Depois de formar o homem do pó da terra Deus o colocou no
jardim do Éden para o cultivar e guardar (Gn 2.16). No entanto, vendo o Senhor
Deus que não seria bom que o homem vivesse sem uma companhia que lhe
correspondesse, sua decisão for fazer uma auxiliadora que lhe fosse idônea (Gn
2.18). Desta forma Deus trouxe à existência a mulher (Gn 2.22). Colocada diante
do homem a mulher de pronto causou-lhe admiração e provocou reconhecimento de
ser parte integrante dele (Gn 2.23). De tal modo era possível a interação entre
o homem e a mulher que o próprio Deus estabeleceu que pelo casamento ambos
poderiam se tornar um só ser (Gn 2.24). Unidos um ao outro homem e mulher
formariam um ser dotado de muita capacidade para todos os atos da vida.
Ao criar a mulher Deus não se
preocupou em formar uma pessoa de outro sexo somente para acabar com a solidão
do homem. Pelo contrário, Deus criou uma pessoa de outro sexo com a capacidade
de auxiliar idoneamente o homem em tudo.
E ao dizer que a mulher seria uma auxiliadora idônea para o
homem, Deus estava proclamando duas realidades distintas:
A primeira é que o homem se mostrava um ser que não só
precisava de uma companhia, como também que dela necessitava para ser auxiliado
por ela, o que aponta para sua própria incompletude ou carência.
Afinal, se o homem precisasse somente de companhia e não de
auxílio de outro ser, Deus não teria criado a mulher com a função de ser uma
auxiliadora idônea para o homem. Bastava que criasse uma pessoa e nada mais. E
se o homem precisava de uma auxiliadora
idônea é porque ele mesmo não poderia prescindir de tal ajuda, e se não tinha
como viver sem tal ajudada isto quer dizer que o homem tinha, então, limites e
necessidades a serem satisfeitos por outra pessoa. Afinal, um ser que precisa
ser ajudado ou auxiliado é em si mesmo um ser carente, um ser incompleto, um
ser não absolutamente capaz.
Deus sabia que o homem não era absolutamente capaz e por isto
criou a mulher com a vocação de ser-lhe auxiliadora idônea.
A segunda é que a mulher tem em si mesma uma capacidade ou
idoneidade de ajudar que a torna necessária e indispensável ao homem, e isto
porque o próprio Deus que a formou a fez dotada assim.
O casal que tem a habilidade de desempenhar bem esta
interação, a saber, o homem reconhecendo sua incompletude para deixar-se
auxiliar pela mulher, e a mulher desempenhando bem sua habilidade de auxiliar o
marido, se torna muito mais capaz para realizar as tarefas fora e dentro do lar.
Mas o fato da mulher ter sido criada com a capacidade de ser
uma auxiliadora idônea do homem não quer dizer que ela tem na terra somente a
função de auxiliar o homem, e que por isto mesmo deve sacrificar toda sua vida
individual para se dedicar exclusivamente a este mister. Pelo contrário, como
ser diferente do homem a mulher tem também sua vocação pessoal para tantas outras coisas
que não é justo lhe reprimir a realização neste sentido para ser somente
auxiliadora e nada mais. Aliás, até mesmo para auxiliar com idoneidade é preciso
que ela saiba sempre e cada vez mais.
A despeito da criação do homem e da mulher ter se dado nestes termos para chegarem a ser um só ser, o que implicaria na existência respeitosa da individualidade de cada um pelo outro o fato é que a coisa não caminhou bem nesta direção.
Dominado pelo machismo o homem acabou subjugando a mulher de
forma tal que esta se viu prejudicada na função de auxiliadora idônea.
Julgando-se capaz de fazer tudo e de pensar sozinho de forma mais correta, o homem foi estabelecendo sua independência em relação a sua mulher, mesmo
sem deixar de ser o ser incompleto que foi desde o início.
Esse procedimento chamado de machista trouxe para o homem a sensação de se achar completo, de se sentir superior, de se julgar independente, olhando para a mulher como um ser
inferior e pouco qualificado para lhe emprestar ajuda em seu desenvolvimento
pessoal. Desta forma, ao invés de receber a mulher na condição de auxiliadora
idônea o homem somente a recepcionou como mulher, o que não convém à boa
estruturação do lar.
Sufocando e rejeitando a mulher em sua nobre função de
auxiliadora idônea, o homem não percebeu que seu machismo não “matou” somente a
mulher mais ele próprio também morreu, pois com essa atitude ele perdeu sua melhor
fonte de consulta e a partir daí suas ações não foram levadas com equilíbrio.
É possível observar que muitos casais não vão bem no sentido
cultural, econômico, financeiro, espiritual, etc., exatamente porque o marido sacrificou
sua auxiliadora idônea dela se afastando para ignorar seus conselhos e ideias tornando-se
um ser propenso a muitas cabeçadas.
A história tem muitos exemplos de lares que se perderam e de
homens que não tiveram um bom desenvolvimento profissional, cultural e etc. pelo fato de terem resistido ser auxiliados por suas esposas.
O homem casado não vai para frente de forma segura na vida
profissional, cultural, social etc. sem que conte com a participação de sua
mulher, e quanto mais se torna aberto ao seu auxilio maiores as possibilidades
de ter sucesso em tudo o que faz.
O machismo foi contra o próprio macho quando lhe trouxe a “solidão”
no lar, pois a partir do momento que induziu o homem a “matar” sua auxiliadora
idônea o homem voltou àquela “solidão” que tinha no jardim antes da mulher
existir.
Quando o homem não acolhe sua esposa com o status que Deus a criou, sua atitude
está dizendo que Deus não estava certo ao criar a mulher com tal capacidade, o
que nem de perto pode contar com Suas bênçãos.
Machismo é uma atitude pecaminosa que não faz bem ao homem a quem
Deus criou com a necessidade de ser auxiliado, à mulher a quem Deus dotou de
capacidade de auxiliar, menos ainda ao casal a quem Deus propôs uma união para
ser um só ser.
Ao menos os casais crentes, os quais têm a Bíblia como regra
de fé e prática, talvez seja conveniente repensar algumas atitudes.
Lutero de Paiva Pereira