sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Âncora da Alma



Por isto Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precursor, entrou por nós,... (Hb 6.17-19)

O texto bíblico fala da esperança que está proposta em favor daqueles que pela fé em Cristo se tornaram herdeiros das promessas de Deus, esperança que dá sustento verdadeiro ao crente.
E será sobre a ótica da esperança como sendo uma ancora da alma que a presente meditação vai se ocupar.
Navegar com uma embarcação de pequeno ou de grande porte que não disponha de uma boa âncora é risco sério, pois chega o momento em que somente a âncora se mostra suficiente para guardar o barco do perigo das águas e dos ventos.
A palavra âncora remete à idéia de estabilidade e de firmeza e, então, de tranqüilidade, pois sua grande utilidade é exatamente dar ao navio a firmeza e a segurança necessárias em momentos difíceis.
Quando se diz que o navio está ancorado a idéia é que ele está seguro pelas âncoras fundeadas e que nada o ameaça.
À semelhança de um navio, o homem precisa, metaforicamente falando, de uma boa âncora para lhe garantir estabilidade nos momentos de ventos fortes e de ondas incontroláveis que são próprios do mar da vida.
Ventos de aflição, ondas de problemas, tempestades de desespero se levantam sem aviso, e só não produzem grandes desastres sobre aqueles que dispõem de uma âncora que lhes dê estabilidade.
Sendo a âncora algo tão importante para a vida é prudente então perguntar: você tem uma âncora para lhe dar tranqüilidade e segurança? Em caso afirmativo: esta âncora é capaz de lhe oferecer a segurança que sua alma necessita nos momentos de crise?
A palavra crise indica uma manifestação violenta e repentina de ruptura de equilíbrio, apontando para um estado de dúvidas e incertezas que extrapola ao controle.
Uma pessoa em crise está em desequilíbrio e isto prejudica sua caminhada, pois sem equilíbrio não há como caminhar reta e firmemente.
O bêbado cambaleante representa bem o comportamento de uma pessoa em desequilíbrio no período da crise, pois seus passos são totalmente inseguros e sem direção.
E quem é que nunca enfrentou uma crise? Quem jamais foi açoitado pelo pensamento que insiste em buscar explicações para coisas inexplicáveis? Quem nunca perdeu o sono porque perdeu a segurança do amanhã?
Dentre todas as crises a de não ter esperança talvez seja a que mais angustia a alma.
Afinal, a desesperança tem a força de roubar a realização de sonhos acalentados com grande expectativa, roubando o interesse de viver.
Esperança fala de coisa futura, de algo que está por vir, de alguma coisa que vai acontecer e que será de excelente valor para a vida.
Assim, o que a Bíblia comunica em termos de esperança? A esperança bíblica é capaz de acalentar a alma?
O evangelho comunica esperança ao homem e descortina-lhe o amanhã revelando do futuro, pois é da essência e da natureza da fé bíblica comunicar a certeza das coisas que se espera, e a prova das coisas que se não vêem (Hb 11.1).
E quem pode ter certeza em relação às coisas que não vê, quem pode esperar aquilo que não enxerga, tem uma âncora firme para a alma.
As boas novas de Cristo têm como efeito dar ao homem a esperança que lhe foi roubada pelo pecado, de modo que quem nele crê pode esperar desfrutar da mesma glória que a Cristo foi comunicada após Sua ressurreição.
Sendo a esperança algo intrínseco à própria fé cristã o apóstolo Pedro abre sua primeira carta chamando a atenção dos seus leitores para a bondade de Deus em trazer uma viva esperança para homens ao tempo em que ressuscitou a Jesus dentre os mortos.
Ele escreve: Benedito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (1 Pe 1.3).
Foi a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos que trouxe viva esperança ou esperança de vida para aqueles que foram regenerados ou gerados de novo pelo poder do evangelho.
Este nascer de novo o apóstolo Pedro diz que é decorrência direta da misericórdia de Deus Pai, o qual deve ser louvado por todos que foram salvos e se tornaram esperançosos em Jesus Cristo.
E prosseguindo neste mesmo sentido de esperança o apóstolo diz que os regenerados devem estar sempre preparados para responder a todos aqueles que vos pedir razão da esperança que há em vós (1 Pe 3.15).
Há, portanto, uma esperança no coração dos filhos de Deus, esperança esta que quando indagada por alguém deve ser prontamente comunicada para que o outro também dela possa experimentar.
Uma vez que Jesus Cristo venceu a morte e se tornou Salvador e Senhor de quem nele crê, nenhuma dúvida dominará o coração do crente quanto ao futuro, ou seja, à vida eterna pois esta lhe está garantida pelo Salvador.
Jesus, como precursor, e precursor quer dizer aquele que foi primeiro, que foi na frente e desbravou o caminho, entrou além do véu, ou seja, foi ao encontro de Deus, tornando-se esperança do homem de encontrar-se com Deus.
Jesus como homem foi o primeiro a entrar na presença de Deus e fez isto para demonstrar aos homens que eles também poderão entrar na presença de Deus, para dela desfrutarem para sempre se O confessarem como Senhor.
Para as pessoas que têm como âncora da alma coisas que não podem dar estabilidade real e duradoura para as crises mais sérias, o evangelho se volta para lhes trazer uma boa expectativa de futuro.
Afinal, se uma âncora não serve para comunicar segurança, bem-estar e conforto não pode nunca ser chamada de peça fundamental para a alma.
Nada há nada de errado em ter bens, sucesso ou coisa que o valha mas o erro consiste em pensar que isto tem algum valor para guardar a alma nos momentos da tempestade.
A alma atribulada somente encontrará descanso na crise quando puder contar com a estabilidade que Cristo pode oferece.
O apostolo Paulo exorta a não nos deixarmos afastar da esperança do evangelho (Cl 1.23).
Há no evangelho, e somente nele, a esperança verdadeira que salva a alma nos momentos que lhe atacam a angustia.
Deste modo, somente no evangelho das insondáveis riquezas de Cristo (Ef 3.8) é que os homens encontram a âncora adequada para dar estabilidade as suas almas e assim mantê-las firmes nos dias de ventos fortes e de águas turbulentas.
A respeito do estar com Deus para sempre o salmista escreveu: bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre (Sl 23.6).
            Assim, a âncora da alma não será nunca algo mas sim alguém e este, Jesus Cristo,o Filho de Deus.
            Quando um pecador é gerado de novo pelo poder do evangelho, tornando-se uma nova criatura sua alma imediatamente é ancorada na viva esperança que a ressurreição de Cristo comunica, e quem esperar assim terá razões mais que suficientes para viver hoje para glória de Deus.
            Grande é a bênção que o homem experimenta quando pode ancorar-se em Jesus Cristo um Salvador seguro e firme.
Lutero de Paiva Pereira

