sábado, 21 de abril de 2012

A ESPERANÇA QUE VEM DO EVANGELHO

Embora a fé em Jesus Cristo traga mudanças imediatas na vida do crente, oferecendo-lhe uma realidade nova desde logo, não se pode perder de vista que seus efeitos mais espetaculares ainda estão por acontecer.
Desde modo, não há dúvida, a esperança é um ingrediente ativo da fé, e sem que ela exista é possível dizer que a fé se mostra contaminada por algum vício doutrinário que precisa ser rapidamente corrigido.
Quando Paulo diz que se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens (1 Co 15.19), suas palavras têm  a nítida proposta de alertar seus leitores para o fim último da fé que, no caso, não é nem o presente nem o mundo atual, mas o futuro e um mundo que está por acontecer.

Com tais palavras o apóstolo quer dizer, de um lado que a fé em Cristo transcende o tempo atual e a realidade que hoje nos cerca e, de outro que se o crente espera em Cristo somente para o contexto deste mundo, como é próprio dos homens que não esperam para além desta vida, ele se torna um homem miserável, palavra que no original significa alguém digno de compaixão, de piedade.
Esperar em Cristo somente para este mundo torna o crente uma pessoa digna de piedade porque está sem o melhor da esperança que vem do evangelho.
Sem a melhor esperança o crente se torna um ser infeliz, por estar pondo sua expectativa em coisas passageiras, imprecisas e vulneráveis.
Portanto, sem se alienar da vida atual, sem se converter numa pessoa estranha no meio dos seus semelhantes, sem fazer opção por um comportamento que lhes retire aspectos normais da própria humanidade, o crente deve acolher no coração a esperança que vem do evangelho, a qual tem na Escritura Sagrada registros mais que suficientes para lhe dar sustento.
É sob tal entendimento que Paulo optou por direcionar seus dias em razão da certeza que lhe embalava a alma em termos de esperança: Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada (Rm 8.18).
Tendo isto em conta, não seria de todo errado afirmar que o melhor da fé ainda está por acontecer, ainda que muitas coisas boas a partir do novo nascimento já possam ser experimentadas por quem creu em Cristo, pois Paulo ensinou: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam ( 1Co 2.9).
As coisas que Deus preparou para os que o amam são aquelas que se concretizarão ao tempo da volta de Cristo quando, enfim, seu Reino se estabelecerá em definitivo e totalmente nesta terra.
Em razão do aspecto grandemente futurista da fé cristã, tirar os olhos da era vindoura ou da expectativa justa que deve nortear o ânimo do crente, é reduzir em muito a amplitude do próprio termo salvação.
Afinal, salvação traz bem mais benefícios do que aqueles que comumente lhe são atribuídos.
Em termos de salvação muitos crentes estão convictos de que não mais irão para o inferno, o que é uma verdade. No entanto, eles não estão igualmente certos para onde irão e nem como viverão.
Pensar para onde não se vai é bem diferente de pensar para onde se vai, sendo certo dizer que o crente precisa estar certo, isto sim, para onde irá para então estar mais que seguro para onde não irá.
É para falar da esperança positiva, isto é, daquela que diz como será, e não da esperança negativa, ou seja, daquilo que fala do como não será, é que se ocupa esta reflexão.
Já ao tempo da evangelização a mensagem deve criar no coração do pecador a esperança de que por intermédio de Jesus Cristo ele poderá ter seu relacionamento com Deus restaurado plena e totalmente tão logo confesse a Jesus como Senhor e O receba como Salvador.
Quando o homem ainda não regenerado ou ainda não crente ouve o evangelho, a mensagem corretamente anunciada lhe assegura, dentre outras coisas, a reconciliação com Deus, a qual decorre da justificação de seus pecados, justificação que sela sua paz com Deus de forma definitiva.
Assim está escrito: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5.1).
É por intermédio da redenção que há em Cristo que tudo isto acontece com o pecador.
