilidade invejável. A segunda, o sermão deve dizer que Deus quer torná-los vitoriosos qualquer que seja a área, de modo que podem esperar que isso vai acontecer no curto ou no médio prazo. E, finalmente, em terceiro lugar, o discurso deve estar embasado em alguém versículo da Bíblia onde a palavra vitória toma evidência para, mesmo retirando-o texto do contexto, estruturar o sermão como sendo Palavra de Deus.  
Dentre os muitos versículos utilizados para esse fim espúrio está aquele escrito pelo apóstolo Paulo aos coríntios: Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Co 15.57).
Será que a afirmativa desse versículo da Escritura de que Deus nos dá a vitória em Cristo, é base o bastante para defender que através de Cristo Deus dará a vitória que o crente precisa ou deseja ter? É o aludido texto um conforto para quem está derrotado, por exemplo, em suas finanças, carreira profissional ou num vestibular que nunca consegue ser aprovado? Será que se pode esperar que em Cristo Deus trará vitória sobre as dívidas que não se saldam, carreira profissional que não deslancha ou  curso superior que não se consegue cursar, etc.?
A boa interpretação ou exegese diz que não é assim que se deve ler o versículo 57 acima destacado.
Ali Paulo está tratando do tempo em que Cristo voltar para implantar o Reino de Deus na terra, de modo que naquela ocasião os crentes podem estar certo de que serão todos transformados (v.54), de modo que num abrir e fechar de olhos (52), ou seja, rapidamente, seus corpos corruptíveis se revestirão da incorruptibilidade, e seus corpos mortais se revestirão da imortalidade (v.53),  para que desse modo se cumpra o que está escrito: tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu agilhão? (v.54-55).
Esse livramento eterno da morte pelo revestimento do corpo mortal pela imortalidade é uma vitória do crente sobre a morte por causa da obra remidora e salvadora de Jesus Cristo. É nesse sentido que Paulo então escreve: Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo, pois se não fosse por Cristo os crentes seriam eternamente derrotados pelo poder da morte e jamais entrariam no glorioso e eterno Reino de Deus.
Portanto, se tem uma vitória certa assegurada por Cristo aos crentes, na qual eles podem esperar com certeza de alcançar, é que no dia final eles terão seus corpos mortais revestidos da imortalidade e seus corpos corruptíveis revestidos da incorruptibilidade para viverem eternamente com Deus, visto que se não forem revestidos assim, conforme ensinou o apóstolo no mesmo texto, eles não poderão herdar o Reino pois a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção (v.50).
Portanto, graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo, mas vitória que nos outorga as condições básicas indispensáveis para sermos eternos participantes do seu Reino.

Lutero de Paiva Pereira

quinta-feira, 15 de maio de 2014

LIÇÃO DO AREÓPAGO


Qual o fim supremo da pregação?  Dar-se a combater diretamente as propostas pecaminosas que se alastram pela sociedade a cada novo momento ou anunciar a Palavra de Deus em meio a um mundo em caos?
A indagação não é sem propósito, pois tem parecido comum a pregação se prestar mais em combater ou  falar contra o procedimento pecaminoso do homem moderno, do que em anunciar o Reino de Deus aos pecadores.
Com efeito, se a pregação se ocupar em combater cada nova onda de pecado que surge, ficará tão ocupada com isto que jamais encontrará tempo ou espaço para anunciar o Reino.
Talvez seria o caso de pensar, pois é verdadeiro, que o anúncio do Reino de Deus por si só é mais que suficiente para combater o pecado do não crente e a fortalecer a fé do que crê, de modo que a pregação que dele se ocupa cumpre seu duplo objetivo, a saber, alimentar espiritualmente os crentes e despertar o pecador para o arrependimento.
Com efeito, os crentes precisam ter informação do que é ao invés de ficarem cada dia mais informados do que não é, e para combater o que não é a melhor estratégia é falando daquilo que é.
O púlpito deve ser, portanto, o lugar onde a proclamação da verdade da Escritura tem espaço cativo.
O apóstolo Paulo no areópago ensina como ser um apologeta cuidadoso, pois estando num lugar onde a idolatria é notória, ele não se importa em falar contra ela diretamente embora indiretamente o faça. Ele está no meio de pessoas que andam pelo não-caminho, mas sua atuação é apresentar-lhes o caminho. Ele tem diante de si um número razoável de mentes entenebrecidas que precisam conhecer a luz, pois ninguém vê a escuridão a não ser quando a luz o alcança, de modo que é da luz e não das trevas que seu discurso se ocupa.
Paulo tem diante de si uma preocupação: como fazer conhecido o Deus desconhecido? A resposta é simples: apresentando-O àqueles que O ignoram. E para fazer esta apresentação sem se preocupar em criticar ou em maldizer a ignorância de tais pessoas Paulo toma a atitude correta de falar de Deus.
Desta forma, sem agredir diretamente o politeísmo ali caracterizado pelos vários altares, Paulo adota a linha mais sábia de tratar do monoteísmo.
E começando lá no Antigo Testamento o apóstolo expôs a todos o evangelho, pois só no evangelho reside o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16).
Esta experiência do apóstolo serve de orientação para os pregadores contemporâneos, que envolvidos por situações que àquela se assemelham devem adotar como linha de conduta o anúncio da verdade, ao invés de ficarem tecendo longos discursos contra a mentira.
Afinal, alguém preso pela mentira dela será liberto somente quando o conhecimento da verdade o alcançar, e para que a verdade seja conhecida é preciso que seja anunciada.
Deste modo, ainda que a cada novo dia comportamentos ou sugestões pecaminosas façam a alma do cristão se sentir incomodada, o melhor que o pregador tem a fazer nestes casos é nutrir seus corações e mentes com a Palavra, pois nada podemos contra a verdade (2 Co 13.8).
Que a orientação do apóstolo dada ao seu discípulo seja acolhida pelo pregador contemporâneo, a saber, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina (2 Tm 4.2), dentro ou fora do areópago.