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

AMOR A LOUCURA

Os homens parecem amar mais a loucura do que a sanidade, e no intento de satisfazer esse desejo absurdo não lhes faltam apoiadores que os ajudam a emaranharem-se no círculo vicioso da sensatez abastecer-se da insensatez.
A loucura em questão não é aquela que aponta para uma mente desajustada mas, pelo contrário, a que diz respeito a perda juízo, da capacidade de perceber e avaliar as situações de forma prudente, de modo a se tornar vulnerável a todo tipo de proposta, ou mesmo de sair à procura de coisas que abasteçam seu coração estúpido, tolo e sem entendimento.
Como Jesus disse que a loucura ou a insensatez procede do coração do homem (Mc 7.22), talvez isto explique um pouco da religiosidade humana, que em boa parte está assentada mais na loucura do que na sanidade.
Afinal, em algumas religiões, verificando seus ensinos e práticas, é possível detectar que lhes falta um mínimo de sensatez.
No contexto do Novo Testamento a palavra louco ou loucura significa sem razão, ou seja, uma falta de sanidade e sobriedade mentais. Também quer dizer a falta de percepção criteriosa da realidade das coisas naturais e espirituais que leva a uma ordenação imprudente da vida da pessoa com respeito à salvação (Dicionário VINE, CPAD, 2003, p.759).
O filho pródigo é um exemplo de quem se houve com insensatez, pois ao sair de casa lhe faltou a prudência necessária para avaliar o conforto que deixava para ir em direção ao caos o que, somente mais tarde, ao cair em si, a recobrar a sensatez, foi capaz de perceber.
Sem condições de perceber criteriosamente a realidade das coisas naturais e espirituais a pessoa insensata se expõe a situações de risco que podem lhe causar dano irreparável.
A insensatez que é a não percepção ou o não entendimento correto das coisas, impede a pessoa de separar o certo do errado, o reto do tortuoso pois tudo lhe parece uma única e mesma coisa. E quando alguém não pode ver duas realidades em si mesmas diferentes como coisas distintas, é porque a insensatez já dominou o coração.
Ainda que a loucura possa ser encontrada em qualquer área da vida, seu exame aqui é voltado exclusivamente para o âmbito religioso.

A religião parece ser dentre todas as realidades humanas, a que mais produz homens loucos, pois todas as vezes que ele sai ou tenta sair do material para o imaterial, do natural para o espiritual, do concreto para o abstrato, invadindo o campo do místico, fazendo isto sem o parâmetro da verdade da Escritura, a possibilidade de perder a sensatez é muito grande.
Esta doença não é nova e nem atinge somente as religiões mais estranhas já que, por mais incrível que possa parecer, mesmo assentado em doutrina capaz de dar bom equilíbrio mental aos seus adeptos, no cristianismo a insensatez se faz presente e hoje até mesmo de forma generalizada.
Embora ao tempo da igreja primitiva a loucura já atuasse em algumas igrejas, modernamente causa espanto o quanto ela está disseminada e epidemicamente presente nos lugares outrora ortodoxos de modo que já se tornou bem difícil, embora não impossível, encontrar aquele onde a sanidade opere eficazmente.
Desejando o que se parece com a verdade mas em essência é mentira, os crentes se distanciam da fé ao darem mais importância à sensação do que à compreensão, julgando que sentir é bem melhor do que compreender. E neste ritmo, como não poderia ser diferente, a prudência cede espaço à imprudência, a sensatez à insensatez, a sanidade à insanidade e o final do caminho é prejuízo espiritual, mental, emocional e, muitas vezes, até mesmo financeiro ao louco. Afinal, ao fim de uma insensatez religiosa existe, via de regra, uma proposta de exploração comercial disfarçada de espiritualidade.
O apóstolo Paulo escreve que as igrejas de Corinto e da Galácia caminhavam pela senda da loucura, quando acolhem para dentro de si aquilo que deveriam reprovar de pronto.
Advertindo os coríntios Paulo diz: Porque sendo vós insensatos (insanos, sem sanidade), de boa mente tolerais os insensatos (os néscios, os loucos) (2 Co 11.19). Com tais palavras o apóstolo tenta despertá-los de que haviam deixado a sensatez para se entregarem à loucura quando toleravam um tipo de ministério que agora os domina.
Sobre este verso Simon Kistemaker escreve: “ A igreja em Corinto recebia qualquer pessoa, especialmente aqueles dispostos à pregação e ao ensino das pessoas. Os  membros da igreja estavam dispostos a fazer vista grossa às falhas de caráter, ao comportamento abusivo e à doutrina retorcida dos falsos apóstolos” (Comentário ao Novo Testamento, 2 Coríntios. Ed Cultura Cristã p. 531).
 Paulo prossegue: tolerais quem vos escraviza, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto (v.20).
Com tais palavras ele demonstra as características dos pregadores, os quais tinham por prática devorar os crentes, aprisioná-los e esbofeteá-los, o que implicava numa vida de sofrimento que a pessoa mentalmente sadia jamais se entregaria.
Permitindo a própria escravização por aqueles que os devoravam e esbofeteavam os coríntios demonstravam loucura ao se entregarem a doutrinas e doutrinadores falsos.
Paulo faz saber aos coríntios que não obstante os tenha levado a Cristo ele não se julgava como alguém que tivesse domínio sobre a fé que professavam (2 Co 1.24), pois foi capaz de pregar o evangelho sem dominar os evangelizados.
Os falsos apóstolos, porém, diferentemente de Paulo, queriam dominar aqueles sobre os quais exerciam “poder” espiritual, o que é característica marcante de tais pregadores.
Os crentes, por sua vez, se deixavam dominar, escravizar e esbofetear por aqueles que mercadejando a palavra de Deus (2 Co 2.27) pregavam-se a si mesmos e não a Cristo (2 Co 4.5), os quais medindo-se consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos (2Co 10.12), se impunham à igreja.
Assim eram os crentes daquela igreja e tais os pregadores que admiravam.
No tempo presente a televisão tem sido um instrumento mais que apropriado para que pregadores insensatos aumentem o número de crentes loucos, os quais perdendo a capacidade de discernir entre o que é bíblico e o que não é, o que é doutrinariamente correto e o que é incorreto, do que é coisa aplicável ao Antigo Testamento do que é próprio do Novo, se deixam levar por todo vento de doutrina (Ef 4.14).
Por exemplo, o que Deus falou a Josué no Antigo Testamento – todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado (Js 1.3) – não se aplica aos crentes do Noto Testamentos, e se utilizado erroneamente poderia até mesmo endossar teologicamente alguns movimentos sociais.
Como os ventos doutrinários sopram forte sobre os incautos e os levam para longe da verdade, quando chegam a perceber onde estão é possível que decepcionados abandonem a própria fé, sentindo-se incapazes de retornar ao lugar de onde nunca deveriam ter saído.
O fenômeno da loucura estava presente também nas igrejas da Galácia, de modo que o apóstolo é enfático em classificar os crentes de homens e mulheres sem juízo. Ele escreve: ó, gálatas insensatos! Quem os fascinou a vós outros, antes cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificados? (Gl 3.1).
Fascinados ou enfeitiçados por uma mensagem que queria fazê-los voltar às práticas do judaísmo através da circuncisão, e isto como base para serem aceitos por Deus, Paulo chama os crentes daquelas igrejas de loucos, de sem juízo, de insensatos porque estavam aderindo a uma proposta doutrinária falsa, mesmo depois de terem tido conhecimento do evangelho que lhes apresentou Cristo como o único capaz de justificá-los diante de Deus.
Com isto, eles estavam prestes a cair da graça (Gl 5.4) ao se tornarem prisioneiros do judaísmo. Paulo os adverte: para a liberdade foi que Cristo nos libertou. (Gl 5.1), portanto, continuem livres em Cristo. Assim, a insensatez dos gálatas é que tendo sido feitos livres da religião pela fé em Jesus Cristo, estavam agora na iminência de voltar à escravidão religiosa e se prontificando a cumprir ritos tais como, guardar dias, meses, festas, etc., o que se tornaria um fardo pesado a ser carregado.
Não é assim que a religião atual trabalha com os crentes? Dizendo que a fé em Jesus Cristo é pouco, lhes propõem sacrifícios para serem mais abençoados, escravizando os adeptos a rituais que demonstram a insensatez e a loucura dos que a isto se entregam.
Tendo sido feitos livres por Cristo agora se tornam escravos por meios de mensageiros que se dizem de Cristo.
Os pregadores contemporâneos se mostram mais astutos quando apelam a “apóstolos” internacionais para sustentarem suas doutrinas, como se tais fossem fonte de todo saber.
Desta forma a insensatez caminha a passos largos, e quanto maior a louca sugerida mais atração ela exerce sobre os que vivem afogados no mundo sensorial.
As igrejas, em razão disto, vão se parecendo com sanatórios religiosos a congregar um número cada vez maior de pessoas que se entusiasmam com nada e correm atrás do vento.
Os crentes dando crédito a mentira (2 Ts 2.11) afeiçoam-se ao engano; com coceiras nos ouvidos (2 Tm 4.3) cercam-se de mestres segundo suas cobiças; recusando a verdade (2 Tm 4.4) entregam-se a fábulas e suas reuniões não diferem em nada das dos atenienses que cuidavam em ouvir somente a últimas novidades (At 17.21).
A musicalidade, por sua vez, com letras contrarias à verdade, faz promessas vãs e instiga vitórias a um povo que parece viver em constante derrota.
Basta um pequeno retrocesso no tempo para ver como as coisas andam fora do caminho reto embaladas por propostas estranhas. Não vai longe quando a exploração dos pregadores insensatos estava assentada em doutrinas que tratavam de demônios. Via-se demônio em todo lugar, coisa e comportamento. Os pastores-exorcistas estavam em destaque. Depois, veio a maldição de família, dente de ouro e coisa parecida. Nessa época o pastor-quebrador de maldição esteve em alta e o que soprava seu bafo de insensatez sobre muitos visto como poderoso. Atualmente, nem demônio, nem maldição de família, o negócio é literalmente negócio.
O que está atraindo agora é prosperidade. Quem promete mais com menos é o melhor. É o tempo do pastor-investidor e a palavra de ordem é semear. Os insensatos crentes não percebem, no entanto, que estão sendo chamados a semear em horta alheia, a única que cresce e viceja de forma invejável.
Atrás de promessas de homens e não de Deus, vão empresários falidos e mal sucedidos, os quais esperam da religião o que o comércio não lhes deu, e também aqueles que querem enriquecer sem esforço e dedicação mas somente à custa de um milagre, como se o ser crente lhe desse o direito de ser rico.
Qual a próxima insensatez? Não sabemos ao certo mas é bom lembrar que o povo de Israel, quando se deixou levar pela loucura e imprudência acabou queimando seus próprios filhos em sacrifício a uma divindade pagã (2 Reis 17.17).
Para cura de tamanha insensatez é necessário que os crentes voltem à verdade da Escritura Sagrada, pois é a única que pode levá-los a Cristo tornando-os sábios e prudentes. Porém, quem emprestará ouvido à mensagem? De qualquer forma é melhor seguir o conselho de Paulo a Timóteo: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, que não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina (2 Tm 4.2). Por obediência a Cristo, e por amor ao seu povo e aos que virão a ser, é melhor devotar fidelidade à Palavra de Deus.
Pr. Lutero de Paiva Pereira