Redimir é o mesmo que resgatar. No caso, o evangelho propõe redimir, resgatar e livrar o pecador do seu estado atual de morte e inimizada com Deus, elevando-o a condição de vivificado em Cristo para ser adotado como filho de Deus.
A não ser por intermédio do evangelho ninguém poderá esperar ter sua comunhão com Deus trazida a realidade, pois somente no evangelho é que ela é possível de ser encontrada.
Uma vez concretizada a esperança inicial da mensagem, o que acontece quando o pecador recebe a Cristo como salvador, ocasião em que seu espírito é regenerado, isto é, é gerado de novo, a partir daí ele se mantém confortado pela esperança de ter seu corpo redimido e assegurada sua morada numa terra igualmente restaurada.
Um dia, conforme está escrito, aquele que nasceu de novo terá seu corpo redimido dos efeitos do pecado.
Sabemos todos, e não há novidade nisto, o homem é um ser complexo que tem seu lado espiritual e também seu lado material ou físico que é o corpo.
Considerando que o corpo humano não foi regenerado no momento em que o espírito humano foi gerado de nova pela fé em Jesus Cristo, para o homem se tornar um ser completamente salvo e ter a plenitude da salvaçao, é preciso que seu corpo passe também por uma transformação tal que lhe dê a dignidade de ser efetivamente uma nova criatura em sua totalidade, a saber, corpo e alma.
O apóstolo Paulo escreve que nós esperamos a redenção do nosso corpo: E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo (Rm 8.23).
Esta redenção implica no fato do corpo ser resgatado ou livrado do seu estado atual de mortalidade e corruptibilidade para ser, enfim, revestido da imortabilidade e da incorruptibilidade: E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória ( 1 Co 15.54).
 Paulo ainda diz que na parousia Cristo transformará nosso corpo abatido para ser um corpo de glória semelhante ao dele: Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas (Fp 3.21).
Com o espírito redimido e com seu corpo totalmente restaurado, num e noutro caso livre do pecado, o crente se tornará uma pessoa completamente salva  para viver com Deus e para Deus, desfrutando de bem-estar jamais experimentado.
Portanto, como é certa a redenção do corpo vale a pena manter os olhos postos nesta esperança que vem do evangelho.
Uma vez que o crente teve seu relacionamento com Deus restaurado quando creu em Jesus Cristo, e como terá seu corpo transformado quando Cristo voltar, resta saber em termos de esperança o que a Bíblia diz sobre seu lugar de habitação.
Com efeito, Deus tem reservado para o homem que creu em Cristo um lugar de indizível satisfação, chamada de nova terra.
Sobre ela escreveu o apóstolo Pedro: Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça (2 Pe 3.13).
Há uma promessa da parte de Cristo de dar aos salvos novos céus e nova terra, um ambiente totalmente conforme a justiça ou retidão procedente de Deus para ser ali o seu ambiente de vida eterna.
 Esta nova terra que será a morada dos crentes o apóstolo João diz ter visto: E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe (Ap 21.1).
 A nova terra, esperança dos salvos, não é coisa que aparece só no Novo Testamento, pois no Antigo Testamento o profeta já falava dela: Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão (Isa 65.17).
Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude ( 1Co 10.26), quando do retorno de Cristo a Bíblia diz que ela e seus elementos abrasados serão desfeitos e transformados para dar lugar a uma terra nova, livre totalmente de todos os efeitos negativos que o pecado trouxe sobre ela: Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão (2 Pe 3.10)
Em lugar da terra antiga haverá  a terra nova onde Deus mesmo fará sua morada com os homens: E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus (Ap 21.1-3).
Com a terra restaurada por Deus e para Deus, os crentes viverão ali a plenitude de sua salvação.
Tendo em conta a esperança da redenção da corpo e a restauração da terra para uma habitação eterna, quem olha para frente, para aquilo que Deus tem proposto para os que o amam, dificilmente terá interesse de voltar ao status quo ante, ou seja, ao tempo em que sua esperança se limitava aos termos finitos e passageiros desta terra que se desfará.
