quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O MACHISMO "MATOU" O MACHO

Depois de formar o homem do pó da terra Deus o colocou no jardim do Éden para o cultivar e guardar (Gn 2.16). No entanto, vendo o Senhor Deus que não seria bom que o homem vivesse sem uma companhia que lhe correspondesse, sua decisão for fazer uma auxiliadora que lhe fosse idônea (Gn 2.18). Desta forma Deus trouxe à existência a mulher (Gn 2.22). Colocada diante do homem a mulher de pronto causou-lhe admiração e provocou reconhecimento de ser parte integrante dele (Gn 2.23). De tal modo era possível a interação entre o homem e a mulher que o próprio Deus estabeleceu que pelo casamento ambos poderiam se tornar um só ser (Gn 2.24). Unidos um ao outro homem e mulher formariam um ser dotado de muita capacidade para todos os atos da vida.
Ao criar a mulher Deus não se preocupou em formar uma pessoa de outro sexo somente para acabar com a solidão do homem. Pelo contrário, Deus criou uma pessoa de outro sexo com a capacidade de auxiliar idoneamente o homem em tudo.
E ao  dizer que a mulher seria uma auxiliadora idônea para o homem, Deus estava proclamando duas realidades distintas:
A primeira é que o homem se mostrava um ser que não só precisava de uma companhia, como também que dela necessitava para ser auxiliado por ela, o que aponta para sua própria incompletude ou carência.
Afinal, se o homem precisasse somente de companhia e não de auxílio de outro ser, Deus não teria criado a mulher com a função de ser uma auxiliadora idônea para o homem. Bastava que criasse uma pessoa e nada mais. E se o  homem precisava de uma auxiliadora idônea é porque ele mesmo não poderia prescindir de tal ajuda, e se não tinha como viver sem tal ajudada isto quer dizer que o homem tinha, então, limites e necessidades a serem satisfeitos por outra pessoa. Afinal, um ser que precisa ser ajudado ou auxiliado é em si mesmo um ser carente, um ser incompleto, um ser não absolutamente capaz.
Deus sabia que o homem não era absolutamente capaz e por isto criou a mulher com a vocação de ser-lhe auxiliadora idônea.
A segunda é que a mulher tem em si mesma uma capacidade ou idoneidade de ajudar que a torna necessária e indispensável ao homem, e isto porque o próprio Deus que a formou a fez dotada assim.
O casal que tem a habilidade de desempenhar bem esta interação, a saber, o homem reconhecendo sua incompletude para deixar-se auxiliar pela mulher, e a mulher desempenhando bem sua habilidade de auxiliar o marido, se torna muito mais capaz para realizar as tarefas fora e dentro do lar.
Mas o fato da mulher ter sido criada com a capacidade de ser uma auxiliadora idônea do homem não quer dizer que ela tem na terra somente a função de auxiliar o homem, e que por isto mesmo deve sacrificar toda sua vida individual para se dedicar exclusivamente a este mister. Pelo contrário, como ser diferente do homem a mulher tem também sua vocação pessoal para tantas outras coisas que não é justo lhe reprimir a realização neste sentido para ser somente auxiliadora e nada mais. Aliás, até mesmo para auxiliar com idoneidade é preciso que ela saiba sempre e cada vez mais.
A despeito da criação do homem  e da mulher ter se dado nestes termos para  chegarem a ser um só ser, o que implicaria na existência respeitosa da individualidade de cada um pelo outro  o fato é que a coisa não caminhou bem nesta direção.
Dominado pelo machismo o homem acabou subjugando a mulher de forma tal que esta se viu prejudicada na função de  auxiliadora idônea.
Julgando-se capaz de fazer tudo e de pensar sozinho de forma mais correta, o homem foi estabelecendo sua independência em relação a sua mulher, mesmo sem deixar de ser o ser incompleto que foi desde o início.
Esse procedimento chamado de machista  trouxe para o homem a sensação de se achar  completo, de se sentir  superior, de se julgar  independente, olhando para a mulher como um ser inferior e pouco qualificado para lhe emprestar ajuda em seu desenvolvimento pessoal. Desta forma, ao invés de receber a mulher na condição de auxiliadora idônea o homem somente a recepcionou como mulher, o que não convém à boa estruturação do lar.
Sufocando e rejeitando a mulher em sua nobre função de auxiliadora idônea, o homem não percebeu que seu machismo não “matou” somente a mulher mais ele próprio  também morreu, pois com essa atitude ele perdeu sua melhor fonte de consulta e a partir daí suas ações não foram levadas com equilíbrio.
É possível observar que muitos casais não vão bem no sentido cultural, econômico, financeiro, espiritual, etc., exatamente porque o marido sacrificou sua auxiliadora idônea dela se afastando para ignorar seus conselhos e ideias tornando-se um ser propenso a muitas cabeçadas.
A história tem muitos exemplos de lares que se perderam e de homens que não tiveram um bom desenvolvimento profissional, cultural e etc.  pelo fato de terem resistido  ser auxiliados por suas esposas.
O homem casado não vai para frente de forma segura na vida profissional, cultural, social etc. sem que conte com a participação de sua mulher, e quanto mais se torna aberto ao seu auxilio maiores as possibilidades de ter sucesso em tudo o que faz.
O machismo foi contra o próprio macho quando lhe trouxe a “solidão” no lar, pois a partir do momento que induziu o homem a “matar” sua auxiliadora idônea o homem voltou  àquela “solidão” que tinha no jardim antes da mulher existir.
Quando o homem não acolhe sua esposa com o status que Deus a criou, sua atitude está dizendo que Deus não estava certo ao criar a mulher com tal capacidade, o que nem de perto pode contar com Suas bênçãos.
Machismo é uma atitude pecaminosa que não faz bem ao homem a quem Deus criou com a necessidade de ser auxiliado, à mulher a quem Deus dotou de capacidade de auxiliar, menos ainda ao casal a quem Deus propôs uma  união para ser um só ser.
Ao menos os casais crentes, os quais têm a Bíblia como regra de fé e prática, talvez seja conveniente repensar algumas  atitudes.
Lutero de Paiva Pereira