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Homem: criatura e pessoa


         
“Formou o Senhor Deus o homem do pó da terra...” (Gn2.7) e, “Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo...” (v.16). Estes dois versos da Escritura demonstram, e o fazem de forma bem objetiva, que o homem é tanto uma criatura, quanto uma pessoa. A condição de criatura advém do fato de que ele veio a existir por obra da ação criadora de Deus e, a condição de pessoa, porque ele recebe ordem ou orientação de Deus para agir. Ou seja, o homem não é um ser autômato, que age por simples impulsos “eletrocelestiais” que extrapolam ao seu controle, como se fosse uma máquina sem vontade. Entender o homem sob os dois aspectos – criatura e pessoa-, os quais se completam ao invés de mutuamente se excluírem, tem relevância para o desenvolvimento de uma vida equilibrada em todos os sentidos.
Negar o elemento pessoal que permeia a criatura humana, feita à imagem de seu Criador, para dizer o mínimo, é reduzi-la a uma condição que lhe retira faculdades inerentes ao seu ser. Retirar da pessoa sua característica de criatura é privá-la de uma origem nobre.  
Ao tratar do homem como criatura, Hoekema escreve: “Uma das pressuposições básicas da concepção cristã do homem é a fé em Deus como criador, que conduz à compreensão de que a pessoa humana não existe autônoma ou independentemente, mas como uma criatura de Deus”.
Todavia, quando volta sua análise para o homem sob o ponto de vista da pessoa, o mesmo autor registra: “Ser uma pessoa significa ter alguma forma de independência – não absoluta, mas relativa. Ser uma pessoa significa ser capaz de tomar decisões, de estabelecer objetivos e ser capaz de perseguir esses objetivos. Significa possuir liberdade – ao menos no sentido de ser capaz de fazer as suas próprias escolhas. O ser humano não é um robô cuja conduta é totalmente determinada por forças exteriores a ele; ele tem o poder de autodeterminação e de autodireção. Ser uma pessoa significa, para usar a expressão pitoresca de Leonard Verduin, ser uma “criatura de opção”.
Com facilidade da Escritura se nota que ela ao homem se dirige considerando-o como uma verdadeira criatura quando, por exemplo, lemos o discurso de Paulo no Areópago, em Atenas com relação a atuação de Deus: “porque ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração, e todas as coisas. De um só fez todas as nações dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação” (At.17.26-27). Na condição de criatura, o homem recebe de Deus a vida, a respiração e todas as coisas, já que por si mesmo não tem como gerar para si a vida, a respiração e tudo o mais que vem daquele que é o Senhor de tudo. Outras vezes o registro escriturístico não deixa dúvida de que o próprio Deus vê o homem como uma pessoa, dotado de liberdade para exercer escolhas, até mesmo aquelas que o levam a andar em direção oposta ao seu Criador, quando lemos: “Mas se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais, se aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Js24.15). Ao convocar povo de Israel não seguir a Deus automaticamente mas sim escolhendo-O dentre os outros deuses Josué demonstra que não está tratando somente com criaturas mas também com pessoas que pensam, que avaliam, que optam e que decidem. Quando a seu tempo o pregador adverte: “Lembra-te do Teu Criador nos dias da tua mocidade...” (Ec12.1) ele o faz dentro do pressuposto que lembrar de Deus não é uma coisa compulsória da criatura, visto que agindo como pessoa o homem pode esquecer-se de Deus e deixar de considerá-lo em seus caminhos, ou então para Ele se voltar, dando-lhe importância em seus dias.
É magnífico pensar que o Criador, embora pudesse fazer criaturas condicionadas, optou por criá-las livres, e nisto está não só a beleza, como também a responsabilidade de ser assim.
Afinal, se o homem fosse somente criatura e não pessoa, como imputar-lhe responsabilidade pelos atos praticados? Com efeito, se o homem fosse condicionado a praticar o que pratica, teria justiça da parte de Deus em prescrever em sua Palavra: “que de toda palavra frívola que os homens proferirem hão de dar conta no dia do juízo” (Mt12.36) ou ainda, “de modo que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm14.12)?
Dotado de características especiais pelo próprio Criador, o homem pode ouvir Sua ordem, entender seus preceitos e, querendo, obedecer a orientação, daí sua singela caracterização como pessoa.
Talvez pudéssemos dizer que a tentação ocorrida no Éden teve como proposta básica sacar do coração de Adão e Eva, como acabou ocorrendo, a idéia de criatura, visto que lhes insinuou que, transgredindo a ordem do Criador, eles seriam iguais a Deus: “sereis como Deus” (Gn3.5). Com a sugestão de poder ser igual a Deus, o homem perderia sua característica de criatura, colocando-se em notável destaque, muito maior do que aquele que ganhou ao ser criado por Deus.
É preciso que os cristãos, aos menos estes, recobrem a dignidade de serem, ao mesmo tempo, criatura e pessoa, pois isto tem implicações notáveis para a própria existência, e grande proveito para uma vida normal.
Quando no coração humano se agiganta o aspecto da criatura, a ponto de neutralizar a idéia de pessoa, corre-se o risco de responsabilizar Deus por atitudes pelas quais compete só ao homem responder, trazendo assim um nível de comodidade ou mesmo de acomodamento pessoal que a Escritura não abona para ninguém.
Muitas orações tendem a transferir para Deus atitudes que o crente, como pessoa, tem o dever de enfrentá-las ou concretizá-las, em evidente negativa ao seu aspecto de pessoa.
De outra forma, quando se eleva sobremodo a característica de pessoa, em detrimento da visão do homem como criatura, avantaja-se-lhe de tal forma a autonomia que Deus praticamente deixa de existir ou de ser responsável por coisas que somente Ele pode conceder ou fazer.
Aqui, a ausência de uma vida de oração e de leitura da Escritura é um indicativo a revelar que o crente tem-se por suficiente em si mesmo, demonstrando com isto que não se tem como uma criatura que depende em muitas coisas da ação benevolente do Criador em seu favor.
Estamos, na verdade, tratando de um paradoxo quando encaramos o homem como uma criatura dependente de Deus e ao mesmo tempo como uma pessoa capaz de tomar suas próprias decisões, e ser responsável por elas.
A Bíblia mostra que o homem tem sua autonomia sim, e agindo nestes termos responde integralmente por seus atos. Todavia, a mesma Escritura demonstra que o Criador está acima das criaturas e dá a elas aquilo que elas, a despeito de livres, não têm como buscar, encontrar, produzir ou realizar.
É significativamente maravilhoso pensar que Deus, na qualidade de Criador fez o homem dotado de faculdades que o capacita a andar, tanto em direção aos seus iguais, quanto em direção ao seu Criador, ou mesmo em direção oposta a Ele, e mesmo neste último caso, com as bênçãos dEle provindas através do que se convencionou chamar de graça comum, que são “as bênçãos naturais que Deus derrama sobre o homem na presente vida, apesar do fato de que o homem perdeu o direito a elas e se acha sob sentença de morte. A obra da graça divina se vê em tudo que Deus faz para restringir a devastadora influência e desenvolvimento do pecado no mundo, e para manter, enriquecer e desenvolver a vida da humanidade em geral e dos indivíduos componentes da raça humana”.
Através do profeta Deus exorta o seu povo: “eis o caminho, ainda nele” (Isa 30.21). A primeira parte da orientação demonstra que o povo é tratado como criatura, eis que não podendo achar o caminho por si só e recebe de Deus a orientação necessária a descobri-lo, ou seja, eis o caminho. Na segunda parte, o povo é tratado como pessoa, visto que Deus o convida a andar no caminho, já que não o fará simplesmente porque dele tomou conhecimento mas sim, a partir do momento que optou por ele.
Considerando o homem, simultaneamente, como criatura e pessoa diante de Deus, podemos destacar três aspectos distintos desta relação: 1º ) existem coisas que somente Deus faz; 2º.) há situações que o homem e Deus agem conjuntamente e, 3º.) têm atitudes de competência exclusiva do homem.