Tendo isto em vista, vale a consoladora advertência apostólica de se manter firme e fundado na fé e de não se deixar afastar da esperança do evangelho: Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro (Cl 1.23).
Lutero de Paiva Pereira

quinta-feira, 19 de abril de 2012

OLHANDO PARA JESUS

Considerando que  os olhos têm grande influência sobre os desejos da alma, é preciso cuidar para que eles contemplem coisas valiosas para que o coração tenha aspirações de valor.
O ditado popular que consagrou a máxima de que aquilo que os olhos não vêem o coração não deseja, facilmente pode ser comprovado diante de uma vitrine numa loja de roupa, numa loja de calçados ou mesmo diante de uma exposição de carros, de motos, etc.
Sabendo que os olhos comandam o coração e que o objeto contemplado se torna muitas vezes um alvo a ser alcançado, o autor sagrado ao pretender estimular os crentes a prosseguirem em sua jornada em direção a vontade e ao propósito de Deus, diz que eles devem  olhar para Jesus o autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2).
Se os olhos olharem para Jesus, o escritor está convicto disto, o coração dos crentes desejará Cristo, e nEle encontrarão  todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.
É certo que o escritor não tem em conta o olhar físico, pois é impossível olhar para Jesus vendo-o com os olhos naturais. O que ele sabe, e sabe muito bem, é que é possível sim, olhar para Jesus no sentido espiritual, contemplando-O através das páginas da Escritura Sagrada.
Afinal, é através das Escrituras que o Verbo invisível se torna visível, e isto através da iluminação que vem do Espírito Santo ao coração daqueles que desejam ver o Senhor da glória.
E ao ver o autor e consumador da nossa fé o crente começa a ter no coração os desejos mais santos, os anseios mais sagrados, as aspirações mais sadias em termos de fé, coisas estas mais que suficientes para levá-lo a uma vida de grande prazer e alegria, resultando isto em  compromisso com o Reino de Deus.
Assim, correr a carreira cristã olhando para Jesus não é somente uma questão de direção certa, mas também de alvo correto, pois conhecer a Cristo não é só  o fim do caminho, como também o próprio caminho.
Se, todavia, é certo dizer que o coração deseja o que vê, não é menos correto afirmar que o coração não deseja o que não vê.
Diante disto, se o coração não tem desejado Cristo, a única explicação plausível para explicar este estado de desinteresse é que os olhos não têm sido postos nEle.
Mas se os olhos, em termos de fé, não têm sido colocados em Cristo é porque estão contemplando qualquer outra coisa, já que é impossível que não estejam fixados em algo ou alguém.
Para reverter esta situação de desinteresse do crente por Cristo, a pregação deve apresentar Cristo aos seus “olhos” sempre e cada vez mais, de modo que a cada novo sermão a visão se amplie e o desejo de conhecê-lo se multiplique. 
Se conhecer a Cristo é a dinâmica da carreira cristã, quando esta dinâmica perde sua efetividade a fé inicialmente viva se torna num amontoado de normas religiosas, cujas práticas entediam o coração.
Aqueles crentes cujos olhos ficaram distraídos ao longo da caminhada, os quais passaram a contemplar coisas que nada tinham a ver com o propósito para o qual foram salvos, e que ambicionam agora mudar  esta situação de desconforto e de apatia, a qual lhes abate a alma, as palavras de Davi se mostram mais que oportunas: Olharam para ele, e foram iluminados (Sl 34.5).
Deixe, portanto, seu coração se levar pelo prazer de conhecer a Deus pondo seus olhos em Cristo, o autor e consumador da nossa fé, pois  ninguém jamais viu a Deus, mas o Filho Unigênito que está no seio do Pai o revelou (Jo 1.18).
Lutero de Paiva Pereira

quinta-feira, 5 de abril de 2012

EFEITOS DA RESSURREIÇÃO



O balonismo é um esporte muito bonito, de modo que quando os céus são enfeitados pelo colorido dos balões é impossível não olhar para cima e admirar a suavidade desses gigantes em pleno vôo.