Lutero de Paiva Pereira

domingo, 11 de maio de 2014

O PODER DO PERDÃO

Toda ofensa coloca o ofensor numa situação de desconforto, pois ela o obriga a sofrer uma pena ou punição correspondente ato que praticou. A única alternativa para o causador da ofensa se livrar das consequências negativas de sua atitude é ser perdoado pela pessoa a quem ofendeu.
Por isto é que se pode dizer que há poder no perdão, pois quando ele é concedido o perdoado fica livre da condenação a que estava sujeito.
No entanto, como o perdão está nas mãos da pessoa que foi ofendida e somente ela pode concedê-lo quem a ofendeu, nesta posição ela se torna superior àquele que necessita ser perdoada, pois caso não o perdoe o ofendido terá que responder por seu ato.

Uma vez praticada a ofensa a relação entre o ofendido e o ofensor é a seguinte: o ofendido tem o direito de perdoar mas não o dever de fazê-lo, já o ofensor tem a necessidade de ser perdoado mas não o direito de sê-lo.
Talvez foi olhando o perdão nessa perspectiva, ou seja, de que ele é um direito do ofendido mas não uma obrigação, e uma necessidade de quem ofendeu mas não um direito, foi que o salmista afirmou: contigo, isto é, com Deus,  está o perdão para que sejas temido (Sl 130.4).
Na condição de ofendido pelo pecado humano Deus tem o poder de perdoar o homem mas não a obrigação de fazê-lo, e caso não o perdoe a sentença de morte decorrente do pecado atingirá o pecador no dia do juízo final, pois naquele tempo a Bíblia diz que Deus julgará todos os homens.
O pecador, por sua vez, como aquele que ofendeu a Deus por seu pecado, não pode exigir o perdão divino embora necessite dele para livrar-se da condenação à morte eterna que seu ato lhe impõe.
É certo que pouco ou quase nada pensamos sobre o temer a Deus pelo fato do perdão estar em Suas mãos, pois em regra desconhecemos não só o poder que há no perdão, como também as consequências terríveis do pecado.
Biblicamente falando o pecado trouxe para o homem a punição à morte eterna, e a menos que Deus lhe conceda o perdão para restabelecer seu relacionamento com Ele, é impossível o livramento dessa sentença que lhe é totalmente desfavorável.
A Bíblia diz que o salário, isto é, que o pagamento do pecado é a morte (Rm 6.23), de modo que todo pecador receberá como pagamento de sua transgressão a sentença de morte eterna.
Para que a sentença de morte não seja lançada contra ele, a única alternativa que resta ao pecador para se livrar dessa punição eterna é contar com uma atitude  graciosa de Deus em seu favor, perdoando-o de toda sua transgressão.
Como o perdão tem o poder de livrar o perdoado da morte, a mais sensata das atitudes do pecador é temer aquele que tem ao seu dispor o instrumento capaz de lhe trazer esse livramento, a saber, Deus.
Quando as páginas do Novo Testamento são abertas, a boa notícia que os pecadores têm ao seu dispor é que mesmo não tendo o direito de serem perdoados, mesmo assim o perdão divino que os livra da punição de morte eterna foi posto ao seu alcance.
Pelos registros sagrados se tem a notícia de que em Jesus Cristo Deus resolveu perdoar as ofensas dos pecadores para livrá-los dos efeitos condenatórios da sentença de morte que pesava sobre cada um deles, e isto para em lugar da morte lhes conceder o dom da vida eterna.
E essa atitude especial de Deus foi chamada de evangelho, palavra que significa boas novas.
A vinda do Filho de Deus ao mundo é a boa nova ou a boa notícia que o pecador pode ouvir, visto que a partir daí ele tem a certeza de que aprouve a Deus perdoar aos homens as suas transgressões.
Dentre os muitos versículos que apontam para essa iniciativa perdoadora de Deus em favor dos pecadores se destaca aquele que diz que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).
O escritor diz que foi o amor que levou Deus a ter a iniciativa de enviar seu Filho ao mundo, para através dEle dar vida eterna em lugar de perecimento eterno ao homem, o que acontecerá com todos aqueles que crerem em Jesus Cristo como seu salvador pessoal.
No entanto, é preciso que se saiba que ao resolver perdoar o pecador Deus estabeleceu uma condição única e imodificável para que o perdão seja experimentado, e a condição não é outra senão o pecador crer na pessoa e na obra redentora de Jesus Cristo.
Afinal, foi através de Sua morte na cruz que Jesus Cristo pagou os pecados dos homens para que esses pudessem gozar de estreita e eterna comunhão com Deus.
Deus somente perdoa o pecado que foi pago, e o único autorizado por Deus a pagar o pecado do mundo é Jesus Cristo, motivo pelo qual a Bíblia diz que  em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos (At 4.12).
Mas por que se pode dizer que Deus perdoa somente o pecado que foi pago?
A razão é simples.
Desde o Antigo Testamento Deus vem dizendo não só que a consequência do pecado é a morte, como também que toda pessoa responderá diretamente por seus próprios pecados, sofrendo a punição. Como todos os homens pecaram (Rm 5.12) isto quer dizer que cada um é pessoalmente merecedor da sentença de morte decorrente do pecado que carrega consigo.
Quando, então, Deus resolve perdoar o pecador de suas transgressões para livrá-lo da morte, a solução que Ele propõe é enviar seu Filho ao mundo para que o Filho morra em lugar de todos (2 Co 5.14), ou seja, para que Jesus receba na cruz a sentença de morte dos pecadores, pagando o pecado deles, e isto para que eles tenham direito à vida eterna.
Neste sentido a Escritura afirma que ele (Jesus) morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou (2 Co 5.15).
Quando na cruz Jesus suportou a sentença de morte dos pecados dos homens, Ele o fez para afastar deles a condenação de morte que os atormentava pela ofensa cometida contra Deus.
Jesus paga os pecados dos pecadores com Sua própria vida, para mais tarde conceder Sua vida aos pecadores que nele creram.
Diz a Bíblia que o castigo que nos traz a paz estava sobre ele (Isa 53.5), isto é, o castigo de morte que foi posto sobre Cristo na cruz traz a paz com Deus aos que foram perdoados, pois quando o pecador crê naquele que morreu por seus pecados imediatamente ele é perdoado e reconciliado com Deus para sempre, o que indica um estado de paz eterna.
Uma vez tendo crido na obra perdoadora de Cristo na cruz o pecador pode, então, provar da máxima afirmada pela Escritura Sagrada de que  nenhuma condenação mais há para aqueles que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1).
Portanto, Cristo pregado na cruz aponta para a graça de Deus derramada em favor dos homens, graça que consiste em Deus enviar Seu próprio Filho ao mundo para morrer em lugar daqueles que O ofenderam e assim perdoá-los para sempre.