1 – Ações de iniciativa exclusiva de Deus
Há uma esfera de atuação reservada exclusivamente a Deus, inclusive naquilo que envolve o próprio homem, diante da qual suas criaturas estão totalmente impossibilitadas de agir ou agir com Ele. Assim, sem pretender esgotar a questão, é possível detectar claramente pela Escritura este campo reservado ao Senhor, e por Ele mesmo reservado, visto ser o Soberano, pré-existente e Eterno Deus da glória.
Assim, podemos ver Deus agindo com notável exclusividade quando cria o homem lá no Éden; quando julga o homem através do Dilúvio; quando chama Abrão para dele fazer uma grande nação; ao tempo em que dá a Moisés os Dez mandamentos e lhe mostra a planta do Tabernáculo; ai capacitar os profetas a falarem em Seu nome; agitando o mar para acordar Jonas do sono da desobediência. Na esfera do Novo Testamento, o envio do Filho Unigênito para salvação dos perdidos é atitude somente de Deus; a vivificação daquele que está morto em delitos e pecados é obra exclusiva daquele que vive; mandar chuva sobre justos e injustos compete só ao Criador; chamar a existência as coisas que não existem é atribuição única do Eterno; julgar os homens e conceder galardões aos redimidos está reservado ao Justo Juiz; fazer nova todas as coisas está afeto ao que nunca envelhece e não sofre sombra de variação; inspirar os homens para escreverem a Escritura é ação do Espírito Santo; perdoar os pecados é competência daquele que foi ofendido pelo pecador; trazer a Jesus Cristo dentre os mortos somente Deus pode fazer, e o fez sem a ajuda ou parceria de ninguém. Indefinidamente poderíamos catalogar ações exclusivamente de Deus, e ficaríamos admirados de ver que temos um Deus tão magnífico, ao qual podemos chamar de Pai pois fomos feitos seus filhos através de Cristo Jesus. E isto também é obra exclusiva dEle.

2 – Ações de Deus compartilhadas com o homem
Deixando agora a esfera de atuação exclusiva de Deus, pensemos um pouco a respeito do campo de ações partilhadas por Deus e pelo homem.
A santificação está adstrita à ação conjunta do Espírito Santo e do homem, pois ninguém é mais consagrado do que deseja ser e do que o Espírito o capacita ser; a mortificação dos feitos da carne também requer a participação do crente e do Espírito, visto que é por intermédio deste que aquele subjuga os feitos carnais; o conhecer a vontade de Deus implica na disposição do homem de buscá-la e na do Espírito de revelá-la; a salvação dos perdidos é uma ação do homem, que anuncia a Palavra e do Espírito que aplica a Palavra anunciada ao coração do incrédulo; ir a Cristo compete ao homem que se arrepende dos seus pecados, se volta do mal caminho e a Deus que o leva a tal encontro; frutificar implica na permanência do crente na Videira e da Videira lhe transmitir a “seiva” necessária.

3 – Atitudes privativas da competência humana.
Todavia, existe um espaço dentro da vida cristã que o homem age sozinho e deve assim fazer, porque é responsabilidade exclusiva sua, e não tem como partilhá-la com Deus, visto que envolve sua vontade e disposição pessoais. Assim, ler a Bíblia é ação eminentemente do homem; jejuar, orar, contribuir, afastar-se do caminho do mal são práticas de cunho pessoal; não apagar o Espírito; acolher os necessitados; cantar louvores a Deus; deixar de falar a mentira; perdoar; negar-se a si mesmo e tomar a cruz também estão no âmbito da disposição do indivíduo; filhos honrar os pais; empregados serem responsáveis; patrões tratarem bem seus empregados não são atitudes de Deus mas sim, da pessoa que foi regenerada; meditar na Palavra de Deus; pensar nas coisas do alto; falar a verdade, etc., denotam uma ação eminentemente humana.