Mas antes de decolar, quando o balão ainda está murcho e estatelado no chão, não dá para imaginar como ganhará as alturas sem nenhum motor para impulsioná-lo.
Mas tão logo o maçarico é aceso queimando gás propano C3H8, o processo de jogar ar quente dentro do envelope dá forma ao balão e em poucos minutos ele se desprende do chão, porque se torna mais leve do que o ar atmosférico.
A figura do balão deixando a terra e ganhando os céus nos ajuda a pensar a repeito do processo que envolveu a ressurreição de Jesus Cristo.
Depois que foi morto na cruz Jesus teve seu corpo sem vida e murcho como um balão sem ar quente, colocado na sepultura.
Jazendo morto ali, ninguém, nem mesmo os discípulos, podiam crer que Ele voltaria com vida ao mundo dos viventes.
No terceiro dia depois de sua morte, porém, quando nenhuma possibilidade de reversão do quadro existia, o poder de Deus agindo no corpo de Cristo mudou por completo aquela situação.
O Espírito Santo soprou a vida divina para dentro de Cristo, vida que é mais poderosa do que a morte, fazendo Jesus se levantar dentre os mortos, deixando para trás aquela sepultura fria comum a todos os homens.
Foi por causa desse acontecimento inédito na história que os anjos disseram as mulheres que foram ao túmulo de Jesus: porque buscais entre os mortos aquele que vive? Ele não está mais aqui mas ressuscitou (Lc 24.5).
Jesus deixa a morte com vida, e vida que nunca mais morre, conforme escreveu Paulo: Sabendo que, tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele (Rm 6.9).
A diferença entre Jesus fora da sepultura pelo poder de Deus e o balão nos céus pelo poder do ar quente, é que o poder do balão acaba quando o cilindro de gás propano C3H8 se esvazia, mas o poder de Cristo não acaba nunca pois procede de fonte que não se esgota, a saber, o próprio Deus.
A ressurreição de Cristo traz inúmeros benefícios para o homem, de modo que meditar sobre seus efeitos faz bem à fé.
Esta ressurreição que tanto bem comunica aos pecadores, ela mesma concedeu a Jesus um status que o distingue entre todos os outros homens, pois nenhum mortal jamais entrou na morte e saiu dela com poder como Ele o fez.
E será nesta perspectiva da ressurreição que abordaremos 3 dos seus efeitos sobre a pessoa de Jesus Cristo.
1º. - O primeiro efeito da ressurreição em relação a Jesus foi que ela declarou de forma incontestável que ele era verdadeiramente o Filho de Deus.
São palavras do apóstolo Paulo: Declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 1.4).
            No grego o verbo declarar tem o significado de: demarcar a fronteira, decretar, apontar, indicar com poder.
Quando se lê que a ressurreição declara que Jesus é o Filho de Deus, isto não quer dizer que ela torna Jesus Filho de Deus a partir do momento em que o fato acontece, mas sim, que a partir do seu acontecimento fica mais que provado que Jesus é o Filho de Deus.
Certa vez, e isto antes de sua ressurreição, Jesus perguntou aos discípulos: E vós, quem dizeis que eu sou? (Mt 16.15). Pedro responde: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.16).
Pedro não fez a afirmativa Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo baseado em seu conhecimento pessoal a respeito da filiação divina de Jesus, mas a partir da revelação que Deus lhe deu a conhecer naquele momento, conforme Jesus lhe disse: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus (Mt 16.17).
 Se Deus teve que revelar a Pedro que Jesus era seu Filho, isto quer dizer que sua filiação divina não era tão evidente aos olhos dos próprios discípulos.
Noutro momento, estando no monte da transfiguração, Pedro, Tiago e João são surpreendidos com uma voz vinda do céu que lhes dizia: Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o (Mt 17.5).
