A ressurreição de Jesus Cristo foi um marco teológico
e histórico sem igual na história da humanidade, pois ninguém antes dEle ou
alguém depois dEle foi capaz de realizar algo tão espetacular.
Foi um marco teológico de grande repercussão porque a
ressurreição trata da intervenção mais objetiva de Deus na história do homem, com
consequências que transcendem o tempo e apontam para a eternidade.
No Antigo Testamento Deus realizou muitos sinais
espetaculares em beneficio do seu povo como, por exemplo, abrir o mar vermelho
para os israelitas passar a pé enxuto quando deixavam o Egito em direção a
terra prometida, enviar alimento para o povo no deserto durante o tempo de sua
peregrinação ali, etc.
No entanto, quando a ressurreição vem a tona ela se
torna o fato mais notável entre todos os sinais divinos jamais realizados, pois
tal acontecimento dentro da geografia humana tem conotações espirituais
suficientes para atingir o próprio reino das trevas que dominava a terra.
Afinal, a morte tem no pecado a causa principal de sua
ingerência na historia do homem, e nenhum pecador tem como escapar ao seu
poderia.
A Bíblia registra que como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,
assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram (Rm
5.12).
Assim, no mundo
espiritual da maldade a ressurreição
lançou seus efeitos vitoriosos, pois Jesus despojando
os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo (Cl 2.15), para trazer libertação ao homem.
Como a morte entra no mundo por meio de um homem, a
saber, Adão, a vida, pela ressurreição, também entra no mundo por meio de
homem, ou seja, Jesus como está escrito:
Se pela
ofensa de um e por meio de um só (Adão)
reinou a morte, muito mais os que recebem
a abundância da graça e dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a
saber, Jesus Cristo (Rm 5.17).
Ao se fazer vitorioso através da ressurreição Jesus
podia, enfim, dizer: vivo e fui morto,
mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e
do inferno (Ap 1.18).
A ressurreição, em termos teológicos, aponta para o
fim do império absoluto da morte.
Mas além de ser um marco teológico a ressurreição foi
também um marco histórico porque, dentre outras coisas, o seu Autor acabou
influenciando a própria contagem do tempo.
A partir do momento que ressuscitou dentre os mortos Jesus
se tornou um homem notável e sem igual, e de tal sorte foi seu destaque na História
que a partir dEle o calendário foi dividido em dois tempos distintos, a saber,
o antes de Cristo – AC – e o depois
de Cristo – DC.
Porque Jesus ressuscitou dentre os mortos vivemos hoje
no ano 2013 da era cristã e não no ano 6013, 7013 ou coisa parecida, e isto
para mostrar que a ressurreição fez iniciar um novo tempo no calendário humano.
Mas se por meio da ressurreição Jesus Cristo foi capaz
de mudar a contagem do tempo repartindo-o em dois períodos diferentes, é igualmente
certo que Cristo, uma vez crido pelo
homem como seu Salvador e confessado como seu Senhor, pode mudar o tempo da
pessoa que por Ele é salva.
Quando a Bíblia diz que quem está em Cristo é nova criatura, as coisas antigas já passaram, eis
que tudo se fez novo (2 Co 5.17),
este verso aponta para dois períodos de tempo diferentes na história de quem
crê em Cristo.
O primeiro tempo apregoado no versículo é aquele
anterior à conversão, chamado de tempo das coisas
antigas, e o segundo é o tempo depois da conversão indicado no texto como o
tempo onde tudo se fez novo.
O tempo das coisas
antigas, pelo teor da Escritura, já passaram e o tempo das coisas novas é o do que está por vir e
aponta para a eternidade com Deus.
O tempo das coisas
antigas é o tempo AC, isto é,
antes de crer em Cristo quando a esperança de vida eterna não existe, porque a
fé salvadora ainda não operou no coração.
Já o tempo das coisas
novas é o tempo DC, isto é, depois
de crer em Cristo, quando houve a regeneração e com ela uma perspectiva e
expectativa de vida no coração do salvo.
Só quem crê em Cristo experimenta esta mudança de
contagem no tempo de sua existência pessoal, saindo do tempo AC e passando para o tempo DC.
Se a ressurreição de Cristo não tivesse ocorrido a pregação seria vã, e vã, também, a vossa fé (1 Cor 15.14), diz o
apóstolo Paulo.
Mas como Cristo ressuscitou a fé não é vã ou vazia,
mas sim, tem conteúdo, bem assim a pregação não é vã ou vazia, pelo contrario,
é capaz de comunicar uma realidade que o homem pode experimentar.
Passaram-se décadas, séculos, milênios desde o tempo
em que a morte entrou no mundo até que nasce em Belém de Judá, numa pequena
cidade de Israel, uma criança que mais tarde seria apresentada aos homens como
sendo Filho de Deus.
Na condição de Filho de Deus Jesus começa a fazer uma
pregação bastante ousada ao dizer que venceria a morte e daria vida aos homens.