Conclusão
Devemos buscar o necessário equilíbrio para vivermos uma vida cristã que respeite estas três diferentes faces, a saber, considerar as ações de iniciativa exclusiva de Deus, as ações de Deus e do homem e, as ações de competência exclusiva do homem, de maneira que possamos depender de Deus naquilo que compete somente a Ele realizar; depender de Deus ao mesmo que nos esforçamos por realizar a parte que nos compete realizar com Sua ajuda e, finalmente, sermos pessoalmente responsáveis por aquilo que podemos e devemos fazer.
Soberania de Deus e responsabilidade humana são paradoxos que devem ser mantidos em tensão, e todas as vezes que aumentamos um em prejuízo do outro, tudo se torna estranho.
Se retirarmos a responsabilidade humana, Deus se torna responsável por todos os nossos atos, inclusive por termos uma salvação não desenvolvida, o que é um absurdo pensar assim. Por outro lado, se retirarmos a soberania de Deus, isto faz com que nos tornemos verdadeiros deuses, já que nos apresentaremos como capazes de realizar tudo e todas as coisas por nossas próprias forças, o que também é um absurdo.

A teologia do determinismo, segundo a qual Deus determinou tudo, inclusive as mínimas ações humanas retira do homem a responsabilidade de pessoa, robotiza seus feitos, e em nada glorifica a Deus.
Em contrapartida a teologia da deificação, através da qual o homem perde seus atributos de criatura para assemelhar em tudo ao seu Criador, vangloriando-se de feitos que vêm de Deus, que deve ser louvado para sempre, tem riscos ainda maiores.

Somos normais quando reconhecemos ser criatura e pessoa ao mesmo tempo. Deus nos criou para agirmos como pessoas sensatas, reconhecendo Deus como Senhor, a quem devemos obedecer.
Se no Éden a tentação foi a proposta de Satanás para tornar o homem somente pessoa, induzindo-o a negar seu caráter de criatura, em certos ambientes religiosos a proposta atual às vezes se mostra invertida, levando seus adeptos a negarem sua pessoalidade, tornando-os mera criaturas.
Leiamos a Bíblia como pessoa, e como criatura dependamos do Espírito para iluminar o nosso entendimento sobre aquilo que temos colocado diante dos nossos olhos.
Oremos como criaturas, e obedeçamos como pessoas os claros preceitos da Escritura, para que tenhamos, em tudo, ao menos uma aparência de um ser completo, a saber, criatura e pessoa.

Lutero de Paiva Pereira


 Hoekema, Antony – Criados à Imagem de Deus – Cultura Cristã – 1ª ed. P. 16
 Ob. Cit. P. 17
 Teologia Sistemática, Louis Berkhof, 1992, p.436

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

BENEFÍCIOS DA PRESENÇA DE DUES

O tempo em que habitavam o jardim do Éden, geografia onde Deus se manifestava pela viração do dia (Gn 3:8) Adão e Eva, antes do pecado, ouviam a voz do Senhor, falavam com Ele e desfrutavam de Sua presença. Quando pecaram, ambos foram expulsos do paraíso e daí por diante perderam o privilégio da presença do Criador.
A vida fora do paraíso passou a representar um estado de  cativeiro, de sofrimento, de mal-estar e de perda de todos os benefícios que a presença de Deus oferece aos que dela experimentam.
A história humana é testemunha eloquente dessa verdade, pois desde então o homem vive sob os efeitos do caos, enquanto encontra-se afastado de Deus.
Para que tenha uma vida melhor e esperança de uma vida ainda mais excelente, é preciso que o homem volte à comunhão ou ao relacionamento com Deus, pois a partir desse momento os muitos benefícios de Sua companhia podem ser novamente provados.
São muitos e incontáveis os benefícios que o homem tem ao seu alcance quando vive ou prova da presença de Deus, e seis deles serão destacados pra que você se sinta esperançoso de experimentá-los ainda hoje.
Examinando alguns textos bíblicos é possível observar que a presença de Deus traz, dentre outros, os seguintes benefícios para o homem: 1) alegria, 2) abençoa a família, 3) gera descanso, 4) afasta o medo da morte, 5) traz  coragem para enfrentar as lutas e 6) produz grande  satisfação. 
Primeiramente vamos tratar da alegria. O salmista escreve que Na tua presença, ou seja, na presença de Deus, há plenitude de alegria (Sl. 16.11).
Ao se importar em cultivar a presença de Deus o cristão experimenta da alegria plena, da alegria consistente, da alegria verdadeira, da alegria que pode ser provada e experimentada em qualquer momento e em qualquer lugar, pois sendo Deus onipresente Sua presença está acessível ao homem a todo instante.
A alegria tem grande efeito sobre a própria saúde humana, e a Bíblia mesmo afirma que ela consiste num bom remédio: O coração alegre é como o bom remédio (Pv 17.22). Noutro momento a Escritura observa que a alegria produz força ou disposição para viver: alegria do Senhor é a nossa força (Ne 8:10). 
É certo que uma pessoa alegre, e com a alegria vinda do desfrute da presença de Deus, vive muito melhor e com ânimo redobrado, como o contrário é verdadeiro, ou seja, a tristeza mina as forças e adoece.
O segundo benefício da presença de Deus são suas bênçãos. Diz o relatado do profeta Samuel que O Senhor abençoou a casa de Obede-Edom, e tudo quanto tem, por amor da arca de Deus (2 Sm 6.12)Este verso é uma parte do relato da história de quando o rei Davi buscou a arca da aliança para trazê-la à cidade de Sião, pois ele havia decidido que não reinaria em Israel sem que a arca estivesse ali. Enquanto Davi  transportava a arca da terra dos filisteus para a cidade de Sião, ela ficou por alguns dias na casa de Obede-Edom, um israelita. Enquanto ficou guardada ali diz a Bíblia que Deus abençoou aquela casa por amor da Sua arca. Devemos entender que ao tempo desse fato a arca da aliança simbolizava a presença de Deus, de modo que onde a arca estivesse Deus estaria. Como a arca ficou um tempo na cada de Obede-Edom Deus se fez presente naquele lar, e estando ali Sua presença abençoou a todos. Por isto o versículo diz: O Senhor abençoou a casa de Obede-Edom, e tudo quanto tem, por amor da arca de Deus.  Enquanto a arca esteve em sua casa Obede-Edom não precisou clamar pelas bênçãos de Deus, porque Sua presença por si só abençoava aos que se encontravam a sua volta. Uma família que quer experimentar as bênçãos de Deus deve, antes de tudo, buscar o Deus que abençoa, pois suas bênçãos estarão onde Sua presença estiver. 
Descanso é o terceiro benefício que vem com a presença de Deus, e este pode ser notado na experiência de Moises. Deus havia dito a Moisés que sua presença iria com, e que Ele lhe daria descanso (Ex 33:14). Moisés, grande personagem da história bíblica, foi encarregado por Deus para tirar o povo de Israel do Egito e levá-lo à terra prometida. Isto implicaria numa longa caminhada no tempo e na geografia, um percurso cheio de desafios e dificuldades até a chegada ao destino. Para enfrentar a longa caminhada pelo deserto sem ser vencido pelo desgaste, Moisés teve a confortante promessa da companhia de Deus, que estando junto dele lhe daria descanso por todo o tempo da jornada. Deus disse a Moisés: A minha presença irá contigo, e eu te darei descanso. É certo que por todas aquelas centenas e mais centenas de quilômetros e décadas e mais décadas de caminhada, Moisés sempre se viu cercado de problemas e lutas. Porém, diante toda a adversidade a presença de Deus lhe foi garantida e sempre acessível. Deus prometeu isto a Moisés porque ele se envolveu em realizar na terra um projeto divino, e dessa forma Deus mesmo daria Sua presença para lhe dar condições de realizar Sua vontade. 
Grande consolo e ânimo devem ter invadido a alma daquele homem quando soube primeiramente que Deus lhe daria sua presença ou companhia por todo o tempo, e segundo que Sua presença lhe daria o descanso necessário para realizar uma missão assim tão desafiadora como foi aquela de peregrinar do Egito à terra de Canaã. 
Trabalhando na presença de Deus, porém, Moisés encontrou descanso para prosseguir adiante. 
Descanso é algo muito útil ao homem por sua notória e evidente fragilidade, pois ninguém tem vigor suficiente para empreender grandes coisas sem que sinta os efeitos demolidores do esforço.
Moisés encontraria todo tipo de exaustão pela frente rumo ao propósito de Deus, mas contando com Sua presença ele teve o descanso necessário para a reposição contínua de suas energias. 
Somente esse descanso oferecido pela presença de Deus a Moisés é que explica uma vida tão longeva ter terminado bem, pois a Bíblia diz a seu respeito: tinha Moisés a idade de cento e vinte anos quando morreu; não se lhe escureceram os olhos, nem se lhe abateu o vigor (Dt 34:7). 
O verdadeiro e autêntico descanso para o homem não é somente deixar de trabalhar para curtir o ócio ou coisa parecida, mas sim o voltar-se mais para Deus e Sua presença. 