Eles ficam sabendo que Jesus era o Filho de Deus não por uma dedução pessoal quando veem Jesus transfigurado diante si, mas por que uma voz vinda dos céus lhes dava a conhecer esta realidade.
Até mesmo João Batista, ao tempo em que batizou Jesus, foi alertado por uma voz do céu dizendo: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo (Mt 3.17). Porém, para as demais pessoas que não ouviram esta voz a filiação de Jesus ainda era um grande segredo.
Para que as pessoas pudessem saber que Jesus era realmente o Filho de Deus, e isto sem que uma voz do céu tivesse sempre que dizer isto, era necessário um acontecimento público, incomum, espetacular, único na história que testemunhasse nestes termos sempre.
Foi, então, que a ressurreição aconteceu para declarar de uma vez por todas que Jesus Cristo era o Filho de Deus.
É fato que por todo o tempo de sua vida terrena Jesus viveu como Filho de Deus e falava que Deus era seu Seu Pai - Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus (Mt 7.21).
Aliás, foi mesmo em razão de Jesus se dizer Filho de Deus que os principais sacerdotes encontraram na lei uma razão para condená-lo à morte diante de Pilatos: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus (Jo 19.1-7).
É certo que houve momentos em que os discípulos viram em Jesus uma pessoa excepcional que lhes causava espanto, como foi o caso quando Ele acalmou um tempestade no mar: Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem? (Mt 8.27), mas isso não foi suficiente para declarar que Jesus era o Filho de Deus.
Porém, quando Jesus ressuscita dentre os mortos este acontecimento especial na história deixa mais que evidente, mais que certo, mais que provado que Ele era o Cristo prometido desde o Antigo Testamento, o Filho de Deus enviado ao mundo podia livrar os homens do perecimento eterno: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3:16).
A ressurreição foi, assim, o meio eficaz para Deus declarar que o Jesus de Nazaré era Seu Filho amado.
 “Paulo afirma que Cristo foi declarado com poder, porque foi visto nele o poder que com propriedade pertence a Deus, e o qual comprovava além de qualquer dúvida que Cristo era Deus“, diz João Calvino.
O fato histórico da ressurreição deixa demarcado, e com marcos que não podem ser removidos, e isto diante de homens e potestades, que Jesus, o Filho de Deus esteve entre nós, e que vivendo aqui cumpriu a missão salvadora que o Pai lhe confiou.
Se Jesus tivesse nascido, vivido, feito as coisas que fez, falado o que falou, morrido e não ressuscitado, Ele não seria considerado Filho de Deus, mas filho de um homem qualquer, e neste caso a fé nele depositada, no dizer de Paulo, seria (1 Co 15.18).
Mas como Ele ressuscitou dentre os mortos a fé que nele se professa tem consistência, tem conteúdo, tem esperança.
Sem ressuscitar Jesus seria digno de ser estimado, no máximo, como um homem bom, um grande sábio, alguém dotado de poderes especiais, mas sem poder para salvar o pecador.
Porém, como Ele ressuscitou, mais que um homem bom, mais que um grande sábio, mais que alguém dotado de poderes especiais, Ele se revela como o Filho de Deus.
Depois da ressurreição nenhum voz do céu precisa dizer às pessoas que Jesus é o Filho amado de Deus pois a ressurreição fala por si só e ninguém pode calar sua voz. 
A ressurreição é como um outdor ou mesmo um alto falante a anunciar ao mundo que Jesus Cristo é o Filho de Deus e, como tal, Deus também.
Ao declarar que Jesus é o Filho de Deus a ressurreição também comprova que Ele é único nesta categoria, pois ninguém jamais venceu a morte como Ele o fez.
Agora nenhum homem pode alegar ignorância a respeito da identidade de Jesus Cristo como o legítimo Filho de Deus, ainda que se negue a crer nele como seu salvador pessoal.
Portanto, o primeiro efeito da ressurreição foi declarar que Jesus Cristo é o Filho de Deus.