Aos ouvidos de pessoas que relutavam em crer em sua
pregação Jesus dizia: Quem crê em mim,
ainda que esteja morto viverá (Jo 11.25); Eu lhes dou a vida eterna; jamais
perecerão ( Jo 10.28); Por que eu vivo, vós vivereis (Jo 14.19);Eu sou a
ressurreição e a vida (Jo 11.25).
Alguns achavam aquilo um absurdo, enquanto outros
criam, mas criam com reserva ou desconfiança em razão do ineditismo da proposta.
Até aqueles que seriam feitos seus discípulos têm
dificuldade de acolher no coração sem qualquer reserva essa mensagem.
Chega, finalmente, o dia de conferir se a pregação era
realmente verdadeira, pois Jesus é preso e condenado à morte de cruz.
Morto na cruz, a qual ficou conhecida como cruz do Calvário
por ser este o nome do monte onde ela foi erguida, Jesus tem seu corpo retirado
do madeiro e posto na sepultura.
É possível pensar que o cortejo fúnebre de Jesus foi
bem concorrido.
Passam-se dois dias e o corpo do grande pregador ainda
está no túmulo, o que certamente mexe com a mente dos seus discípulos fazendo-os
pensar que estavam certos em não acreditar totalmente na mensagem que dEle
ouviram.
Alguns dos seguidores, decepcionados, começam a deixar
a cidade de Jerusalém pois não podem esperar contra a esperança.
Sabendo que Jesus estava morto algumas mulheres vão ao
seu túmulo para render-lhe homenagem, levando perfumes para afastar dali o
cheiro terrível da morte. E ao chegarem ao sepulcro são surpreendidas com o
fato de não verem o corpo de Jesus no túmulo.
A primeira coisa que pensam não é na ressurreição, já
que isto não era lógico, mas sim que roubaram o corpo do Mestre.
Enquanto estão espantadas com o sumiço do corpo de
Jesus, eis que dois varões de branco se põem diante delas e indagam:
Porque
procurai entre os mortos aquele que vive?
A pergunta traz embutida uma afirmativa: Jesus ressuscitou.
Era o evangelho sendo proclamado em alto e bom som pela
primeira vez no ambiente mais adequado para ser ouvido, a saber, no cemitério.
Afinal, a ressurreição é uma mensagem a ser ouvida por
homens mortos em delitos e pecados.
Jesus vive; a morte foi vencida; há esperança; um
tempo novo se inicia na terra, era o que a ressurreição anunciava aos seus
primeiros ouvintes.
As mulheres saem apressadamente para contar o ocorrido
aos discípulos, os quais têm as reações mais diversas.
A ressurreição traz muitos significados.
Ela diz que Jesus era realmente o Filho de Deus; que Jesus
se tornou Senhor; que Jesus pode salvar da morte os pecadores; que Jesus é o único
mediador entre Deus e os homens; que Jesus pode justificar o pecador de todas
as suas transgressões.
Afinal, Jesus não ressuscitou para seu benefício
pessoal, senão para benefício daqueles que neles viessem a crer, pois é através
de sua ressurreição que Ele reconcilia o pecador com Deus.
Não se pode perder de vista que tanto a morte de Jesus
como Sua ressurreição, ambos os acontecimentos têm como causa principal o homem,
pois a Bíblia diz que Jesus morreu por causa dos nossos pecados, e não por
causa dos pecados dEle, e que Ele ressuscitou para nossa justificação e não
para justificar-se a Si mesmo, pois Ele era justo em sua natureza.
Ainda se pode dizer que Jesus não ressuscitou para ter
a imortalidade para si, senão para comunicar a imortalidade aos homens mortais,
nem ressuscitou para voltar a desfrutar da glória que tinha com Deus antes que
o mundo existisse, senão para também levar os crentes a desfrutarem de igual
privilégio.
É por estas e outras razões que se pode afirmar que a
ressurreição é o evangelho ou as boas novas, pois é a partir dela que tudo
acontece em termos de salvação.
Há, portanto, evangelho a proclamar, boas novas a anunciar
e esperança a comunicar, pois ao Cristo ressurreto todo poder no céu e na terra
(MT 28.18) lhe foi outorgado.
Mas a pergunta que não quer calar é a seguinte: qual é
o tempo de sua vida atual, antes de
Cristo – AC - ou depois de Cristo - DC?
Se você ainda não creu em Cristo sua vida está no
período AC – antes de estar em Cristo – ou
seja, no tempo das coisas antigas e por
isto mesmo sem Deus e sem esperança no mundo.
Mas se deseja viver no tempo DC - depois de crer em Cristo
- quando tudo se faz novo, isto é, no tempo da esperança, é preciso se arrepender
dos pecados, crer em Jesus e batizar-se imediatamente como prova da fé.
Lutero de Paiva Pereira