O quarto benefício que a presença de Deus traz para o homem é a ausência do medo da morteAinda que eu ande pelo vale da sombra da morte, diz o salmista, não temerei mal algum, porque tu estás comigo (Sl 23:4). A morte, dentre todos os inimigos do homem é o mais temido e sua aproximação causa medo em quem quer que seja, pois ela se apresenta cruel e invencível, e biblicamente falando é inimiga da alma.
O salmista diz que o andar pelo vale sombrio da morte não lhe causaria espanto se ali naquele lugar tenebroso pudesse contar com a presença do Senhor. O momento da morte é o tempo mais solitário do homem, pois nem mesmo a companhia do semelhante poderá lhe valer de conforto. No entanto, esse momento de solidão poderá ser enfrentado com destemor se a presença de Deus puder ser provada, e sendo provada afasta do coração o medo.

Chegamos agora ao quinto benefício que fala de coragem para lutar. Ao povo de Israel foram ditas essas palavras encorajadoras: Quando saíres à batalha contra teus inimigos, e vires cavalos, carros, e exército mais poderoso do que o teu, não os temerás, porque o Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, está contigo (Dt 20:1). A vida é um grande ringue, cujas lutas são travadas diuturnamente e sem cessar. E para se lutar sem covardia, sem medo, sem fracasso é preciso coragem, a qual deve ser buscada na fonte principal, ou seja, Deus. 
Deus encorajou os israelitas à luta empreendida contra inimigos, exércitos e em batalhas além de suas próprias forças. Porém, como Deus estaria com eles por todo o momento a orientação foi: não temais.
 Buscar coragem, disposição, poder ou qualquer coisa necessária à luta fora da presença de Deus, no caso de Israel, seria correr perigo de grandes baixas. 
A presença de Deus dá a coragem necessária para enfrentar as batalhas e alcançar vitória, mesmo quando as forças de quem luta são menores do que aquelas do inimigo que se deve enfrentar. 
Que o digam os israelitas ao vencerem a cidade de Jericó, cujos muros caíram com um simples grito. Mas é certo que antes do grito eles tiveram que sujeitar suas vidas às estratégias de Deus, e quando assim o fizeram Deus lhes concedeu a vitória. Por isto é que o salmista diz que Em Deus alcançaremos a vitória (Sl 108:13). 

Por último, satisfação é outro benefício que a presença de Deus traz aos que a experimentam, o que observamos nas seguintes palavras do salmista: Vale mais um dia nos teus átrios do que em outra parte mil (Sl 84:10).
 A insatisfação atormenta a alma e torna irrequieto e desassossegado quem por ela é dominado. A insatisfação causa grande mal-estar e tem força bastante para escravizar suas vítimas.
Uma pessoa insatisfeita é capaz de grandes loucuras para encontrar a satisfação que sua alma reclama, pois tal estado de alma é sempre angustiante. 
As propagandas, por exemplo, têm por objetivo gerar no consumidor a ideia de que ao consumir a coisa anunciada ele ficará satisfeito, e se ela convence neste sentido alcança seu objetivo que é vender.
Onde encontrar a verdadeira satisfação? Tal pergunta está presente em muitos corações, ainda que nem tantas vezes verbalizada para conhecimento do outro. John Ortberg  escreveu que “o coração humano se sente insatisfeito desde que deixou o Éden” (Amor além da razão – editora Vida). 
O salmista, para espanto de muitos, pode responder a indagação sobre onde encontrar satisfação quando escreve que vale mais um dia nos teus átrios do que em outra parte mil (Sl 84:10). 
Numa comparação bastante convincente ele diz que a satisfação de estar um único dia nos átrios da casa de Deus, ou seja, no lugar onde Deus habita e, então, junto à Sua presença, é muito mais prazeroso do que passar mil dias em qualquer outro lugar da terra onde a presença de Deus não pode ser experimentada. 
Conclusão.           
Estes seis benefícios da presença divina podem nos despertar para uma busca mais dedicada de Deus, já que tudo aquilo que sua presença proporciona, a saber: alegria, bênçãos para a família, descanso, afastamento do medo da morte, coragem para enfrentar as lutas e satisfação, são realidades que se mostram úteis e necessárias para uma vida melhor.
O evangelho, cuja palavra significa boas novas, é verdadeiramente uma boa notícia quando seu ouvinte nele crê, pois é através dele que o homem começa a desfrutar da presença de Deus.
Deus faculta sua presença aos homens e Jesus Cristo é o caminho para se chegar a ela, de modo que quem se propuser a ir nessa direção encontrará os benefícios acima relatados.
Experimentar alegria que dá vigor, bênção que alcança a família, descanso para a jornada, coragem para lutar, destemor na hora da morte e descanso que mantém e conserva as forças é direito dos salvos, os quais não precisam de nenhum esforço adicional senão somente se manterem constantemente unidos a Cristo para experimentar tudo isso.
Se receber a Jesus ainda agora como Salvador e confessá-Lo como Senhor, imediatamente você será salvo e ato contínuo contará com companhia de Deus para sempre.
É muito bom ter a companhia de um amigo, mas ter a companhia de Deus é ainda melhor.

Lutero de Paiva Pereira



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

SE VOCÊ SOUBESSE

São interessantes as histórias nas quais uma pessoa vai conversar com outra com relativa liberdade, não encontrando muita receptividade da parte de quem a ouve porque a pessoa com quem vai falar não a conhece no mesmo grau de intimidade. Normalmente isto acontece entre pessoas comuns e pessoas famosas, pois estas, sendo vistas com freqüência por aquelas através da mídia, provoca naquelas a idéia de serem velhas conhecidas e não são.
Você conhecer um famoso através da TV, da revista, do Jornal, etc., não quer dizer que o famoso  te conhece.
Na Bíblia tem uma história parecida só que totalmente invertida, pois no caso é a pessoa famosa que conhece a pessoa comum e não a comum que conhece a pessoa famosa.
E a pessoa famosa aqui não o é porque a mídia a fez famosa, mas é famosa  por ser quem ela é, ou seja, o próprio Deus feito homem.