2º - O segundo efeito da ressurreição foi transformar Jesus, o servo dos homens em Jesus, o Senhor dos homens.
Antes de ressuscitar Jesus falou de sua condição de servo: Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mc 10.45).
No entanto, depois da ressurreição a Bíblia fala de sua posição de senhor: Porque foi para isto que morreu Cristo, e ressurgiu, e tornou a viver, para ser Senhor, tanto dos mortos, como dos vivos (Rm 14.9).
Portanto, o Filho de Deus que inicialmente se propôs a ser servo dos homens, agora se constituí em Senhor de todos eles, e isto pelo status que a ressurreição lhe conferiu.
No grego a palavra Senhor - kurios - quer dizer aquele que é poderoso, autoritativo, soberano e como tal controlador de tudo e todos.
Ao escrever aos filipenses Paulo diz que em sua encarnação o eterno Filho de Deus, não tendo por usurpação o ser igual a Deus, a si mesmo se esvaziou tomando a forma humana, apresentou-se entre nós como servo.
Mas prossegue o escritor dizendo que pela ressurreição Jesus, o servo, se tornou Jesus, o Senhor, de modo que toda língua agora deverá confessá-lo como tal: Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome,  para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra,  e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2.9-11).
Deste modo, a partir da ressurreição não existe mais o Jesus servo mas, somente o Jesus que é Senhor, com autoridade sobre mortos e vivos: Porque foi para isto que morreu Cristo, e ressurgiu, e tornou a viver, para ser Senhor, tanto dos mortos, como dos vivos (Rm 14.9).
A ressurreição, portanto, marca o término do curto espaço de tempo em que o Filho de Deus se fez servo das criaturas, e dá início ao tempo eterno em que o Filho de Deus se torna Senhor sobre toda a criação.
E Jesus é Senhor porque todo poder lhe foi dado no céu e na terra (Mt 28.18), para ser temido por homens e potestades, e reverenciado por aqueles que nele creem.
Espanto e temor tomaram conta de João na ilha de Patmos quando teve a visão de Jesus com todo seu status, esplendor e glória de Senhor, a ponto de cair no chão e ser socorrido pelo próprio Senhor que colocando sobre ele as mãos lhe disse: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno (Ap 1.9-18).
Na condição de Senhor é que Jesus pode salvar ou condenar o homem; livrá-lo da morte ou mantê-lo nela; tirar alguém do império das trevas transportando-o para o reino da luz ou isto não fazer, enfim, fazer tudo e qualquer coisa, pois tem poder mais que suficiente para realizar o que lhe apraz ou convém fazer.
Se Jesus não é visto assim, não é visto como Senhor.
Neste período em que vivemos, chamado de tempo da graça, o Senhor Jesus pode salvar os perdidos, já que esta sua missão salvadora perdurará até sua segunda volta, mas para que isto aconteça é preciso que o pecador O confesse como Senhor - Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo (Rm 10.9).
Na primeira pregação evangelística realizada pelo apóstolo Pedro no dia de pentecostes sua ênfase foi dizer aos seus ouvintes que aquele Jesus que eles tinham crucificado, Deus o fez Senhor e Cristo ao ressuscitá-lo dentre os mortos - Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo (At 2.36).
Na casa de Cornélio Pedro volta a enfatizar que Jesus é o Senhor de todos, e faz isto quando está tratando do evangelho -  A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, este é o Senhor de todos ( At 10.36).
O Jesus rejeitado pelos homens agora requer que os homens O reconheçam como Senhor, e caso não o façam não têm como serem salvos pelo mesmo Jesus que é Salvador.
Portanto, o segundo efeito da ressurreição foi outorgar a Jesus o título de Senhor.
3º  – Pela ressurreição Jesus se torna o único Salvador dos homens.
E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos (Atos 4:12), disse o apóstolo Pedro cheio do Espírito do Santo.
A salvação que vem de Jesus Cristo aos homens por obra da graça divina consiste em conceder aos pecadores o perdão dos pecados, a reconciliação com Deus e a vida eterna.