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

EXISTÊNCIA RESPONSÁVEL


"Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma (Ec 9.10)."

Que a sociedade é construída a partir do esforço individual de todos os seus membros é fato mais que notório. O que, no entanto, a pessoas nem sempre  percebem é que o ato de se viver responsavelmente no  âmbito social contribui para o bem do indivíduo, inclusive no processo de superar a própria crise existencial comum aos mortais.
O professor Viktor E. Frankl da Universidade de Viena, fundador da logoterapia, chamada tantas vezes de “terceira escola vienense de psicoterapia”, defende a tese de que o “ter responsabilidade é a base fundamental da pessoa enquanto ser espiritual”, pois  a existência responsável aponta para a missão do indivíduo e a missão traz  bem-estar psicológico.
A missão, qualquer que seja ela, motiva a existência e aumenta de forma assustadora as forças dos que têm apreço por ela, chegando ao ponto de alguém se dar até mesmo a uma missão suicida, como foi o caso dos camicases durante a segunda guerra mundial, que encontraram razão de viver  até mesmo quando morrer é o fim último da própria missão.
Com uma ocupação consciente e consistente o indivíduo ao invés de ser atacado por perguntas que lhe trazem incômodo como, por exemplo, “porque existo?” ele se torna capaz de responder o porque existe ao olhar ou apontar para as ações que motivam seu existir sadio.
A responsabilidade de agir bem no ambiente social torna os atos humanos em mecanismos de incentivo para continuar a existir, pois na ação responsavelmente praticada a pessoa verá sua capacidade de realizar estampada diante dos olhos, o que estimulará seu senso de responsabilidade e, então, a continuação do seu existir.
Ninguém está isento daquelas perguntas existenciais que farejam o indivíduo como o cão perdigueiro a codorna, mas enquanto se vive num mundo de concretude é preciso trazer a existência coisas que não existem para que os próprios olhos vejam o esforço e a capacidade das mãos e isto alimente a alma com motivos para seguir em frente.
Quando o referido professor sentencia que “somente pela ação poderão ser verdadeiramente respondidas as ‘perguntas vitais’”, vale a pena emprestar-lhe credibilidade por tratar-se de um sobrevivente de campo de concentração nazista, onde nem mesmo os horrores daquele ambiente foram suficientes para roubar-lhe o senso de missão na terra.
A existência responsável decorre de uma vida que faz,  coisas grandes ou pequenas, não importa, pois quem realiza sentir-se-á mais confortável e capacitado a responder do que propriamente a ser sitiado por perguntas que ocupam a mente pouco produtiva.
Portanto, é preciso agir sempre de modo que os atos respondam às perguntas que a mente nem sempre consegue digerir, e isto para o bem pessoal e de todos quantos das ações irão se beneficiar pois toda ação responsável é sempre construtiva.
"Tudo quanto te vier às mãos", disse o sábio, "faze-o conforme as tuas força", e este é um provérbio que se aplica a todos os cantos da vida humana e não somente aos ambientes eminentemente religiosos. Afinal, Jesus disse aos seus discípulos que na qualidade de luz do mundo eles deveriam agir de forma que os homens e não somente os "irmãos", ou seja, todas as pessoas e não somente as "pessoas da igreja" vissem as suas boas obras e glorificassem ao Pai que está nos céus (Mt 5.16).

Lutero de Paiva Pereira