E porque a pessoa comum não conhece a pessoa famosa que com está falando, ela está na iminência de perder uma grande oportunidade de ter sua vida mudada, pois de alguma forma sua ignorância não quer que o diálogo prossiga.
Um advogado, lá no início de sua carreira, passou várias horas num voo sentado ao lado de uma alta autoridade do Poder Judiciário e nem ao menos se permitiu a algum diálogo, e  isto porque não conhecia quem era seu companheiro de viagem. Se soubesse, é bem provável que sua carteira profissional contivesse a assinatura daquele Ministro, o que mais tarde seria honroso para aquele causídico de primeiros passos.
 A Bíblia relata, então, o encontro de Jesus com uma mulher samaritana, fato este ocorrido num poço perto da cidade de Sicar, lugar onde ela havia ido tirar água.
Naquela região e época  as pessoas iam buscar água para consumo em lugares específicos, já que as casas não contavam com o bem-estar de terem abastecimento próprio como nos dias atuais.
A mulher não sabia quem era aquele homem que estava ali no poço, embora aquele homem soubesse quem era aquela mulher.
Jesus se dirige a ela pedindo água para beber: Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. (v.7)
Espantada com o atrevimento do pedido, já que judeus e samaritanos não tinham bom relacionamento, a mulher responde: como sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (v.9)
Como Jesus está disposto a fazer um bem a ela,  sabendo que ela não podia perder a oportunidade que tinha diante de si para alternar para uma nova vida, Jesus lhe responde: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva (v.10).
Por não conhecer a bondade de Deus e nem aquele que com ela naquele momento dialogava, a mulher não se dá conta do que tem diante de si para mudar completamente seus dias.
As pessoas que não conhecem a Cristo, o dom de Deus, não sabem o que Ele lhes pode oferecer e  deste modo não quererem ir até Ele para alcançar a transformação que somente Jesus Cristo pode fazer no homem.
Jesus fala com a mulher sobre a possibilidade dela receber dele água viva, para saciar sua sede de um modo diferente do que fazia a água que ela viera buscar no poço.
A palavra viva utilizada por Jesus é zoe que significa vida em sentido espiritual e não biológico.
Ela sabia o que era água, mas água viva ela não nunca tinha ouvido falar. Ela conhecia o poço que lhe dava água, mas um outro lugar que pudesse lhe oferecer água viva ela desconhecia por completo. Ela sabia da água que saciava sua sede física, mas de uma água que saciava sua alma ela nem sonhava existir.
Como os homens não sabem quem Jesus Cristo é, eles continuam ignorando Seu poder de lhes dar água viva, e em razão disto continuam sedentos no coração, buscando saciar seu anseio de alma em “poços” cuja “água” não lhes matam a sede espiritual que os incomodam.
Afinal, a sede espiritual não tem como ser saciada senão com água viva que procede de Cristo.
Jesus afirma a mulher que se ela soubesse quem Ele era, ao invés dele lhe pedir água para beber, ela é quem lhe pediria água viva e Ele prontamente lha daria.
E qual seria, então, esta água viva que Jesus daria a mulher para saciar sua sede da alma de modo definitivo? Esta água seria o Espírito Santo.
É interessante notar algumas questões relacionadas ao pedido de água viva:
a) A água é dada por Jesus Cristo gratuitamente a quem pede, não sendo exigida da pessoa qualquer esforço ou pagamento de preço para recebê-la;
b) A água é oferecida mesmo a um samaritano, que na época era um povo desprezível aos olhos dos judeus, mostrando que Deus não tem preferência por este ou aquele povo e nem faz acepção de pessoas;
c) A água seria dada a uma mulher, sendo uma prova evidente de que diante de Deus a mulher tem o mesmo direito que o homem, já que naquele tempo o homem achava que a mulher lhe era inferior;
d) A água seria dada a uma pecadora, pois a mulher que falava com Jesus já tinha tido cinco maridos e estava com um outro que nem marido dela era, mostrando que o amor de Deus agracia pessoas pecadoras em pleno estado de pecado;
Depois do seu diálogo com Jesus a mulher passou a saber quem Ele era, e conhecendo-O, creu nele e sua vida então mudou.
            Conclusão
Você sabe quem Jesus Cristo é? Se você não O conhece, fique sabendo que Ele sabe quem você é e como você está.
A mulher samaritana não O conhecia, mas Jesus conhecia toda sua história e queria mudar seus dias.
O evangelho anuncia hoje o mesmo Jesus que esteve diante da mulher samartina, de modo que os pecadores sedentos poderão experimentar da água viva.
Se seu coração está sedento,  quais são os “poços”  que você tem  ido tirar água para resolver este problema?
O evangelho apresenta Cristo como o “poço” de água viva para saciar em definitivo sua sede.
Jesus disse à mulher: se você soubesse quem te pede dá-me de beber, você lhe pediria e ele te daria da água viva.
Você que por muito tempo não sabia quem Jesus Cristo era, e passou anos com sede, ouça Suas palavras e a Cristo se renda:  Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna (Jo 4.14).
Ao crer em Jesus Cristo e o receber por Salvador e Senhor, seu coração sedento passará a ser  abastecido por uma fonte de água que salta para a vida eterna, e a partir daí você nunca mais terá sede.
Lutero de Paiva Pereira

