Por
isto Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a
imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante
duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos
nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; a
qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu,
onde Jesus, como precursor, entrou por nós,... (Hb
6.17-19)
O texto bíblico fala
da esperança que está proposta em favor daqueles que pela fé em Cristo se
tornaram herdeiros das promessas de Deus, esperança que dá sustento verdadeiro ao
crente.
E será sobre a ótica
da esperança como sendo uma ancora da alma que a presente meditação vai se
ocupar.
Navegar com uma
embarcação de pequeno ou de grande porte que não disponha de uma boa âncora é risco
sério, pois chega o momento em que somente a âncora se mostra suficiente para
guardar o barco do perigo das águas e dos ventos.
A palavra âncora remete à idéia de estabilidade e
de firmeza e, então, de tranqüilidade, pois sua grande utilidade é exatamente dar
ao navio a firmeza e a segurança necessárias em momentos difíceis.
Quando se diz que o navio
está ancorado a idéia é que ele está seguro pelas âncoras fundeadas e que nada
o ameaça.
À semelhança de um
navio, o homem precisa, metaforicamente falando, de uma boa âncora para lhe
garantir estabilidade nos momentos de ventos fortes e de ondas incontroláveis que
são próprios do mar da vida.
Ventos de aflição, ondas
de problemas, tempestades de desespero se levantam sem aviso, e só não produzem
grandes desastres sobre aqueles que dispõem de uma âncora que lhes dê
estabilidade.
Sendo a âncora algo
tão importante para a vida é prudente então perguntar: você tem uma âncora para
lhe dar tranqüilidade e segurança? Em caso afirmativo: esta âncora é capaz de lhe
oferecer a segurança que sua alma necessita nos momentos de crise?
A palavra crise indica
uma manifestação violenta e repentina de ruptura de equilíbrio, apontando para um
estado de dúvidas e incertezas que extrapola ao controle.
Uma pessoa em crise está
em desequilíbrio e isto prejudica sua
caminhada, pois sem equilíbrio não há como caminhar reta e firmemente.
O bêbado cambaleante
representa bem o comportamento de uma pessoa em desequilíbrio no período da
crise, pois seus passos são totalmente inseguros e sem direção.
E quem é que nunca
enfrentou uma crise? Quem jamais foi açoitado pelo pensamento que insiste em
buscar explicações para coisas inexplicáveis? Quem nunca perdeu o sono porque
perdeu a segurança do amanhã?
Dentre todas as
crises a de não ter esperança talvez seja a que mais angustia a alma.
Afinal, a
desesperança tem a força de roubar a realização de sonhos acalentados com
grande expectativa, roubando o interesse de viver.
Esperança fala de
coisa futura, de algo que está por vir, de alguma coisa que vai acontecer e que
será de excelente valor para a vida.
Assim, o que a Bíblia
comunica em termos de esperança? A esperança bíblica é capaz de acalentar a
alma?
O evangelho comunica esperança
ao homem e descortina-lhe o amanhã revelando do futuro, pois é da essência e da
natureza da fé bíblica comunicar a certeza
das coisas que se espera, e a prova das coisas que se não vêem (Hb 11.1).
E quem pode ter
certeza em relação às coisas que não vê, quem pode esperar aquilo que não
enxerga, tem uma âncora firme para a
alma.
As boas novas de
Cristo têm como efeito dar ao homem a esperança que lhe foi roubada pelo
pecado, de modo que quem nele crê pode esperar desfrutar da mesma glória que a
Cristo foi comunicada após Sua ressurreição.
Sendo a esperança
algo intrínseco à própria fé cristã o apóstolo Pedro abre sua primeira carta
chamando a atenção dos seus leitores para a bondade de Deus em trazer uma viva
esperança para homens ao tempo em que ressuscitou a Jesus dentre os mortos.
Ele escreve: Benedito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva
esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (1
Pe 1.3).
Foi a ressurreição de
Jesus Cristo dentre os mortos que trouxe viva esperança ou esperança de vida
para aqueles que foram regenerados ou gerados de novo pelo poder do evangelho.
Este nascer de novo o
apóstolo Pedro diz que é decorrência direta da misericórdia de Deus Pai, o qual
deve ser louvado por todos que foram salvos e se tornaram esperançosos em Jesus
Cristo.
E prosseguindo neste
mesmo sentido de esperança o apóstolo diz que os regenerados devem estar sempre preparados para responder a todos
aqueles que vos pedir razão da esperança que há em vós (1 Pe 3.15).
Há, portanto, uma
esperança no coração dos filhos de Deus, esperança esta que quando indagada por
alguém deve ser prontamente comunicada para que o outro também dela possa
experimentar.
Uma vez que Jesus Cristo
venceu a morte e se tornou Salvador e Senhor de quem nele crê, nenhuma dúvida
dominará o coração do crente quanto ao futuro, ou seja, à vida eterna pois esta
lhe está garantida pelo Salvador.
Jesus, como
precursor, e precursor quer dizer aquele que foi primeiro, que foi na frente e desbravou
o caminho, entrou além do véu, ou seja, foi ao encontro de Deus, tornando-se
esperança do homem de encontrar-se com Deus.
Jesus como homem foi
o primeiro a entrar na presença de Deus e fez isto para demonstrar aos homens
que eles também poderão entrar na presença de Deus, para dela desfrutarem para
sempre se O confessarem como Senhor.
Para as pessoas que têm
como âncora da alma coisas que não podem dar estabilidade real e duradoura para
as crises mais sérias, o evangelho se volta para lhes trazer uma boa
expectativa de futuro.
Afinal, se uma âncora
não serve para comunicar segurança, bem-estar e conforto não pode nunca ser
chamada de peça fundamental para a alma.
Nada há nada de
errado em ter bens, sucesso ou coisa que o valha mas o erro consiste em pensar
que isto tem algum valor para guardar a alma nos momentos da tempestade.
A alma atribulada
somente encontrará descanso na crise quando puder contar com a estabilidade que
Cristo pode oferece.
O apostolo Paulo
exorta a não nos deixarmos afastar da
esperança do evangelho (Cl 1.23).
Há no evangelho, e
somente nele, a esperança verdadeira que salva a alma nos momentos que lhe
atacam a angustia.
Deste modo, somente no evangelho das insondáveis riquezas de
Cristo (Ef 3.8) é que os homens encontram a âncora adequada para dar
estabilidade as suas almas e assim mantê-las firmes nos dias de ventos fortes e
de águas turbulentas.
A respeito do estar
com Deus para sempre o salmista escreveu: bondade
e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei
na casa do Senhor para todo o sempre (Sl 23.6).
Assim, a âncora da alma não será
nunca algo mas sim alguém e este, Jesus Cristo,o Filho de Deus.
Quando um pecador é gerado de novo
pelo poder do evangelho, tornando-se uma nova criatura sua alma imediatamente é
ancorada na viva esperança que a ressurreição de Cristo comunica, e quem
esperar assim terá razões mais que suficientes para viver hoje para glória de
Deus.
Grande é a bênção que o homem
experimenta quando pode ancorar-se em Jesus Cristo um Salvador seguro e firme.
Lutero de Paiva
Pereira