Conclusão
O perdão, portanto, é necessário para que o pecador  tenha um futuro eterno agradável, e somente com a experiência de ser perdoado é que ele sente o alívio interior de estar para sempre unido a Deus.
Como o perdão está com Deus temê-Lo é coisa sensata e amá-Lo a reação mais certa, já que Seu perdão foi estendido a todos.
Em face do que foi apresentado acima três conclusões devem ser consideradas:
A primeira, é que na condição de pecador o homem precisa do perdão divino para livrar-se da condenação de morte que seu pecado lhe impôs. E como ninguém a não ser Deus tem o direito e o poder de perdoar, Deus deve ser temido por aquele que necessita do poder libertador do perdão;
A segunda, é que o perdão que Deus concede ao pecador é poderoso o bastante não só para afastar a pena de morte que pesa sobre ele, como também para conceder ao perdoado o dom da vida eterna. Bem-aventurado, escreveu o salmista, aquele cuja iniquidade é perdoada (Sl 32.1) e,
A terceira, é que o perdão está acessível a todo pecador que crer em Jesus Cristo. E tendo sido perdoado por Cristo ele é prontamente reconciliado com Deus, pois Deus estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo, não imputando aos homens os seus pecados (2 Co 5.19). De tal forma foi a satisfação e a eterna confiança de Paulo na obra remidora e perdoadora de Cristo que ele escreveu: E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele (Jesus), perdoando todos os nossos delitos (pecados), tendo cancelado o escrito de dívida (sentença), que era contra nós (Cl 2.13/14).

Se você já recebeu a Cristo como Salvador, isto quer dizer que o perdão lhe foi outorgado e sua reconciliação com Deus está firmada de forma eterna, de modo que já passou da morte para a vida (Jo 5.24).
Caso você ainda não recebeu a Jesus Cristo como Salvador pessoal, que o faça ainda hoje para ser reconciliado com Deus e ganhar o direito à vida eterna em Seu Reino de glória.
 Portanto, não procure fora de Cristo o que só em Cristo você pode achar, a saber, o perdão que tem o poder de livrá-lo da morte eterna para lhe assegurar o direito à vida eterna.



Lutero Paiva Pereira (sermão  pregado dia 11/5/2014. IPB-Central Maringá)