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O DIA R

O que torna alguns dias especiais, diferentes e únicos a ponto de merecer destaque no calendário, são os acontecimentos para os quais eles apontam. Brasileiros e americanos têm, respectivamente, os dias 7 de setembro e 4 de julho em alta estima pois são datas nas quais comemoram o dia de sua independência.
A importância dessas datas especiais é manter a memória viva em relação a fatos e acontecimentos, os quais têm justificada razão para serem lembrados sempre.
Perder o contato com a história é correr o risco de repetir seus erros ou de não reproduzir seus acertos, daí a importância de algumas datas merecerem apreço maior.
O dia 6 de junho de 1945, por exemplo, é um daqueles dias que o mundo ocidental guarda com especial devoção, e tem razões de sobra para isto. Historicamente ele ficou conhecido como Dia D, nome dado à operação militar deflagrada para conter o avanço da opressão político-ideológica chamada nazismo, que pretendia dominar o mundo.
Nesse dia iniciou-se o desembarque das tropas aliadas na costa da Normandia (França) para o grande e triunfante ataque que se seguiria contra a Alemanha e seus adeptos, quando o ímpeto tirano de Adolfo Hitler seria dominado pondo fim aos horrores e ao morticínio produzido pela 2ª Guerra Mundial.
Para melhor se compreender o Dia D é prudente olhá-lo sob dois aspectos, a saber, pelo ângulo do dia que realmente foi e do dia que não teria sido caso o desembarque tivesse sido frustrado por alguma razão.
Como dia realmente acontecido o Dia D trouxe como benefício o término da 2ª Grande Guerra, a qual havia sido responsável pela morte de milhares e milhares de pessoas, bem assim a derrota do nazismo. O fim da Guerra beneficiou imediatamente aqueles que estavam diretamente envolvidos no conflito, salvando vidas e seus países e a derrota do nazismo trouxe alivio as gerações futuras.
No entanto, se o Dia D não tivesse acontecido ou acontecido sem o sucesso que foi, a 2ª Guerra teria continuado por muito mais tempo ceifando vida e destruindo países, bem como o Nazismo imperado por todos os cantos espalhando seus horrores.
Desta forma é possível afirmar que o mundo a partir do Dia D foi um e sem ele teria sido outro bem pior, destrutivo e caótico para se viver nele.
Portanto, ter a memória aviventada por certas datas para colocar as pessoas em contato com acontecimentos históricos tem seu efeito pedagógico inegável, pois não são poucas as lições que determinados fatos oferecem aos que os rememoram.
Mas o calendário além do Dia D deveria ter reservado espaço também para o Dia R, tendo em conta os muitos e inexcedíveis benefícios por ele trazidos para toda a humanidade.
O Dia R aponta para um acontecimento que trouxe vida onde só existia morte, liberdade onde reinava a escravidão, alegria no reino da tristeza, esperança no terreno do desespero, luz nas mais densas trevas e paz no ambiente do medo.
 Com estes resultados positivos para o homem o Dia R certamente teria que ser lembrado e comemorado sempre.
Assim, qual não foi a alegria dos homens que viveram ao seu tempo quando, enfim, ecoou a notícia de que a vida venceu a morte.
O Dia R, a exemplo do Dia D, também envolveu uma guerra, e até pior do que a 2ª Guerra Mundial, e isto para destruir um ditador bem mais terrível que Hitler, de modo que sem que o Dia R tivesse existido a vida seria insuportável na terra.
Mas, que dia espetacular é este que o calendário não foi cuidadoso em lhe devotar uma data especial de comemoração? Que acontecimento notório deveria merecer atenção de todos?
O Dia R não é outro senão o Dia da Ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, fato ocorrido no terceiro dia depois do seu sepultamento.
O registro bíblico deste acontecimento espetacular é feito nos seguintes termos: Mas, no primeiro dia da semana, alta madrugada, foram elas ao túmulo levando os aromas que haviam preparado. E encontraram a pedra removida do sepulcro; mas, ao entrarem, não acharam o corpo do Senhor Jesus. Aconteceu que, perplexas a esse respeito, apareceram-lhes dois varões com vestes resplandecentes. Estando elas possuídas de temor, baixando os olhos para o chão, eles lhes falaram: Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas ressuscitou (Lc 24.1-6).
Buscar entre os mortos aquele que morreu era uma questão de lógica, pois toda pessoa que morre permanece entre os mortos. No entanto, buscar entre os mortos aquele que ressuscitou, entrando na morte e dela saindo com vida, não era coisa a ser feita.
Não é de estranhar o fato dos discípulos terem sido tomados de grande ânimo e de enorme alegria quando souberam que no primeiro dia da semana Jesus venceu a morte e tornou-se Senhor sobre tudo e todos, porque a ressurreição trouxe ao mundo a esperança que a morte havia levado embora.
Com sua ressurreição dentre os mortos, ocasião em que Jesus venceu a Morte e o Diabo, o império das trevas teve seu imperador destronado e a morte perdeu seu poder de domínio, pois desde então as chaves da morte e do inferno passaram às mãos daquele que agora vive pelos séculos dos séculos como está escrito: Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno (Ap 1.18).
Os efeitos da Ressurreição ou do Dia R, a exemplo do que acima se apresentou para o Dia D, também podem ser vistos pelo lado negativo e positivo, ou seja, pela ótica do seu não acontecimento e pelo prisma de sua efetiva concretização.
Assim, se o Dia R não tivesse acontecido algumas das conseqüências negativas seriam:
1º. O homem continuaria pecador para sempre, e como tal eternamente posto debaixo da ira de Deus;
2º. Sem o perdão dos pecados destino último do homem seria a morte eterna;
3º. A fé em Jesus seria vazia e sem conteúdo, pois crer em alguém que morreu e não ressuscitou seria esperar por alguém incapaz de salvar da morte;
4º. A esperança não faria parte da história humana, pois um futuro sem vida eterna seria difícil de ser aguardado;
5º. O evangelho não existiria pois a palavra quer dizer boas novas, e nenhuma boa nova se teria a proclamar se Jesus tivesse morrido e continuasse retido ou subjugado pela morte. Não seria uma nova, porque todos os homens morrem e continuam mortos e não seria boa, porque seria ruim saber que o salvador não salvou nem a si mesmo do poder desse grande inimigo do homem que á morte;
6º. Todos os homens continuariam sujeitos e sujeitados ao poder do império das trevas que continuaria a exercer seu domínio;
7º. A Bíblia não seria digna de ser crida ao falar de uma coisa que aconteceria quando esta coisa não aconteceu.
Paulo chega a dizer que se Cristo não ressuscitou (1 Co 15.32) deveriam todos se entregar à comida e a bebida, ou seja, a uma vida sem propósito porque depois disto a única expectativa seria a morte.
Vendo, no entanto, o Dia R pelo lado positivo, já que se trata de um fato que faz parte da história, muitos são benefícios que dele decorrentes:
Por que Cristo ressuscitou:
1º. A morte foi derrotada e perdeu sua hegemonia sobre os homens, de modo que o apóstolo Paulo escreve que um dia se dira: Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? (I Cor 15.55)
2º. Jesus prova que pagou os pecados dos homens pela Sua morte e que ao ser levantado de entre os mortos se tornou capaz para justificá-los diante de Deus conforme se lê: O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação (Rm 4.25);
3º.  Ele, Jesus, faz a paz entre Deus e os homens como diz o texto sagrado: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5.1)
4º. Os homens que nEle crêem ouvirão dele o agradável chamado: vinde benditos de meu pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo (Mt 25.34)
5º. Tendo sido o primeiro a ressuscitar dentre os mortos Cristo garante aos que nele crêem a mesma ressurreição, pois a Bíblia não diz que Ele seria o único mas sim, as primícias ou o primeiro dentre aqueles que dormem: Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem (1 Co 15.20)
6º. Finalmente, porque Cristo vive pelos séculos dos séculos os que por eles são salvos também viverão para sempre conforme sua promessa: Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis (Jo 14.19).
Muito ainda se poderia dizer sobre os efeitos do Dia D, mas os pontos apresentados parecem suficientes para falar de sua grande importância para o homem.
Conclusão
Se o Dia R não tivesse acontecido a morte dominaria para sempre; Jesus não seria Senhor, tampouco salvador; os homens continuariam pecadores não salvos; o reino de Deus não seria inaugurado na terra; nenhuma criatura poderia ser feita uma nova criatura e o fim da história seria o começo do que pode pensar de pior.
Como o Dia R marca que Jesus Cristo ressuscitou o evangelho é, sem sombra de dúvidas, as boas novas que deve chegar aos ouvidos dos pecadores para levá-los a desfrutar dos benefícios deste grande acontecimento.
Assim, quem crer no Senhor Jesus a alegria espantará a tristeza; esperança afugentará o desespero; a paz mandará embora o medo.
Do mesmo modo que o Dia D mudou os rumos da história o Dia R mudará sua história pessoal; da mesma forma que o Dia D pôs fim ao morticínio da Guerra, o Dia R porá termo ao domínio da morte sobre você; assim como o Dia D trouxe alívio para o mundo o Dia D trará bem-estar ao seu coração, e isto porque Jesus Cristo se tornou seu Salvador e Senhor.
Por isto Paulo escreve: se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que tudo se fez novo (2 Co 5.17)
          Lutero de Paiva Pereira