Para ser salvo o homem precisa se livrar da ira divina que no futuro se manifestará, e o único capaz de lhe dar proteção para esse tempo é Jesus Cristo:  E esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura (1 Tes 1:10).
Porque a pregação moderna normalmente não alerta os homens sobre a questão da ira divina a se derramar no futuro, a salvação que em Cristo está presente nem sempre é compreendida corretamente pelos pecadores. 
Credenciado pela ressurreição para salvar da morte os homens, Jesus se tornou o único nome que os homens devem invocar ou buscar socorro para não serem tragados pela morte.
Na qualidade de Salvador Jesus é capaz tanto de salvar como de manter salvos aqueles que nele creem, já que sendo também Senhor, ninguém lhe é superior para derrotá-Lo e arrancar de suas mãos aqueles que Ele guarda.
Não foi sem razão que Jesus mesmo afirmou:  As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai (Jo 10.27-29).
O Salvador é conhecido por seu nome poderoso, nome que a Bíblia diz estar acima de todo nome, e que em nenhum outro nome há poder para salvação:  em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos (At 4.12)
Ao falar em nome o que está em evidência é a pessoa para a qual o nome aponta, de modo que o nome é importante na medida em que a pessoa que o ostenta também o seja.
O nome de Jesus é poderoso para salvar porque Ele é o Filho de Deus, o Senhor dos senhores.
Se Jesus não tivesse vencido a morte Ele não passaria de um nome comum e sem poder, como é próprio de todos os demais nomes de homens que são fracos diante da morte, pois morrem e não ressuscitam.
Como a ressurreição tornou a pessoa de Jesus poderosa, todos os que invocam ou buscam socorro no seu nome serão salvos: E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (Atos 2:21). 
Quando a Bíblia fala que em nenhum outro nome há salvação ela quer dizer que em nenhuma outra pessoa há poder para salvar os homens, senão exclusivamente em Jesus Cristo, o Filho de Deus, Senhor e Salvador.
Por isto a evangelização implica em anunciar aos homens o nome de Jesus Cristo, de modo que apropriar da salvação requer aos homens confessar o nome de Jesus como Senhor.
As boas-novas ou o evangelho é a mensagem gloriosa da graça de Deus, segundo a qual o homem tem agora a sua disposição para crer num Salvador que pode efetivamente livrá-lo da morte, porque Ele mesmo venceu a morte.
Portanto, o terceiro efeito da ressurreição foi tornar poderoso o nome de Jesus Cristo para dar salvação aos pecadores.
 Conclusão
Outros pontos poderiam ser estudados para demonstrar os diferentes efeitos da ressurreição na pessoa de Jesus Cristo, mas os que acima foram destacados parecem suficientes, ao mesmo por ora, para levar-nos uma visão melhor e mais abrangente do Filho de Deus, do Senhor dos senhores e do Salvador de todos nós.
Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, escreveu o apóstolo Paulo, serás salvo.  Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação (Rm 10.9-10).
Ao se pensar na ressurreição é preciso fazer conexão direta com Aquele que ressuscitou, e ao olhar para Ele ver nele o Filho de Deus, o Senhor dos senhores e o Salvador dos homens.
Jesus Cristo ressuscitado é como o balão que voando pelo céu leva consigo aqueles que subiram no seu cesto quando ainda estava próximo deles na terra.
Pelo evangelho Jesus está próximo ainda hoje de todos os homens, e isso para dar oportunidade aos pecadores de se arrependerem, de crerem nele e nele se firmarem para irem em direção a Deus e a vida eterna.
Mas para que isto aconteça é preciso que o pecador confesse agora mesmo a Jesus como Senhor e o receba como Salvador, pois só assim terá como passar pela experiência de ser feito uma nova criatura, tornando-se filho de Deus.
Não foi sem razão que o evangelista escreveu: Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (Jo 1.13-14).
Lutero de Paiva Pereira